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A instalação da FMRP e o Espaço Físico

4.3 Instalação provisória

4.4.3 A instalação da FMRP e o Espaço Físico

Mesmo tendo sido doadas áreas para a construção da futura Faculdade de Medicina em Ribeirão Preto, elas eram consideradas insuficientes para a instalação de todo complexo previsto, que incluía o futuro Hospital das Clínicas.

Neste sentido, a Escola Prática de Agricultura “Getúlio Vargas” acabou sendo um local bastante cobiçado para sua instalação. Em diferentes oportunidades, suas dependências foram lembradas como ideais para abrigar a nova Faculdade.

O Memorial assinado por autoridades ribeirãopretanas e encaminhado ao Governador Lucas Nogueira Garcez, com cópia ao Reitor da USP, Prof. Ernesto Lemes, em abril de 1951 (como já pôde ser visto no tópico 4.2.2 desta Tese), havia sinalizado a “[...] possibilidade de instalação inicial ou ulterior, das cadeiras de laboratório em um dos pavilhões da Escola Prática de Agricultura, após entendimento entre a Reitoria da Universidade de S. Paulo e a Secretaria da Agricultura.” (Cf.: Processo n° 3320/51. Universidade de São Paulo. Reitoria. Interessado: Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Assunto: Referente a instalação da Faculdade acima citada. Referência: 308/Casa Civil. CX: 311. (Acervo Central da USP).

Em dezembro de 1951, o Deputado estadual e médico Amaral Furlan apresentou Indicação de n° 1356 a Assembléia Legislativa indicando ao Poder Executivo a conveniência de se instalar na EPA de Ribeirão Preto a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, tendo em vista que o projeto de estruturação já havia sido aprovado por aquela Assembléia (Cf.: Processo n° 3320/51. Universidade de São Paulo. Reitoria. Interessado: Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Assunto: Referente a instalação da Faculdade acima citada. Referência: 308/Casa Civil. CX: 311. (Acervo Central da USP).

O jornal “Diário da Manhã”, do dia 23 de janeiro de 1952, destacou que o Conselho Universitário da USP havia encaminhado ao Governador Lucas Nogueira Garcez também

uma Indicação sobre a conveniência de ser transferida para a Universidade de São Paulo com o fim de ali localizar a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, os móveis e imóveis da Escola Prática de Agricultura. Os termos desta Indicação foram os seguintes:

O Conselho Universitário tem a honra de indicar ao Exmo. Senhor Governador do Estado a absoluta conveniência de transferir para a Universidade de São Paulo, a fim de instalar a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, todos os edifícios, terrenos e outros bens, móveis e imóveis da Escola Prática de Agricultura de Ribeirão Preto, sendo certo que a adoção de tal medida, por parte do Executivo Estadual, permitirá o início imediato dos cursos daquela Faculdade em condições extremamente propícias, além de representar economia substancial aos cofres públicos (Jornal Diário da Manhã, Ribeirão Preto, 23 de janeiro de 1952).

Particularmente, Zeferino Vaz não escondia o desejo de instalar a Faculdade de Medicina no local onde se encontrava a Escola Prática de Agricultura. Acreditava não haver lugar mais adequado do que aquele verdadeiro campus ali formado.

No jornal “A Tarde”, do dia 03 de janeiro de 1952, Zeferino Vaz assim se referiu as instalações da EPA:

Nas rápidas viagens que fiz a esta encantadora cidade, não me sobrou tempo para visitar a EPA. Da última vez, porém, fui até lá e o que vi, francamente, causou-me espanto, admiração e depois contentamento. Preliminarmente, é preciso que eu confesse que jamais poderia julgar encontrar local tão fascinante, em pleno interior com instalações tão luxuosas. Aquele prédio central, com uma fachada de mais de 100 metros, de dois pavimentos, com o andar superior ocupado por 15 salões com 15 camas cada um. Na parte térrea, salas de aula, de direção, de secretaria, gabinete dentário, anfiteatro para 400 pessoas e a seguir os prédios para refeições, rouparia, cozinha, um “ginasium” modelo com amplo campo de esportes, uma represa, onde fácil será a piscina, tudo isso muito bem urbanizado formou imediatamente, dentro de mim a esperança de obter a EPA para a Universidade de São Paulo. O pavilhão de Indústrias, seria o de Patologia; as Oficinas seriam Laboratórios. Assim de uma cajadada só, eu teria a economia de 35 milhões, além da rede de água completa, esgotos, luz e demais melhoramentos como do calçamento a paralelepípedos (Jornal A Tarde, Ribeirão Preto, 03 de janeiro de 1952).

Entretanto, nem todos concordavam com a transferência da FMRP para as instalações da EPA. O aproveitamento da EPA pela FMRP serviu de motivos para muitos debates. Opiniões diversas se deram sobre o assunto embora, de uma maneira geral, todos desejassem que a Faculdade de Medicina fosse instalada em Ribeirão Preto.

Os jornais da cidade discutiam o assunto. Várias eram as manchetes nos jornais acerca do problema. Entre elas destaco as seguintes: “Razões para o não fechamento da EPA de

Ribeirão Preto”; “Manutenção do curso de agricultura junto a Faculdade de Medicina”; “Instalação da Faculdade de Medicina onde funciona a Escola Prática”; “Razões contrárias ao fechamento da Escola Prática de Agricultura” etc.

O Engenheiro Agrônomo Dimer Cornélio Accorsi, Diretor da Escola Prática de Agricultura, se manifestou em jornal da cidade, elencando sete motivos para o não fechamento da EPA, dentre eles, o seguinte:

[...] a Escola concorrera como elemento auxiliar dos lavradores e criadores da região, colaborando em forma de assistência técnica e que não se pode culpar a escola pelo fato dela promover uma melhoria no padrão de vida de um pequeno número de elementos da zona rural, representados pelos filhos dessa mesma população rural (Recorte de jornal não identificado).

Dizia, ele, que se muitos alunos não voltavam para as atividades agrícolas era porque adquiriam conhecimentos e capacidades que lhes proporcionavam condições de ocupar cargos que, a seu ver, representavam uma elevação no seu nível de vida (Recorte de Jornal não identificado).

A Câmara Municipal de Ribeirão Preto em Sessão realizada no dia 02 de fevereiro de 1952, por meio do Requerimento n° 18, apelou para que fosse mantido junto a Faculdade de Medicina um curso prático de agricultura. A argumentação, destacada no artigo 2° era:

[...] grandes benefícios disso resultará já que ao lado de inestimável serviço prestado à agricultura concorrer-se-á, também para o barateamento do custo de vida do estudante universitário em vista de produzir-se na própria Universidade os gêneros essenciais à Casa do Estudante de Medicina e futuramente de outros ramos universitários. (Cf.: Processo n° 3846/52. Universidade de São Paulo. Reitoria. Interessado: Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Assunto: Instalação da Faculdade acima citada.CX: 511. (Acervo Central da USP)

O Deputado Jânio Quadros, na Sessão realizada no dia 19 de março de 1952, requereu informações do Poder Executivo quanto a pretensão de transferir a FMRP para as instalações da EPA. Na tribuna da Assembléia, manifestou-se contrário a transferência.

A este respeito, o jornal “Diário da Manhã”, do dia 04 de abril de 1952, destacou que várias entidades locais como o Centro Médico, a Sociedade Portuguesa de Beneficência, o Hospital São Francisco, a Maternidade Sinhá Junqueira, a Fundação Sinhá Junqueira e até mesmo vários lavradores do município, dirigiram telegrama ao Deputado Jânio Quadros convidando-o para visitar Ribeirão Preto e, in loco, verificar as manifestações da população quanto ao desejo de se instalar a FMRP na EPA. Argumentavam dizendo que este

procedimento traria vantagens para o estado e que a construção do futuro Hospital das Clínicas traria relevantes serviços a população não só de Ribeirão Preto como de toda a região. Além deste telegrama dirigido ao Deputado Jânio Quadros, foram endereçados também telegramas com o mesmo teor para o Deputado Asdrúbal Cunha, Presidente da Assembléia Legislativa e para o Governador Lucas Nogueira Garcez (Jornal Diário da Manhã, Ribeirão Preto, 04 de abril de 1952).

Dias após, o Deputado Jânio Quadros, em telegrama endereçado ao Presidente da Câmara Municipal de Ribeirão Preto, assim se manifestou: “Agradeço honroso ofício. Dada manifestação recebida, já modifiquei orientação. Sou favorável instalação referida, considerados interesses superiores da educação que não excluem presença Escola Prática” (Jornal Diário da Manhã, Ribeirão Preto, 30 de abril de 1952).

Diante das manifestações e de pronunciamentos oficiais de apoio da Câmara Municipal de Ribeirão Preto, do Conselho Universitário da USP e da Assembléia Legislativa do estado, o Governador Lucas Nogueira Garcez, pela mensagem de 01 de abril de 1952, encaminhou a Assembléia Legislativa Projeto de Lei (que tomou número 124/52) objetivando autorizar o Poder Executivo a ceder à Universidade de São Paulo o uso do imóvel onde se encontrava a Escola Prática de Agricultura, a fim de nele ser instalada a Faculdade de Medicina.

Neste Projeto de Lei previa-se, também, o comissionamento, na Universidade, dos funcionários da EPA que fossem necessários a FMRP. Além disso, a possibilidade de transferência do corpo docente, discente e administrativo da Escola Prática de Agricultura para outras áreas do estado.

Contudo, durante a tramitação na Assembléia Legislativa deste Projeto de Lei, foi apresentada pela Secretaria de Agricultura uma proposta de alteração na área que seria cedida a FMRP.

Após algumas discussões entre representantes da FMRP e da Secretária de Agricultura a área doada a FMRP correspondeu a metade da área pertencente a antiga EPA, mas cedidos todos os edifícios e instalações nela existentes. Restava, então, fazer as adaptações para as instalações dos departamentos, laboratórios e demais dependências como, por exemplo, as moradias para professores e funcionários. Apesar de a ex-Escola Prática de Agricultura dispor de excelente infra-estrutura, como já destacado, reformas eram necessárias. Para isto, Zeferino Vaz contava com a verba de dezoito milhões de cruzeiros da Universidade de São Paulo.

De acordo com o jornal “Diário da Noite”, de 08 de fevereiro de 1952, as instalações da nova Faculdade se encontravam praticamente prontas:

Só o pavilhão central, com grandes salas, em estilo colonial do mais puro e com fino acabamento, mede cento e vinte metros de frente. Tem duas compridas alas cercadas de pátios, e, ao centro, um anfiteatro destinado a representações e projeções cinematográficas, com 400 poltronas. Oito confortáveis residências para professores em estilo gracioso, e outras oito para os assistentes, permitem, desde já, oferecer moradia aos catedráticos. Um sistema perfeito de água encanada e de esgotos resolveu o problema sanitário. Existem, ainda, outros pavilhões excelentes, de grande área construída, para instalação de vários serviços do estabelecimento.

Cozinhas com aparelhagem moderníssima, um refeitório com capacidade para 200 pessoas, chuveiros individuais, instalações sanitárias numerosas, permitirão o funcionamento da nova faculdade em regime de semi- internato, para maior rendimento do ensino.

Um parque magnífico cerca as construções ligadas entre si por alamedas asfaltadas. Campos de esporte, stadium coberto excelente [...] um grande lago para prática de natação permitirão numa perfeita educação física (Jornal Diário da Noite, Ribeirão Preto, 08 de fevereiro de 1952).

Em 1953, foi convocado um arquiteto para realizar as reformas necessárias. O Prédio Principal foi o primeiro a passar por adaptações para poder receber a parte administrativa e as cadeiras básicas. À esquerda ficaram os Departamentos de Histologia e Embriologia e o Departamento de Bioquímica. À direita foi adaptada uma portaria, uma sala para a seção de alunos e uma sala para o escritório de engenharia contando com um arquiteto, um projetista e um desenhista. Além disso, ficaram ainda no Prédio a tesouraria, a biblioteca, a secretaria, salas da administração, o serviço de documentação científica e os Departamentos de Fisiologia e de Farmacologia. No anfiteatro, que se localizava no térreo, eram ministradas as aulas teóricas (MAURO; NOGUEIRA, 2004, p. 82).

Quanto aos Departamentos, a elaboração de plano para a montagem dos laboratórios cabia aos professores e a execução só seria realizada após aprovação do Prof. Zeferino Vaz.

Quanto aos outros prédios, aos poucos foram passando por adaptações, ou sendo construídos para servirem as suas finalidades. As casas dos professores, por exemplo, foram restauradas ou construídas.

Figura 43 - Fachada do Prédio Central

Fonte: Documento: Imóveis da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Anexo II. Centro de Memória da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto

Figura 44 - Uma das ruas da ala residencial dos professores Fonte: MAURO; NOGUEIRA, 2004, p. 83

A moradia era um atrativo para os professores que chegavam. Porém, nem todos os professores que chegavam a Ribeirão Preto encontravam moradia na “Fazenda”. Muitos tiveram que aguardar a vez, instalando-se no Hotel Umuarama no centro da cidade.

Roland Köberle, filho do Professor Fritz Köberle, se lembra que ao chegarem a Ribeirão Preto moraram primeiro no Hotel Umuarama. Em seu depoimento disse:

Nós moramos quase três meses no Hotel Umuarama no centro da cidade e todos morando em dois quartos era meio difícil. A Faculdade estava numa fazenda onde ainda não tinha praticamente nada, não tinha árvores porque lá era cultivado café, então o que se via era uma terra roxa e quente, muito quente (Entrevista concedida pelo Professor Roland Köberle e pela Drª Lilia Köberle no dia 10 de outubro de 2005).

Além dos professores, os funcionários também tiveram moradia dentro da “Fazenda”. A diferença das casas estava no tamanho, pois a área de construção das residências dos docentes era maior.

Em 1953, após a reforma do Prédio Central, iniciou-se a mudança da sede provisória da Rua Visconde de Inhaúma para a sede definitiva, localizada, agora, na antiga Fazenda Monte Alegre, nas dependências da ex-Escola Prática de Agricultura.

Figura 45 - Caminhão da FMRP utilizado na mudança da cidade para Monte Alegre Fonte: Centro de Memória da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto

Por fim, compondo também o patrimônio físico da ex-EPA, havia o Ginásio de esportes. Além de ser o local onde se realizavam as práticas esportivas, também foi o local que abrigou os alunos nas primeiras aulas da Faculdade. Em suas dependências foi montado, na cobertura, o restaurante e, posteriormente, com a criação do Centro Acadêmico pelos alunos da 1ª turma, tornou-se sua sede.

Figura 46 - Fachada do Ginásio de esportes (década de 1950) Fonte: Centro de Memória da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto

Estava, assim, finalmente, instalada a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo nas antigas instalações da ex-Escola Prática de Agricultura “Getulio Vargas” localizada em Monte Alegre.