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Parecer da Comissão de Ensino e Regimento da USP

4.1 Criação

4.1.3 Parecer da Comissão de Ensino e Regimento da USP

As discussões acerca do Projeto de Lei n° 10, no final de 1947, eram bastante polêmicas. Substitutivos, Emendas e Pareceres davam o tom dos debates nas Sessões da Assembléia Legislativa. Na imprensa e nas rodas culturais paulistas as discussões também eram constantes.

Após ser aprovado o Substitutivo do Deputado Luis Augusto Gomes de Mattos pela Assembléia Legislativa, no mesmo dia (17 de dezembro de 1947) tornou-se público o Parecer da Comissão de Ensino e Regimento da Universidade de São Paulo referente ao Projeto de Lei n° 10, do qual a Assembléia Legislativa encaminhara a esta Universidade. De acordo com o parecer do relator desta Comissão da Universidade de São Paulo, Professor Zeferino Vaz, tal projeto se enquadrava como imperfeito e inexiqüível.

Na verdade, o pedido de um parecer da Comissão de Ensino e Regimento da USP referente ao Projeto de Lei n° 10, partiu do Governador do estado. Pois, pediu o governador apoio ao Reitor da USP quanto ao Projeto de Lei citado, que estava em discussão na Assembléia Legislativa. Em anexo ao Processo, encontrava-se também um Ofício do Deputado Rubens do Amaral, datado de 27 de novembro de 1947, solicitando ao Reitor parecer dos órgão técnicos da Universidade de São Paulo sobre o mesmo assunto.

Desta forma, o Reitor da USP encaminhou o Processo à Comissão de Ensino e Regimento para elaboração de Parecer que seria submetido à apreciação do Conselho Universitário. A referida Comissão analisou o Projeto de Lei n° 10 sob os seguintes aspectos: a) Legal e Técnico Legislativo; b) Didático; c) Financeiro; e d) Cultural e Social. (Os dados a seguir são embasados essencialmente no Processo n° 14.138-47. Parecer da Comissão de Ensino e Regimentos. Reitoria da Universidade de São Paulo. Conselho Universitário).

Quanto ao aspecto Legal e Técnico Legislativo relatou o Parecer que faltavam ao Projeto características indispensáveis exigidas por Lei, pois, dizia o relatório, não estabelece e nem cria Institutos que devam compor a Universidade. Afinal, como salienta o Parecer, Universidade é, por definição, a reunião de diversos estabelecimentos de ensino superior sob uma só orientação e tendo por finalidade o desenvolvimento da cultura pelo ensino e pela pesquisa e, neste sentido, a Lei brasileira é clara ao exigir que, para a constituição de uma Universidade, há necessidade de congregação de pelo menos três Faculdades. De acordo com o Decreto Federal n° 19.581, de 11 de abril de 1931, em seu artigo 5°, e do Decreto Federal n° 24.279, de 22 de maio de 1934, a constituição de uma Universidade brasileira deveria compor

Faculdade de Direito, Faculdade de Medicina, Escola de Engenharia e Faculdade de Educação, Ciências e Letras.

Como o Projeto de Petrilli não fazia a menor referência aos Institutos da futura Universidade, julgou, seu relator, que o mesmo incidia em impedimento legal. Além disso, era falho também do ponto de vista técnico, pois carecia dos seguintes elementos: a) discriminação das disciplinas do ensino obrigatório de cada curso; b) da duração dos cursos; c) das condições de matrícula; d) dos provimentos dos cargos docentes e técnicos; e) dos órgãos de administração etc.

Quanto ao aspecto Didático, para que a Universidade atingisse seus objetivos era necessário, de acordo com o Parecer baseado na alínea II do artigo 5° do Decreto Federal 19.581, a necessidade de disposição para capacidade didática aí compreendida por professores, laboratórios e demais condições necessárias para um ensino eficiente. Julgava, o Parecer, que se isto tudo é de solução difícil no caso de uma só Faculdade, o que dizer então de uma Universidade localizada distante da capital.

Quanto ao aspecto Financeiro, dizia o Parecer que bem poucos estavam ao par dos custos de instalação e manutenção de uma Universidade. Destacava que:

Cinqüenta milhões de cruzeiros é o cálculo seguro das despesas anuais de manutenção das 3 Faculdades da Universidade. As de instalação, computados os edifícios a construir, laboratórios, serviços hospitalares a montar, custarão em cálculo discreto sempre acima de cem milhões de cruzeiros.

(Cf.: Reitoria da Universidade de São Paulo. Conselho Universitário. Processo n°

14.138-47. Parecer da Comissão de Ensino e Regimentos. fl. 10).

E, conclui, dizendo: “Aí ficam os números para conhecimento e meditação dos interessados”.

Por fim, quanto ao aspecto Cultural e Social, o Parecer destacava que o progresso material e cultural de uma nação é a resultante do nível médio de cultura de seu povo, pois onde houver maior número de alfabetizados, maior será o número de cientistas, letrados e artistas. Destacava, ainda, que não é inteiramente remoto atribuir a riqueza cultural de nações à disseminação de universidades pelo interior e que parece mais lógico atribuir a existência de numerosas Universidades boas, qualquer que seja sua localização.

A lei que resultasse de aprovação pura e simples do projeto n° 10 seria: 1 – Inoperante por não prever a criação dos Institutos que hão de compor a Universiade.

2 – Contrária à lei e, por isso, não obteria a necessária aprovação do Governo Federal [...]

3 – Imperfeita: a) por ignorar que Universidade é agrupamento de institutos de ensino superior. b) por não criar os cargos docentes, técnicos e administrativos de cada instituto e nem os órgãos de administração da Universidade. c) por determinar ao Executivo que baixe um regulamento sem dar-lhe os elementos indispensáveis à sua elaboração e que só a Assembléia Legislativa lhe pode proporcionar. d) [...] A unidade do ensino universitário está a indicar que qualquer novo instituto Oficial de educação superior no Estado seja planificado, instalado e orientado pela Universidade de S. Paulo aproveintando-se a longa experiência que já possui sobre o asssunto.

4 – Inoportuna – a) do ponto de vista cultural por não termos resolvido ainda problemas básicos de ensino primário e secundário – b) por estar longe da saturação a capacidade didática da Universidade de S. Paulo – c) por estar prevista a existência de cursos noturnos na Universidade de S. Paulo – d) pela precariedade da situação financeira do Estado.

(Cf.: Reitoria da Universidade de São Paulo. Conselho Universitário. Processo n° 14.138-47. Parecer da Comissão de Ensino e Regimentos. fls. 16-18).

Ao fazer estas críticas o Relator, Prof. Zeferino Vaz, não parecia ser contrário à criação de novas Universidades. Pode-se observar que a essência do Parecer se encontra não na crítica destrutiva, mas numa análise bem intencionada. Afinal, depois deste Parecer, como será visto adiante, a história tomou outro rumo.