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A interatividade no padrão brasileiro

2.2 Televisão digital

2.2.3 Interatividade

2.2.3.1 A interatividade no padrão brasileiro

A interatividade é o recurso de destaque do ISDB-Tb. Isso porque possibilita à audiência uma nova forma de se apropriar de conteúdos por meio da televisão digital. É considerada uma ferramenta capaz de promover a inclusão digital, contudo, muito pouco tem sido feito nesse sentido. Uma prova disso, como já foi citado, é o fato de haver apenas especificações técnicas e não relativas a seu uso social no decreto que regulamenta a televisão digital no Brasil (DOU, 2006).

Codificada em zeros e uns, a informação pode ser compactada, tornando- se possível, junto com som e imagem, enviar dados à casa dos telespectadores, em forma de aplicações interativas.

Para fazer uso dessas aplicações, o telespectador precisa ter uma televisão com o middleware Ginga21 ou um conversor22 com esse software instalado. De acordo com informações do site oficial da TV Digital, o Ginga é o middleware de especificação aberta23 adotado pelo Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre (ISDB-Tb) e tem duas funções principais: uma é tornar as aplicações independentes do sistema operacional da plataforma de hardware utilizados. A outra é oferecer um melhor suporte ao desenvolvimento de aplicações.

Desenvolvido nos laboratórios das universidades PUC-Rio e UFPB, o

software foi concluído em 2008. Porém, desde essa data não tem avançado no

campo da produção de conteúdo. As discussões sobre esse middleware só voltaram a ganhar impulso em setembro de 2011, com o lançamento da Consulta Pública para a inclusão obrigatória do Ginga no Processo Produtivo Básico das indústrias.

Recentemente, no início do mês de fevereiro de 2012, A Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) divulgou24 que se prepara para realizar um programa piloto com serviços interativos, através do sinal de televisão digital aberta, com o uso do middleware Ginga e de um canal de retorno, para possibilitar a participação dos telespectadores. O objetivo é usar os resultados obtidos para formular um projeto nacional, a ser apresentado ao governo federal, para motivar o uso do Ginga pela televisão pública e a criação de uma política para tal.

Quanto ao processo de autoria das aplicações interativas, o Ginga foi pensado para suportar dois paradigmas principais, o declarativo e o imperativo. Assim, o sistema é subdividido em três subsistemas principais, interligados, o Ginga- NCL, que dá suporte à autoria declarativa, usando a linguagem NCL; o Ginga-J, que sustenta a autoria imperativa, usando a linguagem Java; e o Ginga-CC, que oferece suporte básico para as duas linguagens, uma vez que elas se complementam.

Na linguagem de autoria declarativa, o autor especifica o que é a aplicação final. Já na linguagem de autoria imperativa, é preciso descrever como a aplicação se dá, com o passo a passo do que ela deve fazer. Apesar de ser possível

21 Para mais informações sobre o software, acesse o site oficial: www.ginga.org.br.

22 Também chamado de set top box é, segundo o Fórum do SBTVD, o componente que converte o sinal da TV digital para exibição das imagens no televisor. O equipamento pode ser vendido separadamente ou estar incorporado (integrado) ao televisor.

23 Existem também os middlewares proprietários com licença de uso, desenvolvidos por fabricantes de televisores e conversores.

24 Informações veiculadas na matéria “EBC prepara teste piloto de Ginga com canal de retorno”, de 09/02/2012. Disponível em: <http://www.arede.inf.br/inclusao/acontece/5173-ebc-prepara-teste-piloto- de-ginga-com-canal-de-retorno>. Acesso em 15 fev. 2012.

desenvolver aplicativos apenas com a linguagem NCL, o Java é utilizado por permitir outras operações mais complexas (ANGELUCI, 2010).

Os recursos interativos chegam ao telespectador de duas maneiras, definidas segundo normas do padrão ISDB-Tb: (1) pela transmissão do fluxo de dados em pacotes no Transport Stream (TS), nos casos de serviços em tempo real e (2) pela transmissão por meio do carrossel de dados, nos serviços que requerem armazenamento no terminal de acesso, ou seja, no televisor, ou no set top box do telespectador (ANGELUCI; LOPES; ZUFFO, 2011).

As duas formas são um tipo de interatividade local, pois as aplicações enviadas pela emissora são executadas no próprio dispositivo e não há nenhuma resposta de volta para a emissora. Seriam exemplos de aplicativos interativos executados localmente: informações extras, guias de programação, opções por diferentes ângulos de câmeras, entre outros.

Porém, existe a opção da interatividade plena, que seria uma via de mão dupla, capaz de colocar em contato emissor e receptor. Mas, para que essas informações do receptor cheguem até a emissora, é necessário um canal de retorno, também chamado de canal de interatividade. A interatividade a partir desse canal tem condições de ser permanente ou intermitente, isto é, com o telespectador interagindo com o aplicativo localmente e só depois enviando os dados. Assim, ainda que com a interatividade intermitente, o receptor poderia influenciar de alguma maneira o conteúdo transmitido pela televisão, seja por meio de receptores fixos, móveis ou portáteis.

Mas, ainda não há uma definição exata sobre a tecnologia a ser empregada no canal de retorno. O problema é que, de um lado, pesquisadores defendem o recurso pela possibilidade de inclusão digital da população brasileira. De outro, emissoras e fabricantes justificam o tímido uso de recursos interativos na programação pela falta de um modelo de negócios que pague essa conta.

Um estudo realizado por Angeluci (2011) de 26 de agosto a 11 de setembro de 2011, em horários alternados, aponta que, dos 17 canais digitais disponíveis analisados, tendo como referência o bairro Butantã, na cidade de São Paulo – SP, apenas quatro ofereciam aplicativos interativos com regularidade, a saber: TV Gazeta, TV Globo, SBT e TV Record. Outros canais realizaram testes em diferentes períodos, mas, por não serem visualizados no momento de aplicação do estudo, não foram contabilizados.

E é justamente em razão desse estágio de transição, no qual existe a necessidade de se discutir definições que respeitem os diversos interesses de grupos envolvidos, que os processo de padronização e regulamentação tornam-se lentos. O mercado, por sua vez, por ter um tempo diferente, já que não precisa necessariamente seguir os trâmites que garantem a legalidade e a ética no processo, acaba por lançar diversos produtos, como é o caso das televisões conectadas. O produto consiste em televisores que permitem o acesso à internet, numa parceria dos fabricantes com provedores de conteúdo, ainda sem uma regulamentação específica.

Abaixo, seguem as principais diferenças entre a televisão em transmissão aberta e a televisão conectada. O Quadro foi formulado por Angeluci; Lopes e Zuffo (2011), em artigo apresentado no XXXIV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.

Quadro 4 – Quadro comparativo entre os sistemas ISDB-Tb e TV conectada

ISDB-Tb TV Conectada

Transmissão Broadcast Broadcast e Broadband Infraestrutura e

abrangência 98% da população com acesso à TV aberta. Cobertura do sinal digital em todo território: 2016

Atualmente insuficiente, internet Banda Larga de no mínimo 1Mbps não chega a todo o país. Expansão exponencial. Custo de recepção Compra do conversor

com Ginga (a partir de R$200) ou novo

aparelho televisor com tecnologia embutida. Depois disso, é gratuita.

Compra de dispositivo de recepção e

pagamento mensal de serviço de internet, a partir de R$50 em média (para velocidade ainda insuficiente).

Robustez Plena, se há cobertura do sinal digital e ausência de área de ‘sombra’. Variável, dependendo de infra, velocidade, qualidade do sinal e quantidade de usuários simultâneos.

Qualidade de serviço Superior em áudio e

vídeo. Inferior em áudio e vídeo com a banda disponível atualmente.

Legado 60 anos de know-how

em produção, herança cultural e social da TV analógica.

Desenvolvimento e expansão da internet

Mobilidade e

Portabilidade É acessível em dispositivos de recepção parados ou em

movimento havendo cobertura do sinal digital e ausência da área de ‘sombra’. É acessível em dispositivos de recepção parados ou em movimento havendo disponibilidade de banda larga móvel.

Interatividade Middleware aberto

Ginga Middleware proprietário Conteúdos e aplicações

interativas Crise criativa: poucos aplicativos voltados às características e especificidades da TV; necessidade de formação de profissionais e modelo de negócio. Interatividade sincronizada e relacionada com a programação das

emissoras abertas, além de serviços sociais.

Parceria entre

fabricantes e provedores de conteúdo. Mesmos conteúdos e aplicações da web adaptados para tela de TV.

Interatividade separada do conteúdo das

emissoras. Aposta nos vídeos online sob demanda.

Canal de retorno TCP/IP TCP/IP

Inclusão social Alto impacto, com maior ação do governo e outras entidades na promoção do sistema.

Baixo impacto, caso a banda larga não chegue gratuita em todos os lares.

Investimento publicitário 53% do mercado para TV tradicional.

Crescimento de 5%.

5% do mercado para internet. Crescimento de 153%.

Fonte: ANGELUCI; LOPES; ZUFFO, 2011, p.12-13.

Segundo o pesquisador e assessor especial da Casa Civil, André Barbosa, diante dessas características, a televisão conectada não concorre com o Ginga, tampouco apresenta uma ameaça. Para ele, a discussão deve ser mais ampla e se pautar em como “integrar essas plataformas”, uma vez que as televisões conectadas dependem da conexão com a internet e, no Brasil, apenas 27% dos lares têm acesso à rede, sendo que, desse total, apenas 5,5% têm banda larga25.

25Informações veiculadas na matéria “Para governos e radiodifusores, TVs conectadas e Ginga não são concorrentes”, de 10/11/2011. Disponível em: <http://itvbr.com.br/blog/destaque/para-governo-e- radiodifusores-tvs-conectadas-e-ginga-nao-sao-concorrentes>. Acesso em 15 fev 2012.

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