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E TRANSDISCIPLINARIDADE

O termo interdisciplinaridade não apresenta um conceito único, consensual ou e estável, são inúmeras as concepções e conceitos que envolvem essa temática, e podem ser contraditórias se interpretadas de maneira equivocada como sinônimos de multidisciplinaridade, pluridisciplinariade ou transdisciplinaridade conforme sugere Fazenda (2013b), ou ainda sofrer reducionismo se comparadas com as “definições de integração, interação ou inter-relação” (FERREIRA, 2013, p.39), por estas razões faz se necessário compreender os aspectos que envolvem a interdisciplinaridade para que não seja corrompida sua prática. A interdisciplinaridade “perpassa todos os elementos do conhecimento e pressupõem a interação entre eles”, mas “reduzir a construção do conhecimento por meio da integração das ciências, não garante sua definição”, (IBID, 2013, p.40), sendo necessário compreender a interdisciplinaridade para que não haja desvio ou interpretação equivocada da prática na perspectiva da integração das áreas, pois segundo a autora supracitada, não acontece à interdisciplinaridade “se não houver uma intensão consciente, clara e objetiva por parte daqueles que a praticam”.

Não se trata de transformar a Interdisciplinaridade em uma superciência, mas servir de referência aos movimentos pedagógicos que visam à integração dos saberes, ou como defendidos por Tavares (2013, p.35), ao referir as concepções defendidas pela Professora Ivani Fazenda, “uma substituição da concepção fragmentária para a unitária do ser humano”.

Neste contexto, é importante conhecer algumas definições propostas por estudiosos, na perspectiva de evitar possíveis interpretações errôneas e uso superficial da interdisciplinaridade, ou ainda por modismos, ou justaposição de disciplinas, Japiassú (1976) e Fazenda (1994; 2011 e 2013a).

A Disciplinaridade refere-se ao conjunto sistemático e organizado de conhecimentos, abordagem específica de um campo do conhecimento, que apresentam características próprias nos planos de ensino, da formação, dos

métodos e das matérias (JAPIASSÚ (1976); SANTOMÉ (1998), MORIN (2004); FERIOTTI; CAMARGO (2007); FAZENDA, (2011)).

A organização disciplinar, segundo Morin (2004), surgiu no século XIX, principalmente coma a formação das Universidades Modernas e se acentuou no século XX com o progresso da pesquisa científica em detrimento a expansão do sistema capitalista e a necessidade de formação especializada, sendo a disciplina a categoria que organiza o conhecimento científico.

Vale destacar a proposta de hierarquização de níveis de colaboração e integração entre disciplinas proposta por Jean Piaget: Multidisciplinaridade como sendo o nível inferior de integração; Interdisciplinaridade como sendo o segundo nível de associação entre disciplinas, na qual a cooperação estabelece intercâmbios reais e a Transdisciplinaridade etapa superior de integração. Trata-se de uma construção sólida sem fronteiras entre as disciplinas (PIAGET, 1979, p. 166-171).

Buscaremos sistematizar ideias de diferentes autores sobre os possíveis níveis de interação entre disciplinas na perspectiva de situar o leitor em relação à interdisciplinaridade e a relação com termos próximos.

Multidisciplinaridade, “caracteriza-se por uma ação simultânea de uma gama de disciplinas em torno de uma temática comum”, porém sem fazer aparecer à relação que pode existir entre elas, na qual todas estão em um mesmo nível hierárquico, e não há articulação. Pode ser compreendida como Justaposição de disciplina, onde os objetivos são particulares a cada uma na, cabendo o “empréstimo” de conhecimentos específicos das disciplinas na solução de problemas específicos (JAPIASSÚ (1976); FAZENDA, (2011); FERIOTTI; CAMARGO (2007)).

A Pluridisciplinariade, na visão de alguns autores, é indissociável ao conceito de multidisciplinaridade, pois, não chegam a estabelecer nenhuma diferença, pois, ambas estão no mesmo nível hierárquico, não há um núcleo central em torno das discussões, as habilidades e competências são específicas de cada disciplinas e não apresentam objetivos comuns, também não pressupõe diálogo, consequentemente não haverá modificações nos métodos de atuação das

disciplinas. Entretanto, as disciplinas são agrupadas conforme o domínio científico, de modo a aparecer às relações existentes entre elas, com objetivos múltiplos, alguma cooperação, mas sem coordenação (FAZENDA, (2011); FERIOTTI; CAMARGO (2007); SEVERO; PAULA, (2010); MORIN (2004)).

Já a Interdisciplinaridade, compreende o nível de associação entre disciplinas, supõe o diálogo e uma troca de conhecimentos, em que a cooperação entre várias disciplinas provoca intercâmbios reais; isto é, existe verdadeira reciprocidade nos intercâmbios e, consequentemente, enriquecimentos mútuos. Tal interação pode ir da simples comunicação de ideias à integração mútua dos conceitos, da metodologia, dos procedimentos, dos dados e da organização referentes ao ensino e à pesquisa (SANTOMÉ (1998); JAPIASSU (1976), FAZENDA (1979), (2011); MORIN (2004); FERIOTTI; CAMARGO (2007); SEVERO; PAULA, (2010)).

A interdisciplinaridade conforme Fazenda (2011, p.51), caracteriza-se ainda pela “intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de integração real das disciplinas”, ou como apresentado por Severo e Paula (2010, p.28) no “desenvolvimento de um projeto”. Se definirmos interdisciplinaridade somente pela ou como “junção de disciplinas, cabe pensar o currículo apenas na formação de sua grade” (FAZENDA, 2013a, p.21).

Nas inferências de Santos e Sommerman (2014), a interdisciplinaridade, propõe a interação entre duas ou mais disciplinas na busca pela superação da fragmentação do conhecimento e que isto demanda da cooperação e integração entre os sujeitos e das disciplinas entorno de uma situação problema.

Os autores, supracitados, apresentam a transdisciplinaridade, que diferentemente da interdisciplinaridade, transcende as fronteiras disciplinares na busca de superar a fragmentação do conhecimento na intensão de construir uma compreensão de totalidade da realidade, “pelos vários níveis de realidade ao mesmo tempo” (p.16).

A Transdisciplinaridade é compreendida como superação das fronteiras e especificidades de cada disciplina, onde o objetivo é a compreensão do mundo e a unidade no conhecimento. Mais do que interação e reciprocidade entre as

especialidades, busca a integração destas no interior de um sistema total, sem fronteiras estabelecidas. “Os conceitos de transdisciplinaridade e de pensamento complexo subsidiam o desafio de religar os saberes polarizados e superar a fragmentação estrutural do sistema de ensino e de pesquisa” (SANTOS; SOMMERMAN, 2014, p.18).

Alguns autores salientam ainda que os estudos sobre a transdisciplinaridade antecedem aos da interdisciplinaridade, entretanto não se excluem, mas se complementam e se auto incluem, ou seja, podem ser caracterizadas como redes complexas que atravessam disciplinas, estabelecendo a conexão entre inter, pluri e transdisciplinaridade, (NICOLESCU (1999); MORIN (2004); FAZENDA (2011), (2013a); FERIOTTI, CAMARGO (2007); JAPIASSU,(2007); SANTOS;SOMMERMAN (2014)).

Piaget (1973) é outro autor referenciado, pois, após apresentar conceitos e suas compreensões sobre a interdisciplinaridade começa a vislumbrar uma etapa superior, que ele chamaria de “transdisciplinar”, ou seja, etapa que sucederia as relações interdisciplinares, “que não se contentaria em alcançar interações ou reciprocidades entre disciplinas especializadas, mas situaria essas ligações no interior de um sistema total sem fronteiras estáveis entre as disciplinas” (p.144). Em análise a “I Carta Transdisciplinar” produzida no “I Congresso Mundial de Transdisciplinaridade” em consonância com “Conferência Transdisciplinar Internacional” (2002) e o “II Congresso Mundial de Transdisciplinaridade” (2005), percebemos a atribuição ao sistema de especializações como fator preponderante e limitante para o avanço das transformações educacionais, ao se referir à prática transdisciplinar. De acordo com o documento a interdisciplinaridade, se apresenta como possibilidade e “estará contribuindo para que seja retribuída ao Sujeito a sua integridade, facilitando a interação e colaborando com a missão da Educação de recriar sua vocação de universalidade” CETRANS (2002).

Dentro dessa mesma perspectiva Severo e Paula (2010), ao remeter aos documentos produzidos nos eventos mencionados, argumentam que:

A interdisciplinaridade pode não ser o resultado ideal, pode inclusive ser, como também afirma o documento, insuficiente, mas por outro

lado, pode ser mais efetiva para ganhar espaço e ir modificando, aos poucos, o arcaico sistema disciplinarizante que atende o interesse de alguns (SEVERO; PAULA, 2010, p.35).

A interdisciplinaridade se apoia na complexidade, no objetivo de alcançar uma visão de totalidade, na contextualização com a realidade por meio de abordagens de temas que estejam acima das barreiras disciplinares, atendendo essa demanda, sem anular a importância da disciplinaridade do conhecimento, pois, está na relação entre as ciências e na dialogicidade entre os sujeitos é que a prática interdisciplinar se sustenta, na qual, segundo Santomé, (1998, p.61) “depende do grau de desenvolvimento atingido pelas disciplinas e estas, por sua vez, serão afetadas positivamente pelos seus contatos e colaborações interdisciplinares”.

A palavra interdisciplinaridade evoca a “disciplina” como um sistema constituído ou por constituir, e a interdisciplinaridade sugere um conjunto de relações entre disciplinas abertas sempre a novas relações que se vai descobrindo. Interdisciplinar é toda interação existente dentre duas ou mais disciplinas no âmbito do conhecimento, dos métodos e da aprendizagem das mesmas. Interdisciplinaridade é o conjunto das interações existentes e possíveis entre as disciplinas nos âmbitos indicados (FAZENDA,1986, p.18-19)

2.3 PERSPECTIVAS DE INTERDISCIPLINARIDADE DEFENDIDAS POR