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Capítulo IV – A Metodologia de Investigação-Ação

4.1. A Investigação-Ação: Características e Contributos

A Investigação-Ação é uma metodologia que proporciona mudanças nos profissionais e nas instituições que pretendem acompanhar os desafios e os problemas decorrentes da prática pedagógica e as individualidades dos alunos. Para que ocorra essa mudança é necessário que toda a comunidade esteja envolvida no mesmo dinamismo de ação (Coutinho, Sousa, Dias, Bessa & Ferreira, 2009). Todavia, o educador e o professor de infância devem assumir o papel de investigadores que pretendem detetar problemas através da recolha de dados para, então, melhorar a sua prática pedagógica. Para que isso aconteça, é importante que os docentes sejam capazes de questionar, refletir e criticar a sua própria prática pedagógica.

Fonte: Adaptado de Latorre, 2003.

Fonte: Fischer (citado por Máximo-Esteves, 2008).

O conceito de Investigação-Ação é muito ambíguo tornando-se difícil chegar a uma concetualização unívoca. De acordo com Coutinho (2009), a Investigação-Ação é uma metodologia de pesquisa essencialmente prática e aplicada e tem como principal objetivo resolver problemas reais através da pesquisa e da ação.

Latorre (2003) na sua obra sobre a investigação-ação apresenta algumas definições sobre o conceito de Investigação-Ação:

Figura 6 - Definições de Investigação-Ação Estudo de uma situação social cujo objetivo é melhorar a qualidade de ação.

Processo reflexivo que contempla a investigação, a ação e a formação realizada por profissionais, acerca da sua própria prática.

É uma ciência prática, moral e crítica.

Para Alarcão (2010) a Investigação-Ação progride segundo ciclos de planificação, ação, observação e reflexão, originando novos conceitos que servem de guias para as novas experiências e confere à aprendizagem um caráter cíclico e desenvolvimentista.

Máximo-Esteves (2008) também considera que a Investigação-Ação se desenvolve segundo um ciclo dinâmico e interativo de operações que se encontra em permanente evolução. Segundo Fischer (citado por Máximo-Esteves, 2008) a Investigação-Ação abrange as seguintes operações visíveis na figura seguinte:

planear planear agir agir dialogar dialogar avaliar avaliar refletir refletir

Através da observação e da ação, o docente apercebe-se quais são as problemáticas presentes na sua sala de aulas e, consequentemente, irá refletir e investigar sobre essas problemáticas, avaliando de seguida não só o trabalho dos alunos, mas também o seu próprio trabalho. Depois deverá dialogar com as crianças, com os pais e com a restante equipa educativa, posteriormente, irá enumerar, planificar e implementar novas estratégias de aprendizagem. Estas fases serão repetidas as vezes que forem necessárias para aperfeiçoar a prática pedagógica e promover oportunidades de aprendizagem diversificadas, interdisciplinares e, sobretudo, adequadas ao grupo de crianças.

A Investigação-Ação pode ser aplicada em distintos contextos no ambiente educativo, tais como: “métodos de aprendizagem”, “estratégias de aprendizagem”, “procedimentos de avaliação”, “atitudes e valores”, “formação contínua de professores”, “treino e controlo”, “administração/gestão” (Coutinho, et al., 2009, pp. 374-375).

Apesar da ambiguidade que existe em torno do conceito de Investigação-Ação e de alguns autores serem mais ou menos detalhados relativamente aos procedimentos desta metodologia, a verdade é que a maioria dos autores concorda que esta metodologia implica agir, investigar e refletir.

Importa referir que a Investigação-Ação visa uma intensificação da prática reflexiva por parte do professor, de modo a contribuir para a resolução de problemas e, consequentemente, para o melhoramento e alteração da planificação, em prol do sucesso das aprendizagens dos alunos. Ser docente implica estudar para sempre porque só através da formação contínua é que o docente consegue dar respostas aos desafios da sua ação.

É essencial que o docente encare a Investigação-Ação como uma metodologia que exige: focar no que acontece na sala de aulas; tornar o familiar em estranho, uma vez que, como o tempo o docente transforma certos atos em gestos automáticos; utilizar um diário para registar as notas de campo; perceber que o processo de investigação exige tempo; e, ser realista e claro relativamente ao que quer fazer (Máximo-Esteves, 2008).

Para além de Coutinho, de Máximo-Esteves e de Latorre foram vários os autores que se dedicaram ao estudo da metodologia de Investigação-Ação e das características da mesma, nomeadamente, Zuber e Cortesão. Após uma análise detalhada das características apresentadas pelos autores acima referidos destaco cinco características da metodologia de Investigação-Ação:

Fonte: Coutinho et al,. 2009

Fonte: Coutinho et al,. 2009.

Segundo Cortesão (citado por Coutinho et al., 2009) a Investigação-Ação é cíclica, uma vez que abrange uma espiral que é regida por fases, entre as quais: observar, registar, formular o problema, criar estratégias e avaliar. Quando são descobertas novas informações há uma necessidade de voltar a repetir todas as fases, formando assim um novo ciclo.

Para Coutinho (2009) a Investigação-Ação é prática e interventiva, pois o investigador não se limita apenas a descrever uma realidade, mas também atua de modo crítico e reflexivo nessa mesma realidade. Segundo Coutinho et al. (2009) a Investigação- Ação é auto-avaliativa “(…) porque as modificações são continuamente avaliadas, numa perspetiva de adaptabilidade e de produção de novos conhecimentos.” (p. 363).

De acordo com Zuber (1992) a Investigação-Ação é participativa e colaborativa visto que existe a participação ativa de vários intervenientes, nomeadamente, o investigador, o alvo estudado e toda a comunidade ao redor do alvo. De acordo com o mesmo autor, a Investigação-Ação é crítica, atendendo que o núcleo de interventores não pretende apenas melhorar as suas práticas de trabalho, mas também são agentes de mudança que observam, opinam, criticam e agem. Tendo em conta todas as características apresentadas, torna-se evidente que a Investigação-Ação apresenta contributos irrefutáveis para a educação.

Como vimos anteriormente, a Investigação-Ação emerge de um problema que o docente deteta no decorrer das aprendizagens dos alunos e para o qual não possui conhecimentos suficientes, por isso, necessita de investigar utilizando técnicas e instrumentos de recolha de dados, de modo a analisar aquilo que observa e a procurar as soluções mais adequadas. Os dados recolhidos são de natureza qualitativa, uma vez que possuem elementos descritivos e opiniões críticas sobre a prática pedagógica.

interventiva

cíclica auto-avaliativa colaborativa crítica