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Barreiras para a Transferência de Tecnologia

1. INTRODUÇÃO

2.4 TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

2.4.4 Barreiras para a Transferência de Tecnologia

Diversos autores se dedicaram ao estudo das barreiras que dificultam a colaboração entre a universidade e a empresa, causando uma baixa qualidade e produtividade do processo. Essa seção destaca as barreiras do ponto de vista da universidade e da empresa que inviabilizam ou limitam a transferência de tecnologia. Em uma pesquisa com cinco universidades americanas, nas quais foram entrevistados cientistas, empreendedores com interação junto a algum departamento da universidade e gestores de NITs, as seguintes barreiras foram encontradas: falta de entendimento dos métodos de recompensa (na universidade e na empresa) ou das normas científicas; insuficiência de recompensa para os pesquisadores; burocracia e inflexibilidade das administrações universitárias; insuficiência de meios dedicados à transferência de tecnologia pelas universidades; habilidades incipientes dos NITs nas áreas de marketing, técnica e negociação; expectativa irreal dos membros da universidade sobre o valor de suas tecnologias; e a, ainda, mentalidade de “domínio público” dos membros da universidade (SIEGEL; WALDMAN; LINK, 2003).

Através da análise de entrevistas realizadas com acadêmicos, empresários e intermediários do processo de transferência e tecnologia, na Inglaterra, as seguintes barreiras foram encontradas no âmbito universitário e fora dele: falta de tempo e diferentes percepções de escala de tempo; falta de conhecimento da “terceira missão” e das questões de propriedade intelectual; a percepção, pelos acadêmicos que os problemas das empresas não geram pesquisa; e, a percepção, pelos empresários, da universidade como a “torre de marfim” e dos acadêmicos como seres desapegados do mundo real (LOCKETT; KERR; ROBINSON, 2009).

Agrega-se a isso o medo, ainda expressado na literatura, de que a tendência para a comercialização da pesquisa universitária possa causar a negligência da pesquisa básica e do ensino, ainda mais quando os lucros da comercialização substituem o financiamento público (ARVANTIS; KUBLI, WOERTER, 2008; COSTA; TORKOMIAN, 2008).

Analisando a realidade brasileira, Segatto-Mendes e Sbragia (2002) destacaram as seguintes barreiras: a busca do conhecimento fundamental pela universidade, enfocando a ciência básica e não o desenvolvimento ou a comercialização, como é o caso das empresas; a extensão do tempo do processo, a

realização de um projeto treinando estudantes muda completamente a escala de tempo de conclusão deste projeto, por outro lado, a rapidez de conclusão é uma variável essencial do ponto de vista empresarial (CRUZ, 1998; CRUZ; SEGATTO, 2009).

Santana e Porto (2009), através de pesquisa qualitativa com pesquisadores e executivos, revelam como entrave para questões de patenteamento, especificamente na visão do docente, a sobrecarga de atividades como um argumento de defesa para a pouca contribuição no processo de transferência de tecnologia, em especial no patenteamento. Além da tríade ensino/pesquisa/extensão, somam-se as funções administrativas, que normalmente não contam com equipe de apoio (SANTANA; PORTO, 2009).

Outro fator descrito pelos autores foi a forma pela qual ocorrem as avaliações impostas aos pesquisadores que também é um argumento para contextualizar o quadro atual de participação nas atividades de transferência de tecnologia (SANTANA; PORTO, 2009). Tais avaliações priorizam preponderantemente as publicações de artigos, relegando a planos inferiores as atividades e os resultados referentes à interação U-E e à transferência de tecnologia (SANTANA; PORTO, 2009).

Em relação ao financiamento das pesquisas, existe a visão de que o Estado deve ser o único financiador de atividades universitárias de pesquisa, para garantir a plena autonomia dos pesquisadores acadêmicos e a liberdade de publicação dos conhecimentos científicos, bem como para evitar a distorção que pesquisas encomendadas poderiam provocar nos objetivos maiores da missão da universidade (SEGATTO-MENDES; SBRAGIA, 2002).

Costa e Torkomian (2008) analisaram as barreiras para a criação de empresas spin-off, entre as quais destacam-se pelo maior número de respondentes: a falta de capacitação gerencial, a taxação excessiva, a falta de recursos financeiros, a burocracia exagerada para criação de uma empresa e a falta de apoio público.

A burocracia presente na estrutura da academia revela-se como um fator que limita a interação com a empresa e as atividades de transferência de tecnologia (CRUZ, 1998). Sobressai-se nesse contexto a morosidade da área jurídico- administrativa para a efetivação do contrato (RAPINI, RIGHI, 2006; GARNICA; TORKOMIAN, 2009). Ademais, as filosofias administrativas das instituições são

distintas, o principal objetivo nas empresas é a satisfação dos interesses dos acionistas, enquanto na universidade o interesse está na realização das necessidades sociais; o grau de incerteza dos projetos, já que a motivação para a busca de conhecimento na universidade é muito mais desinteressada do que na empresa (CRUZ; SEGATTO, 2009).

Como fator que pode inviabilizar a interação, em relação às universidades públicas, destaca-se a percepção de instabilidade dessas instituições (SEGATTO- MENDES; SBRAGIA, 2002).

Segatto-Mendes e Sbragia (2002) destacam como limitador a falta de confiança na capacidade dos recursos humanos, por parte de ambas as instituições. Há dois mitos a destruir: “o primeiro, cultivado pelos empresários, de que o pesquisador acadêmico é um ser etéreo, descolado da realidade. O segundo, corrente na área de pesquisa, de que o empresário despreza a ciência” (MARCOVITCH, 1999, p.14).

Santana e Porto (2009) relatam uma baixa propensão das empresas, por eles pesquisadas, em absorver a tecnologia disponível nas universidades, a não ser que essas tecnologias venham a se adequar aos objetivos da empresa. Entretanto, na visão dos pesquisadores Rapini e Righi (2006), para minimizar essa barreira “as empresas devem absorver competências tecnológicas que possibilitem a absorção efetiva do conhecimento gerado na universidade” (RAPINI, RIGHI, 2006, p. 134).

O Quadro 8 apresenta as que podem limitar ou inviabilizar a transferência de tecnologia:

Quadro 8.Barreiras para a transferência de tecnologia. Fonte: a autora.

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UNIVERSIDADE AUTORES

- Busca de conhecimento fundamental. Segatto-Mendes e Sbragia (2002). - Inflexibilidade das administrações universitárias. Siegel, Waldman e Link (2003). - Insuficiência dos meios dedicados à transferência de

tecnologia. Siegel, Waldman e Link (2003). - Expectativa irreal dos membros da universidade sobre

o valor das suas tecnologias. Siegel, Waldman e Link (2003).

- Diferentes percepções na escala de tempo, prazos. Lockett, Kerr e Robnson (2009); Segatto-Mendes e Sbragia (2002), Cruz (1998); Cruz e Segatto (2009).

- Burocracia. Siegel, Waldman e Link (2003); Cruz (1998). - Estado deve ser o único financiador de pesquisa. Arvants, Kubli e Woerter (2008); Costa e Torkomian (2009); Segatto-Mendes e Sbragia

(2002). - Falta de conhecimento da terceira missão e das

questões de propriedade intelectual. Lockett, Kerr e Robnson (2009). - Comercialização leva a negligência da pesquisa básica Costa e Torkomian (2009)

- Instabilidade das universidades públicas. Segatto-Mendes e Sbragia (2002). - Falta de entendimento dos pesquisadores dos

métodos de recompensa ou das normas científicas. Siegel, Waldman e Link (2003). - Habilidades incipientes das estruturas dedicadas a

apoiar as atividades de transferência de tecnologia, em

áreas como marketing e negociação. Siegel, Waldman e Link (2003). - Mentalidade do “domínio público”. Siegel, Waldman e Link (2003). - Percepção de que os problemas das empresas não

geram pesquisa. Lockett, Kerr e Robnson (2009). - Sobrecarga de atividades. Santana e Porto (2009).

- Forma pela qual são avaliados os pesquisadores. Santana e Porto (2009).

- Morosidade da área jurídico-administrativa. Rapini e Righi (2006); Guarnica e Torkomian (2009). - Falta de confiança na capacidade dos recursos

humanos das empresas. Segatto-Mendes e Sbragia (2002). Cruz e Segatto (2009). - Filosofia administrativa voltada para as necessidades sociais.

EMPRESA AUTORES

- Filosofia administrativa voltada para a satisfação dos

acionistas. Cruz e Segatto (2009). - Grau de incerteza dos projetos acadêmicos. Cruz e Segatto (2009). - Falta de confiança na capacidade dos pesquisadores

das empresas. Segatto-Mendes e Sbragia (2002). - Falta de entendimento dos métodos de recompensa. Siegel, Waldman e Link (2003).

- Percepção da universidade como “torre de marfim”. Lockett, Kerr e Robinson (2009); Markovitch (1999). - Diferentes percepções na escala de tempo, prazos.

Lockett, Kerr e Robnson (2009); Segatto-Mendes e Sbragia (2002), Cruz (1998); Cruz e Segatto (2009).

Baixa propensão de absorção da tecnologia