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4.1 Criação

4.1.2 O Projeto de Lei

Como salientei, Adhemar de Barros prometara, tanto em Ribeirão Preto, como em São Carlos, criar uma Universidade do Interior. Os representantes legais das duas cidades junto à Assembléia Legislativa do estado de São Paulo eram, por Ribeirão Preto, o Deputado Estadual Luis Augusto Gomes de Mattos e, por São Carlos, o Deputado Estadual Miguel Petrilli.

17 A título de ilustração, bem sabemos que onde há dinheiro, há cultura. Não por acaso, Paris, no século XX,

perdeu sua supremacia cultural, exportando várias de suas obras de arte para os Estados Unidos que iniciavam sua supremacia econômica. Ribeirão Preto, conhecida como “capital do café”, havia se tornado uma das cidades mais próspera economicamente do interior do Brasil; graças a sua produção cafeeira, não lhe faltava dinheiro.

A iniciativa de criar uma Universidade partiu do Deputado são-carlense. Em 25 de julho de 1947, durante a 13ª Sessão Ordinária, subiu à Tribuna e dirigindo-se ao Presidente da Assembléia Legislativa e ao senhores Deputados presentes ressaltou, em explicação pessoal, a necessidade e as vantagens de se instalar uma Universidade em São Carlos. Após sua fala, apresentou Projeto de Lei que passou a ser conhecido como Projeto de Lei n° 10.

Transcrevi, abaixo, a fala de Petrilli:

O parágrafo único do Artigo 128 da Constituição do Estado de São Paulo prevê o incremento e a disseminação das Universidades e seus estabelecimentos complementares.

É fora de dúvida, Sr. Presidente, que a difusão cultural, como a do ensino primário e secundário, só pode trazer benefícios enormes ao país, melhorando o índice de capacidade de seu povo e aprimorando nos Municípios o anseio de civilização.

Ora, quanto mais se desenvolve pelas suas indústrias, seu comércio, sua lavoura, mais se impõe ao Município o ensino superior para manter o equilíbrio do seu próprio progresso, que não pode deixar de ser tão espiritual quanto o seja materialmente.

Dos muitos Municípios bandeirantes, um há, Sr. Presidente, que me toca muito de perto por dever-lhe o berço, mas esse não seria tão somente o motivo que me faz vir hoje a essa tribuna, e sim o justo prestígio que ele desfruta no âmbito do Estado. Quero referir-me a São Carlos. [...].

Pois bem, uma das maiores aspirações da minha terra, o seu verdadeiro sonho, é possuir a sua Universidade.

Completar, pelo ensino superior, o trânsito da sua instrução primária e secundária. Proporcionar a sua população, sem obrigação de transferências distantes, a possibilidade de seguir carreira na comunidade que o próprio Município pode facultar in loco. Não se cogitaria de sabermos primeiro, Sr. Presidente, se outros Municípios mais merecedores, talvez, devem obter antes idêntico benefício. Trata-se de começar.

A disseminação das Universidades só pode trazer fartura cultural para a nação. E São Carlos, com a situação invejável que desfruta realmente, está indicada para uma nova Universidade brasileira. [...].

Nessa conformidade, Sr. Presidente, venho fazer um apelo à Mesa no sentido de considerar objeto de deliberação o seguinte projeto de lei que apresento e passo a ler.

Sr. Presidente, requeiro a V. Exa. que o incluso projeto de lei seja submetido às necessárias discussões regimentais e, uma vez aprovado, seja convertido em lei para os devidos e legais efeitos.

(Sala das Sessões, 25 de julho de 1947).

(Cf. Estado de São Paulo – Anais da Assembléia Legislativa – 1ª Sessão da 1ª

Legislatura. 1947. Vol. 1. Organizado e impresso pela Indústria Gráfica Siqueira S.A. São Paulo. p. 451-452).

Figura 7 - Capa do Projeto de Lei n° 10 de autoria do Deputado Miguel Petrilli sobre a criação de uma Universidade em São Carlos-SP

Fonte: Assembléia Legislativa do estado de São Paulo.

Figura 8 - Projeto de Lei n° 10. Cria a Universidade de São Carlos-SP Fonte: Projeto de Lei n° 10 – Assembléia Legislativa do estado de São Paulo

Duas semanas depois, no dia 08 de agosto de 1947, após Petrilli ter apresentado o Projeto de Lei, foi a vez do Deputado Luis Augusto Gomes de Mattos explicar suas razões para a implatação de uma Universidade na cidade de Ribeirão Preto e, conseqüentemente, apresentar também um Projeto de Lei que recebeu o número 37. Da mesma forma que Petrilli, transcrevi abaixo a fala de Luis Augusto Gomes de Mattos.

Sr. Presidente. Não resta dúvida que, dada a carência de vagas nas Escolas Superiores da Capital, cada vez mais se sente a necessidade de serem criadas novas Faculdades ou novas Universidades, de forma a se evitar o constante exôdo de nossos jovens para outros Estados. De se notar que também nos demais Estados, pelo menos nos que são procurados pelos nossos estudantes, a deficiência das instalações têm exigido a limitação de vagas e, assim, os chefes de família têm sentido grandes dificuldades para que seus filhos cursem uma escola superior.

É fora de dúvida constituir obra patriótica e de grande alcance para a Nação facilitar o Estado o ensino, proporcionando meios para que os jovens da geração que surge possam aumentar seus conhecimentos, tornando-se aptos para enfrentar as asperezas da vida.

Considerando que dentre as cidades do interior paulista, Ribeirão Preto é uma das que, pela situação geográfica, centro para o qual convergem os interesses de grande região do nosso Estado, de Minas Gerais e de Goiás, pelo seu desenvolvimento e pela existência de vários prédios estadoais, oferece melhores possibilidades para a instalação de uma Universidade.

Considerando que Ribeirão Preto, é a cidade paulista procurada pela maioria dos moços de extensa região do Estado, de Minas Gerais e de Goiás, sendo certo que o número de estudantes que frequentam os diversos estabelecimentos escolares da referida cidade ascende a cerca de 18.000, apresento o seguinte projeto de LEI:

Figura 9 - Capa do Projeto de Lei n° 37 de autoria do Deputado Luis Augusto Gomes de Mattos sobre a criação de uma Universidade em Ribeirão Preto-SP

Figura 10 - Projeto de Lei n° 37. Cria a Universidade de Ribeirão Preto-SP Fonte: Projeto de Lei n° 37 Assembléia Legislativa do estado de São Paulo

Iniciava-se, assim, o desejo e a luta das lideranças políticas pela aprovação dos referidos Projetos de Leis.

Apresentados os Projetos, o Presidente da Assembléia os encaminhou, primeiramente, para a Comissão de Constituição e Justiça da Casa, a qual não verificou nenhum impedimento do ponto de vista jurídico e legal. A alegação foi a seguinte: “[...] sob o ponto de vista da lei, a proposta encontra amparo legal no disposto do artigo 22 da Constituição do Estado, já que a matéria não incide no campo da competência exclusiva do Executivo.” Sugeriu, esta Comissão, que quanto ao mérito e oportunidade da medida, poderia depor ampla e minuciosamente as Comissões de Educação e Cultura e Finanças e Orçamento.

Desta forma, os referidos Projetos foram encaminhados, posteriormete, à Comissão de Educação e Cultura da Casa, cujo parecer também foi favorável. Uma das alegações desta Comissão foi a seguinte: “[...] Realmente, a difusão do ensino superior é medida das mais salutares e virá contribuir, eficientemente, para a boa formação cultural de nossos moços, de cuja capacidade e visão dependem os próprios destinos do Estado”.

Entretanto, um de seus membros o Deputado Rubens do Amaral, deu seu voto em separado. Ao fazê-lo manisfestou-se contrário alegando, entre outras coisas, que:

[...] Ocorrem, porém, objeções ponderáveis. Uma delas é que o momento não é próprio. Uma Universidade tem que ser uma coisa muito séria, a começar pela organização do seu corpo docente. Numa época como a que atravessamos, de delíquio moral, devemos temer que a empanturrem com a presença de protegidos, afilhados e cabos eleitorais, selecionados, não pelo seu valor intelectual e cultural, mas pela sua dedicação ao governador e ao partido do governador. [...] Uma Universidade não se constrói só com boa vontade. Requer, também, edifícios e instalações. De que custo? [...] devemos prever que as quatro Faculdades fundamentais – de Direito, de Medicina, de Engenharia e de Filosofia, Ciências e Letras, - custarão 200 milhões de cruzeiros. Se agregarmos uma Faculdade de Ciências Econômicas, outra de Farmácia e Odontologia e outra de Agronomia, teremos um gasto total, em edificações e instalações, de 350 milhões de cruzeiros. [...] Lembre-se que o Estado até hoje não pôde dar sede condigna à Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo. E há de poder instalar outra Universidade, completa, no Interior?”

(Cf.: Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. Comissão de Educação e

Cultura. Parecer n° 250 de 18 de novembro de 1947. Anexo ao Projeto de Lei n° 10).

Em seguida, coube a Comissão de Finanças e Orçamento da Assembléia Legislativa se posicionar. Após análise minuciosa, a referida Comissão posicionou-se favoravelmente considerando:

[...] temos hoje necessidade de encarar de frente os problemas que estão a desafiar a nossa inteligência. Necessitamos de técnicos em todos os ramos do conhecimento e das atividades humanas. Precizamos de homens de profissão especializada para vencermos a luta da concorrência no comércio internacional.

[...] o eminente Deputado Rubens do Amaral, para concluir, todavia, por fazer várias objeções contra a idéia [...] no seu entender a mais séria razão é a situação financeira, declarando que uma universidade abrangendo todos os ramos da ciência humana, com a construção dos edifícios e respectivas instalações, ficaria em 350 milhões de cruzeiros. Não sabemos quais os elementos com que jogou o nobre colega para chegar àquela cifra. Contudo, estamos certo de que há exagero nos cálculos. Como quer que seja, porém, teremos que enfrentar o problema com coragem e otimismo. O programa do ensino superior em nosso país está atrasado de muitos lustros. E São Paulo, que sempre tem sido vanguardeiro nas iniciativas em prol do progresso e da civilização desta parte da América, certamente não pode cruzar os braços em atitude negativa diante dos fatos. [...] O nosso Estado tem feito gastos muito maiores com realizações de muito menor importância.

(Cf.: Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. Comissão de Finanças e Orçamento. Parecer n° 323 de 01 de dezembro de 1947. Anexo ao Projeto de Lei n° 10).

Entretanto, o Deputado Rubens do Amaral, ainda não satisfeito, enviou em 11 de dezembro de 1947 um Requerimento ao Presidente da Assembléia, pedindo para que o Projeto de Lei fosse reenviado à Comissão de Finanças e Orçamento. Teve seu pedido rejeitado. Na Sessão do dia 16 de dezembro de 1947, apresentou, junto com o Deputado Mario Beni, um Substitutivo ao Projeto de Lei n° 10 de autoria do Deputado Miguel Petrilli e, novamente, teve seu pedido rejeitado.

Ainda, na Sessão do dia 16 de dezembro de 1947, várias outras emendas ao Projeto de Lei n° 10 foram apresentadas e todas rejeitadas. Estas emendas visavam criar Universidades em várias cidades do estado, afinal, nenhum Deputado gostaria de perder a oportunidade de levar para seu domicílio eleitoral uma Universidade. As cidades que pleitearam foram: Campinas, Botucatu, Santos, Itapetininga, Jaú, Lins, Rio Preto, Presidente Prudente, Assis, Santa Cruz do Rio Pardo e Piracicaba.

Contudo, na mesma Sessão, foi apresentado pelo Deputado Luis Augusto Gomes de Mattos e aprovado na Sessão do dia seguinte (17 de dezembro de 1947) um Substitutivo ao Projeto de Lei n° 10 cuja finalidade era a criação das Universidades de São Carlos, Ribeirão Preto e Bauru com verbas especiais para o orçamento de 1949.

Figura 11 - Substitutivo ao Projeto de Lei n° 10 que objetiva criar Universidades em São Carlos, Ribeirão Preto e Bauru