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PARTE 1 – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

4. O TIPO DE TEXTO COMO FACTOR CONDICIONANTE DOS PADRÕES SINTÁCTICOS E LEXICAIS

4.2. O REGISTO , O GENRE E O ESTILO

A variação do registo surge da variação de field, tenor e mode, de acordo com o conceito de ‘contexto da situação’ de Halliday 1985.

Field refere-se à função social do discurso, isto é, à relação do escritor e do leitor que a linguagem transmite. Tenor refere-se aos participantes, as relações entre eles e as suas intenções. Num e-mail para um amigo, por exemplo, a escrita é pessoal, ou seja, a linguagem expressa emoção, sentimentos, opiniões. Pelo contrário, numa escrita impessoal como, por exemplo, no texto académico, o público-alvo é distante e desconhecido, por isso, o escritor não aparece no texto nem se dirige ao leitor. Esta linguagem é caracterizada pela inexistência da expressão de sentimentos pessoais e de pronomes pessoais, bem como pelo uso da voz passiva. Mode refere-se à forma como a linguagem é usada, incluindo o meio de comunicação (escrito, falado, etc.), bem como o modo retórico (exposição, instrução, persuasão, etc.) e a organização do texto.

Estes três elementos interdependentes permitem quer ao falante/escritor quer ao ouvinte/leitor orientar-se no contexto da situação. Assim, registo é uma variedade da linguagem que o falante considera apropriada a uma situação específica.

O conceito de registo está relacionado com o de genre. E a noção de genre está associada à noção de intenção comunicativa e, como no dia-a-dia se escreve com diferentes objectivos, isso resulta numa panóplia de tipos de texto:

“A text classification is based on the native speaker’s everyday experience in using his/her mother tongue for a variety of purposes. Thus, even linguistically untrained people, without theoretical reflection, will be able to distinguish, say, between a letter, a contract, a poem, a cooking recipe, a weather forecast, and an advertisement. In other words: the members of the language community have a certain amount of knowledge about textual patterns and their communicative functions.”

Gläser (1995:141)

Um genre pode dividir-se em diferentes sub-genres. Por exemplo, a literatura pode dividir-se em poesia, drama e prosa, que, por sua vez, podem ser subdivididos:

“The number of genres in the language for general purposes seems to be open-ended and depends on the delicacy of a sub-classification. M. Dimter in 1981 counted about 1650 names for different text genres in the dictionary of present-day German (Mannheim Duden) and made a rough estimate that about 5000 names for more specified text genres might exist in present- day German.”

Gläser (1995:142)

Na verdade, os genres são formados a partir de um conjunto de convenções que os categorizam28, mas que não estabelecem fronteiras fixas, pois há uma partilha e um empréstimo destas convenções nos diferentes tipos de texto. São, por isso, categorizados pelas suas características essenciais, que não são estanques, nem balizantes:

“Any major change in the communicative purpose(s) is likely to give us a different genre; however, minor changes or modifications help us distinguish sub-genres. Although it may not always be possible to draw a fine distinction between genres and sub-genres, communicative purpose is a fairly reliable criterion to identify and distinguish sub-genres.”

Bhatia (1993: 14)

Swales apresenta uma definição de genre descrevendo as suas principais características:

28 A definição que Baker 1992 apresenta de genres também sublinha as convenções que os categorizam: “A set of texts, spoken or written, which are institutionalized in so far as they are considered by a given speech community to be of the same type, for example the genre of political speeches or the genre of editorials.” (Baker, 1992: 285)

“A genre comprises a class of communicative events, the members of which share some set of communicative purposes. These purposes are recognized by the expert members of the parent discourse community, and thereby constitute the rationale for the genre. This rationale shapes the schematic structure of the discourse and influences and constrains choice of content and style.”

Swales (1990: 58)

Esta definição permite-nos retirar algumas ideias intrínsecas a este conceito. Assim, de acordo com Swales, genre é primeiramente caracterizado pelas intenções comunicativas que dão forma ao texto e lhe conferem uma estrutura interna. Segundo, os especialistas têm uma competência comunicativa e um conhecimento da estrutura do texto com que trabalham. Terceiro, o escritor tem de respeitar e obedecer às regras e às convenções linguísticas da sua área de especialidade. Quando isso não acontece, causa estranheza aos membros da comunidade de especialidade da qual faz parte, e até mesmo aos utilizadores da linguagem geral. Swales (1990: 205) dá um exemplo desta situação retirado do estudo de Salwa (nome fictício), uma doutoranda Egípcia em biologia marítima nos Estados Unidos da América. Salwa começa um artigo de investigação da seguinte forma: “In aquaculture, the relations among nutrients, stocking rate, water quality and weather are complex…” Este tipo de declaração causará estranheza entre especialistas da área, na medida em que foca um aspecto demasiado óbvio e que não era necessário lembrar ao leitor. A solução que Swales apresenta é a inserção da expressão “known to be”: “In aquaculture, the relations among nutrients, stocking rate, water quality and weather are known to be complex…” Com esta alteração a informação deixa de ser apresentada como se fosse informação nova e passa a ser apresentada como já conhecida.

Swales refere também a noção de estilo. Na verdade, estilo consiste não apenas no uso perfeito das palavras, mas sim no uso de um sistema linguístico em que predomina uma intenção estética na formação e emprego das expressões, e na coerência e lógica das ideias, dos acontecimentos e dos factos. (cf. Swales 1990)

Segundo Gläser (1995: 165), a classificação de estilos está relacionada com a classificação de texto, apesar de as duas não serem coincidentes. A mesma autora apresenta também uma definição de texto de especialidade enfatizando o contexto social em que se insere:

“At the outset, I tentatively define an LSP text as a coherent and complete utterance in a

social sphere of activity which refers to a job-specific subject or state of affairs. It is constituted by general and specific linguistic means and may include non-linguistic visual elements which convey further information (e.g. symbols, formulae, graphs, flow charts, and

various kinds of illustration).”

Gläser (1995:166)

Resumindo, os textos variam de acordo com: o seu propósito, ou seja, a sua intenção comunicativa (a razão por que escrevemos), que determina o genre; e de acordo com a sua situação (o público-alvo da mensagem, o assunto sobre o qual escrevemos) que determina o estilo e o registo. Assim, o genre determina a estrutura do texto, enquanto o estilo e o registo determinam os padrões da linguagem e o vocabulário usado no texto. Neste sentido, registo designa a língua de acordo com o seu uso em situações sociais, isto é, os diversos estilos que um falante pode usar consoante a situação comunicativa em que participa. Os factores que determinam o registo são fundamentalmente de ordem funcional e situacional, isto é, os registos dependem da função com que a linguagem é utilizada e da situação que lhe serve de contexto. (cf. Peres, 1995: 35) Esta variação é chamada de ‘variação diafásica’ (do grego phasis, “fala”) e está relacionada com a diferente situação de comunicação e com factores de natureza pragmática e discursiva, ou seja, em função do contexto, o falante varia o seu registo de língua, adaptando-o às circunstâncias.