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PARTE 2 – ESTUDO EMPÍRICO

6. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS

6.2. E STUDO EMPÍRICO DA FORMA EM ING BEING

6.2.4. A interferência do português nas estruturas do inglês

A análise da contextualização sintáctica de being permite constatar interferências da língua portuguesa, que reflectem aspectos gramaticais nos quais as duas línguas se distinguem.

6.2.4.1. A inversão sujeito-verbo

Como vimos em 3.2.2.1., tanto no português, como no inglês, a ordem directa dos constituintes nas orações que contêm um verbo transitivo corresponde à sequência: <Sujeito + Verbo + Objecto>. Há, contudo, alterações da ordem dos constituintes frásicos, nomeadamente as inversões sujeito-verbo, que podem ser de natureza gramatical ou de natureza estilística. No que concerne à inversão do sujeito e do verbo nas orações gerundivas, esta inversão é gramatical e não estilística, e ocorre apenas no português.

No entanto, os dados retirados do nosso corpus permitem-nos verificar que, apesar de a inversão sujeito-verbo ser típica da oração gerundiva adverbial do português, registam-se casos no nosso corpus em que esta particularidade do português está presente no inglês, como podemos constatar nos seguintes exemplos:

(74) Thus, all decisions about the dynamic provision of network service classes are made at the edges of networks, being interior nodes only responsible to adjust the resources allocated to each class.

(75) In this case, T is required to transmit a message, being each transmission of T preceded by a message selection phase on C.

(76) Being the access network traffic modeled as a collection of unidirectional flows, each Sampler forms in real-time a flow information structure, and flushes it regularly to the Collector.

(77) Currently these streaming services are based on unicast, being the use of multicast only dependent on the standardization of the Multimedia Broadcast Multicast Service (MBMS) in 3GPP.

(78) The state of a variable l is denoted by vl and its initial state is denoted by vl0; the state of the x machine variables is jointly represented by w = (v1, ..., vl, ..., vx), being W the set of all possible w , and w ϵ W.

(79) The CMs use transistors with ratio W/L (being the default values 20m/2m), except transistors M2 that were designed with ratio aW/L (a=1 as default).

(80) As stated in equation 2, as W and L increase the CM’s bandwidth exhibits an inverse dependence, being here L the dominant parameter (as shown on figures 4 and 5).

(81) OP is the set of output symbols, representing the transmission of messages to queues, being IPOP=Ø;

(82) Currently there are being proposed eight MIB modules to address management operations distribution [17].

Para além da utilização da inversão sujeito-verbo, detectam-se outros fenómenos de linguagem. Apesar de, normalmente, a oração subordinada gerundiva adverbial ter um sujeito implícito que se supõe ser o mesmo da oração principal, na verdade, no corpus Papers EN by PT registam-se situações em que a oração subordinada gerundiva adverbial tem não só um sujeito explícito, como também um sujeito disjunto. Nos exemplos (74) a (79), o sujeito da oração subordinada não corresponde ao sujeito da oração subordinante, ou seja, são sujeitos disjuntos. Gotti (2003: 94), a propósito do uso dos tempos verbais no discurso especializado, refere que a forma em -ing simplifica a oração subordinada, uma vez que evita a menção explícita ao sujeito quando este é o mesmo da oração principal e, por vezes, quando os sujeitos diferem: “The conciseness of this verbal form is so highly appreciated that it is frequently used also when the subject of the secondary clause is different from that of the main clause.” Também, de acordo com Swan (1995: 406) este fenómeno é frequente no estilo formal: “A participle clause can have its own subject. This happens most often in a rather formal style.” Este autor dá um exemplo deste fenómeno: Nobody having any more to say, the meeting was closed. (Ibid.)

Para além disso, uma análise crítica dos desvios da linguagem analisados pode revelar outros erros de natureza gramatical.

Na frase (74), o adjectivo responsible é seguido da preposição errada. Neste caso deveria ser a preposição for seguida da forma em -ing, uma vez que responsible seguido da preposição to é usado com o sentido de reportar a alguém ou a algo com autoridade ou numa posição mais elevada e explicar-lhes o que foi feito. (cf. Hornby, 2005: 1294) Assim, a frase (74) deveria ser reescrita da seguinte forma:

(74) a. Thus all decisions about the dynamic provision of network service classes are made at the edges of networks, interior nodes being only responsible for adjusting the resources allocated to each class.

No exemplo (82), para além da inversão sujeito-verbo, verifica-se outra influência das regras linguísticas da língua materna: uma utilização incorrecta do verbo there to be, pois correctamente seria:

(82)a. Currently eight MIB modules are being proposed to address management operations distribution.

6.2.4.2. A utilização do Presente Contínuo

Como vimos em 1.1.7., um dos contextos da forma em -ing é a construção progressiva, sendo que com base no estudo de Quirk et al. 1985 sobre a gradação nome- -verbo das formas em -ing neste caso a forma em -ing é considerada um participle.

No caso da forma em -ing being, um dos contextos sintácticos mais frequentes no corpus Artigos PT por PT é a forma progressiva. No entanto, na frase (83), o presente contínuo não está correctamente utilizado:

(83) The information needed to perceive this not always is easy to define and to obtain, and this is currently being matter for further investigation.

Neste caso, como “matter” é um nome e não um particípio passado não deve ser utilizado o presente contínuo, mas sim o presente simples, e como é um nome deve ser

precedido de um artigo, neste caso indefinido. Para além disso, detecta-se uma incorrecta inserção do advérbio always e da partícula de negação not, reflectindo uma influência da expressão do português “nem sempre é fácil”. Correctamente seria:

(83)a. The information needed to perceived this isn’t always easy to define and to obtain, and is currently a matter for further investigation.

De facto, tal como vimos na análise de using (cf. 6.1.6.1.), a colocação do advérbio na frase é uma área crítica e de interferência da L1.

6.2.4.3. Gerund vs. infinitive

Como vimos em 1.1.4., há verbos que podem ser seguidos de gerund, verbos seguidos de gerund ou de infinitive, e outros que são seguidos de infinitive. No exemplo (84), temos a utilização da forma em -ing em lugar do infinitivo:

(84) This paper describe a project that integrates SNMP into a mobile agent environment in order to achieve a simple but powerful goal: mobile agents have to manage and being managed through SNMP.

De facto, have to tem o mesmo sentido do verbo modal must e é, por isso, seguido de infinitivo, tal como to manage (<have to+infinitivo>). Para além disso, regista-se um erro de conjugação do verbo to describe que deveria estar na terceira pessoa do singular (describes), em concordância com o sujeito (this paper):

(84)a. This paper describes a project that integrates SNMP into a mobile agent environment in order to achieve a simple but powerful goal: mobile agents have to manage and be managed through SNMP.

Também no exemplo (85), a utilização do infinitivo a seguir a prevent não está correcta:

(85) In a), it is necessary to protect the information with some encryption algorithm (to prevent the message to be interpreted and to prevent the message from being modified) and it is necessary to authenticate the communicating parties.

Na verdade, prevent deverá ser seguido da preposição from que, por sua vez, é seguida da forma em -ing, tal como na segunda utilização (<prevent+from+forma em -ing>):

(85)a. In a), it is necessary to protect the information with some encryption algorithm (to prevent the message from being interpreted and to prevent the message from being modified) and it is necessary to authenticate the communicating parties.