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A reflexão promotora da evolução

4. Enquadramento Operacional

4.1. Área 1 – Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem

4.1.4. Realização – Da teoria à prática

4.1.4.6. A reflexão promotora da evolução

Desde o primeiro ano deste ciclo de estudos que temos sido estimulados a ser professores reflexivos. “Ao longo dos últimos anos, temos dito (e repetido) que o professor é a pessoa, e que a pessoa é o professor. Que é impossível separar as dimensões pessoais e profissionais. Que ensinamos aquilo que somos e que, naquilo que somos, se encontra muito daquilo que ensinamos. Que importa, por isso, que os professores se preparem para um trabalho sobre si próprios, para um trabalho de auto-reflexão e de auto-análise” (Nóvoa, 2009, p. 6).

A reflexão, quando bem estruturada e fundamentada, é um excelente veículo para o desenvolvimento do professor. Ainda mais, quando falamos do professor iniciante, que está no processo de construção da sua identidade enquanto docente. A formação inicial de professores, deve promover nos EE, além da transmissão do conhecimento, uma constante atitude de reflexão crítica, levando o EE a questionar-se constantemente acerca dos conteúdos e métodos utilizados (Batista & Pereira, 2014).

No início do EP, encarava a reflexão, através dos diários de bordo, como sendo uma tarefa a cumprir, apesar de a fazer sempre com o objetivo de melhorar a minha prática pedagógica. Segundo Nóvoa (2009, p. 7) “a formação deve contribuir para criar nos futuros professores hábitos de reflexão e de auto- reflexão que são essenciais numa profissão que não se esgota em matrizes científicas ou mesmo pedagógicas, e que se define, inevitavelmente, a partir de referências pessoais”. Porém, e agora que já tive oportunidade de reler alguns desses textos, a minha reflexão centrava-se demasiado na descrição do que correu bem e do que correu mal nas minhas aulas e possíveis soluções para colmatar esses erros. Apesar de considerar esta componente bastante importante na reflexão, não estava a conseguir pensar no “porquê” de aquilo ter ocorrido, limitava-me a arranjar soluções, quando estas poderiam nem ser necessárias se conseguisse antecipar determinadas situações. Como refere Alarcão (1996, p. 175), “ser-se reflexivo é ter a capacidade de utilizar o pensamento como atribuidor de sentido”. E foi esta “atribuição de sentido” que, progressivamente, fui capaz de fazer. Creio ter conseguido ir mais além e não

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me limitar a pensar apenas no “certo e errado”, mas sim na razão pela qual a aula decorreu de certa forma. Na minha opinião, o RE deve privilegiar a reflexão não só de toda a prática como também acerca das reflexões realizadas anteriormente.

Através dos diários de bordo, das reuniões de NE e até de conversas com outros professores, fui capaz de refletir acerca da minha prática. Quando falo em reflexão, não me refiro apenas a reflexões de carácter formal, pois acredito, e tal como aconteceu em certas ocasiões, que uma conversa com outro professor do GEF pode ser promotora de espírito crítico e pode conduzir- nos a refletir acerca da nossa prática. No entanto, foi nos momentos de escrita que tive oportunidade de confrontar a minha prática com a bibliografia existente, analisar, interpretar e encontrar soluções para os meus problemas. Formosinho (2001, cit. por Graça, 2004, p. 36) refere que a preparação do professor deve ser “uma prática acompanhada, reflectida, que permite desenvolver competências e atitudes de uma cultura profissional que valorize as dimensões intelectual, técnica, moral e relacional do perfil docente”. E, efetivamente, a prática reflexiva constante levou-me a momentos de investigação onde, para além de sustentar a minha atuação, pude desenvolver as dimensões referidas pelo autor.

É através da reflexão que o professor consegue corrigir os erros, arranjar estratégias para o superar e antecipar possíveis erros, pensando em formas de os evitar. Schön (1992, cit. por Alarcão, 1996) remete-nos para a ideia de que há 3 momentos cruciais de reflexão: reflexão na ação, reflexão sobre a ação e reflexão sobre a reflexão na ação. No primeiro caso, a reflexão é feita durante a própria ação, sem a interrompermos. No segundo caso, fazemos uma reflexão após a ação, tentando fazer uma retrospetiva e análise da mesma. O terceiro caso, é referido pelo autor como sendo o processo que leva o professor a progredir no seu desenvolvimento. Este tipo de reflexão é que ajuda o professor a determinar a sua ação futura, a perceber os problemas e a procurar novas estratégias e soluções (pp 16-17). Na minha opinião, o professor pode considerar-se verdadeiramente reflexivo quando consegue alcançar estes três momentos de reflexão.

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No meu caso, durante o EP fui sempre incentivado a manter uma prática reflexiva e uma postura crítica constantes e posso afirmar que, graças a isso, consegui evoluir imenso. À medida que o ano letivo ia avançando, tenho noção de que as minhas reflexões foram sendo cada vez mais diretivas e eficazes, tendo isso uma repercussão direta na minha forma de lecionar as aulas. Isto porque, muitas das vezes, como já tinha refletido acerca de determinada situação, quando ela ocorria novamente, sentia-me preparado para intervir prontamente e dar uma resposta adequada, não prejudicando o bom funcionamento da aula. Como afirma Bento (1987, p. 162), “a reflexão posterior sobre a aula constitui a base para um reajustamento na planificação das próximas aulas, uma vez que proporciona uma definição mais exacta do nível de partida e procede a balanços que devem ser tomados em conta na futura planificação e organização do ensino”.

Desta forma, posso afirmar que a reflexão deve ser vista pelo professor como sendo um dos pontos-chave para o sucesso do processo de E/A, não só numa fase inicial da carreira, como durante todo o tempo de atividade. Batista e Pereira (2014, p. 87) corroboram esta afirmação, dizendo que a formação de professores deve “fornecer ferramentas para uma postura crítica, de reflexão, para que seja duradoura e não fique apenas circunscrita ao contexto da formação inicial”.