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São muitas as definições e significados para currículo, e não há consenso entre os pesquisadores, e certamente, quando no século XVI os pioneiros a utilizar a

palavra currículum para indicar os conteúdos estudados ao longo de um curso, não imaginavam que se tornaria uma referência no campo educacional, conforme as inferências alocadas por Veiga-Neto (1997, p. 59-60).

A conceituação de currículo, de acordo com Apple (1989), Goodson (1997), este sempre está comprometido com algum tipo de poder, interesses e relação de dominação, pois não existe neutralidade no currículo, ele é o veículo de ideologia, da filosofia e da intencionalidade educacional.

Para Sacristán (2000)

O currículo é uma práxis antes que um objeto estático emanado de um modelo coerente de pensar a educação ou as aprendizagens necessárias das crianças e dos jovens, que tampouco se esgota na parte explicita do projeto de socialização cultural nas escolas. É uma prática, expressão, da função socializadora e cultural que determinada instituição tem, que reagrupa em torno dele uma série de subsistemas ou práticas diversas, entre as quais se encontra a prática pedagógica desenvolvida em instituições escolares que comumente chamamos de ensino. O currículo é uma prática na qual se estabelece diálogo, por assim dizer, entre agentes sociais, elementos técnicos, alunos que reagem frente a ele, professores que o modelam. (p.15-16)

A elaboração do currículo, segundo as colocações Apple (1989, p.35) muitas vezes, “tem sido reduzida apenas um método eficiente” o que segundo o autor seria “despolitizar a educação”, e isso reduziria a escola a uma instituição para reproduzir as desigualdades sociais. O referido autor destaca ainda que a escola não deve estar organizada apenas para transmitir conhecimento que são exigidos pela sociedade, mas que possa preparar os estudantes a participar criticamente.

De acordo com a literatura, as mais distintas sociedades e instituições, utilizam o currículo como instrumento, tanto para desenvolver os processos de conservação, transformação como renovação dos conhecimentos historicamente construído, neste contexto a escola constitui-se como aparelho ideológico do estado, por atingir praticamente a toda a população (MOREIRA, (2001); SILVA, 2005), passando atuar “ideologicamente através de seu currículo [...] seja de forma mais direta através das matérias, [...] ou de forma indireta através de disciplinas mais técnicas [...] (SILVA, 2005, P.31)”.

A escola assume essa postura não apenas “pelo conteúdo explicito no currículo, mas no seu funcionamento, nas relações sociais do local de trabalho (SILVA, 2005, p. 33)”. Tais abordagens corroboram com as descritas por Apple (1989), qualquer coisa que a instituição transmita, seja no currículo formal ou no currículo oculto será absorvida e incorporada por parte dos estudantes, sendo assim, escola não ficará imune diante da preservação do que já existe.

De acordo com Pacheco (2005) é necessário compreender as acepções da palavra currículo, isto nos levará a perceber que o mesmo expressa visões, crenças e interesses, principalmente por que não acontece de forma isolada, se constitui por meio de um processo que envolve pessoas e procedimentos. Ou seja, é caracterizado tanto pelo processo interpessoal (vários autores) quanto pelo processo político (tomada de decisões), por este motivo, não pode ser negligenciado.

Segundo Sacristán (2000) o currículo é parte inerente da estrutura do sistema educativo, expressa as finalidades da educação, portanto, faz-se necessário regulamentar o currículo de acordo com a realidade escolar. O autor reporta-se ao currículo

“como um conjunto de objetivos de aprendizagem selecionadas que devem dar lugar à criação de experiências apropriadas de modo que permita a revisão constante do sistema para que ele se opere conforme as oportunas reacomodações (SACRISTÁN, 2000, p.46)”.

Pacheco (2005) e Arroyo (2011) inferem sobre currículo como, centro da atividade educacional e espaço mais estruturante da função da escola por conta disso são cercados de normatizações e diretrizes.

É interessante notar a fala de Arroyo (2011) ao argumentar sobre a centralidade do currículo.

Na construção espacial do sistema escolar, o currículo é o núcleo é o espaço central mais estruturante da função da escola. Por causa disso, é o território mais cercado, mais normatizado. Mas também o mais politizado, inovado, resignificando. Um indicador é a quantidade de diretrizes curriculares para a educação básica [...].

Outro indicador de centralidade do currículo está na ênfase nas políticas de avaliação do que ensinamos. Nunca como agora tivemos políticas oficiais nacionais e internacionais que avaliam com extremo cuidado como o currículo é tratado nas salas de aula, em cada turma,

em cada escolas, em cada cidade estado ou região [...] ARROYO, 2011, p.13).

Arroyo (2011) reitera que o currículo, incluindo o da educação básica, tem se tornando um território de disputa política ao invés de se fortalecer como um espaço ou veículo de movimento e indagações. Entretanto, é necessário conceber o currículo que cada vez mais, tem ganhado destaque no debate educacional como um campo de lutas, tensões, contradições, conforme Apple (1989), pois as novas relações tanto de tempo e de espaços de aprendizagens se configuram novas relações com o saber.

Abreu & Lopes (2006) concebem a política de currículo como uma interconexão entre práticas e propostas, ou seja, é na construção ou na elaboração dos modelos e das propostas curriculares, que se define que tipo de sociedade e de cidadão se deseja formar.

Possivelmente, se pergunte como a escola pode interferir tanto da realidade, ou como a escola pode transmitir a ideologia do sistema? As respostas para estes questionamentos segundo Apple (1989) e Silva (2005), está atrelada ideologicamente ao seu currículo, ou seja, não somente pelos conteúdos como também na forma que serão repassados. Silva (2005) destaca ainda que a escola não utiliza da cultura dominante para reproduzir as desigualdades do sistema, ao contrário utiliza em seu currículo situações que acabam por funcionar como mecanismos de exclusão.

Assim, se o currículo estiver a serviço da transformação social e da formação integral dos jovens estará indo de encontro ao sistema, pois permitirá ao estudante compreender como surge a hegemonia dominante e como ela é introduzida nas escolas, através das interações pedagógicas, escores, avaliações externas, enfim, toadas as atividades relacionadas ao currículo vigente na escola.

3.2 PONTUANDO ALGUMAS DEFINIÇÕES QUE ENVOLVEM A TEMÁTICA