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CAPÍTULO III CONCEITOS E CONCEPÇÕES PARA A ANÁLISE DA FORMAÇÃO

4.2. A LDB e a nova Educação Profissional: Proposta Oficial da Reforma

A Lei Federal nº 9394/96, a Lei Darcy Ribeiro de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, apresenta um novo paradigma para a Educação Profissional: ela deve conduzir o cidadão "ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva", intimamente "integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia" (Artigo 39). Este enfoque supõe a superação total do entendimento tradicional de Educação Profissional como simples instrumento de uma política de cunho assistencialista, ou mesmo como linear ajustamento às demandas do mercado de trabalho. Isso situa a Educação Profissional como importante estratégia para que os cidadãos, em número cada vez maior, tenham efetivo acesso às conquistas científicas e tecnológicas da sociedade

contemporânea. Para tanto, impõe-se a superação do antigo enfoque da formação profissional centrado apenas na preparação para a execução de um determinado conjunto de tarefas, na maior parte das vezes, de maneira rotineira e burocrática.

A nova educação profissional requer, para além do domínio operacional de um determinado fazer, a compreensão global do processo produtivo, com a apreensão do saber tecnológico que informa a prática profissional e a valorização da cultura do trabalho, pela mobilização dos valores necessários à tomada de decisões. Nesta perspectiva, não basta mais aprender a fazer. É preciso saber que existem outras maneiras para aquele fazer e saber por que se escolheu fazer desta ou daquela maneira. Em suma, é preciso deter a inteligência do trabalho, com a qual a pessoa se habilita a desempenhar com competência suas funções e atribuições ocupacionais, desenvolvendo permanentemente suas "aptidões para a vida produtiva".

Segundo a LDB, o Ensino Profissional, deverá ser integrado às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, conduzindo o aluno ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva. O aluno matriculado ou egresso do Ensino Fundamental, Médio e Superior, bem como o trabalhador em geral, jovem ou adulto, terá a possibilidade de acesso ao Ensino Profissional, que deve ser desenvolvido articuladamente com o ensino regular, ou ainda, através de diferentes estratégias de educação continuada, em instituições especializadas ou no ambiente de trabalho.

As reformas educacionais propostas pelo Banco Mundial, onde se insere a reforma do Ensino Profissional e do Ensino Médio, pautam-se por um processo de descentralização administrativa, de privatização do ensino médio e superior, de condensação do ensino profissional, de maior atenção à escola básica e do estabelecimento de instrumentos globais de avaliação (Cf. CASTRO; CARNOY, 1997). Zibas, por sua vez, afirma que essa opção brasileira de separar o Ensino Médio do Ensino Profissional nos aproxima do modelo espanhol, não só pela nova organização do Ensino Profissional em “módulos exclusivamente técnico- profissionalizantes, mas, principalmente, pelo seu afastamento da via de acesso à universidade” (ZIBAS, 2001, p. 94-95).

Segundo Oliveira, tanto a CEPAL como o Banco Mundial, “com justificativas variadas, vão criando um novo ideário educacional que,

paulatinamente, vai sendo incorporado pelos responsáveis pelas políticas educacionais. Em todas estas proposições, são esquecidos os condicionantes socioeconômicos e políticos que têm influência determinante sobre o desenvolvimento educacional”. No caso específico do Ensino Profissional, a presença da iniciativa privada justifica-se, para o Banco Mundial, por duas razões: a primeira é o fato de o poder público, em virtude de seu aparelho burocrático, mostrar-se “incapaz de acompanhar as mudanças e as necessidades do setor produtivo”. A segunda razão refere-se ao fato de a qualificação profissional repercutir diretamente “no aumento da produtividade das empresas e na renda dos trabalhadores”, sendo assim, “nada mais justo que os beneficiados pagarem por estes serviços”. (OLIVEIRA, 2003, p. 54 - 59).

O MEC, durante o governo FHC, optou, como política educacional para o Ensino Profissional, pela completa separação dessa modalidade de ensino do Ensino Médio, regulamentando essa medida por meio do Decreto 2.208/97 (Cf. DAVIES, 2004, p. 187). No governo Lula, a ideia de reunificar o Ensino Médio com o Ensino Profissional retornou, a partir da edição do Decreto 5.154/04, o qual regulamenta o § 2º do Art. 36 e os Arts. 39 a 41 da LDB, e da publicação do Parecer CNE/CEB 39/2004, que dispõe sobre a aplicação do novo decreto na Educação Profissional técnica de nível médio e no Ensino Médio (Cf. ZIBAS, 2005).

Atualmente, quando se discute Ensino Profissional, entende-se que a formação para o trabalho exige maiores níveis de formação básica, geral e propedêutica, contrariando a ideia de que o Ensino Profissional se reduz à aprendizagem de habilidades técnicas. Por outro lado, continuam abertas as oportunidades de adaptação do trabalhador ao mercado de trabalho, a partir de uma formação adquirida por meio de cursos específicos de curta duração, que proporcionam também um aumento no seu nível de escolarização. Por um ou outro caminho, o Ensino Profissional passa a ser concebido como educação continuada, que, como tal, perpassa toda a vida do trabalhador.

Seja do ponto de vista sócio-político ou epistemológico, os programas atuais de formação profissional restauram o mesmo “padrão de regulação social” das práticas de escolarização que já viam se desenvolvendo, no país, desde o período do pós-guerra. Atuam como modelo de legitimação e, principalmente, disciplinamento dos atores num contexto de reestruturação dos aparatos do Estado.

Suas estratégias associam interesses e pressupostos liberais com visões positivistas e instrumentais, investindo em orientações há muito questionadas e superadas.5

Assim não é de se estranhar que a política educacional, dentre outros elementos, tem assumido a função de estabelecer uma associação entre organização da política, da cultura, da economia e os padrões cognitivo-valorativos dos indivíduos.

Em outros termos, a importância da política educacional reside, sobretudo, no seu vínculo com os problemas da regulação social; uma vez que ela permite fazer um elo entre os problemas administrativos do Estado à autonomia dos sujeitos (POPKEWITZ, 1997)6.

Trata-se, como nos sinaliza o ANDES (2007), de uma lógica de “contra- reformas” que visam a atender as demandas do capital e possibilitar aos países do G8 controlar todas as formas de produção humana.

Essas contrarreformas do Estado implementadas pelo governo federal (sobretudo a Reforma Educação Profissional) impactam duramente sobre a formação e os espaços sócio-ocupacionais de todos os trabalhadores, o que acaba por recolocar novas configurações tanto para a formação dos trabalhadores quanto para o exercício da profissão. Vemos, então, porque é possível afirmar que a contrarreforma da EP implica profundas mudanças no mundo do trabalho, formação dos trabalhadores e na própria produção de conhecimento.

Assim, entendemos que a educação profissional deve ser compreendida essencialmente como campo de conflito. Desse modo, as contradições adquirem um significado mais claro se historicamente situado.

A partir dos discursos sobre pedagogia das competências presentes nos argumentos mais abrangentes sobre a educação profissional, notoriamente expressa em propostas discutidas e formalizadas no sistema normativo, especialmente a partir da década de 1990, percebemos elementos de entendimento dessas formulações normativas no quadro da atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996).

5 MORAES, Ma, cândida. O paradigma educacional emergente. Campinas, SP: Papirus,

1997.

6 POPKEWITZ, Thomas. Reforma educacional. Uma política sociológica. Porto Alegre: Artes

É exatamente na concretização dessa educação profissional comprometida com resultados de aprendizagem, em termos de desenvolvimento de competências profissionais em nível proficiente, de acordo com o perfil profissional planejado e comprometido pela Escola que ofereça cursos de nível técnico, que encontramos o principal desafio atual da educação profissional no Brasil.

4.3. As propostas de Educação profissional no governo Lula: focalização,