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Capítulo I Investigação e Metodologia

1.3 Método Experimental

1.3.2 A Investigação Experimental

A experimentação tem um papel fundamental na investigação científica e constitui um dos seus passos mais representativos. E através dela que é possível identificar as causas prováveis da ocorrência de um determinado fenómeno.

Mas o que é exactamente uma experiência científica? Pinto (1990) utiliza a definição de Zimney (1961) como sendo "a observação objectiva de

fenómenos que são forçados a ocorrer numa situação rigorosamente controlada, e em que um ou mais factores são manipulados enquanto os restantes são controlados ou mantidos sob condições constantes ". Assim, ao dizer-se que uma

experiência é uma observação objectiva de fenómenos, significa que o registo dos factos, quer sejam directamente observáveis como um gesto, um movimento ritmado, uma pressão muscular ou uma expressão verbal, quer sejam manifestações comportamentais de processos mentais inferidos, deve ser totalmente preciso, imparcial e isento de quaisquer erros de medida ou avaliação.

Uma experiência implica sobretudo a manipulação de um ou mais factores numa situação rigorosamente controlada. O propósito da pesquisa experimental é identificar o relacionamento de causa entre variáveis dependentes e independentes. As variáveis dependentes são observadas e medidas e as variáveis independentes são os procedimentos ou estratégias que são manipulados ou comparados nas experiências. Sinónimos de variável independente são tratamento, intervenção e instrução (Wolery & ai., 1988).

No caso da pesquisa de caso único a maior parte das variáveis independentes podem ser agrupadas numa das seguintes três categorias.

Estratégias de ensino antecedente que se referem normalmente aos

ocorrência de resposta do indivíduo e que são directivas de tarefa dadas por este, os procedimentos de estímulos, seguidos de procedimento de retirada desses estímulos. Estabelecer o ambiente refere-se a alterações na forma como está organizado o meio ambiente. Consequências ou estratégias de contingência relacionam-se com as atitudes de quem ensina após a resposta do indivíduo a um estímulo específico e isto inclui reforços, correcção de erros e estímulos adversos (Wolery & ai., 1988). As variáveis dependentes são os comportamentos e medidas para avaliar os efeitos das variáveis independentes. Por exemplo, se uma experiência comparar os efeitos de dois procedimentos de gestão de comportamento de alunos com comportamento disruptivo, o número de comportamentos disruptivos poderá ser a variável dependente. Sinónimo de variável dependente é medida dependente (Wolery & ai, 1988). O relacionamento funcional ou de causa indica provavelmente que a manipulação das variáveis independentes podem causar uma alteração nas variáveis dependentes.

1.4 Pesquisa Experimental de "Single-Case"

Na literatura podemos encontrar vários exemplos de estudos de casos

únicos (single-case), nomeadamente em Etologia, Psicofisiologia, Psicologia

Clínica e Psicologia do Desenvolvimento. São normalmente confinados aos estudos exploratórios ou à investigação em situações particulares como a que confere à metodologia da análise comportamental. Este método pode ser particularmente importante na avaliação de uma metodologia de intervenção, na averiguação dos efeitos de traumatismos ou na evolução de determinadas casuísticas (Almeida & Freire, 2000). Alguma aproximação pode ser feita da metodologia de caso único para o estudo de condutas ou situações de observação. É um método que pretende observar e descrever de modo preciso os comportamentos de um indivíduo, sendo este o principal foco de observação (Pinto, 1990).

Quando se pretende estudar algo com um valor em si mesmo e único, é aconselhável utilizar esta metodologia de estudo de caso único, não sendo possível, no entanto, usar grupos de controlo, nem sistemas de aleatórios, uma vez que a investigação é efectuada apenas com um só sujeito (Pinto, 1990). Embora similar a outras investigações o "single-case" deve ser bem delimitado, distinto e com interesse próprio. Na utilização deste método o investigador é um observador participante, fazendo ajustes e modificações no comportamento de forma a avaliar as hipóteses que foram definidas previamente.

Foi baseado nos estudos de caso único que surgiram os planos experimentais, como fonte de informação. É um método muito importante na observação de efeitos associados a malformações genéticas ou na evolução de determinadas situações bem como na avaliação da intervenção (Almeida & Freire, 2000). Assim, parece ser possível efectuar um estudo que se pode considerar experimental, devido a duas razões fundamentais.

A primeira razão está relacionada com a tradição histórica da investigação. Uma grande parte dos estudos efectuados em psicologia experimental, foram feitos com um só sujeito (Pinto, 1990) mantendo-se ainda hoje a validade de muitas das conclusões obtidas. Exemplos, como os de Wundt, que utilizou um indivíduo bem trabalhado para aplicar o método de introspecção, ou Pavlov que obteve as principais teorias de condicionamento efectuando experiências inicialmente com um único animal, ou como Skinner que advogou o estudo intensivo de um número restrito de sujeitos sob condições de controlo fixas e bem determinadas, ou Piaget que elaborou o seu sistema de desenvolvimento cognitivo a partir da observação intensiva de três crianças (Pinto, 1990).

A segunda razão relaciona-se ao facto da investigação experimental de "single-case" estar sujeita a um controle e uma observação rigorosa. Pinto (1990) refere como exemplo os procedimentos seguidos por Skinner nos estudos de condicionamento operante onde os efeitos da intervenção eram avaliados, comparando a evolução do indivíduo ao longo da intervenção e do tempo.

Desde os anos cinquenta que o estudo de sujeitos únicos constituiu a regra da investigação da psicologia científica. A validade experimental deste

procedimento foi apoiada por inúmeros estudos vindo a tornar-se progressivamente o modelo básico de investigação neste tipo de pesquisa.

O desenho experimental de sujeitos únicos apresenta algumas diferenças importantes em relação a outro tipo de investigação. Pinto (1990) considera que os investigadores estão mais preocupados em analisar as variáveis que afectam o comportamento do que em validar teorias existentes. Por outro lado refere que utilizam um número de sujeitos bastante limitado, muitas vezes um único sujeito, mas sob condições de controlo altamente específicas e bem delimitadas. Por último menciona que os resultados são na maior parte das vezes expressos em termos de funções em vez de médias e de desvios-padrão, o que permite a visualização imediata das alterações existentes sobre os efeitos de um dado tratamento.

Ao considerar-se a analise das variáveis, na pesquisa de caso único quer seja utilizada individualmente ou com grupo (funcionando este como um único organismo) podem se definidas algumas características. Wolery & ai. (1998) mencionam que a variável dependente (medida do comportamento da criança) os dados são recolhidos repetidamente num período de tempo em condições normais de ambiente. Para se obter essas medidas o comportamento terá que ser operacionalmente definido. Mais acrescentam que nesta situação singular de pesquisa a performance da criança sobre uma condição experimental é comparada com a sua última performance numa condição diferente. Em muitos casos a condição inicial é frequentemente chamada de linha de base que é, na sua definição mais restrita, um período sem tratamento ou intervenção. Mais ainda, os mesmos autores acrescentam que a evidência ou a credibilidade de um efeito é feita através da repetição. Isto significa que um relacionamento de causa entre a variável independente e dependente só podem existir quando se sabe que tem ocorrido repetidamente.