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4. O ENGAJAMENTO POLÍTICO PARTIDÁRIO DOS TEUTO-BRASILEIROS

4.4 AS ORIGENS DO POVOAMENTO DE SÃO LOURENÇO DO SUL

4.4.2 O Conflito entre Jacob Rheingatantz e os colonos alemães em São

Jacob Rheingatantz trouxe, gradativamente, seus familiares para auxiliá-lo na administração da colônia de São Lourenço. Rheingatantz também “administrou o núcleo, associando-se a políticos, fazendeiros e outros moradores locais, para consolidar e ampliar seu negócio” (BOSENBECKER, 2012, p. 42). Destacou-se, ainda, na atuação como comerciante “comprando a produção dos colonos, com exclusividade, nos primeiros anos de funcionamento da colônia, e negociando mantimentos, utensílios agrícolas e domésticos, além de roupas e tecidos, entre outros produtos” (BOSENBECKER, 2012, p. 42).

Com o crescimento do empreendimento, Rheingantz se tornou uma importante liderança alemã no Rio Grande do Sul. De tal modo, atendia grande parte dos colonos perante os órgãos governamentais, como:

Um porta-voz dos interesses dos imigrantes. Em outros momentos, agia como árbitro nos conflitos internos do núcleo, mas nem sempre com a imparcialidade necessária ao seu cargo de diretor, principalmente, pela “posição tríplice” que assumiu. (BOSENBECKER, 2012, p. 42).

Contudo, a forte personalidade de Jacob Rheingatantz, que entrava em constante embate contra lideranças dos colonos alemães, e a exploração do administrador em relação aos colonos alemães86, propiciaram, no ano de 1867, um verdadeiro contexto de guerra em São Lourenço do Sul. 87

86“Além da cobrança indevida (o dobro da quantia inicialmente acertada) e das fraudes nos recebidos,

o empresário não passava o título de propriedade do lote, apenas entregava um recibo e, em alguns casos, era lavrada uma certidão de venda no cartório local – o que fazia parte apenas do primeiro passo para legalizar a propriedade dos colonos” (BOSENBECKER, 2011, p. 73).

87“As disputas pelos lotes coloniais nos levam às consequências da administração Rheingantz e de

dez anos de descaso do empresário para as demandas dos colonos, dentre os quais são fatores extremos: a falta de concessão de títulos de propriedade e a demarcação de lotes. Assim, como

Contexto de guerra que eclodiu,

No dia 23 de dezembro de 1867 ao redor das 16 horas apareceu diante da casa de Rheingantz um grupo de mais ou menos 200 homens que antes disso haviam atacado e desarmado os policiais. A maioria estava armada e alguns até bêbados. Eles pediam que Rheingantz os recebesse. O pedido não foi aceito e imediatamente foram fechadas as portas e janelas. Seguiu-se uma chuva de balas e pedras contra a casa e a porta principal foi derrubada. Rheingantz havia se escondido no porão e não foi achado imediatamente. Ele somente apareceu quando alguns dos revoltosos ameaçaram incendiar a casa. Rheingantz foi obrigado pelos manifestantes a assinar uma declaração por eles ditada. Neste momento ele se comprometia, entre outros, a cobrar somente 200.000 e 250.000 Réis por lote de terra que ele havia vendido e de devolver todo o dinheiro que houvesse cobrado a mais. Além disso, ele deveria prometer que mandaria novamente medir as terras por sua própria conta. Depois disso Rheingantz foi preso na cadeia da colônia. A sua família, o oficial e os policiais foram obrigados a abandonar São Lourenço. A família Rheingantz foi para a cidade de Rio Grande para onde também se mudou, depois que o governo da província tomou o controle da situação. (CUNHA, 1995, p. 188, apud MALTZAHN, 2011, p. 102-103).

A questão é bastante complexa. O motivo da revolta contra Jacob Rheingatantz envolve não somente questões de interesse financeiro, mas também aspectos morais e religiosos. Tanto que a intervenção de Jacob Rheingatantz junto à construção de uma capela da igreja católica para a comunidade foi um dos fatos motivadores para tal revolta.

Como forma de tentar mediar, compreender e resolver a situação, o governo provincial mandou dois representantes. Os representantes eram Joaquim Müller e Karl von Koseritz, que ocupavam o cargo de agente-intérprete. Koseritz foi pessoalmente à colônia de São Lourenço, e já era conhecedor do empreendimento de Jacob Rheingatantz, uma vez que ele já havia morado na cidade vizinha de Pelotas.

Koseritz buscou compreender os motivos da revolta, e, na medida do possível, oferecer alguma solução ao colono alemão. Como resultado da intervenção de Koseritz, tem-se um relatório em que ficaram constatadas reivindicações dos colonos contra o administrador Jacob Rheingatantz. Talvez a presença do ilustre representante teuto tenha servido como uma das bases, inclusive, para determinar a influência do Partido Liberal na futura cidade de São Lourenço do Sul.

podemos perceber, o foco mais objetivo da revolta de São Lourenço são problemas relativos “à terra”, como títulos, valores, medições, posse, etc. No entanto, analisando com mais profundidade o processo, percebemos que a postura assumida pelo diretor Jacob Rheingantz contribui significativamente para impulsionar os conflitos” (BOSENBECKER, 2012, p. 48).

Para resolver de vez o empasse, o governo provincial nomeou o agente- intérprete Lothar de La Rue. Os trabalhos iniciaram em:

Em 1869, uma comissão foi nomeada pela Presidência da Província, com o objetivo de intermediar soluções para resolver os problemas ainda pendentes entre colonos e o empresário. Os trabalhos começaram em 22 de dezembro de 1869, com uma série de reuniões, que se estenderam até o ano seguinte, sendo apresentado um relatório sobre a revolta e a situação da colônia. Nessas reuniões, o Agente Intérprete da Colonização chamou o empresário Rheingantz para conversar com os imigrantes, levando para a colônia o Cônsul da Alemanha, que intermediou algumas conversas. Compareceram às reuniões da comissão 143 colonos (em 1869, havia 448 lotes coloniais, distribuídos em dez picadas), que reclamavam de valores cobrados pelo empresário (de passagens e de lotes), além da medição e demarcação das terras, como também da delimitação das estradas de algumas picadas. (BOSENBECKER, 2011, p. 100-101).

O governo provincial criou, ainda, o 5º distrito de Pelotas, localizado na área correspondente à colônia em questão, e nomeou como subdelegado o “tenente- coronel Pedro Francisco Affonso Mabilde, que passou a ocupar também o cargo de diretor do núcleo, mas a iniciativa não evitou novos conflitos” (BOSENBECKER, 2011, p. 102).