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3 ASPECTOS LEGAIS, INCLUSÃO E EDUCAÇÃO MATEMÁTICA DE

3.1 Aspectos legais

O Sujeito cego atualmente (Brasil,1988,1994,1996,1999,2001,2007) é considerado, pela legislação em vigor, um aluno com necessidades especiais (Brasil,1989,2008) que demanda profissionais especializados, recursos e equipamentos disponíveis nas escolas onde são incluídos. O conceito de cegueira considerado neste trabalho está de acordo com Martín e Ramirez (2003), caracterizado pela total ausência de visão ou a simples percepção de luz. Para esses autores, vários países ocidentais consideram que um olho é cego quando seu campo visual se encontra reduzido a 20°. Muitos foram os avanços legais implementados para fazer cumprir a nossa carta magna que preconiza direitos iguais a todos. De acordo com a conceituação atual elaborada pela OMS – Organização Mundial de Saúde, considera-se que a educação é uma das formas de participação das pessoas na sociedade, sendo que o grau de participação de uma pessoa nos âmbitos sociais depende, diretamente, das condições criadas e oferecidas pela sociedade (TORRES, 2002). Torres ainda aponta que a referência à diversidade na

educação, como necessidades educativas especiais, surgiu no Brasil a partir dos anos 1990, nas discussões referentes à atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Anteriormente a esse período, podemos determinar como marcos mundiais, em termos de discussão de igualdade de direitos, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), a Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes (1975) e a Declaração de Salamanca (1994). No panorama internacional, podemos citar ainda a convenção de Guatemala (1999), a Declaração de Washington (1999), a Declaração de Montreal sobre inclusão (2001), a Declaração de Madri (2002), de Caracas (2002), de Sapporo (2002).

A síntese de Mazzotta (1996, p. 27-35) nos parece conveniente para precisar, a partir do ano de 1993, o período de ações internacionais, direcionadas à inclusão educacional e com repercussão nas ações governamentais brasileiras, parecendo mais expressivas a partir do ano de 1999. Em princípio, podemos considerar a Constituição Federal, Título VIII, artigos 208 e 227 como a primeira e maior garantia legal de direitos à educação de pessoas com necessidades especiais em nosso país. Em seguida, a Lei nº. 7.853/89 que materializa esses direitos e dispõe sobre o apoio às pessoas com deficiência, sua integração social, assegurando o pleno exercício de seus direitos individuais e sociais. Alguns anos depois, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (BRASIL, Lei n. 9.394, 1996) estabelece, juntamente com seus Parâmetros Curriculares Nacionais para a Educação Especial (PCN), os rumos da educação em nosso país. Já a Lei nº 10.098/00 dispõe sobre a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. No ano seguinte, com a aprovação do Plano Decenal de Educação para Todos e a Lei nº. 10.172/01 tem-se estabelecidos objetivos e metas para a educação de pessoas com necessidades educacionais especiais.

Algo mais recente, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, tratado internacional, aprovado na assembleia geral da ONU em 13 de dezembro de 2006, entrou em vigor em 3 de maio de 2008. O Governo Brasileiro, signatário do tratado, asseverou o cumprimento, na íntegra, de todos os seus artigos e protocolos através de emenda constitucional por meio do Decreto nº 6949 de 25 de Agosto de 20097. A Convenção não criou direitos novos ou especiais para as

7 BRASIL. Decreto n. 6949, de 25 de Agosto de 2009. Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo. Disponível em:

pessoas com deficiências, mas procurou facilitar o exercício dos direitos, em especial o da igualdade. Nesse documento, pessoas com deficiência são definidas como

aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas (BRASIL, 2009).

No entanto, apesar de tantos dispositivos legais garantirem os direitos de acesso e permanência à educação apenas após o ano de 1996, as instituições de ensino superior começaram a discutir tal assunto, em razão das responsabilidades que a nova LDB implicou. O direito ao ensino, sob o aspecto da acessibilidade, foi contemplado na parte referente ao ensino superior pela Portaria 1.679/99 MEC. Os sistemas de ensino, nos termos da Lei 10.098/2000 e da Lei 10.172/2001, devem assegurar a acessibilidade aos alunos que apresentem necessidades educacionais especiais, mediante a eliminação de barreiras arquitetônicas urbanísticas, na edificação – incluindo instalações, equipamentos e mobiliário – e nos transportes escolares, bem como de barreiras nas comunicações, provendo as escolas dos recursos humanos e materiais necessários (TORRES, 2002).

A vigente Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional, Lei nº 9.394, de 20 de sezembro de 1996, trata, especificamente, no Capítulo V, da Educação Especial. Define-a por modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para pessoas com necessidades educacionais especiais. Assim, tal Lei perpassa transversalmente todos os níveis de ensino, da educação infantil ao ensino superior. Essa modalidade de educação é considerada como um conjunto de recursos educacionais e de estratégias de apoio que estejam à disposição de todos os alunos, oferecendo diferentes alternativas de atendimento.

Apesar de a LDB preconizar a inclusão desde 1996, a inclusão e acesso ao ensino superior é uma experiência recente em nosso país. Um grande avanço em termos legislativos aconteceu com a promulgação do Decreto nº 7611 de 17 de novembro de 20118, que dispõe sobre a educação especial e o atendimento

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6949.htm>. Acesso em: 27 de jul. 2014.

8 BRASIL. Decreto n. 7611, de 17 de novembro de 2011. Dispõe sobre a educação especial, o atendimento educacional especializado. Disponível em:

educacional especializado. Tal Decreto determina a complementação da formação dos estudantes com deficiência, por meio de serviço de apoio especializado, tendo por base suas necessidades individuais. No ensino superior, o contingente de 5,2 mil deficientes visuais simboliza somente 0,09% dos 5,8 milhões de universitários, segundo o Censo da Educação Superior de 2008. Já no Censo da Educação Superior de 2011, esses estudantes representaram um contingente de 9,3 mil deficientes visuais num total de 6,7 milhões de universitários, o que representa 0,13% desse total. Se retornarmos um pouco no tempo, por exemplo, ao ano de 2005, não dispomos de dados oficiais relativos ao acesso de portadores de necessidades especiais nas sinopses estatísticas oficiais da Educação Superior9. Ressaltamos ainda que os dados apresentados no Censo não fazem distinção entre cegos e pessoas com baixa visão ou ainda outras deficiências visuais. É de se imaginar que a quantidade de cegos, nesse contingente, seja bem menor.