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A Inteligência Emocional ao nível escolar

CONSCIÊNCIA DE SI MESMO  Consciência emocional de s

3. Educar a Inteligência Emocional

3.3. A Inteligência Emocional ao nível escolar

A educação emocional tem como objectivo primordial dotar o indivíduo de recursos e estratégias comportamentais, cognitivas, emocionais e de interacção social que permitam obter um controlo maior da pressão interna e externa, e assim evitar que esta se traduza em stress, prevenir danos e melhorar a própria saúde psicológica.

Quando falamos em ensinar e praticar uma educação emocional devemos encará-la como uma referência para construir uma auto estima mais alta, obter um bom auto controlo, tanto do comportamento como das emoções, cultivar o pensamento positivo assim como erguer relações interpessoais adequadas. Isto é, alcançar basicamente uma função preventiva e melhorativa dos estados emocionais mediante a aprendizagem, treino e prática de recursos e estratégias para minimizar as emoções excessivas ou excessivamente negativas, e para promover e aumentar a presença das positivas (Salmurri, 2004).

A educação emocional deve erguer-se como um processo educativo, contínuo e permanente, uma vez que deve ser praticada ao longo de toda a vida académica, desde o jardim de infância até à aquisição das competências básicas no término do ensino secundário. Ainda assim, não deve apenas estar presente no currículo académico mas sim, constituir-se como um aspecto que se mantém na formação permanente ao longo de toda a vida, estando presente no mundo laboral, na família, etc....Aliás, a prática destas competências não deve ser apenas contínua e sistemática por estar presente em todos os âmbitos da relação do ser humano, mas também porque as competências emocionais são as mais difíceis de adquirir.

A aprendizagem social e emocional deve ser ensinada como uma matéria curricular na qual se implementem programas na aula, elaborados especificamente para um grupo de alunos com a finalidade de que alcancem conscientemente as competências que neles se propõem. Na actualidade, trabalha-se de forma transversal, sobretudo nos níveis mais inferiores mas, no entanto, não é suficiente para uma aquisição e desenvolvimento adequados, sendo necessário adoptar uma metodologia idêntica à que apresentam outras áreas curriculares, com um tempo próprio, a participação da família e a interacção da escola com a comunidade. Mais ainda, a educação emocional deve aparecer naturalmente nas áreas específicas do currículo, aproveitando os momentos que delas advêm para a integração dos conteúdos emocionais. Por outro lado, de uma forma particular, estes mesmos conteúdos podem ser inseridos nos programas das áreas não curriculares, como por exemplo na área de projecto ou na área de formação para a cidadania, criando momentos específicos para a sua aprendizagem e desenvolvimento.

A educação emocional deve seguir uma metodologia prática dado que o desenvolvimento das competências que persegue estão orientadas para a realidade e para a execução, sendo mais importante este aspecto do que o meramente teórico. Há que partir do nível de conhecimentos prévios e sequenciar as aprendizagens, como acontece nas restantes áreas curriculares, sendo que neste caso será necessário trabalhar as emoções básicas ou primárias e à medida que estas vão sendo adquiridas deverão ser introduzidas as emoções sociais.

Os objectivos da educação emocional passam essencialmente pelo desenvolvimento das competências emocionais. Os mesmos devem ser trabalhados de forma sequencial através de

conteúdos adaptados ao nível educativo dos alunos a quem é dirigido o programa, sendo benéfica a aplicação do mesmo a todo o grupo e favorecendo os processos de reflexão sobre as próprias emoções e as emoções dos outros.

O desenvolvimento das competências emocionais favorece a aquisição das competências escolares. A motivação está intrinsecamente relacionada com o controlo das emoções e é primordial para a aquisição de conhecimentos, destrezas e habilidades. Para além disto, a implementação da educação emocional justifica-se pela finalidade da educação – desenvolvimento da personalidade integral do aluno como sejam o desenvolvimento cognitivo e o desenvolvimento emocional; pelo processo educativo – que é caracterizado todo ele pela relação interpessoal repleta de fenómenos emocionais exigindo uma atenção especial para com a influência que as emoções exercem sobre a aprendizagem; pelo autoconhecimento – sendo um dos aspectos mais importantes do processo educativo emocional; pela luta contra o fracasso escolar – que exige uma abordagem preventiva nos aspectos da educação emocional, auxiliando os alunos a enfrentar a aprendizagem com outras “ferramentas” como a motivação e a auto estima; pelas relações sociais – que são muitas vezes afectadas por uma expressão inadequada das emoções ou uma falsa interpretação de sinais não verbais de outrém; pela saúde emocional – justificada por investigações recentes que apontam uma relação estreita entre as emoções e a saúde (Begoña & Davalilo, s/d).

No relatório Delors (1999, UNESCO) a Comissão Internacional sobre a Educação para o século XXI propõe quatro pilares para a educação ao longo da vida – aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser – chamando a atenção em especial para os dois últimos uma vez que é sobre estes que gira o desenvolvimento pessoal e a vida em sociedade. Aprender a conhecer-se a si mesmo e a conviver é facilitado pelo desenvolvimento das competências próprias da Educação Emocional.

O ensino destas habilidades depende de forma prioritária da prática, do treino e do seu perfeccionismo, e não tanto da instrução verbal. O essencial é exercitar e praticar as habilidades emocionais e convertê-las numa resposta adaptativa do reportório natural do indivíduo (Berrocal & Aranda, 2008).

O dia a dia oferece-nos numerosas ocasiões para trabalhar estas habilidades e portanto não devemos deixá-las passar sem tirar proveito de cada uma delas. Se observarmos à nossa volta encontramos uma panóplia de situações e factos que nos permitem introduzir reflexões estimuladoras. Na verdade, devemos educar as habilidades emocionais mediante as atitudes, o temperamento da aula e os modos de interagir. Num mundo perfeito todas as crianças aprenderiam este tipo de habilidades em casa, representativa do seu meio próprio. Mas, se isto não acontece, a escola deste século tem a responsabilidade de educar as emoções dos alunos tanto ou mais que a própria família. Note-se que a escola tradicional tem resultado com um certo êxito na necessidade humana do desenvolvimento intelectual mas, por outro lado, não têm encontrado muitas soluções para os problemas pessoais que o desenvolvimento intelectual aporta sendo esta a carência em que a educação emocional se foca.

Educar a inteligência emocional converteu-se, para a actualidade, uma tarefa necessária no âmbito educativo e, hoje, a maioria dos pais e professores, considera primordial o domínio destas habilidades para o desenvolvimento evolutivo e socio-emocional dos seus filhos e alunos. Não obstante, existem muitas formas de levá-lo a cabo e é muito importante ensinar às crianças e

adolescentes programas de IE que de forma explícita contenham e ressaltem as habilidades emocionais baseadas na capacidade para perceber, compreender e regular as emoções, tal como destaca o modelo de Mayer e Salovey (1997).

Uma forma para desenvolver a IE em ambiente escolar é mediante os programas de educação emocional que deveriam ser executados logo desde os primeiros anos de vida já que são nestes que ocorrem as bases primordiais da aprendizagem e relação. Ainda assim, a execução destes programas deveria ser realizada em qualquer etapa uma, note-se que em qualquer idade é primordial o desenvolvimento da inteligência emocional, já que nos ajuda a conhecermo-nos melhor como pessoas e a compreender melhor os outros.

As actividades que se desenvolvem em contexto educativo são o principal veiculo para a relação entre o professor e aluno uma vez que são nestas que se colocam em jogo as cargas emocional e afectiva. Na perspectiva de Bisquerra (2003), a metodologia educativa mais eficaz é a que se baseia nos conhecimentos previamente adquiridos pelas crianças e adolescentes, nos seus interesses e necessidades pessoais e sociais e nas suas experiências directas. Em seu auxílio, existem diversas formas de suscitar a consciência emocional e que ofereça a possibilidade de experimentar emoções, se não reparemos na existência de recursos didácticos como as imagens, fotografias, contos, jogos, vídeos, objectos, role-playing, entre tantos outros. Mais, a sala de aula deve ser encarada como um espaço de reflexão e introspecção, um incentivo à comunicação com os outros e claro, ao trabalho de equipa. Este espaço deve permitir a partilha e a vivência de situações de aprendizagem emocional e favorecer a comunicação visual e corporal dos alunos. Neste âmbito, qual o papel do professor?

Na primeira infância, deverá pois existir necessariamente uma comunicação continua entre o professor e a família por forma a que ambos possam participar directamente na educação da inteligência emocional. Trata-se de fazer chegar a todos os agentes educativos o que se trabalha na escola sobre a inteligência emocional numa perspectiva de tomada de consciência do seu valor pedagógico e de contributo para uma educação partilhada. Por outro lado, na adolescência será mais preponderante o trabalho directo com os alunos para que este possa transmiti-lo ao ambiente que o rodeia e, consequentemente, às pessoas mais próximas. Segundo Cassá (2004), citado por Bisquerra (2012), o papel do professor é, então, preponderante na educação emocional já que através da imitação o aluno aprende a desenvolver e a colocar em prática a sua própria IE. “ O

professor, com as suas atitudes e comportamentos, pode oferecer um clima de segurança, respeito e confiança perante os alunos que deseja educar. (…) O professor deve desenvolver a sua capacidade de empatia com o aluno para poder estabelecer relações de confiança e cordialidade. Deve ser receptivo ao contacto humano para facilitar que a comunicação afectuosa tome conta das relações positivas entre as pessoas” (p.46). Nesta perspectiva, o professor deve ser o primeiro a

procurar a formação nas competências emocionais como um passo prévio à educação da IE uma vez que sendo, em âmbito escolar, o modelo para os seus alunos, se for ele próprio um individuo emocionalmente inteligente educará as emoções dos seus alunos de uma forma mais inteligível e produtiva. Neste sentido, a intervenção dos professores pressupõe que estes tenham não apenas competências do foro científico mas também ao nível da IE. Revê-se, então, na sua formação inicial a importância fulcral que tais conhecimentos adquirem bem como na continuidade da vida