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Capítulo II O Desenvolvimento Curricular

2.2. Organização Curricular e Programas do 1.º Ciclo do Ensino Básico

À semelhança da educação pré-escolar, no 1.º CEB também existem documentos oficias que orientam legalmente o processo educativo dos professores do 1.º CEB. No entanto, convém que os professorem não se esqueçam das OCEPE (2016), pois a transição do pré-escolar para o 1.º CEB é um processo linear, contínuo e não fragmentado.

Importa destacar o Decreto-Lei n.º 91/2013, de 10 de julho, que estabelece os princípios orientadores da organização e da gestão e desenvolvimento do currículo e da avaliação dos conhecimentos que os alunos devem adquirir. Este decreto veio acrescentar que a avaliação sumativa no 1.º CEB deverá ser realizada de forma descritiva em todas as disciplinas, à exceção da disciplina de Português e de Matemática no 4.º ano de escolaridade.

O mesmo decreto evidencia que:

Os conhecimentos e capacidades a adquirir e a desenvolver pelos alunos de cada nível e de cada ciclo de ensino têm como referência os programas das disciplinas, bem como as metas curriculares a atingir por ano de escolaridade e ciclo de ensino, homologados por despacho do membro do Governo responsável pela área da educação. (Ministério da Educação, 2013, p.1).

Os principais documentos que orientam a prática pedagógica dos professores do 1.º CEB neste momento são: a Organização Curricular e Programas do Ensino Básico (2004), os Programas e Metas Curriculares de Matemática (2013), os Programas e

Metas Curriculares de Português (2015). Estes documentos enumeram, de forma

minuciosa, os objetivos, os descritores de desempenho e as competências gerais e específicas que devem ser desenvolvidas ao longo dos quatro anos do 1.º CEB.

Além destes, merecem especial atenção os documentos mais recentes como o Perfil

dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória (2017), as Aprendizagens Essenciais (2018) e o Decreto-Lei n.º 55/2018. Importa destacar que estes documentos,

nomeadamente as Aprendizagens Essenciais, surgiram devido ao descontentamento dos docentes, alunos e encarregados de educação perante a extensão dos programas e das metas curriculares que dificultava as aprendizagens dos alunos. Por esse e por outros motivos, o Ministério da Educação sentiu a necessidade de reorganizar o currículo, criando para cada componente curricular Aprendizagens Essenciais (Despacho n.º 6944- A/2018). Porém, irei focar-me nos programas e nas metas curriculares uma vez que estes foram utilizados durante as práticas pedagógicas.

No Decreto-Lei n.º 176/2014 são apresentadas as várias componentes do currículo do 1.º CEB, nomeadamente, Português, Matemática, Inglês, Estudo do Meio, Expressões Artísticas e Físico-Motoras, Apoio ao Estudo e Oferta Complementar, assim como a carga horária semanal destinada a cada uma destas disciplinas.

Relativamente à disciplina de Português, o Decreto-Lei n.º 176/2014 declara que a carga mínima semanal desta componente curricular é de sete horas. O documento

Programas e Metas Curriculares de Português (2015) encontra-se dividido em duas

partes: o programa, que define os conteúdos por anos de escolaridades, e as metas, que apresentam os objetivos e os descritores de desempenho para cada nível de escolaridade. Neste sentido, existem objetivos específicos para cada um dos quatro anos de escolaridade

de acordo com quatro domínios de conteúdo, nomeadamente, a Oralidade, a Leitura e Escrita, a Educação Literária e a Gramática. De salientar que no 1.º e no 2.º ano de escolaridade o enfoque do ensino está direcionado para a aprendizagem da leitura e da escrita, enquanto que no 3.º e no 4.º ano de escolaridade a preocupação recai sobre o melhoramento da leitura e da escrita, relativamente à organização das ideias, à escrita de textos e à ampliação de vocabulário (Ministério da Educação, 2015).

No que concerne à disciplina de Matemática, a carga horária semanal é igualmente de sete horas (Decreto-Lei n.º 176/2014). O normativo legal que regulamenta a disciplina de Matemática é o documento Programas e Metas Curriculares de Matemática (2013). O documento supracitado destaca como finalidades do ensino da Matemática a estruturação do pensamento, a análise do mundo natural e a interpretação da sociedade. Segundo o Ministério da Educação (2013) o ensino da Matemática deve seguir uma estrutura circular sequencial, uma vez que a aquisição de certos conhecimentos depende de outros que já foram adquiridos previamente.

Para cada ano de escolaridade do 1.º CEB, o programa de Matemática encontra-se dividido em três domínios de conteúdos: “Números e Operações, Geometria e Medida e Organização e Tratamento de Dados” (Ministério da Educação, 2013, p. 6). Estes domínios de conteúdos devem ser trabalhados de forma progressiva, isto é, primeiramente o professor, se possível, facultará às crianças materiais manipuláveis, de forma a trabalhar conteúdos concretos e só depois é que deve abordar conteúdos que exigem maior capacidade de abstração.

Relativamente à disciplina de Estudo do Meio, a carga horária semanal é de apenas três horas (Decreto-Lei n.º 176/2014). Ao contrário de Matemática e de Português, o programa de Estudo do Meio encontra-se disponível no documento Organização

Curricular e Programas do Ensino Básico - 1.º Ciclo do Ensino Básico (2004). Este

documento, de caráter orientador, está fragmentado em seis blocos: Bloco 1 - À descoberta de si mesmo; Bloco 2 - À descoberta dos outros e das instituições; Bloco 3 - À descoberta do ambiente natural; Bloco 4 - À descoberta da inter-relações entre espaços; Bloco 5 - À descoberta dos materiais e objetos; Bloco 6 - À descoberta da inter-relações entre a natureza e a sociedade. Segundo o Ministério da Educação (2004) os blocos e os conteúdos estão organizados segundo uma lógica de aprendizagem, contudo o professor possui liberdade para efetuar as alterações que considere necessárias. Para além disso, o autor acima referido ressalta que os alunos não têm, obrigatoriamente, de seguir os mesmos caminhos para alcançar os mesmos conhecimentos. O importante é que todos os

alunos, através de situações diversificadas de aprendizagem, se vão transformando em observadores ativos capazes de descobrir, investigar, experimentar e aprender, cabendo ao professor a tarefa de orientar todo esse processo.

Através de pequenas investigações e experiências, a disciplina de Estudo do Meio proporciona aos alunos o contacto direto com elementos do meio natural e incute nos mesmos a noção de responsabilidade perante o ambiente e a sociedade (Ministério da Educação, 2004).

Para terminar, também faz parte do currículo do 1.º CEB a componente curricular

de Expressões Artísticas e Físico-Motoras, regulamentada, igualmente, pelo documento

Organização Curricular e Programas do Ensino Básico - 1.º Ciclo (2004). A componente

em questão abrange as disciplinas de: Expressão e Educação Físico-Motora, Expressão e Educação Musical, Expressão e Educação Dramática e Expressão e Educação plástica. A carga horária semanal mínima para esta componente curricular é de três horas (Decreto- Lei n.º 176/2014). Tal como o programa de Estudo do Meio, o programa das expressões artísticas e físico-motoras encontra-se dividido em blocos de aprendizagem.

Importa enaltecer que o ensino das expressões artísticas não deve ser subjugado em detrimento do ensino das restantes áreas, isto é, cada saber é relevante para o desenvolvimento intelectual, crítico, criativo e físico das crianças, não devendo existir disciplinas mais “nobres” do que outras. Convém não esquecer que a Expressão Plástica é lecionada pelos professores titulares. Ainda assim, alguns docentes desvalorizam o ensino das expressões artísticas, notando-se uma precária implementação a nível do 1.º CEB, devido à falta de tempo, à existência de um currículo extenso relativamente à disciplina de Matemática e de Português e à falta de habilidades nesta área por parte dos professores titulares. Porém, estes argumentos tornam-se inválidos, uma vez que é possível articular as expressões artísticas com as restantes áreas através da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade.

De salientar que as crianças transmitem para os seus trabalhos artísticos as suas próprias experiências pessoais, os seus pensamentos, os seus medos e os seus desejos, permitindo ao docente conhecer e analisar a realidade dos seus alunos. Além do mais, de acordo com Oliveira (2001) a educação artística poderá ser uma excelente metodologia para resolver problemas comportamentais porque possibilita o desenvolvimento de competências relacionadas com a sensibilidade, com a cooperação e com a comunicação entre os alunos e os docentes.

Fonte: Adaptado de Silva e Lopes, 2015