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Capítulo I Investigação e Metodologia

1.3 Método Experimental

1.4.1 Requisitos Metodológicos

Os planos experimentais de caso único obedecem a requisitos bem determinados sem os quais não será possível validar os efeitos da intervenção.

a) Avaliação Contínua

A avaliação é um dos aspectos fundamentais deste tipo de pesquisa. Kazdin (1992) refere que observar o comportamento do indivíduo antes da implementação da intervenção e a observação contínua durante e após a intervenção é um requisito específico. Linehan (1977) cit. in Cooper & al. (1987) faz uma descrição sucinta e exacta da avaliação comportamental: "configurar qual o problema do indivíduo, como alterá-lo e melhorá-lo". Implícito nas declarações de Linehan (1977) está a ideia que a avaliação comportamental não é simplesmente um exercício de descrição e classificação do comportamento. A avaliação também envolve uma análise funcional, com identificação de prováveis variáveis de controlo antecedentes e variáveis de controlo consequentes. A avaliação deve ser conceptual como um funil, sendo inicialmente vasta no seu foco seguindo para uma diminuição e estreitamento desse foco. Cone & Hawkins (1977); Hawkins (1979) cit. in Cooper (1987) referem que a avaliação comportamental consiste em cinco fases ou funções:

♦ Planificação geral;

♦ Definição e quantificação dos problemas ou o desejado resultado; ♦ Nomeação dos comportamentos alvo;

♦ Monitorização do progresso durante a intervenção: ♦ Avaliação de seguimento após intervenção.

Vários são os métodos para a recolha de dados que dão consistência às fases mencionadas anteriormente. Contudo, em todas os momentos as observações assumem um papel permanente, diário ou em diversas ocasiões ao

longo de um determinado tempo, abrangendo o maior número de situações possível.

Cooper & al. (1987) referem que em qualquer pesquisa de caso único o início de recolhas de dados começa, normalmente, com uma entrevista à criança para determinar os comportamentos problemáticos e os objectivos desejados. Questionários e pesquisas das necessidades são por vezes completados pela criança para suplementar a informação recolhida na entrevista. Outro aspecto a ter em conta é a auto-monitorização feita pelas crianças/jovens em certas situações ou comportamentos, que podem ser úteis para adquirir e definir os comportamentos alvos. A entrevista a outros membros da família podem mostrar até que ponto se incluem como membros auxiliadores da intervenção. A utilização de textos e critérios para a identificação dos comportamentos específicos são uma importante fonte de informação, assim como, a observação directa utilizando uma "checklist" ao nível do comportamento para identificar possíveis comportamentos alvos e descrever diferentes capacidades. E também uma ajuda preciosa o uso de um diário onde se retrate o que foi observado tanto na criança como no que a rodeia. O inter-relacionamento entre o comportamento e os diversos ambientes em que a criança vive são considerados, valorizando-se a avaliação ecológica. Completa a fase de observação/avaliação inicial, ficam em evidência os comportamentos a modificar. Após o início da intervenção a reacção ocorre quando a avaliação ou outros procedimentos de avaliação têm efeitos no comportamento que está a ser monitorizado. Um tipo de reacção chamado "efeitos de prática" ocorre quando o indivíduo é capaz de melhorar uma capacidade através da possibilidade de praticar o comportamento.

Os comportamentos alvos são comportamentos socialmente significativos que vão aumentar ou diminuir a habilidade do indivíduo. Essa capacidade pode ser definida como "até que ponto o grau de reportório do indivíduo pode ser maximizado através de reforços e minimizado através de castigos" (Hawkins, 1984, cit. in Cooper & al., 1987). Um comportamento alvo deve ser ou representar um problema actual e um objectivo alcançável e não um substituto indirecto. A filosofia da normalização requer selecção de comportamentos alvos 90

que são considerados culturalmente normais. Quando um comportamento é "alvejado" para redução ou eliminação num comportamento desejável ou adaptado deve ser seleccionado para ser substituído.

Perante comportamentos alvos Cooper & al. (1987) sugerem que para determinado comportamento devem existir prioridades de reflexão, como:

♦ Se causam perigo;

♦ Qual a frequência do problema; ♦ Há quanto tempo existem;

♦ Se o comportamento produz um reforço na criança;

♦ Até que ponto esse comportamento vai auxiliar capacidades futuras;

♦ Se chama negativamente a atenção dos outros;

♦ Qual a dificuldade em alterar esse comportamento e o custo.

Definições comportamentais devem ser objectivas, claras, completas e concisas. A definição de comportamento alvo é válida se permitir ao observador captar cada aspecto do comportamento do qual a criança está a manifestar e só é fiável se dois ou mais observadores registarem a mesma ocorrência ou não do comportamento. Os critérios que estabelecem o nível ou a extensão da alteração do comportamento devem ser determinadas antes de qualquer intervenção ou programa de análise comportamental ser iniciado. Van Houten (1979) cit. in Cooper & al. (1987) considera duas atitudes para determinar critérios socialmente válidos:

♦ Avaliar as competências da criança e julgá-las como sendo competentes ou não;

♦ Fazer uma manipulação experimental de diversos níveis de "performance" para determinar quais produzem melhores resultados.

b) Linha de Base

Cooper & al. (1987) referem que analistas do comportamento descobriram as relações do "meio ambiente/comportamento" através da comparação de dados gerados por repetidas medições do comportamento do sujeito. Estas medições foram feitas sob diferentes condições circundantes de experiência. O método básico para avaliar os efeitos de uma variável, é impô-la numa medição contínua do comportamento enquanto, esta variável ainda estava ausente. Estes dados originais servem como linha de base, segundo a qual se determina e avalia quaisquer mudanças de comportamento observadas.

Cooper & al. (1987) consideram que o principal propósito para estabelecer a linha de base é ter uma base objectiva para avaliar os efeitos das variáveis independentes, isto é, usar a "performance" do sujeito na ausência da variável de tratamento. A verificação do efeito da linha de base só é conseguida quando se demonstra que o nível da linha de base teria permanecido inalterável se uma variável independente não tivesse sido introduzida. Assim, deve existir um período de observação antes da intervenção, onde se vai poder analisar o tipo de comportamento e a sua estabilidade antes da intervenção. Há três razões para a recolha de dados da linha de base:

1. Observação sistemática do comportamento alvo anterior à intervenção por vezes fornece informação acerca dos antecedentes e consequentes que podem ser úteis na planificação de uma intervenção eficaz.

2. Os dados de linha de base são úteis para estabelecer critérios iniciais de reforço que sejam eficazes.

3. A colecção de dados de linha de base também pode mostrar, que o comportamento que se deseja alterar, não ocorre com a frequência que justifique intervenção.

Na pesquisa de caso único, estabelecer a linha de base é de importância fundamental. Em primeiro lugar, porque nos fornece dados descritivos e detalhados sobre o nível real de funcionamento do indivíduo. Em seguida, porque dá informação sobre o grau de gravidade da problemática. E por último, porque 92

essa informação poderá também ser útil para se delinear um prognóstico. Com base nessa informação, pode prever-se qual seria o nível de realização do indivíduo, caso não houvesse intervenção.

Este procedimento experimental, que foi usado por Skinner nos anos trinta e quarenta, foi muito utilizado na terapia comportamental nos anos sessenta tornando-se um dos principais modelos de investigação clínica.

A linha de base é estabelecida durante a recolha de vários dias de observação, até se obterem dados suficientes.

O estabelecimento da linha de base vai permitir prever o comportamento do indivíduo no futuro, se não houver intervenção, assim como avaliar a intervenção que ocorrer ao longo do tempo. É importante que os dados recolhidos e analisados na linha de base sejam regulares e estáveis, o que nem sempre é possível obter. O grau de estabilidade da linha de base é por vezes, muito difícil de definir devido à variabilidade dos dados e às frequentes mudanças no comportamento do indivíduo, facto que pode intervir com as conclusões válidas dos efeitos da intervenção.

c) Tipos de Planos Experimentais

Há diversos padrões de pesquisa para os casos de sujeito únicos que qualquer interveniente educacional pode utilizar para identificar relacionamentos causais. Kazdin (1992) oferece, juntamente com diversos autores, detalhada descrição e extensas linhas de guia para a implementação de padrões de planos experimentais.

Na pesquisa de casos únicos as letras maiúsculas referem-se às diferentes condições experimentais; por convenção, "A" linha de base de condição, "B" à condição de tratamento e "C" a uma diferente condição das outras duas anteriores. Estas letras são registradas segundo a ordem de condição de aparecimento na experiência.