• Nenhum resultado encontrado

Anatomia do Olho

II.3 Deficiências Visuais

O nível de funcionamento dos órgãos da visão é avaliado, principalmente através de parâmetros básicos da Acuidade Visual (A V) e Campo Visual (CV). O enquadramento de algumas das definições que a seguir se apresentam numa acepção clínico/funcional, permitirá familiarizar com o significado desta terminologia.

Pelechano & al. (1995) cita Gonzalez (1990) que define acuidade visual

(AV) como a capacidade para discriminar entre dois estímulos distintos. O

mesmo autor cita Barraga (1985) que define o mesmo conceito como a habilidade para discriminar claramente detalhes finos em objectos isolados ou símbolos a uma determinada distância. O grau de AV depende de dois factores: a distância a que se distingue o objecto e a distância que há no grau do ângulo formado pelos olhos ao observar esse objecto (Garcia, 1990 cit. in Pelechano & al. 1995). A proporção dessas duas distâncias para um olho com visão normal é

1/1. No caso do denominador aumentar, significa que pior é a visão.

Ladeira & Queirós (2002) definem AV como a capacidade que a pessoa tem para perceber e discriminar pormenores de um objecto a uma determinada distância. A medida clínica da nitidez da visão para discriminação de pormenores a uma distância específica, é feita normalmente, através da Escala de Snellen.

O campo visual (CV) refere-se aos limites de captação de informação luminosa por parte do olho, ou seja, a distância angular que o olho consegue abranger, sendo o do indivíduo normo-visual de cerca de 180°, sem mover a cabeça (Ladeira & Queirós, 2002).

A nível oftalmológico as deficiências visuais podem-se agrupar em duas categorias principais: défices parciais e défices totais. Os primeiros referem-se a uma ampla categoria que engloba os defeitos ópticos e a baixa visão. Os defeitos ópticos constituem as ametropias que são provocadas pelas alterações de visão originadas pela falta de focagem conveniente das imagens na retina, tais como a miopia, hipermetropia, astigmatismo, anisotropia e estrabismo, defeitos esses que normalmente se corrigem colocando no olho ametrope uma lente delgada que lhe permite ver, sem acomodar, objectos muito afastados, ou através de pequenas intervenções cirúrgicas. Sem dúvida, tanto adultos como crianças apresentam, habitualmente, este tipo de problema que não é provocado por nenhuma doença, mas sim um vício ao nível da refracção do olho pela qual as imagens visuais não se formam na retina originando uma visão turva.

A outra categoria dos défices parciais - a baixa visão - deverá ser tratada com especial atenção. Em termos oftalmológicos, refere-se a uma sensibilidade

imperfeita da retina sem lesão orgânica do olho. O resultado é uma diminuição parcial da visão não susceptível de normalização através de procedimentos médicos ou ajudas ópticas. Diz-se que um indivíduo tem baixa visão quando mantém uma acuidade visual e um campo visual aproveitável em múltiplas situações e aprendizagens. Pelechano & ai. (1995) referem Barraga que em 1980 estabeleceu oito categorias do desenvolvimento visual, atendendo aos aspectos residuais da visão. Sucintamente, esta classificação rege-se por elementos de valorização, como por exemplo, a reacção perante o estímulo visual, selecção e discriminação de objectos concretos, reconhecimento e utilização intencional dos mesmos, identificação e reprodução de figuras abstractas e símbolos. Esta classificação é de grande utilidade ao considerar que os indivíduos com baixa visão, por definição, possuem um resto de visão que lhe permite o seu aproveitamento. Neste sentido, a tendência actual considera mais importante analisar como a pessoa utiliza a visão que dispõe, do que determinar o que essa pessoa é capaz de ver.

Em relação aos défices visuais totais, a cegueira concretamente, é considerada sob o ponto de vista oftalmológico e em sentido restrito, a ausência total da percepção visual, incluindo a percepção luminosa. Contudo, no que confere aos aspectos médico-legais e atendendo à incapacidade funcional que suporta, se homologa a cegueira total quando as diminuições da capacidade visual são extremas. São valorizados, todos os aspectos, não só da diminuição da acuidade visual, mas também, das possíveis alterações do campo visual. Sem dúvida, o problema surge no momento de determinar qual é o limite a partir do qual se pode a começar a falar de ausência de visão.

As deficiências visuais parciais e totais são susceptíveis de múltiplos grupos em função dos critérios seguidos, critérios que por sua vez, estão na base de possíveis actuações posteriores como: análise estatística, criação de centros de educação especial, concessão de subsídios ou pensões de sobrevivência estatais, etc.

Principais alterações no sistema visual que originam deficiências visuais.

1. Patologia congénita Anoftalmia

Microftalmia Coloboma Aniridia

Glaucoma congénito Cataratas congénitas

2. Defeitos de retracção Miopia

Astigmatismo Hipermetropia Anisotropia Estrabismo

3. Patologia da córnea Leucomas

Ceratocones

4. Patologia do cristalino Cataratas

5. Glaucoma

6. Patologia da retina Retinopatia diabética

Retinosis pigmentar Descolamento da retina Maculopatia Fibroplasia retrolental Retinoblastoma Retinopatia hipertensiva 7. Patologia do vítreo

8. Patologia da úvea Uveíte

9. Traumatismos 10. Patologia da pálpebra 11. Nistagmus

12. Albinismo

13. Patologia do nervo óptico Neuritis óptica

Atrofia Hiplopasia Tumores 14. Cegueira cortical

Quadro 2: Principais alterações no sistema visual que originam deficiências visuais Vicente Pelechano, A. de Miguel & I. Ibáfiez, (1995)

Actualmente, a definição de deficiência visual baseia-se em teorias que sustentam a hipótese da forte possibilidade de funcionamento do córtex visual, por estimulação e treino, acompanhadas de reabilitação e tratamento clínico quando possível.

Em Portugal são seguidas as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS) que já em 1983 estabeleceu claramente as diferenças entre deficiências, incapacidades e handicaps, com o objectivo de poder criar uma taxionomia e classificação com carácter universal. Assim, a OMS definiu "deficiências" todas aquelas anormalidades da estrutura corporal e de aparência, assim como, anormalidades na função de um órgão ou sistema, qualquer que seja a sua causa. Portanto, as deficiências representam alterações ao nível orgânico. Por outro lado, as "incapacidades" reflectem as consequências da deficiência desde o ponto de vista do rendimento funcional e da actividade do indivíduo; são alterações ao nível do indivíduo. Finalmente as "menos válidas" referem-se às desvantagens que experimenta um indivíduo como consequência das deficiências e incapacidades, reflectindo-se assim, na interacção e adaptação da pessoa ao seu meio ambiente; essas desvantagens têm de se observar ao nível do desempenho das regras sociais básicas ou de sobrevivência.

Dentro do código das deficiências visuais a OMS faz referência às deficiências do órgão da visão onde inclui as correspondências do olho e as estruturas e funções com ele associadas, dividindo em deficiências da acuidade visual e outras deficiências visuais e o órgão da visão. As primeiras - deficiências da acuidade visual (AV) - estão divididas em seis categorias, que por sua vez, se subdividem. As segundas - outras deficiências visuais e o órgão da visão - dividem-se também em três categorias que juntamente com as suas subdivisões dão lugar a diversos défices específicos. Consequentemente, esta classificação tem entre os seus objectivos, chegar a uma uniformidade terminológica através de três grandes categorias da visão - visão normal, baixa visão e cegueira. O Quadro 2 mostra essas categorias assim como, os critérios utilizados.

Apesar de em Portugal ser considerada a definição internacional da OMS sobre deficiência visual, a legislação existente para efeitos médico-sociais e assistenciais, não foi ainda actualizada em função, quer das exigências educacionais e do desenvolvimento, quer dos padrões clínico-legais definidos internacionalmente e no passado recente assumidos pela OMS.

Assim, do ponto de vista legal, em Portugal são consideradas pessoas cegas legais:

♦ os indivíduos com ausência total de visão;

♦ os indivíduos cuja a AV é inferior a 1/10, no melhor olho;

♦ os indivíduos com AV superior a 1/10, acompanhada de uma limitação de CV inferior ou igual a 20° em cada olho.

CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS DEFICIÊNCIAS