• Nenhum resultado encontrado

5 A PESQUISA

5.8 A instituição e os sujeitos participantes da pesquisa

A pesquisa de campo foi realizada no 2º semestre de 2013, com um aluno cego regularmente matriculado no 2º período do curso de Licenciatura em Matemática de uma instituição pública federal localizada na cidade de São João Evangelista, Minas Gerais, no contexto da sala de aula, em aulas de cálculo diferencial. Como exposto no capítulo 1, ele pediu transferência interna do Bacharelado em Sistemas de informação, ofertado pela mesma instituição, para o curso onde está atualmente. Ao mudar para o curso de Licenciatura, a sua situação ficou irregular em relação às disciplinas a serem cursadas, uma vez que foi feito aproveitamento de algumas e, dada certa incompatibilidade nos horários, ele ficaria impossibilitado de cursar outras no 2º período em horário regular. Assim, foi montada uma grade pelo coordenador de curso, na qual ele pudesse aproveitar ao máximo o seu tempo disponível à noite. A disciplina de Cálculo I se encontra no 4º período do curso, e, como ela possui como requisito que o aluno tenha cursado fundamentos de matemática I, Daniel pôde se matricular nessa disciplina dado que tinha cursado a disciplina de fundamentos no curso de Sistemas. Nessa oportunidade, conforme o Plano de Ensino da disciplina, está previsto o conteúdo

ora escolhido para a realização da coleta de dados, qual seja, derivadas de funções elementares de uma variável e funções derivadas.

5.8.1 A instituição

A Escola Agrotécnica Federal de São João Evangelista situa-se no interior de Minas na região centro leste do estado. Fundada em 27/10/1951, teve início, em 1947, através da idealização dos Doutores Nelson de Sena e Demerval José Pimenta, que, juntamente com os Senhores Oswaldo Pimenta, Monsenhor Antônio Pinheiro, Padre Davino Morais e Astrogildo Amaral, fundaram uma Sociedade Educacional. Em 1950, essa Sociedade, através de um termo de compra e compromisso, adquiriu da Senhora Ondina Amaral um terreno que possuía o nome “Chácara São Domingos”, com uma área de 277, 14ha. Dava-se início, então, ao que hoje é a Escola Agrotécnica Federal. Em dezembro de 2008, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei nº 11.892, que instituiu, no Sistema Federal de Ensino, a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Hoje tal escola compõe a rede do IFMG e oferece cursos de formação tecnológica em Nutrição e Dietética, Agropecuária, Manutenção e Suporte Técnico em Informática. No nível Superior, o Instituto oferece Bacharelado em Agronomia, Tecnologia em Silvicultura, Licenciatura em Matemática e Bacharelado em Sistemas de Informação. Recentemente, fora implantado o curso de Especialização em Meio Ambiente. O campus São João Evangelista exerce uma expressiva influência nas regiões do Vale do Rio Doce, Vale do Mucuri e Vale do Jequitinhonha e, ainda, no norte de Minas Gerais e outras regiões do Estado. Nos últimos anos, o IFMG – campus São João Evangelista concentrou suas atenções nos municípios de Cantagalo, Coluna, Guanhães, Materlândia, Rio Vermelho, Sabinópolis, São José do Jacuri, São Pedro do Suaçuí, Paulistas, Peçanha e Virginópolis, municípios que fazem parte de sua microrregião de atuação.

A instituição é dotada de ginásio poliesportivo, alojamentos masculino e feminino, quadras, campo de futebol profissional, laboratórios de informática em todos os prédios, salas de aulas equipadas com projetores multimídia e computadores e biblioteca com acervo atual. Para as aulas práticas dos cursos de Agropecuária e Silvicultura, a instituição possui granjas, pastos, aviários, animais e máquinas agrícolas. Possui ainda uma usina de beneficiamento de leite,

transformação e industrialização de alimentos para atender ao curso técnico de nutrição e dietética. Quase todos os alimentos consumidos nas refeições por alunos e servidores são produzidos no próprio Instituto. Todos os prédios do Instituto são dotados de acessibilidade. Recentemente, fora implantado o NAPNE, com vistas a consolidar a política de inclusão na instituição.

Diante da matrícula de um aluno cego ao curso Técnico de Nutrição e Dietética no Campus, houvera um significativo movimento de adaptação do corpo docente, contudo não organizado ou mesmo sistematizado, para recebê-lo, conforme discutido por Machado Pimenta (2012), a qual pondera que, lamentavelmente, as ações instituídas através das ações políticas-pedagógicas ainda são incipientes e, em grande parte, ancoradas na formação dos professores para atuar nesse contexto. Atualmente, a escola não conta com outros alunos com necessidades especiais em seus cursos técnicos, porém observa-se um movimento no sentido de buscar capacitar os docentes e futuros professores para receber outros alunos. Tais ações partem, principalmente, do curso de Licenciatura em Matemática através de cursos, minicursos e oficinas ofertadas nos últimos anos que oferecem capacitação em Libras e Braille e discutem a perspectiva da inclusão.

5.8.1.1 O curso de Licenciatura em Matemática e a perspectiva da inclusão

A implantação do curso de Licenciatura em Matemática constitui-se em uma decisão acertada do IFMG, campus São João Evangelista para consolidar o seu compromisso com o desenvolvimento socioeconômico da região, oferecendo maiores possibilidades para a qualificação de profissionais da área de Matemática.

O referido curso surgiu a partir de um levantamento feito pelo Departamento de Desenvolvimento Educacional desse campus, junto aos municípios circunvizinhos, sendo que, entre as licenciaturas elencadas, a Licenciatura em Matemática foi a mais solicitada.

Essas razões é que levaram o IFMG – Campus São João Evangelista a ofertar o Curso de Licenciatura em Matemática, considerando, também, que a região em que esse campus está inserido é carente de profissionais dessa área.

As instituições de ensino superior que oferecem cursos de licenciatura têm sério compromisso de atender a essa demanda de profissionais com qualidade para

atuarem no Ensino Fundamental e Médio, objetivando a promoção do desenvolvimento de ações voltadas para a sociedade, a fim de que ela possa dispor da produção do conhecimento científico e humanístico, como tem sido o trabalho do IFMG. No elenco de disciplinas do curso, em seu 4º período, consta a disciplina de educação inclusiva, cuja ementa perpassa conteúdos como políticas públicas em educação especial e de formação dos profissionais da escola na perspectiva da educação inclusiva com ênfase nas questões emanadas da sociedade contemporânea. Os temas sobre deficiência, diferença e segregação na escola pública; indivíduo, cultura, família, escola e preconceito são apresentados e discutidos, definindo certos conceitos como estudantes com necessidades especiais e inclusão social. Discute ainda ainterface entre educação de jovens e adultos, inclusão social e educação inclusiva. Já no 6º período, a disciplina de Libras é regularmente ministrada. Tendo em vista a necessidade de tornar a formação dos alunos do curso de Licenciatura mais completa, no ano de 2013 foi ministrado o primeiro curso de Braille para os discentes que atuam no PIBID. Neste ano de 2014, também estão previstas mais ações no caminho da inclusão, uma vez que o IFMG, campus São João Evangelista, tem papel impactante na formação geral e continuada dos profissionais de sua região de influência.

5.8.2 Daniel e os demais participantes

O Daniel, aluno cego e sujeito deste estudo, é aluno da escola desde o ensino técnico. Realizou o curso técnico de nutrição e dietética, um dos cursos técnicos da escola, e foi aprovado via vestibular para o curso de Sistemas de Informação, onde adentrou o ensino superior, tendo optado, após a conclusão do primeiro período do curso de Sistemas de Informação, por pedir reopção de curso para a Licenciatura em Matemática. Atualmente, é o único aluno cego a realizar o ensino superior do Instituto.

Os demais alunos participantes da pesquisa são alunos regularmente matriculados no curso de Licenciatura em Matemática. Desses, duas são alunas colaboradoras e voluntárias que se ocupam em dar apoio a ele em momentos de aulas. Como ele cursou quatro disciplinas, teve duas colaboradoras, as quais são colegas de turma dele e o acompanham nas disciplinas em que está regularmente matriculado. Em razão de participarem como colaboradoras, não são compensadas

com bolsas ou qualquer outro tipo de remuneração, pois não existe previsão para isso no regimento da instituição. As colaboradoras auxiliam Daniel na realização de atividades no ambiente da sala de aula e, muitas vezes, fora dela também. Assentam-se ao lado dele e o auxiliam na leitura de textos escritos no quadro, esboçam ou auxiliam na montagem dos gráficos ou figuras desenhadas no quadro ou no multiplano e explicam pontos da atividade que ele não compreende de imediato.

Muitas vezes, apesar disso, notei situações de abandono alternadas com outras de auxílio. Algumas vezes, tais alunas se ocupavam de suas atribuições e mesmo esqueciam-se dele. Em outras, auxiliavam-no e discutiam com ele as atividades.