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A inclusão de alunos com Currículo Específico Individual nas

4. Enquadramento Operacional

4.1. Área 1 – Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem

4.1.4. Realização – Da teoria à prática

4.1.4.2. A inclusão de alunos com Currículo Específico Individual nas

Segundo Correia (1997, cit. por Correia, 2003, p. 28), “a filosofia adjacente à escola inclusiva, tal como é interpretada, altera o papel de todos os profissionais de educação. Estes passam a ter um papel muito mais activo no processo de ensino-aprendizagem, pelo que devem desenvolver não só competências que lhes permitam responder às necessidades educativas dos alunos, mas também atitudes positivas em relação à integração e à inclusão”.

Ao longo de todo o EP, contactei diretamente com alunos com CEI, uma vez que, desde o início do ano que tinha um aluno nestas condições e, ainda durante o primeiro período, outros dois alunos foram incluídos na minha TR. No início do ano, assim que tive conhecimento de que ia ter um aluno com

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deficiências a nível cognitivo na turma, fiquei um pouco constrangido pois nunca tinha tido contacto direto com ninguém na mesma situação e não sabia com que tipo de aluno me iria deparar. Porém, todas estas inquietações se desvaneceram quando conheci o aluno. Apesar das suas debilidades a nível intelectual, este apresentou, durante todo o ano, um comportamento irrepreensível, uma constante vontade em participar nas aulas e um empenho notável. Como referi anteriormente, durante o primeiro período forma incluídos na turma mais dois alunos com CEI. Esta decisão partiu da direção da escola, que achou que seria benéfico para os alunos estarem juntos na mesma turma, uma vez que noutras disciplinas também pertencem ao mesmo grupo. Contudo, esta situação deixou-me um pouco desorientado pois não conhecia os alunos, tive de retificar alguns planeamentos e levou-me a pensar em estratégias para incluir mais dois alunos na turma.

“Na terça-feira, mal cheguei à escola, recebi a notícia de que vou ter mais dois alunos na minha turma. São alunos com CEI, ou seja, EF é a única disciplina que têm com a turma. Confesso que fiquei admirado com esta situação pois já tinha 26 alunos na minha turma e agora vou passar a ter 28. Como é natural, surgiram logo imensas perguntas na minha cabeça – Como é que vou organizar uma aula para 28 alunos privilegiando sempre a atividade motora? Como é que vou avaliar dois alunos que apenas foram incluídos na turma a mais de metade do primeiro período? Sendo alunos com CEI, conseguirão realizar todas as atividades com a restante turma ou terei de construir exercícios específicos?...”

(Diário de bordo 11, semana de 9 a 13 de novembro)

Dado que os alunos apresentavam deficiências a nível da funcionalidade mental, os três possuíam adaptações curriculares para a disciplina. Enquanto que os alunos com NEE têm direito em usufruir de um professor de apoio de educação física de modo a integrarem a turma, os alunos CEI não, pois a legislação não permite. Segundo o DSM-IV (1994, cit. por Santos & Morato, 2002, p. 27), a deficiência mental “é caracterizada por um funcionamento

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intelectual significativamente abaixo da média associado a limitações relativas a duas ou mais das seguintes áreas do comportamento adaptativo: comunicação, autonomia, actividades domésticas, socialização, autonomia na comunidade, responsabilidade, saúde e segurança, habilidades académicas, lazer e trabalho”. Assim, estes foram integrados na turma ficando eu responsável por promover a sua inclusão, uma vez que esta era a única disciplina que os alunos frequentavam juntamente com os colegas.

De modo a compreender melhor as suas dificuldades, fiz questão de solicitar à professora de ensino especial o Projeto Educativo Individual (PEI) de cada um dos alunos. Centrando-me essencialmente no que à EF dizia respeito, percebi que os alunos não apresentavam qualquer indisponibilidade motora apesar de, a nível cognitivo, apresentarem algumas dificuldades na compreensão de determinadas tarefas. Paralelamente, um dos alunos sentia dificuldades ao nível da linguagem, revelando alguma resistência à verbalização com os pares e com o professor. Block e Shriver (2007) referem que após os alunos com PEI serem avaliados e estarem estabelecidos os objetivos instrucionais a curto e a longo prazo, é necessário perceber se estes conseguem corresponder aos objetivos do currículo geral. Desta forma, e após conversar com a professora de ensino especial e analisar os PEI de cada aluno, percebi que os alunos poderiam integrar todas as atividades da turma sem nenhuma restrição, sendo necessária apenas uma explicação mais simples de cada uma das tarefas, de modo a facilitar a compreensão. Paralelamente, também a avaliação destes alunos era distinta, sendo efetuada através de uma escala qualitativa. Neste aspeto, em muito contribuiu a ajuda da PC, que expressou sempre a sua opinião e assumiu um papel preponderante na atribuição das notas a estes alunos.

À medida que o ano avançou e fui conhecendo melhor cada um destes alunos, também me apercebi que os três tinham personalidades bastante distintas. Assim, tive de adequar a forma de me relacionar à personalidade de cada um (com os restantes alunos aconteceu o mesmo, mas não de forma tão particular). Enquanto que o Francisco1 sempre mostrou um grande à-vontade

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com o exercício físico e era sempre dos primeiros a chegar à aula e com uma energia inesgotável, o António2 e o Miguel3 tiveram sempre uma postura mais relutante no que diz respeito à EF. Desta forma, apesar de ter procurado sempre promover o gosto pela EF em todos, fi-lo de forma mais vigorosa com António e o Miguel. Paralelamente, estes eram também os alunos com maiores dificuldades ao nível da comunicação pelo que, no início do ano, havia uma relação de maior distanciamento. A minha postura inicial passou por ganhar a confiança destes alunos para conseguir fazer com que passassem a gostar de EF e participassem em todas as aulas. Este foi um trabalho feito de forma progressiva e inicialmente pouco dirigido para as componentes técnicas e táticas de cada exercício.

Numa fase inicial, o meu objetivo foi promover nestes alunos um maior gosto pelo desporto e procurar incluí-los na turma da melhor forma. Para isto, fui conversando também com os restantes alunos da turma para os sensibilizar para a importância que cada um representava neste capítulo. A respeito disto, Correia (2003, pp. 15-16) refere que “é necessário que se crie uma genuína cultura de escola que se apoie em princípios de igualdade, de justiça, de dignidade e de respeito mútuo, que permita a promoção de práticas inclusivas mediante as quais os alunos possam viver experiência enriquecedoras, aprender uns com os outros e assimilar atitudes e valores que conduzam a uma melhor aceitação da diversidade”. E, na minha opinião, o professor desempenha um papel determinante.

“O dia de quarta-feira iniciou com algo que me deixou bastante contente. Antes da aula da minha turma residente, encontrei, no corredor, dois dos meus alunos com CEI e perguntei-lhes, como é habitual sempre que encontro algum aluno no corredor, se iam fazer aula. Qual não foi o meu espanto quando o Miguel, que curiosamente é o aluno mais reservado da turma, respondeu prontamente que não. Questionei-o acerca da razão, ao qual ele respondeu, com um sorriso de orelha a orelha, que estava a brincar e que ia fazer aula sim. Este pequeno gesto acabou por fazer o meu dia. O Miguel é um aluno

2 Nome Fictício

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que, quando integrou a turma, não falava com nenhum colega (nem comigo sequer) e, neste dia, ter feito uma piada e entrar numa brincadeira é, para mim, um grande feito pois sinto que, aos poucos, começo a ganhar a confiança dele e isso tem tido repercussões positivas no seu desempenho nas aulas. A sua integração, bem como a dos outros dois alunos com CEI, está a decorrer da melhor forma e todos os outros alunos da turma têm tido uma excelente atitude para que eles se sintam incluídos.”

(Diário de bordo 17, semana de 5 a 8 de maio)

O facto de ter estes três alunos na minha TR motivou também a minha curiosidade pela inclusão nas aulas de EF. Neste sentido, decidi realizar o meu estudo de investigação acerca desta temática. Uma vez que a inclusão deve ser um processo importante não só para os alunos com deficiência mas também para os professores e para os alunos sem deficiência, decidi estudar as atitudes dos alunos sem deficiência face à inclusão nas aulas de EF. Este trabalho permitiu-me perceber o modo como a turma encarava a inclusão dos alunos com CEI, com que tipo de crenças se relacionavam as suas atitudes e se a minha postura tinha alguma influência nos seus comportamentos inclusivos. O tema será desenvolvido no capítulo 4.3.1.