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3 MÉTODO DE PESQUISA

4.2 CASO 1 – LICENCIAMENTO DE PATENTE

4.2.3 A Interação 1

A interação entre a universidade e a Empresa 1 começou através do contato de uma antiga aluna de mestrado, orientada pelo pesquisador autor da patente e que, atualmente, trabalha na Empresa 1. Em um contato informal, o pesquisador relatou seus estudos para aumento da biodisponibilidade da molécula resveratrol. Esse projeto despertou o interesse da Diretoria de Inovação da Empresa 1, haja vista seu potencial de ação, segundo Alonso ([2008]), “o campo de atuação da droga pode ser muito amplo, incluindo até mesmo doenças relacionadas à memória”. A partir daí, iniciou-se um período de negociação com a empresa, que contou com o auxílio do ETT da universidade, além da participação de um consultor externo. Essa contratação é destacada por Wheatley (2010), que defende a utilização efetiva dos conhecimentos especializados de um consultor externo como essencial para o sucesso da transferência de tecnologia. Praticamente um ano se passou até que fosse assinado o contrato de licenciamento e, como prevê a Resolução 001/2007 da PUCRS, os recursos foram divididos em 33% para a Universidade, 33% para a unidade do pesquisador e 33% para o pesquisador.

A partir do licenciamento para a Empresa 1, outras formas de interação foram realizadas com diferentes grupos de pesquisa na universidade, através da prestação de serviços tecnológicos como avaliação de parâmetros bioquímicos e biológicos da formulação para seu aperfeiçoamento. Sendo assim, uma patente gerou benefícios para três grupos de pesquisa diferentes, nos quais foram aportados recursos para estruturação de seus laboratórios e de suas pesquisas, através da compra de equipamentos e insumos e do financiamento de bolsistas de graduação e pós- graduação. Além disso, ocorreu o depósito de uma patente internacionalmente, de cotitularidade da universidade da Empresa 1.

Dentre os laboratórios que prestaram serviço para a Empresa 1 está o Laboratório de Biologia Genômica e Molecular que iniciou suas atividades em 2001 e, desde então, vários projetos de pesquisa são desenvolvidos através de associações com outros laboratórios de pesquisa da PUCRS e de outras Instituições

nacionais e internacionais. O laboratório tem participação expressiva nos principais projetos nacionais e regionais na área de Genômica promovidos pelas agências de fomento de pesquisa, em especial no Projeto Genoma Nacional. Os testes realizados nesse caso foram avaliações em parâmetros neuroquímicos em modelo animal. O laboratório possui duas patentes: um pedido de patente depositada no INPI há um ano que, por análise da universidade, entendeu-se que seria pertinente que fosse protegida, também, nos EUA e na Europa, e um pedido de patente em parceira com a Universidade Federal de Rio Grande, que está em avaliação interna. Uma observação interessante é que esse laboratório interage com diferentes organizações, como ONGs8 e entidades representativas, que já financiaram pesquisas do laboratório.

O outro laboratório envolvido é o Laboratório de Biologia e Desenvolvimento do Sistema Nervoso iniciou suas atividades em 2001 para caracterizar mecanismos celulares e moleculares relacionados ao desenvolvimento, funcionamento e envelhecimento do sistema nervoso. Dentre as áreas de atuação do laboratório, destacam-se os estudos neurocomportamentais, os quais utilizam diferentes modelos animais e várias técnicas de biologia celular e molecular. Os trabalhos realizados nesta área têm dois enfoques distintos: a identificação de mecanismos fisiológicos e patológicos vinculados aos processos de desenvolvimento e envelhecimento e o estabelecimento de modelos animais para o estudo de diversas patogenias que acometem o sistema nervoso. Essas abordagens são ainda combinadas com estudos que têm por função avaliar o impacto de fatores neurodegenerativos sobre aspectos cognitivos do ser humano. O depósito de patentes não é o foco do laboratório, que trabalha com modelos que podem testar produtos patenteáveis. O Entrevistado B não vê possibilidade de patente de um novo modelo, já que os utilizados estão bem estabelecidos e muitos deles fazem parte de testes padrões requeridos pela indústria.

Ao se analisarem as formas de transferência de tecnologia da Empresa 1com universidades, observa-se que a prestação de serviços tecnológicos e o licenciamento são as principais formas do Departamento de Pesquisa Clínica (ENTREVISTADO D), setor que teve maior interação com a universidade. Baldini, Borgonhoni (2007) e Geuna, Muscio (2009) destacam que as interações entre

empresas e universidade podem assumir características tênues, como uma prestação de serviços tecnológicos, até vinculações mais formais, como o licenciamento, que possui um tempo maior de duração e pode levar a compartilhamento de resultados comerciais.

A gestão da prestação de serviços tecnológicos foi realizada pelo pesquisador inventor da patente licenciada, ou seja, era para ele que se encaminhavam os formulários para aquisição de equipamentos ou contratação de bolsistas. Nas palavras do entrevistado:

(...) essa parte burocrática, financeira a gente nunca (interagiu), o pesquisador inventor fazia esse contato... nunca eu entreguei nada para a empresa, eu entregava para ele (pesquisador inventor) e ele ia até a empresa junto com a AGT (Entrevistado B).

Da mesma forma, ele é quem mantinha o contato com a empresa, os demais pesquisadores só compareciam no momento de apresentar seus resultados.

Para a empresa, uma dificuldade encontrada foi em relação ao escritório que gerencia a patente. A PUCRS tem o seu, e a empresa gostaria de passar esse gerenciamento para o escritório com o qual trabalha, já que a gestão e os encargos, relacionados ao depósito da patente internacional em cotitularidade empresa e universidade, são de responsabilidade da empresa (ENTREVISTADO D). A empresa acabou aceitando que a gestão ficasse com o escritório contratado pela universidade, arcando com o pagamento dos dois e reconhece uma falha da área de inovação que não contemplou essa possibilidade no início da negociação e no desenvolvimento do contrato.

A ilustração do Caso 1 é mais um exemplo da crescente procura de indústrias farmacêuticas por universidades para que possam viabilizar o desenvolvimento de novas drogas. A pesquisa e o desenvolvimento de fármacos exigem de 12 a 15 anos de trabalho e grandes somas de recurso, que chegam, em média, a U$ 600 milhões (TAKAHASHI, 2005), o que, muitas vezes, desencoraja uma empresa a desenvolver sozinha esse tipo de produto. Outro ponto a ser levado em consideração é que os medicamentos estão cada vez mais sofisticados, com alto valor tecnológico agregado exigindo um conhecimento de alto nível, que só se encontra em instituições de ciência e tecnologia.

A interação com a universidade diminui o tempo de desenvolvimento do medicamento, mas é importante ressaltar que a molécula licenciada pela Empresa 1 ainda precisava passar por etapas de aperfeiçoamentos, como testes pré-clínicos e clínicos e escalonamento para produção industrial, o que demanda alguns anos até se chegar a um produto final. Frente a essa realidade, é muito importante a continuidade de interação com a universidade, já que é ela que possui o conhecimento para realização destas atividades.