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PARTE 2 – ESTUDO EMPÍRICO

7. REFLEXÕES FINAIS

Para este trabalho, procurámos trazer dois pontos de vista sobre a linguagem: por um lado, a linguística teórica que nos ajuda a compreender como funciona a linguagem; por outro lado, a linguística empírica, que parte da análise de exemplos da linguagem para inferir generalizações que nos ajudam a entender as diferenças (diferentes tipos de texto, diferentes intenções comunicativas, diferentes línguas) e a formular abstrações.

A abordagem revelou-se, em certa medida, abrangente, uma vez que focou várias áreas (morfologia; sintaxe; semântica; ensino de línguas para fins específicos; análise de tipos de texto; análise de corpora),mas ao mesmo tempo objectiva, ao ter um objecto e um objectivo de estudo traçado: o estudo contrastivo das formas em -ing e em -ndo no artigo de investigação da área das Telecomunicações, que constitui uma forma de comunicação fundamental entre pessoas estreitamente ligadas ao contexto em que se produz.

Assim, interessou-nos, em primeiro lugar, sistematizar e reflectir sobre os aspectos morfológicos, semânticos e sintácticos das formas em -ing e em -ndo, e sobre o tipo de texto como factor condicionante dos padrões sintácticos e lexicais, ou seja, as características do discurso de especialidade, nomeadamente a especificidade da sua gramática, e a análise de corpora especializados no contexto do processo de ensino- -aprendizagem do inglês como uma língua de especialidade.

Em segundo lugar, tendo a reflexão teórica como ponto de partida, centrámo-nos nas formas em -ing no texto técnico ao nível académico e realizámos um estudo empírico, através da análise de corpora, privilegiando uma abordagem comunicativa e contrastiva no ensino de línguas de especialidade. Comunicativa pela importância dada à escolha de material autêntico. Contrastiva pelo tratamento gramatical que se apoia na comparação com a língua materna, bem como pelo conhecimento do desvio linguístico como consequência da influência das estruturas da língua materna. Na verdade, no processo de ensino-aprendizagem de uma língua estrangeira é essencial conhecer e

antecipar as dificuldades dos aprendentes, que, geralmente, se prendem com a transferência de estruturas linguísticas da língua materna para a língua estrangeira, fazendo do erro uma ponte para a aprendizagem efectiva.

Procurámos na apresentação e análise dos resultados sistematizar os aspectos de interferência da L1 na L2 que mais se destacaram e, a partir deles, encontrar possíveis respostas para as questões que se nos colocaram ao longo do trabalho. Acima de tudo, procurámos abordar e contribuir para uma temática que se nos afigurou de especial interesse.

A focalização nos principais padrões sintácticos e lexicais e os valores semânticos associados prende-se com a importância dos mesmos para o aluno, pois, apesar de haver uma infinidade de estruturas linguísticas, interessa-nos focar aquelas que são usadas com frequência. A análise contrastiva da frequência de padrões sintácticos em diferentes registos serviu o propósito de responder à questão inicial sobre os padrões sintácticos no contexto da forma em -ing que predominam no artigo de investigação no âmbito das Telecomunicações. Não defendemos com isto que só devam ser ensinados os padrões analisados neste estudo, mas tê-los em linha de conta no ensino da língua para fins específicos, nomeadamente na abordagem do erro ou desvio linguístico: “As Hart (1986: 280) points out, genre analysis is pattern seeking rather than pattern imposing.” (cf. Bhatia, 1993: 40) Por outro lado, não pretendemos que esta contribuição resulte apenas num exercício de demonstração prática de pressupostos teóricos, mas, acima de tudo, na aplicabilidade prática da análise linguística para o ensino da lingua de especialidade.

Para além disso, interessa centrar o ensino da língua para a realidade da sua utilização, neste caso o texto técnico. Por exemplo, de acordo com Cunha & Cintra (1984: 611), no português, as orações reduzidas de gerúndio adverbiais temporais são as mais comuns, uma vez que o gerúndio tem principalmente significado temporal. (cf. 3.1.) No entanto, a análise dos resultados permitiu concluir que no tipo de texto objecto da nossa análise, quer em português quer em inglês, não são as orações temporais as mais recorrentes, mas sim as de modo ou meio. Assim, a análise permitiu constatar a

aplicabilidade de algumas regras abordadas na concepção teórica, bem como verificar a contextualização sintáctica das formas em -ing seleccionadas.

Assim, no âmbito dos principais padrões sintácticos, concluímos que, em relação à forma using, a oração subordinada adverbial gerundiva de modo ou meio é a estrutura mais recorrente. A este respeito concluímos que a posição deste tipo de oração se efectua maioritariamente em posição final, ou seja, é não-periférica. Constatámos a importância do uso de conectores para desambiguar o valor semântico da oração subordinada, ajudando na leitura e interpretação da frase, uma vez que o seu valor semântico é parcialmente determinado pelos traços discursivos dos seus conectores. Verificámos também que a forma em -ing using co-ocorre com outras construções, nomeadamente a passiva. Para além disso, este estudo permitiu responder afirmativamente à questão que colocámos inicialmente se, apesar de a linguagem do texto técnico ao nível académico ser caracterizada como precisa, a ambiguidade criada pelo uso do dangling participle também está presente nesse tipo de registo (cf. 3.2.1.2.). Por outro lado, constatámos que using também co-ocorre no contexto da oração subordinada adjectiva, bem como do complemento preposicional.

Relativamente à segunda forma seleccionada, a forma being, concluímos que co- -ocorre principalmente na forma progressiva, na voz passiva como parte integrante das orações adjectivas e nas orações subordinadas adverbiais gerundivas.

Subjacente ao nosso trabalho está também a hipótese que colocámos inicialmente relativamente ao inglês internacional estar a ser influenciado pelas estruturas típicas de outras línguas, como o português. Sabendo que cada língua tem especificidades que, na realidade, constituem dificuldades ao falante da L2, este estudo procurou centrar-se nessas dificuldades, com o objectivo de ele possuir conhecimentos e competências que lhe permitam ultrapassá-las. Assim, no que concerne à interferência do português nas estruturas do inglês este estudo permitiu confirmar a hipótese colocada. Assim, nos exemplos com a forma using detectaram-se as seguintes interferências: a colocação do advérbio e o uso do verbo allow. Quanto à forma being verificaram-se interferências na inversão sujeito-verbo, na utilização do Presente Contínuo e na utilização do infinitive vs. gerund.

No futuro este trabalho poderá ser complementado através da constituição de um corpus formado por artigos escritos por nativos de inglês, no sentido de realizar uma análise comparativa, não só entre textos do mesmo registo como do mesmo genre. Para além disso, tendo em conta que o processo de ensino-aprendizagem se insere num sistema educativo que se pretende qualificador, integrador e ponte para a integração do aluno no mundo do trabalho e/ou académico, consideramos de especial importância um levantamento dos manuais de nível secundário que tratam os fenómenos linguísticos abordados nesta tese, no sentido de analisar a forma como estes são abordados.

Consideramos que a escrita de um artigo de investigação tem de ser reconhecida como um evento comunicativo que é modelado pelos seus objectivos, pelas pressões várias a que é sujeito, nomeadamente editoriais, e pelo contexto de produção. Aceitando que a linguagem é influenciada pelos constrangimentos que operam nos contextos de uso num dado momento, o estudo de produções escritas realizadas por alunos de engenharia sem todas estas pressões e condicionantes seria outro caminho possível. Na verdade, quando não temos a certeza do correcto uso de uma determinada estrutura optamos por não a utilizar, evitando o erro. Num contexto mais informal o erro linguístico será mais facilmente detectado, tornando-se extremante útil num trabalho de natureza pedagógica.