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Uma aproximação entre a teoria da institucionalização situada na sociologia do conhecimento e desenvolvida por Berger e Luckmann e o pensamento de Pierre Bourdieu nos ajuda a compreender como se estabelecem as instituições e sua legitimação, o que se torna fundamental nos estudos em jornalismo em que pese compreender as condições que o permitem existir, isto é, aquilo que subjaz ao discurso jornalístico, delimitando-o.

Conforme Berger e Luckmann (2011), as instituições sociais representam uma ordem social necessária para a vida humana em sociedade e constituem-se em mecanismos estruturais resultantes da atividade social e cultural desenvolvida pelos próprios indivíduos, enquanto exteriorização das subjetividades. São, portanto, produções humanas que se manifestam à medida que as atividades humanas

tornam-se habituais, isto é, quando os atores sociais que participam de determinada atividade produzem e compartilham saberes que tipificam as ações habituais, institucionalizando-as. As instituições, como resultado desse processo, são constituídas pelas tipificações partilhadas entre os agentes em situação de interação recíproca determinando o que compete a quem fazer. Como as tipificações são compartilhadas, elas estão acessíveis a todos os agentes do grupo social vinculado à atividade em questão; elas dirigem-se aos agentes, tipificando-os individualmente assim como suas ações individuais.

Assim, a institucionalização do jornalismo pode ser entendida como um processo que exige a repetição e o aperfeiçoamento contínuo de procedimentos específicos para produção dos materiais jornalísticos. A participação de vários agentes é outro elemento-chave neste processo, pois acaba por determinar os lugares que estes ocupam, possibilitando assim que a atividade seja realizada através dos processos interativos compartilhados.

A partir disso, o jornalismo pode ser compreendido como um “campo de forças” (BOURDIEU, 1997; 2005), formado por vários

agentes sociais, um saber específico e um grupo

especializado/profissional (TRAQUINA, 2005a). Os agentes são representados pelas fontes, assessorias, agências de notícias e outros que tem como objetivo mobilizar o jornalismo em favor de suas estratégias de comunicação, buscando promover assuntos, acontecimentos, ideias, valores. O grupo especializado é formado pelos próprios jornalistas, uma comunidade interpretativa transnacional – a tribo jornalística (TRAQUINA, 2005b) –, que busca operar o saber específico e reivindicar o monopólio desse saber. Neste campo, os agentes e a sociedade, cada qual ocupando um lugar determinado, interagem na produção, circulação e consumo de materiais jornalísticos.13

13 O conceito de campo é central na teoria de Pierre Bourdieu. Ele entende que cada campo

social representa “um campo de forças, dentro do qual os agentes ocupam lugares (espaços) que determinam as posições tomadas a respeito do campo. Essas tomadas de posição têm por objetivo conservar ou transformar as relações de força que constituem o campo” (BOURDIEU, 2005, p. 30). Em outra obra, o mesmo autor afirma: “Um campo é um espaço social estruturado, um campo de forças – há dominantes e dominados, há relações constantes, permanentes, de desigualdade, que se exercem no interior desse espaço – que é também um campo de lutas para transformar ou conservar esse campo de forças. Cada um, no interior desse universo, empenha em sua concorrência com os outros a força (relativa) que detém e que define sua posição no campo e, em conseqüência, suas estratégias. (BOURDIEU, 1997, p. 57). Essa definição, que serve para qualquer campo da estrutura social, revela o campo como um lugar ocupado por um determinado grupo ou rede de indivíduos – agentes sociais – que se relacionam desenvolvendo ações e reações que envolvem valores e disputas de poder.

Tendo em vista que as tipificações recíprocas são construídas no curso de uma história compartilhada, as instituições implicam também historicidade: “As instituições têm sempre uma história, da qual são produtos. É impossível compreender adequadamente uma instituição sem entender o processo histórico em que foi produzida.” (BERGER; LUCKMANN, 2011, p. 77). As tipificações só se tornam institucionalizadas, isto é, só se transformam em instituições quando adquirem historicidade, quando são cristalizadas ou, ainda, quando são objetivadas mais firmemente, o que as permite serem passadas para outras gerações.

À medida que o jornalismo consolida sua função na sociedade e depois é aprimorado enquanto profissão e atividade comercial seu âmbito institucional é fortalecido. O discurso que produz e faz circular na sociedade passa a incorporar o discurso social, a constituir determinada ordem social. Isso permite que ele seja legitimado publicamente, ou seja, as gerações passam a acreditar na sua existência e importância.

De acordo com Berger e Luckmann (2011), o mundo institucional exige legitimação. No primeiro momento, a legitimação da ordem institucional ocorre a partir do conhecimento primário situado em um nível pré-teórico; é a soma de “tudo aquilo” que “todos sabem”. Esse conhecimento de “senso-comum” fornece receitas – regras de conduta aceitas para o exercício da atividade profissional, isto é, institucionalmente adequadas. Desse modo, são definidos também os papéis a ser desempenhados no contexto da instituição e que representam a própria instituição. Nem todos os papéis podem ser desempenhados por todos os indivíduos. Por outro lado, há padrões de desempenho de papéis que são acessíveis a todos que fazem parte do cabedal de conhecimento compartilhado. Por isso, nesse processo, destaca-se a importância da socialização, que irá permitir sedimentar o conhecimento dando sequência à tradição. Segue-se assim a legitimação com o acréscimo de novos significados sem subverter a ordem institucional. Os significados institucionalizados são mais fáceis de serem apreendidos na medida em que são simplificados em “fórmulas”, sendo que uma parte desse conhecimento interessa para alguns e a outra, a outros, variando conforme a sociedade.

Essa reflexão nos permite compreender a importância da cultura profissional jornalística historicamente constituída, aquilo que de modo convencional é chamado ethos jornalístico (KARAM, 2009; TRAQUINA, 2005a; 2005b), e define uma maneira de agir, falar e ver o mundo, embasada em valores, conceitos e em uma linguagem própria

que define o que é o jornalismo e a identidade do jornalista. Trata-se de um dever-ser representado como patrimônio profissional e social da atividade que, construído ao longo da história, é composto por normas, procedimentos, princípios e valores como verdade, liberdade, objetividade, credibilidade, legitimidade, independência, interesse e serviço públicos, direito à informação, entre outros. De acordo com Karam (2009), esses são traços específicos do jornalismo que não se apagam. Pelo contrário, são elementos que reforçam a ideia de profissão e, consequentemente, de formação. As noções de credibilidade, legitimidade e necessidade social, de acordo com o autor, representam selos que qualificam o jornalismo e, por isso, devem ser mantidos como norteadores da conduta cotidiana dos profissionais e instituições que atuam no jornalismo.

Considerando o campo jornalístico, podemos então afirmar que a cultura profissional se aproxima do conceito de “habitus”, mais precisamente, do “habitus específico” (BOURDIEU, 2001) que é constituído durante o processo de institucionalização histórica do jornalismo. É o habitus que possibilita aos agentes inseridos no campo

reconhecerem-se como membros do grupo, da comunidade

jornalística.14

De acordo com o pensamento de Bourdieu (2009, 2011), o

habitus é produto do condicionamento histórico e social internalizado

pelos sujeitos; capacidade cognitiva ou ainda apriorismos mentais e práticos que, configurados sob um universo de classificações e de possibilidades, é expresso em formas de comportamento e maneiras de agir adquiridas e apresentadas pelos indivíduos na vida em sociedade. É um sistema de disposições, de modos de perceber, sentir, fazer e pensar, que nos levam a agir de determinada maneira em uma circunstância determinada. Nesse sentido, o habitus é também produtor de ação, mas ele não é percebido ou explicitado de modo racional. Isto é, essas disposições não são automáticas, nem deterministas, mas flexíveis, sendo condicionadas à capacidade natural de adquirir capacidades não- naturais. São adquiridas pela interiorização das estruturas sociais, e

14 O conceito de habitus é significativo na teoria boudieusiana, pois atrelado ao conceito de

campo, permitindo explicar o funcionamento deste. Nas palavras de Bourdieu (MICELI, 2009, XLI), o habitus corresponde a “um sistema de disposições duráveis e transferíveis que, integrando todas as experiências passadas, funciona a cada momento como uma matriz de percepções, apreciações e ações, e torna possível a realização de tarefas infinitamente diferenciadas, graças às transferências analógicas de esquemas que permitem resolver os problemas da mesma forma e graças às correções incessantes dos resultados obtidos dialeticamente produzidas por estes resultados.”.

internalizadas de tal forma que não percebemos que elas existem.15 O

habitus é resultado de processos sobre os quais não se reflete de modo

consciente e que se expressam como uma atitude “natural” dos agentes diante daquilo que os rodeia em contextos determinados.

Decorrente de processos de aprendizagem, o habitus pode ser entendido ainda como o mecanismo que possibilita uma recuperação “controlada” da consciência de classe ou do grupo, porque, por um lado, enfatiza o domínio das práticas, onde se constituem esforços de mobilização que conduzem à transformação social, e de outro lado, exige que os grupos e/ou classes de agentes tenham um controle e domínio mínimos de um código comum, ainda que seja esse registro não-consciente (MICELI, 2009). Assim, o habitus é também competência adquirida que pode ser atualizada ou expressa pelo grupo que o detém, através de suas práticas. As ações coletivas somente são possíveis porque os grupos e/ou classes compartilham competências específicas que constituem e completam o capital cultural do grupo, atuando como uma espécie de princípio que orienta as trajetórias possíveis e potenciais das práticas em questão. Nesse sentido, o habitus funciona como um conhecimento adquirido que representa um haver, um capital que indica a disposição quase postural para a ação (BOURDIEU, 2011).

O habitus individual relaciona-se com outros habitus que são específicos. De acordo com Bourdieu (2001) os habitus são necessários e constitutivos da institucionalização dos campos sociais, é o que permite a dinâmica social dentro de um determinado campo. Bourdieu considera que os campos sociais são pontos de vista instituídos nas coisas e nos habitus. Para ser aceito no grupo e participar do jogo, o agente deve apresentar um habitus compatível como habitus específico do campo, e maleável o suficiente para ser ajustado.

Retomando Thomas Kuhn (em A estrutura das revoluções

científicas), Bourdieu menciona os habitus específicos dos campos,

inclusive o jornalístico, como uma matriz disciplinar de crenças, valores, técnicas etc., partilhadas por uma comunidade. O autor define o

habitus específico “como um modo de pensamento específico (um eidos), princípio de uma construção específica da realidade fundada

numa crença pré-reflexiva no valor indiscutível dos instrumentos de

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O habitus corresponde assim a um sistema de estruturas interiorizadas/subjetivadas, e ao mesmo tempo, é condição de toda e qualquer exteriorização/ objetivação. É estrutura estruturada e estruturante (BOURDIEU apud MICELI, 2009), funcionando como rotinas corporais e mentais inconscientes, constituídas da história individual e coletiva, e que dirigem/norteiam o agir diário.

construção e dos objetos assim construídos (um ethos)”. (BOURDIEU, 2001, p. 121).

Em nosso entendimento, o ethos jornalístico é parte do habitus jornalístico, já que diz precisamente dos valores e princípios que devem nortear o fazer e o comportamento dos agentes que estão inseridos no campo jornalístico. Mas o habitus jornalístico também é constituído pelos procedimentos internalizados pelos profissionais, na lida diária, e contempla outros aspectos institucionais do campo.

Cada campo, pensado a partir do pensamento bourdiesiano, corresponde a um “subuniverso de significação” tal como formulado na teoria de Berger e Luckmann (2011). Os autores explicam que alguns subuniversos são autônomos, preocupando-se não com a legitimação de sua existência, mas em manter o acesso ao “acervo de conhecimento” disponível apenas para alguns papéis. Contudo, há subuniversos, como no caso do jornalismo, que além de ter como preocupação o acesso ao acervo de conhecimento que lhe diz respeito apenas para alguns papéis – os jornalistas –, necessitam também de legitimação perante toda a sociedade. Nesses campos, ao mesmo tempo em que os “detentores” do saber tentam manter os “estranhos” de fora, precisam que estes reconheçam a existência e importância do campo. As técnicas utilizadas para conseguir a aceitação dos “estranhos” variam desde procedimentos de intimidação, propaganda racional e irracional, mistificação, manipulação de símbolos de prestígio.16 Os subuniversos de significação também utilizam técnicas para manter os “íntimos” – os detentores do conhecimento específico – dentro dele, inscritos nele. Tanto as estratégias para legitimação e convencimento do público leigo quanto os procedimentos para manutenção dos papéis são controles internos necessários a toda e qualquer profissão, pois servem para manter os papéis em seus “devidos lugares” – os leigos continuam leigos e os profissionais, especialistas.

No jornalismo, essas técnicas se traduzem em normas e regras de conduta e de procedimentos. A objetividade pode ser considerada como uma das normas mais importantes, funcionando como uma das técnicas de legitimação a partir da qual fluem outros aspectos, como a exatidão, o news judgement17, a seleção das fontes, a forma e o conteúdo que deve

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Em relação à teoria de Bourdieu, essas técnicas podem ser compreendidas a partir das três formas de capital, que são abordadas no segundo capítulo desta dissertação, seção 3.4.

17 O news judgement, assim como a objetividade, é reivindicado pelos jornalistas diante das

decisões que estes têm de tomar na produção da notícia. Tuchman (1999) considera que as relações organizacionais, isto é, a relação de trabalho que o jornalista estabelece com colegas e superiores, na organização onde atua, e com outras organizações, o levam a reivindicar esses

ter a notícia etc. Alguns estudos têm mostrado que a invocação da objetividade ajuda a proteger a integridade das organizações jornalísticas e seus profissionais, pois lhes afasta da responsabilidade dos fatos noticiados – “as fontes e não os jornalistas são responsáveis pela exactidão dos fatos” (SOLOSKY, 1999, p. 96). Para Tuchman (1999), a objetividade jornalística funciona como um ritual estratégico invocada pelo uso de certos procedimentos de rotina perceptíveis ao consumidor da notícia. E ela é utilizada para proteger os jornalistas de eventuais riscos da profissão e críticas que venham a eles ser dirigidas. A questão da exatidão perseguida pelos jornalistas, por exemplo, está relacionada à reputação, tanto da organização quanto do profissional. Cada notícia tem potencial para afetar a capacidade dos jornalistas no cumprimento das suas tarefas diárias, a sua reputação perante os seus superiores, e os lucros da organização. É contra essas pressões que os jornalistas invocam a objetividade, argumentando que os perigos podem ser minimizados se eles seguirem estratégias que os garantam “fatos objetivos”, avalia Tuchman (op. cit.).18

Outro mecanismo que atua como regra é o projeto editorial – individual – das organizações jornalísticas que versa sobre a seleção da informação a ser divulgada, assinalando a ação institucional sobre a produção do discurso. “A seleção significa [...] a ótica através da qual a empresa jornalística vê o mundo. Essa visão decorre do que se decide publicar em cada edição privilegiando certos assuntos, destacando determinados personagens, obscurecendo alguns e ainda omitindo diversos” (MELO, 2003, grifos do autor). Porém, conforme salienta o próprio Marques de Melo (2003), não se trata de um controle operado somente pelos empresários das organizações jornalísticas, mas uma negociação implícita entre a ótica da empresa e a ótica do profissional,

valores/elementos. Para os jornalistas, de acordo com a autora (op. cit.) as experiências relacionais validam o news judgement, e assim ajudam a definir os fatos que “fazem sentido” e que merecem ser noticiados. A autora entende, no entanto, que os fundamentos que conformam o news judgement representam apenas um fragmento das visões desses profissionais sobre a realidade social e política.

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Além da verificação dos fatos, Tuchamn (op. cit.) identifica e analisa quatro procedimentos que os jornalistas dizem seguir para conseguir “fatos objetivos”: 1) apresentar possibilidades de conflito, ou seja, “os dois lados da questão” sem favorecer algum deles, o que supostamente permitirá ao leitor decidir “quem está dizendo a verdade”; 2) apresentar provas auxiliares, que consistem na localização e citação de fatos suplementares que são geralmente aceitos como verdadeiros; 3) o uso judicioso de aspas, o que provoca a separação da opinião de outras pessoas do resto do texto que se são apresentadas, então, como forma de prova suplementar; 4) a estruturação da informação numa sequencia apropriada, começando com o lead e tomando a forma conhecida como pirâmide invertida. No entanto, todos esses procedimentos, segundo a autora, são problemáticos e não sustentam a objetividade jornalística.

uma vez que os jornalistas sempre contam com artifícios para “burlar” a linha editorial. Embora não ocorra no plano da seleção fundamental, existe um campo para intervenção sutil dos profissionais nas questões que não constituem “os pontos de honra” da empresa, permitindo produzir informações que não destoem da orientação empresarial. Esse pacto informal entre proprietários e empregados visa, de um lado, abrir “brechas” para que determinadas informações que correspondem a expectativas de públicos específicos possam ser produzidas, o que ajuda a reforçar os interesses mercadológicos da empresa, e de outro lado, criar um clima de cordialidade na redação, amenizando o clima de tensão próprio das relações de trabalho assalariado.

Nessa perspectiva, a prática profissional jornalística é um campo específico de atividade social onde estão implicadas relações sociais e produção simbólica determinadas pela interação entre mecanismos de controle trans-organizacional, representados pelas normas, técnicas e sistema de reconhecimento e controle inter-organizacional, representados pelas políticas editoriais. Todavia, é preciso pensar o campo jornalístico para além de suas fronteiras organizacionais, para além do interior da instituição jornalística entendida enquanto imprensa. O campo, nesse sentido, é amplo e funciona tal qual uma arena de disputas onde o habitus e também o conflito são pressupostos. Os processos conflituosos são inerentes ao campo, uma vez que este é também um espaço de lutas que visam transformar ou conservar as práticas sociais e de produção simbólica. Além disso, mesmo sendo constrangidos por forças da organização jornalística, jornalistas têm capacidade para agir acima desses constrangimentos, com certa margem de liberdade. Há uma relação permanente entre as forças do interior do campo, as forças externas ao campo e a margem de autonomia e liberdade de seus agentes para construir/reconstruir o campo e suas relações com os demais.

Recorremos então ao pensamento de Bourdieu (1997, 2005) que define o campo jornalístico como um microcosmo que tem leis próprias, um espaço marcado por uma posição no mundo global e pelas atrações e repulsões que sofre da parte de outros microcosmos. De acordo com a leitura desse autor, o campo jornalístico é estruturado com base na oposição entre dois pólos: o ideológico que, sendo “mais puro”, mais independente do poder político, estatal e econômico, compreende a notícia como serviço público; e o econômico que, sendo “mais dependente” de outros poderes – incluindo o comercial –, alimenta a visão do jornalismo como um negócio. Na visão de Bourdieu (op. cit.), o jornalismo está cada vez mais dominado pelo pólo menos autônomo,

isto é, por valores comerciais. Essa dominação é expandida para o interior dos outros campos, reforçando “o comercial” em detrimento do “mais puro”. Ou seja, embora seja organizado a partir de uma estrutura semelhante à dos outros campos, o campo jornalístico, segundo autor, tende para o pólo comercial, e com isso, tende a banalizar os outros campos.

Por outro lado, a restrição estrutural exercida pelo jornalismo no interior dos outros campos sociais representa um crescente e poderoso controle no que diz respeito à produção simbólica (BOURDIEU, 2005), constituindo-se em uma das técnicas de legitimação do próprio campo. Os efeitos que o discurso jornalístico produz, nos diferentes campos, são semelhantes e correspondem à modificação das relações de força e interferências no que se faz e se produz. Esses efeitos, para Bourdieu (1997), estão ligados à estrutura própria da imprensa e seus profissionais, conforme a autonomia dos mesmos em relação às forças externas que podem ser representadas pelos diferentes poderes e instâncias governamentais, pelos mercados de leitores e de anunciantes. Nesse sentido, ao mesmo tempo em que exerce influência sobre os outros campos, o jornalismo também sofre pressões e influências da sociedade.

Ainda, de acordo com Bourdieu (1997, p. 105), o jornalismo é legitimado em dois processos de reconhecimento: pelos pares e pela maioria. O primeiro é concedido aos que reconhecem mais completamente os valores ou os princípios internos, enquanto o segundo é baseado na lógica do mercado, que acaba gerando uma vigilância permanente sobre a atividade da concorrência que, em parte, acaba por alimentar a uniformidade, censura e até mesmo conservadorismo.19 Nas