• Nenhum resultado encontrado

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

4.1 Resultados da pesquisa

Esta pesquisa foi desenvolvida com base no questionamento sobre o que de fato muda na produção de conteúdos audiovisuais com a chegada da televisão digital e como desenvolver uma estrutura para a produção de conteúdos de saúde que atenda a essas necessidades.

Sendo assim, ao longo da investigação, buscou-se, por meio de revisão bibliográfica e da construção do processo produtivo em cinco etapas (graficamente representado por mapas conceituais), ancorados também na experiência profissional da pesquisadora, que trabalha com a produção de conteúdos audiovisuais, responder a essa questão.

Durante o processo, merece destaque a escolha dos conceitos-chave para nortear a construção do referencial teórico, que dá suporte ao processo produtivo proposto. Eles foram elencados após levantamento bibliográfico, seguindo as necessidades apresentadas pelo objeto estudado, e facilitaram sobremaneira a delimitação do segundo capítulo desta pesquisa.

Entre as discussões apresentadas no referencial teórico, foi de extrema importância compreender como se deu o desenvolvimento da Comunicação para saúde enquanto parte de um segmento mais amplo, isto é, a Comunicação da ciência (EPSTEIN, 2008) e a evolução dos próprios conceitos de saúde e de promoção da saúde. É com base nessas concepções que foi montada a primeira etapa da estrutura, a definição do tema.

Trabalhar com base no processo de produção da televisão analógica também foi outra decisão importante para garantir a sustentação e viabilidade do módulo proposto. Como já foi afirmado neste trabalho, é impossível não considerar processos consagrados em mais de sessenta anos de experiência na produção de

conteúdos audiovisuais. A atualização do processo produtivo analógico veio com a descrição das novas necessidades e competências profissionais a partir da digitalização e a adoção do conceito de módulo televisivo, cuja principal característica é a flexibilidade na montagem do conteúdo, ofertada como recurso interativo para o público. Também é preciso considerar a divisão das Frentes de trabalho, que têm a função de segmentar a produção para atender às características das diferentes mídias, sem deixar de promover o diálogo entre elas.

Já a opção por usar mapas conceituais foi feita em razão da necessidade de organizar conceitos e suas inter-relações e também para facilitar a visualização das etapas. Porém, durante a sua construção, a pesquisadora descobriu que os mapas também foram importantes para checar a distribuição do trabalho e verificar, enquanto conjunto, a viabilidade do que era proposto.

É preciso considerar, contudo, que não foram contempladas neste estudo questões como o modelo de negócio para a televisão digital e as demais plataformas. É certo que a oferta de recursos interativos e o desdobramento do módulo na internet e para celulares geram custos e as empresas de comunicação buscam ter retorno financeiro com a programação que produzem. Esse, inclusive, é um problema já enfrentado na produção de conteúdos de saúde da televisão analógica, uma vez que anunciantes de medicamentos e serviços de saúde buscam se associar a esse tipo de veiculação para aumentar seus lucros, o que pode inclusive influenciar no conteúdo desenvolvido pelos veículos. Segundo Bueno (2006), a comunicação para a promoção da saúde precisa “capacitar-se para a conscientização de profissionais e agências de comunicação, hoje, muitas vezes, a serviço de monopólios, através da manipulação de informações e de mentes que visam ludibriar os consumidores, tidos como meros clientes” (BUENO, 2006, p.15).

Também não foram detalhadas as ações de equipes de suporte e manutenção para internet e celular por julgar que, apesar de importantes, não estão diretamente relacionadas ao processo de produção do conteúdo, estando mais subordinadas à área técnica.

Já em relação à interatividade, foram oferecidas opções dentro do que hoje é possível e está previsto no Sistema Brasileiro de Televisão Digital: interação local e reativa. Contudo, é um ponto a ser atualizado quando da definição sobre o canal de retorno e as possibilidades de participação mais direta do telespectador/interagente.

Por falar no telespectador, deixaram de ser aprofundados, por não se encaixarem a esta proposta, o interesse e a motivação do público em buscar informações de saúde, isto é, o que e como ele deseja obter essas informações. Na estrutura desenvolvida, foram abertos canais de comunicação por meio da internet e celulares para envio de sugestões e materiais. Contudo, para conhecer mais a fundo quais são as necessidades, pré-conceitos e crenças, isto é, o saber popular em relação a assuntos de saúde, de telespectadores, usuários da internet e portadores de celular, seria preciso desenvolver pesquisas para avaliar esse interesse. Assim, com base nas respostas e na linha editorial do programa, pautada pelo conceito positivo de saúde e de promoção da saúde, seria mais fácil chegar a um consenso e agradar as audiências.

Por tudo isso, conclui-se que o objetivo de desenvolver uma estrutura para a produção de conteúdos de saúde que atenda os princípios da promoção, capaz de auxiliar o cidadão a adotar hábitos saudáveis e a reconhecer quando é preciso buscar ajuda médica foi atingido. Contudo, por essa estrutura ser pensada para as mídias digitais, em constante transformação, também precisa ser mutável em relação ao processo, isto é, precisa ser constantemente adaptada às exigências da produção digital, sem, é claro, permitir interferências na qualidade do que é produzido.

Após as considerações acima, uma questão ainda perdura. Diante do fato de a estrutura proposta não ter sido colocada em prática, como avaliar se ela atende as necessidades da produção de conteúdos de saúde para plataformas digitais?

Propõe-se responder tal questionamento tendo como referência a metodologia de Avaliação Qualitativa de Patton (2002, 2003) e o trabalho de Américo (2010), que faz uso dessa metodologia associada a duas outras abordagens, a Avaliação Focada na Utilização, que busca envolver os usuários no processo avaliativo, e a Avaliação por Uso do Processo, “definida como o aprendizado que ocorre durante o processo de avaliação” (AMÉRICO, 2010), ambas de Patton.

A avaliação é para Patton (2002) a coleta sistemática de informações, características e efeitos de atividades e programas para reduzir incertezas, melhorar a efetividade e facilitar a tomada de decisões levando em consideração ações e resultados. E a Avaliação Qualitativa “tem o propósito de guiar o pesquisador na

escolha de quais métodos qualitativos são apropriados para a investigação avaliativa” (AMÉRICO, 2010, p.60).

Sendo assim, com base na observação da estrutura proposta neste trabalho, e considerando que “quando o pesquisador-avaliador observa o processo ele está mais apto a compreender o contexto onde ocorrem as atividades e processos, levando-o a ser mais indutivo” (AMÉRICO, 2010), o questionamento apresentado, para ser respondido, é desdobrado por esta pesquisadora em outras quatro questões:

- A estrutura proposta é exequível?

Sim. Tem como referência um processo já consagrado pela televisão analógica em seus sessenta anos de experiência. As atualizações que recebe são em decorrência das novas necessidades produtivas, que respeitam a cadeia de produção do audiovisual. Está prevista ainda dentro de um cronograma que contempla cada uma das etapas.

- Em que se diferencia do processo de produção analógica?

Possibilita a participação do telespectador na montagem do conteúdo televisivo a ser exibido. Permite que usuários da internet e redes sociais e portadores de celulares enviem conteúdos e sejam representados. Oferece recursos interativos que complementam o módulo. Está dividida em Frentes de trabalho segundo as especificidades de cada mídia. Contempla funções antes não consideradas no processo de produção audiovisual, como programadores e designers de interface. Promove o diálogo constante entre as etapas produtivas. Prevê a correção de falhas e o aprimoramento a cada processo concluído.

- Gerou conhecimento?

Por todo o trajeto percorrido e as reflexões apresentadas até se chegar à estrutura de produção em cinco etapas, é possível considerar que a proposta gerou conhecimento.

- Como se desdobra em pesquisas futuras? Esta resposta está contemplada no item a seguir.

Documentos relacionados