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A internacionalização produtiva pode ocorrer sob diversas maneiras, de acordo com cada momento histórico. Cada período, portanto, no seu conjunto, é marcado pela prevalência de uma faceta da internacionalização, o que, aliás, não significa que outras facetas sejam eliminadas. Essas faces estão ligadas diretamente às relações que certas empresas estabelecem em outros países, como, por exemplo, por meio do comércio de bens e de serviços, dos investimentos diretos estrangeiros (IDEs), das associações com empresas de outros países (joint ventures) e dos fluxos de capital financeiro.

As relações estabelecidas pelas empresas em outros países têm, no seu bojo, não somente uma dimensão temporal, senão também uma dimensão que é espacial. Assim,

nos vários períodos de internacionalização do capital, que tem a prevalência de uma face sobre as demais, há um aspecto espacial subjacente que é tanto resultado das condições de acumulação vigentes como um determinante para a acumulação de capital.

As faces ou dimensões do capital, em cada período, remetem à idéia de que a mundialização do capital é, além de inerente ao modo de produção capitalista, um processo multidimensional, quer dizer, marcado pela dimensão das trocas de bens e serviços, pela mobilidade da produção de bens e serviços e pela circulação dos capitais financeiros. A prevalência de uma dessas dimensões, com taxa de crescimento maior do que as demais, com investimentos mais rentáveis do que as demais e com uma racionalidade dos operadores da dimensão dominante, caracteriza uma configuração da mundialização (MICHALET, 2003).

A internacionalização produtiva, aqui entendida pela utilização tanto do capital dinheiro como do capital produtivo em outros países, não é um fenômeno novo, comumente datado a partir dos anos de 1950, com as empresas americanas invadindo a Europa com seus investimentos produtivos. Os primeiros investimentos produtivos no exterior remontam desde finais do século XIX, especificamente a partir dos anos de 1880. Firmas americanas, inglesas e dos demais países europeus tinham, antes da Primeira Guerra Mundial, centenas de filiais fora de suas fronteiras. Essa constatação serve de apoio à afirmação de que o fenômeno das Empresas Multinacionais (EMNs) não surgiu na década de 1950, mas sim em finais do século XIX, com as empresas americanas General Eletric, Thomson, United Fruit, Alcoa, Coca-Cola, entre outras, ascendendo à condição de multinacionais.

Michalet (1984, p. 32), referindo-se indiretamente à tese de Wilkins (1970), destaca que:

A relação entre os investimentos diretos no estrangeiro e o PNB americano é, em 1914, quase a mesma de 1968, ou seja, 7,3% e 7,5% respectivamente. É verdade que, neste intervalo, o PNB dos Estados Unidos aumentou brutalmente e que os ativos norte-americanos no exterior saltaram de 2,6 para 65 bilhões de dólares.

Portanto, com base na citação acima, fica evidente que os investimentos das empresas americanas datam desde finais do século XIX. Um segundo aspecto a ser enfatizado é o caráter contínuo dos investimentos produtivos no exterior, com períodos de relativa queda (tabela 01). Andreff (1975), citado por Michalet (1984), destaca o caráter cíclico dos investimentos realizados por empresas européias e americanas, exceto as japonesas - que se internacionalizaram apenas no final dos anos de 1930.

Tabela 01- Investimentos produtivos das economias desenvolvidas, em percentuais de

crescimento do número de filiais

1900-1919 1915-1929 1929-1939 1935-1950 1950-1959 1959-1967

7,5% 10% 4,3% 3,0% 7,5% 8,6% Fonte: Andreff (1975) apud Michalet (1984, p. 33)

Org: Leandro Bruno Santos, 2008.

Durante a Segunda Guerra Mundial, as multinacionais européias foram mais afetadas do que as americanas. Inclusive, nesse período de guerra, a taxa de crescimento das multinacionais foi bem menor quando comparada com os demais períodos. O avanço da multinacionalização a partir dos anos de 1950 deveu-se, sobretudo, à ascensão rápida dos investimentos americanos no exterior. É apenas no final dos anos de 1960 que se desenha o avanço de empresas européias e japonesas. Os investimentos foram feitos por grandes empresas de atuação em indústrias oligopólicas (HYMER, 1978).

O avanço das empresas multinacionais é acompanhado, paralelamente, pelo acirramento da concorrência. Na escala nacional, diminuem o número de empresas, enquanto na escala mundial elas aumentam tanto em número como em origem. Os novos contornos delineados são da emergência de uma estrutura de oferta concentrada em oligopólios mundiais, sobretudo em ramos voltados à alta tecnologia e às altas economias de escala. A concentração da oferta nas mãos de poucas empresas, antes presente com força nos ramos de mineração e de petróleo, expande-se para novos ramos da economia.

Países como Brasil, México, Argentina, entre outros, aproveitaram-se da concorrência entre as multinacionais americanas e européias para atrair investimentos em condições vantajosas em seus processos de industrialização tardia. Aos países cuja economia era grande e onde havia significativa reserva de recursos naturais foi permitido o protecionismo pelos países desenvolvidos, contanto que as suas empresas multinacionais fossem beneficiadas. Pequenos países asiáticos, pobres em recursos naturais, e situados em áreas de interesse geopolítico, como a Coréia do Sul, tiveram maior liberdade na condução da política desenvolvimentista, acesso aos mercados dos países desenvolvidos, ao mesmo tempo em que não eram de interesse às multinacionais dos países desenvolvidos (COUTINHO, 2000).

Portanto, tanto os países periféricos, como as empresas multinacionais e seus estados de origem atuaram em conluio num momento em que a periferia era “integrada” ao centro por meio da concentração do capital. O papel dos Estados era forte, e as empresas

não eram, de maneira alguma, prejudicadas pelas políticas governamentais; pelo contrário, os Estados e as empresas saíram ganhando com os projetos desenvolvimentistas e as salvaguardas comerciais visando à substituição das importações e à industrialização de alguns países periféricos, cujos mercados e as riquezas naturais eram significativos.

Em paralelo ao avanço das multinacionais dos países desenvolvidos, algumas empresas dos países periféricos ascendem à condição de multinacionais com investimentos em países vizinhos, cujos níveis de desenvolvimento eram similares, mediante a oferta de produtos adaptados quanto à cultura e às tecnologias. O aspecto curioso é que não há, em nenhum momento, a referência à existência de investimentos produtivos realizados por empresas sediadas em países periféricos. Michalet (1984, p.33) chega a afirmar que “o fenômeno da multinacionalização atém-se exclusivamente às economias capitalistas desenvolvidas”. Subjacente a essa afirmação reside não somente o desconhecimento das empresas argentinas pioneiras na internacionalização, senão também a prevalência do posicionamento marxista de que a multinacionalização é um processo que ocorre em economias maduras – marcadas por um longo processo histórico de concentração e centralização, imperativos da acumulação do capital.

Michalet (1984), em seu trabalho, parte da constatação estatística de que, para alguns países desenvolvidos, o valor da produção realizado por suas empresas fora das fronteiras nacionais excedia o montante das exportações por elas realizadas em suas matrizes. Com isso, defende a internacionalização da produção como sendo um fenômeno relativamente novo e inegável para sua época, isto é, a passagem de uma fase de realização do valor, por meio do comércio, para uma fase de criação do valor em outros países. Certos países periféricos adquirem, então, a condição de locus da geração de valor, em vez de somente espaços de realização do valor através do comércio.

Palloix (1974) interpreta a internacionalização do capital a partir dos ciclos do capital – capital mercadoria, capital dinheiro e capital produtivo -, de Marx. A internacionalização do capital mercadoria é a primeira fase de internacionalização do capital, com a prevalência da realização do valor nas trocas comerciais. Até o século XIX, a internacionalização era, portanto, comercial e tinha como dimensão espacial uma relação de troca desigual entre países produtores de matérias-primas (periferia) e produtores de bens industriais (centro). A lógica que prevalecia no capitalismo comercial era a da realização do valor.

No final do século XIX e início do século XX, com o amadurecimento do capitalismo nos países centrais – após intenso processo de concentração e centralização – e a

crise de superacumulação de capital, toma forma o ciclo de capital dinheiro, com a exportação de capitais para a periferia, sob a forma, principalmente, de investimentos e de empréstimos financeiros. Na segunda metade do século XX, basicamente nos anos de 1960 e 1970, devido à crise da superacumulação nos países desenvolvidos – a chamada crise do modelo de desenvolvimento fordista -, as empresas direcionam seus capitais ociosos (capital-dinheiro) aos países periféricos, dentre eles Argentina, Brasil, México, cujos Estados estavam promovendo a industrialização. Esses países ofereciam mão-de-obra barata, matérias-primas e, acima de tudo, mercados em potencial para as empresas multinacionais (market seeking).

A internacionalização prevalente deixa de ser comercial e passa a ser produtiva – a internacionalização do ciclo do capital produtivo -, com a criação de valor na periferia. Isso não quer dizer, logicamente, que as trocas comerciais desapareceram; o que aconteceu foi que as Empresas Multinacionais (EMNs) do centro, diante da crise de realização do capital e das imposições comerciais de alguns países periféricos – desejosos pela industrialização -, contornaram a crise de acumulação com o investimento da mais-valia social além das fronteiras nacionais, visando dar continuidade àquilo que Marx denominou como a essência do capitalismo: “acumulai, acumulai”.

O que fica evidente, então, com a abordagem dos ciclos do capital, é a necessidade, sempre crescente, de novos espaços para a continuidade do processo de acumulação do capital10. A busca por novos espaços é uma alternativa à crise de

superacumulação e às contradições do modo capitalista de produção em economias maduras. A mundialização do capital é, por assim dizer, a outra face do modo capitalista de produção. Portanto, desde meados dos anos 1960, com a crise de acumulação do capital que assolou os países centrais, há um forte processo de internacionalização da produção, tendo como principal agente as empresas multinacionais. Aliado a isso, as mudanças tecnológicas, produtivas e organizacionais permitiram avanços não somente às diferentes formações sócio- econômicas, senão também agiram como catalisadores para a intensificação do processo de internacionalização da produção.

Essa associação do avanço das multinacionais no exterior como resposta à crise de acumulação do modelo fordista precisa ser relativizada. As explicações para a crise de acumulação dos regulacionistas levam em consideração as economias nacionais como entidades fechadas, em que a queda da produtividade, a estagnação e a inflação, a crise da 

10 Sob diversos matizes, mas com a concordância em torno da mundialização do capital, destacam-se

desde autores clássicos, como Rosa Luxemburgo, Buckárin e Lênin, até autores mais contemporâneos, como Charles-Albert Michalet e François Chesnais.

relação salarial, a crise fiscal do Estado etc. foram os responsáveis pela crise de acumulação do modelo de desenvolvimento fordista. Não se considera, porém, quais as conseqüências da internacionalização do capital para a crise de acumulação de um modelo cujas regulamentações eram nacionais, enquanto as empresas multinacionais já operavam além dessas imposições (CHESNAIS, 1996).

Desde meados dos anos 1950, depois de um longo processo de concentração e centralização de capital nos EUA e depois na Europa, as empresas e grupos realizaram investimentos cruzados na tríade e estabeleceram alianças juntos aos Estados periféricos que estavam promovendo a industrialização. Em resposta à crise de acumulação, as empresas intensificaram os investimentos no exterior, ao mesmo tempo em que diminuíram os investimentos no mercado doméstico, contribuindo não só para dissociar os seus destinos dos seus países de origem, como também para demonstrar o descompasso de um modelo de regulação nacional quando o capital extrapola as fronteiras com o avanço das empresas multinacionais.

A resposta das empresas à queda da demanda doméstica e da rentabilidade foi o aumento significativo dos IDEs, cujos valores ultrapassaram as cifras de investimentos em seus países de origem e foram superiores ao comércio de bens e serviços. Com isso, as empresas e grupos contribuíram para a eliminação cumulativa das regulamentações fordistas, isto é, o capital busca se libertar das instituições que regulavam o seu movimento. Chesnais (1996, p. 27) sintetiza esse fenômeno ao afirmar que, historicamente, “a expansão internacional deu-se sobretudo através do comércio exterior e sucessivamente, nos anos 80, por um desenvolvimento considerável do investimento direto internacional e da colaboração interempresas”

Chesnais (1996) enumera, além do IDE suplantando o comércio exterior, outros aspectos, dentre eles: 1) concentração dos IDEs na tríade11 (Estados Unidos, Europa e Japão); 2) a maior parte das trocas comerciais como sendo um intercâmbio intra-grupo; 3) integração vertical e horizontal das unidades graças aos IDEs; 4) organização em empresas- rede dos grupos industriais; 5) interpenetração de diferentes capitais (fusões, aquisições etc.); 6) surgimento de oligopólios mundiais em um número crescente de indústrias; 7) movimento de mundialização excludente com os países em desenvolvimento.

Todos os fatores delineados acima resultaram num intenso processo de centralização do capital, entendido pela incorporação de capitalistas menores e menos 

11 Esse termo foi cunhado por Kenichi Ohmae, em sua obra Poder da tríade, editado pela Campus no

competitivos pelos maiores e mais competitivos, isto é, pela mudança na distribuição do capital que já está em funcionamento. Esse processo de centralização ocasionou também, sem dúvida, a concentração – quando um capital individual amplia sua base de extração de mais- valia continuamente num processo de expansão, que é também espacial. O processo de centralização do capital pode ser visualizado a partir da expansão das aquisições e fusões nas últimas décadas, especialmente nos países que compõem a tríade. À necessidade de reinvestir a mais-valia social novamente, gerando um processo contínuo de acumulação do capital, devem ser somadas as políticas de desregulamentação financeira, liberalização econômica e de privatizações de empresas.

Para Chesnais (1996, p.18),

ligar o termo de “mundialização” ao conceito de capital significa dar-se conta de que, graças ao seu fortalecimento e às políticas de liberalização que ganhou de presente em 1979-1981 e cuja imposição foi depois continuamente ampliada, o capital recuperou a possibilidade de voltar a escolher, em total liberdade, quais os países e camadas sociais que têm interesse para ele.

As políticas levadas a cabo desde a década de 1980 nos países centrais, de liberalização econômica, o tripé baseado na privatização, na desregulação e no desmantelamento das conquistas sociais, sob os governos Thatcher e Reagan, permitiram que o capital, nas suas formas produtivas e financeiras, conseguisse a liberdade para se movimentar livremente à procura de melhores condições, a fim de se ampliar continuamente. Essa liberdade proporcionou a desconexão entre a dimensão real (da acumulação) e a dimensão financeira. O capital pôde fazer, por mais de duas décadas, vôos rasantes sobre a pauperização da classe trabalhadora (precarização do trabalho) e sobre aumento da exclusão social. Essa liberdade não podia levar senão ao choque com uma montanha cujos componentes minerais são, basicamente, a desvinculação com a acumulação real e a crise de confiança no mercado financeiro, características da crise financeira atual.

O caminho à globalização financeira foi aberto bem antes das políticas liberalizantes dos anos 1980. O ponto de partida data do começo dos anos 1970, quando dos déficits comerciais dos EUA e do maior número de dólares em circulação que as reservas de ouro americanas. Em 1971, Richard Nixon, presidente dos EUA, abandona o Gold Exchange Standard (padrão-ouro de troca), no qual todas as moedas nacionais eram conversíveis em dólar e cabia aos governos manter o respeito às taxas de câmbio, e permite que as moedas dos

países comecem a ser avaliadas pela oferta e pela procura, cabendo o papel de regulação, doravante, ao mercado financeiro.

As primícias da globalização financeira surgem em função de dois conjuntos de fatores. Primeiro, diante da guerra do Vietnã e da enorme saída de divisas em função do conflito, as multinacionais estadunidenses são obrigadas a financiar seus investimentos de expansão internacional fora dos EUA, contribuindo, assim, com a ascensão e consolidação dos bancos londrinos, então depositários de dólares oriundos de diversas fontes (comerciais, petróleo etc.) fora dos EUA. Os dólares oriundos das receitas de petróleo não foram totalmente consumidos pelos países exportadores deste recurso natural, o que contribuiu para uma maior quantidade recursos passíveis de empréstimos pelos bancos, especialmente na forma de empréstimos para os países periféricos.

Nos anos 1980, a subida ao poder de Margaret Thatcher, na Inglaterra, e de Ronald Reagan, nos EUA, é o marco da implementação de uma revolução conservadora. Esses dois governos, em meio ao prolongamento da crise econômica, com a queda produtividade, a continuação da estagnação e da inflação e endividamento das economias “emergentes”, elegem as políticas keynesianas como principal responsável pela crise, ao passo que procuram disseminar o discurso neoliberal de Estado mínimo e do mercado como sendo o principal regulador da economia.

Entre as medidas adotadas, houve a descompartimentação bancária e financeira (fim dos bancos comerciais e de investimento e ascensão dos fundos de pensão, fundos de investimento e bancos de grupos), titularização (as instituições financeiras passam a emitir títulos representativos em seus poderes no mercado, bem como a inovar em produtos financeiros, como derivativos, swaps, hedges), desintermediação (os bancos deixam de ser os únicos intermediários em empréstimos, com estes sendo realizados diretamente no mercado financeiro).

Essas medidas vieram ao encontro dos interesses do capital financeiro, num momento em que as economias periféricas estavam endividadas e as regulações nacionais eram um entrave às suas operações. Portanto, o capital produtivo e o financeiro ou monetário foram os principais responsáveis pelo desmantelamento das instituições nacionais que regulavam seus movimentos. Os principais atores beneficiários da desregulamentação e da liberalização financeira são os fundos de pensão, os fundos de investimentos, os seguros de vida, os bancos de grupos.

De início, esses atores se fortaleceram com investimentos em títulos da dívida pública e com ataques especulativos em mercados de câmbio. Posteriormente, eles

diversificaram seus investimentos e aumentaram suas participações internacionais. Os fundos de pensão e outros investidores internacionais são, atualmente, os principais compradores e vendedores de títulos nos diferentes segmentos do mercado financeiro (câmbio, ações, títulos públicos e privados). O controle antes restrito às finanças é ampliado, nos dias atuais, sobre os grupos industriais, por meio da compra do controle acionário (CHESNAIS, 1999).

Como resultado da interpenetração do capital financeiro e do capital industrial, alguns aspectos precisam ser ressaltados: i) à medida que os grupos industriais começaram a investir, também, na esfera financeira, as barreiras do valor obtido na produção e na detenção de direitos de propriedade e de créditos foram diminuídas (SERFATI, 1998); ii) o controle sobre os grupos industriais pelos fundos de pensão e de investimento é marcado pela lógica financeira de lucros rápidos, o que resulta na venda de ativos considerados não estratégicos; iii) a prevalência da lógica financeira sobre a produtiva é agressiva ao extremo quanto ao emprego e aos salários; iv) o foco sobre os ativos mais lucrativos e a venda dos menos lucrativos, gerando um mercado de ativos industriais; v) a prevalência da lógica de criação de valor sobre a acumulação de capital.

As medidas de liberalização, desregulamentação e privatização levadas a cabo, inicialmente pelos países membros da OCDE, e expandidas aos países asiáticos e latino- americanos, posteriormente, resultaram na elevação significativa dos IDEs, principalmente pelo aumento do investimento cruzado entre os países da tríade. Grande parte dos IDEs foi direcionada à centralização de capital, mediante fusões e aquisições, em vez de novos investimentos produtivos.

Às organizações multilaterais criadas no acordo Bretton Woods, FMI e Banco Mundial, novas funções são atribuídas, como a de propagar a doutrina neoliberal para os seus principais clientes, os países endividados do Sul, dos quais é exigido o realinhamento da política econômica para uma intervenção mínima do Estado, para a privatização de empresas e para a desregulamentação da economia. Os países periféricos foram impelidos, seja ideologicamente, seja através dos “bastiões” do establishment – Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BIRD), Banco Mundial -, a adotarem políticas de cunho liberalizantes, a exemplo dos países desenvolvidos, cuja conseqüência imediata seria receber recursos sob a forma de investimentos diretos de empresas multinacionais. Convencionou-se a denominar isso de atratividade, quer dizer, os países periféricos adotam políticas com o fito de se tornarem atrativos para os investimentos de empresas multinacionais.

O que se assiste desde o início dos anos de 1990 é uma disputa pelos IDEs, com a adoção de políticas liberalizantes por parte dos países periféricos. Os IDEs, no entanto, longe de proporcionar o investimento em capital fixo (greenfield), foram direcionados à aquisição de empresas já existentes, ocasionando o processo de desnacionalização, com a transferência do patrimônio para as mãos de empresas multinacionais estrangeiras. Na