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Capítulo III – Pressupostos Teóricos Intrínsecos à Prática Pedagógica

3.6. Estratégias para Desenvolver a Comunicação Oral

Os seres humanos utilizam a linguagem oral para comunicarem uns com os outros, por isso, essa competência deve ser desenvolvida muito precocemente. É, deveras, necessário saber falar corretamente nas variadas situações do quotidiano, nomeadamente, conversar informalmente com a família, falar ao telefone com um amigo, ir a uma entrevista de emprego, entre outras situações.

A comunicação oral corresponde à troca de informações entre um emissor, aquele que transmite a mensagem, e um recetor, que descodifica essa mesma mensagem, composta por códigos específicos da linguagem (Sim-Sim, 1998).

Existem diversas teorias explicativas sobre a aprendizagem da comunicação oral, tais como: a teoria da aprendizagem e o inatismo. De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2001) o meio condiciona a aprendizagem da linguagem, pois as aprendizagens linguísticas resultam da imitação daquilo que a criança observa ao seu redor. Desta forma,

a aquisição da comunicação oral está relacionada com as experiências vivenciadas pelas crianças.

Segundo os mesmos autores, “(…) as crianças aprendem a linguagem do mesmo modo como aprendem outros tipos de comportamento, através do condicionamento operante e da aprendizagem por observação.” (p. 220). Se as crianças observam e, consequentemente, imitam aquilo que os adultos dizem, então, daqui se infere que o comportamento da família, assim como o comportamento do docente influencia o desenvolvimento da comunicação oral das crianças.

Já a teoria do inatismo, criada por Chomsky, também em 1957, veio contrariar as ideias da teoria da aprendizagem. Papalia et al. (2001) referem que para os inatistas as crianças encontram-se geneticamente preparadas para desenvolver a comunicação oral desde o nascimento, ou seja, a comunicação oral é uma competência inata do ser humano. Segundo Silva et al. (2016) as competências relacionadas com a comunicação “(…) vão se estruturando em função dos contactos, interações e experiências nos diversos contextos de vida da criança.” (p. 60). Assim, o desenvolvimento da comunicação oral irá depender das múltiplas estratégias implementadas pelos docentes em diferentes contextos, permitindo às crianças dominarem a comunicação, tanto como emissores como recetores.

Devido à sua transversalidade, a comunicação oral influencia todas as áreas do saber. Por essa razão, o docente deve criar situações de comunicação intencionais para que as crianças sejam capazes de dominar corretamente a linguagem, construir frases cada vez mais completas e concordantes e alargar o seu vocabulário (Silva et al., 2016). Para a criança aprender a falar de forma coesa e contínua, é essencial que o adulto deixe a criança falar evitando possíveis interrupções que perturbem o fio condutor das frases (Marques, 1991).

A língua portuguesa não é a língua materna de todas as crianças, logo importa valorizar o respeito pelas diferentes línguas e culturas, através da promoção de atitudes interculturais (Silva et al., 2016).

Para Marques (1991), os docentes acreditam que a melhor forma de ajudar as crianças relativamente à linguagem é corrigindo-as no momento do erro, contudo a estratégia mais adequada para encarar os erros das crianças é, mostrando através do exemplo, a direção correta para o aprofundamento da linguagem. O mesmo autor apresenta como exemplo uma frase mencionada por um menino de três anos para a sua educadora “(…) olha o que ele fazeu (…)”, por sua vez, a educadora de infância

respondeu “(…) sim, estou a ver, ele fez um desenho bonito.” (p. 11). Desta forma, a educadora de infância não colocou enfâse no erro da criança, mas também não ignorou o erro, em vez disso, aceitou a frase e mencionou a forma gramatical correta.

Planificar estratégias para o desenvolvimento da comunicação oral implica perceber, antecipadamente, que esse processo não é silencioso, pelo contrário, envolve barulho, diálogos, risos, descobertas, pensamentos em voz alta e muitas atividades (Hohmann & Weikart, 2003).

Silva et al. (2016), Hohmann e Weikart (2003) e Marques (1991) propõem estratégias similares para o desenvolvimento da comunicação oral na educação pré- escolar, nomeadamente, contar, ouvir e inventar histórias, dialogar, cantar e jogar.

O docente promove o desenvolvimento da comunicação oral quando conta histórias e permite às crianças dialogarem sobre as mesmas relativamente aos acontecimentos, às personagens principais, aos espaços e ao tempo. É também importante que o docente crie oportunidades para as crianças contarem histórias ou inventarem as suas próprias histórias através de gravuras, tendo em conta uma sequencialidade lógica (Silva et al., 2016).

O educador, quando conta uma história, deve criar um ambiente de encantamento, surpresa, emoção e suspense, fazendo com que o enredo ganhe vida no pensamento das crianças. Contar, inventar ou ouvir histórias permite desenvolver o vocabulário da criança, contribuindo, assim para aumentar os conhecimentos sobre a língua portuguesa. A educação pré-escolar deve preparar progressivamente os alunos para a etapa seguinte, a entrada obrigatória no 1.º CEB. Tal como afirma Marques (1991) “(…) convém ter presente que o contar histórias pode ser uma atividade estimuladora da aquisição de competências literárias.” (p. 43) que irá ocorrer formalmente no 1.º CEB. Não é esperado que o educador de infância antecipe os conteúdos que irão ser abordados no 1.º CEB, mas que fomente o gosto pela leitura e implemente atividades de pré-leitura, leitura e pós leitura.

Segundo Silva et al. (2016) uma das melhores formas de manter o processo de desenvolvimento da comunicação oral ativo é comunicando constantemente uns com os outros, aliás, é através dos diálogos que as crianças começam a dominar a linguagem. Assim, o docente deve incentivar as crianças a exporem as suas ideias, medos, experiências, sem impor o seu ponto de vista, tanto em momentos informais (recreios) como nos momentos mais estruturados (atividades na sala), estabelecendo, dessa maneira, uma genuína reciprocidade de conversação interacional (Silva et al., 2016).

Por sua vez, as canções também representam uma fonte inegável de estímulos a nível da comunicação oral. Através da música as crianças exprimem sentimentos e emoções e aperfeiçoam a sua linguagem, uma vez que as canções possuem uma infinidade de palavras, que posteriormente são incorporadas no repertório das crianças.

Na ótica de Silva et al. (2016), as canções estão intimamente relacionadas com o desenvolvimento da comunicação oral, visto que:

Trabalhar as letras das canções relaciona a Música com o desenvolvimento da linguagem, o que passa por compreender o sentido do que se diz, tirar partido das rimas para discriminar os sons, explorar o caráter lúdico das palavras e criar variações da letra original. (p. 55).

O processo de interpretação musical que passa por saber ouvir, reproduzir, compreender, modificar e improvisar, desenvolverá competências relacionadas com a linguagem, com a música, com a imaginação e com a identidade social e cultural de cada criança.

Hohmann e Weikart (2003) recomendam que os docentes incorporem nas suas planificações jogos de sons, tais como, o emparelhamento de tons de voz, adivinhar canções, utilizar rimas nas canções e incentivar as crianças a criar letras e as melodias das suas próprias canções, de modo a propiciar o desenvolvimento da linguagem.

Para além dos jogos de sons, todos os jogos em geral, através de experiências reais ou imaginárias, estimulam o desenvolvimento da comunicação oral, permitindo às crianças trocarem ideias com os seus pares de interação, tomarem decisões e raciocinarem.

Para terminar, Sim-Sim (2010) considera que:

Não basta deixar falar as crianças para que elas se desenvolvam linguisticamente. É necessário que ambos, o educador e o professor, promovam intencionalmente, e com grande regularidade, actividades com fins específicos para o desenvolvimento da linguagem oral dos alunos. (p. 115).

Depreende-se que o docente para além de estar atento às conversas das crianças, deve implementar múltiplas estratégias pedagógicas com o intuito de desenvolver a comunicação oral das crianças, só assim, irá alcançar os objetivos pretendidos.