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A lógica do estereotipo com a mídia e os seus produtos culturais

2.3 Humor e estereótipos

2.3.2 A lógica do estereotipo com a mídia e os seus produtos culturais

A conexão entre os estereótipos e os meios de comunicação consolida-se nesse processo de estereotipia e no poder da linguagem, pois, como explicita Lysardo-Dias (2007, p.28), “a mídia articula discursos que dialogam com diferentes domínios da produção humana e que participam da rede intertextual que caracteriza a vida social”. Por assim dizer, a mídia tornou-se uma arena onde os estereótipos circulam, podendo sofrer consolidação social ou transgressão social.

Além de os meios de comunicação terem se tornado essa arena onde os discursos estabelecem relações entre si, podendo integrar-se ou opor-se uns aos outros, é válido relembrar, que os indivíduos ainda são os sujeitos que contribuem para formulação e apropriação de discursos durante a história. Com isso, confere-se que o estereótipo não existe sem uma relação histórico-social da realidade que o legitima e o torna convencional.

Por um lado, a mídia, influenciada pelo seu viés mercadológico, visa, por meio da produção de seu conteúdo discursivo atingir e manter a manutenção cada vez mais de um número maior de audiência possível, porque dessa maneira, torna-se viável reaver todo o investimento de recursos aplicados para produção e disseminação daquele conteúdo

81 discursivo-midiático na sociedade. O outro lado é que a mídia, por um viés socioideológico, ao promover e produzir a circulação de mensagens carregadas de discursos e por estar inserida na sociedade numa perspectiva comunicacional que tende a buscar um maior número de receptores, reconstrói um espaço público, ao que parece, universal, porém fundamenta-se num “mundo real” baseado em padrões compartilhados pela maioria a fim de que a audiência só aumente (Lysardo-Dias, 2006, pp.30-31).

Encara-se que os meios de comunicação têm o poder de conceder a certos grupos sociais, por meio de seus respectivos discursos, a dominância sobre outros grupos sociais, uma vez que a mídia reforça ou transgride os estereótipos, ou seja, aquelas representações simbólicas presentes nos discursos. O resultado do reforço de alguns estereótipos pode ser considerado como fomento do processo de exclusão, que só é desenvolvido em contextos culturais historicamente construídos, assim como o desenvolvimento dos estereótipos. Portanto, nessa ação de exclusão, indivíduos perdem a legitimidade de seus discursos como indivíduos porque passam a ser categorizados de acordo com pressupostos do coletivo que, por sua vez, são propriamente os estereótipos.

Entretanto, também, é possível incitar que no espaço público midiático haja questionamentos a respeito dos padrões compartilhados pela maioria, por meio dos produtos culturais; que ecoam ideias, condutas, comportamentos e efeitos de sentido de determinada coletividade; capazes de uma vez reforçar, mas também transgredir os pressupostos defendidos pelos estereótipos. Dessa maneira, os meios de comunicação podem subverter os estereótipos, assim como Lysardo-Dias (2007, p.32) percebe que na publicidade, há a inclinação do rompimento do estereótipo, como uma estratégia de cativar o público pelo estranhamento causado pela presença do inusitado; mas também, na mídia, de maneira mais generalista, pode-se averiguar que essa tendência tem ganhado repercussão a fim de construir nos indivíduos da sociedade um senso mais crítico em relação aos produtos midiáticos, propriamente, e em relação ao relacionamento virtual proporcionado pelas inovações tecnológicas da área da comunicação, representados principalmente pelas redes sociais.

Aliado à intenção de provocar um senso crítico nos indivíduos, a transgressão do estereótipo por causa estranhamento, propõe que determinados temas estereotipados ganhem notoriedade e consequentemente debate deliberativo na esfera pública, ressaltando o traço de uma democracia.

E é nesse panorama que se encaixa o objeto de pesquisa desse estudo, a série

82 convergência midiática62 em relação à produção de produtos audiovisuais devido à

multiplicação de séries próprias e principalmente a popularização dessas produções. Ademais, especificamente, em SuperDrags, é fomentada uma visibilidade à temática LGBTI+ e à questão da discussão do gênero, que são embutidas na narrativa de maneira a romper com a narrativa clássica dos produtos culturais midiáticos oriundos dos meios tradicionais, como os da televisão, ao propor um formato narrativo mais fluído, dinâmico, criativo e até mesmo reflexivo buscando ajustar o holofote midiático para que haja a discussão na esfera pública dos temas abordados pela produção.

62 Para Henry Jenkins (2008, p. 93), “a convergência midiática é um processo em andamento, ocorrendo em várias

interseções de tecnologias de mídia, indústrias, conteúdo e audiências; não é um estado final. Nunca haverá uma caixa preta para controlar todos os meios. Ao invés disso, graças à proliferação dos canais e à natureza cada vez mais ubíqua da computação e das comunicações, nós estamos entrando numa era onde a mídia estará em toda parte, e nós usaremos todos os tipos dos meios de comunicação relacionando-os uns aos outros”.

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3 A representatividade de gênero em SuperDrags

“When I was a kid, I thought Zootopia was this

perfect place, where everyone got along, and anyone

could be anything. Turns out, real life seems to be a

little more complicated than a slogan on a blumper

sticker! Real life is messy! We all have limitations.

We all make mistakes which means: “Hey, glass half

full, we all have a lot in common!”. And the more we

try to understand one and another, the more

excpecional each of us will be. But we have to try!

So, no matter what type of animal you are, from the

biggest elephant to our first fox. I implore you: try!

Try to make the world a better place. Look inside

yourself and recognize that change starts with you! It

starts with me! It starts with all of us!”

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(Spencer,

Howard, Moore & Bush, 2016).