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O primeiro Diretor: Zeferino Vaz

4.2 Instalação

4.2.4 O primeiro Diretor: Zeferino Vaz

Após a eleição realizada no Conselho Universitário da USP em janeiro de 1952, Zeferino Vaz, Professor Catedrático da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo, obteve a maior votação e foi nomeado Diretor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, sendo empossado no dia 18 de fevereiro de 1952.

Desde as primeiras discussões acerca da implantação da Faculdade de Medicina em Ribeirão Preto, Zeferino Vaz esteve no centro dos debates. Membro do Conselho Universitário da USP e Presidente da Comissão de Ensino e Regimentos desta Universidade, foi o grande responsável pela elaboração de Relatórios, Pareceres e da Estrutura Didática da FMRP.

Zeferino Vaz era um homem experiente, com intensa participação acadêmica e administrativa. Havia sido Vice-Diretor e Diretor da Faculdade de Medicina Veterinária da USP e membro do Conselho Universitário durante 27 anos.

Formado, em 1933, pela Faculdade de Medicina de São Paulo, se interessou pela área de parasitologia. Trabalhou no Instituto Biológico de São Paulo, desenvolvendo pesquisas na área de zoologia. Em 1935, prestou concurso e conquistou uma vaga para lecionar a disciplina de Zoologia Médica e Parasitologia na Faculdade de Medicina Veterinária da USP.

Em 1951, como já visto, Zeferino Vaz foi nomeado membro e Presidente da Comissão Executiva incumbida da instalação da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.

Sua impressão a respeito da cidade de Ribeirão Preto, naquela oportunidade, foi a seguinte:

Vou a Ribeirão Preto e me impressiona, em primeiro lugar, a riqueza da terra, que era roxa. É aquela terra coloidal, que absorve os insumos que você coloca ali de fertilizantes e retém. Portanto, uma terra agradecida. Três metros de profundidade de solo fértil, no mínimo, embaixo uma rocha viva – a terra resulta dessa desagregação da rocha viva. Então, não há erosão em profundidade. Uma cidade já com 110 anos. Uma população otimista porque a terra infunde otimismo. Água e terra, com aquele verde clorofila, que é o equivalente da hemoglobina da pessoa corada, que mostra saúde. E aquelas plantas mostrando saúde. Isso infunde otimismo no homem. Então, uma população otimista uma população que sai à rua uma quantidade brutal

de estudantes em escolas secundárias, um ginásio de primeira qualidade, comparável ao ginásio do estado aqui. Eram três: o de São Paulo, o de Campinas e o de Ribeirão Preto, que eram os grandes cursos secundários do Brasil, fora o Pedro II do Rio de Janeiro. [...] Mas, na verdade, me impressionou a terra, o otimismo, essa influência telúrica. Eu disse: “É aqui” (FRANKEN; GUEDES, op. cit., p. 49-50).

Como primeiro Diretor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Zeferino Vaz, permaneceu no cargo por 12 anos, de 1952 a 1964. Sob sua direção, a Faculdade adquiriu toda a parte física, além de equipamentos e instrumentos. Não apenas, ocupou-se também de selecionar um quadro docente qualificado para realizar atividades científicas.

Figura 25 - Zeferino Vaz - 1° Diretor da FMRP

Fonte: Acervo Histórico da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto

Durante sua gestão, procurou atrair para a Faculdade pessoas de destaque no mundo acadêmico. Esta iniciativa contribuía para a FMRP ser conhecida e comentada cada vez mais no Brasil e no exterior. A título de exemplo, passaram pela Faculdade alguns visitantes como: Sir. Alexander Fleming (Prêmio Nobel de Bioquímica e descobridor da Penicilina), Bernard Houssay (Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina), Dr. Corneille Heymans (Prêmio Nobel em 1938), Henrique da Rocha Lima, entre outros.

Figura 26 - Visita de Sir. Alexander Fleming, ladeado por sua esposa e Zeferino Vaz Fonte: Acervo Histórico da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto

Não foi difícil observar que Zeferino Vaz era um homem bastante respeitado no mundo acadêmico e portador de grande capital social. A título de exemplo, freqüentemente trocava correspondências com amigos influentes, como o cientista Carlos Chagas Filho.

Figura 27 - Carta de Carlos Chagas Filho, que estava em Paris, a Zeferino Vaz indicando o nome de um professor para compor o quadro docente da FMRP

Fonte: Arquivo Central do Sistema de Arquivos da UNICAMP (SIARQ)

Zeferino Vaz era, na verdade, um homem determinado e dotado com grande força de argumentação e habilidade para convencer.

Sobre isto, o Professor Fábio Vichi quando entrevistado relatou a seguinte passagem:

Eu lembro que o Dr. Zeferino era “muito vivo”, lépido, de pensamento muito rápido, então ele vendo a queixa dos professores disse: “Não... eu vou conversar com a diretoria da VASP e vai ter um avião que sai daqui de Ribeirão toda sexta à tarde para São Paulo e de São Paulo na segunda de madrugada com tudo pago”, essas coisas nunca existiram... Zeferino era mestre nisso. Lembro, também, de uma coisa muito engraçada. Havia muita falta de energia na cidade e isso para o laboratório de patologia era uma tragédia porque não podia ligar as geladeiras e os cadáveres se decompunham. Por isso, então, o professor de patologia, Dr. Fritz Köberle, foi se queixar com o Zeferino e falou: “Não é possível, cai a eletricidade e os cadáveres apodrecem, todos se estragam”, então, o Zeferino disse: “Köberle, você veio na hora certa, porque estou com o projeto do reator atômico para a Faculdade”, e o Fritz que também era muito gozador disse: “bom... a água para resfriar o reator o senhor já tem do lago.” Quer dizer, o Zeferino “vendia o peixe”

(Entrevista concedida pelo Professor Fábio Leite Vichi no dia 22 de junho de 2004)

Zeferino Vaz mantinha, também, uma boa relação com a imprensa da cidade. Seu contato com a imprensa sempre foi muito bem aproveitado em função dos objetivos que pretendia alcançar.

A população da cidade também o respeitava. Sempre soube muito bem integrar a Faculdade de Medicina com a cidade. Praticamente tudo que solicitava era prontamente atendido.

Entretanto, seu prestígio dentro da FMRP que sempre foi muito alto, foi decaindo durante os anos. Taxado por alguns como ditador, Zeferino Vaz era, na verdade, um centralizador. Havia, por parte do corpo docente da FMRP, o desejo que se implantasse na Faculdade uma Congregação (Conselho de Professores), mas Zeferino Vaz deliberadamente retardava a realização de concursos para provimento das cátedras, justamente porque a formação de um corpo catedrático em quantidade necessária organizaria uma Congregação que, conseqüentemente, providenciaria eleição para um novo Diretor.

Muitos professores reclamavam a criação de um fórum (como a Congregação) em que pudessem se reunir. Dentro da Faculdade não havia mecanismos democráticos (daí alguns taxarem Zeferino Vaz como ditador) que possibilitassem a expressão das idéias.

O corpo discente também reclamava das atitudes de Zeferino Vaz. Os alunos reivindicavam voz na Direção da Faculdade, mas Zeferino Vaz não concordava, de forma alguma, com isso. Além do mais, queixas acerca da moradia, da alimentação e do transporte se ampliavam e começavam a causar grande mal estar entre o Diretor da Faculdade e o corpo discente.

O comportamento de Zeferino Vaz incitou os alunos a fazerem seu enterro simbólico no centro da cidade. Após este enterro, Zeferino Vaz mudou seu comportamento e, aos poucos foi saindo de cena, deixando a Direção da FMRP, em 1964.

Solicitado para outras funções, ocupou a Secretaria de Saúde do estado de São Paulo; foi um dos fundadores do Conselho Estadual de Educação; convocado pela presidência da República tornou-se Reitor da Universidade de Brasília e, em 1966, recebeu do governo estadual a incumbência de planejar e implantar a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), sendo, posteriormente, seu primeiro Reitor.

Em 1981, aos 72 anos de idade, falece na cidade de São Paulo no Hospital Sírio Libanês.

Em sua homenagem, o prédio principal da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto passou a se chamar, a partir de novembro de 1996, “Edifico Prof. Dr. Zeferino Vaz”.