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3 POLÍTICAS PÚBLICAS DE JUVENTUDE(S) BRASIL E PERNAMBUCO:

3.1 A legislação sobre a aprendizagem no Brasil

A Constituição Federal da República de 1988 proíbe o trabalho aos menores de 16 anos, entretanto, ressalta a possibilidade de ingresso no mercado de trabalho aos maiores de 14 anos na condição de aprendiz.

No Brasil, sempre foi regulada pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e posteriormente foi alterada pelas Leis nº 10.097/00, 11.180/05 e 11.788/08, como veremos

adiante. Além dessas Leis, os Arts. 60 a 69 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) também tratam do regime de aprendizagem, tendo como princípio a proteção integral à criança e ao adolescente.

Como definida pelo Manual da Aprendizagem, elaborado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE):

A aprendizagem é um instituto que cria oportunidades tanto para o aprendiz quanto para as empresas, pois prepara o jovem para desempenhar atividades profissionais e ter capacidade de discernimento para lidar com diferentes situações no mundo do trabalho e, ao mesmo tempo, permite às empresas formarem mão-de-obra qualificada, cada vez mais necessária em um cenário econômico em permanente evolução tecnológica (MANUAL DA APRENDIZAGEM, 2010, p. 11).

A aprendizagem é tida como um mecanismo de promoção do trabalho decente e pode possibilitar trajetórias mais promissoras para a juventude, por ser um contrato de trabalho especial, seguindo o Artigo 428 da CLT (CLEMENTINO, 2013).

A proposta inicial da aprendizagem é beneficiar tanto aos jovens os quais se deparam com inúmeras dificuldades para entrarem e permanecerem no mercado de trabalho, quanto às empresas que encontram dificuldades em encontrar trabalhadores qualificados.

A Lei 10.097, conhecida como a Lei do Aprendiz, instituída em 19 de dezembro de 2000, define que são obrigadas a contratarem aprendizes as empresas de qualquer natureza, que tenham no mínimo 7 (sete) funcionários. A contratação é facultativa para as microempresas (ME), as empresas de pequeno porte (EPP), as que participam do Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições (SIMPLES) e as Entidades Sem Fins Lucrativos (ESFL) que tenham a educação profissional por objetivo.

A aprendizagem, segundo o Art. 62 do Estatuto da Criança e do Adolescente, consiste na formação técnico-profissional ministrada ao adolescente ou jovem segundo as diretrizes e bases da legislação de educação em vigor, implementada por meio de um contrato de aprendizagem.

Pode ser aprendiz o jovem entre 14 e 2424 anos que esteja matriculado e frequentando a escola (ou que tenha concluído o Ensino Médio) e inscrito em programa de aprendizagem, como determina o Art. 428, caput e § 1º, da CLT. No caso da pessoa com deficiência, não há limite máximo de idade para que ocorra a contratação (Art. 428, § 5º, da CLT).

A cota de aprendizes contratados pelas empresas deve ser de 5% a 15%, calculada sobre o total de empregados cujas funções demandem formação profissional. Para efeito de cálculo da cota de aprendizes, não devem ser consideradas as seguintes funções: as que

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A princípio, o limite de idade era de 18 anos, sendo alterado pelo Decreto Lei nº 5.598, de 2005, como veremos a seguir.

exijam formação de nível técnico ou superior, os cargos de direção, de gerência ou de confiança, os empregados temporários e os aprendizes já contratados.

As instituições qualificadas para ministrarem os cursos de aprendizagem são: os Serviços Nacionais de Aprendizagem (SENAI, SENAC, SENAR, SENAT e SESCOOP), as Escolas Técnicas de Educação, inclusive as agrotécnicas, e as Entidades Sem Fins Lucrativos (ESFL) que possuam a assistência ao adolescente e a educação profissional como objetivo, registradas no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA). O CIEE-PE se enquadra nesta última categoria, pois conforme consta em seu site, é uma associação beneficente de assistência social, de fins filantrópicos e educacionais.

De acordo com o Art. 65 do ECA, são assegurados aos aprendizes todos os direitos trabalhistas e previdenciários dos demais trabalhadores. O aprendiz deve receber o salário mínimo-hora, levando em conta, caso exista, o piso estadual, podendo também o salário estar acima do mínimo. As horas destinadas às aulas teóricas também devem ser computadas, além do descanso semanal remunerado e dos feriados. Como as aulas teóricas são remuneradas, as ausências dessas aulas podem ser descontadas do salário do aprendiz e a alíquota do FGTS será de apenas 2%. A empresa também deve recolher o “imposto sindical”, referente a todos os empregados da categoria.

A jornada de trabalho deve ser de até 6 horas, para aqueles que ainda não concluíram o Ensino Fundamental, e de até 8 horas, para os que já concluíram, sendo computadas as atividades teóricas e práticas. Não são permitidas em hipótese alguma a compensação e a prorrogação dessa jornada. As férias dos aprendizes menores de 18 anos devem coincidir com as férias escolares, conforme o Art. 136, § 2º, da CLT.

As hipóteses de extinção do contrato de aprendizagem são: no término do seu prazo de duração ou quando o aprendiz atingir a idade-limite de 24 anos. E antecipadamente, quando o aprendiz obtiver desempenho insuficiente ou inadaptação ao trabalho; falta disciplinar grave; ausência injustificada à escola, que implique perda do ano letivo escolar; e a pedido do próprio aprendiz.

Trata-se de um contrato de trabalho especial, com prazo determinado de no máximo dois anos, onde há um comprometimento por parte do empregador em assegurar ao jovem uma formação técnico-profissional metódica, compatível com seu desenvolvimento físico, moral e psicológico. Por outro lado, o aprendiz se compromete a executar, com zelo e diligência, as tarefas necessárias a essa formação (Art. 428 da CLT). Ao jovem aprendiz, com aproveitamento, será concedido um certificado de qualificação profissional no final do curso de aprendizagem.

De acordo com o Manual da Aprendizagem (2010, p. 9), “Mais que uma obrigação legal, portanto, a aprendizagem é uma ação de responsabilidade social e um importante fator de promoção da cidadania, redundando, em última análise, numa melhor produtividade”.

Segundo dados do MTE, referentes a setembro de 2013, no Estado de Pernambuco, o potencial de contratação de aprendizes era de 44.075 vagas, enquanto que o número de aprendizes contratados era de apenas 10.028, correspondendo a 22,75% do total, distribuídos em 24.541 estabelecimentos. No caso específico do Recife, esse percentual era de 25,59%.

Cabe ressaltar que de 16425 municípios pernambucanos, 147 (89%) não possuíam aprendizes contratados, o que demonstra que a aprendizagem ainda está longe de ser efetivada no estado.

Os municípios que possuíam maior percentual de contratações eram: Ipojuca (51,44%), Belo Jardim (51,34%), Garanhuns (39,23%), Paulista (35,75%) e Caruaru (33,89%). Destacamos que o maior percentual apresentado é de 51%, ou seja, muito abaixo do ideal.

Outro dado relevante é sobre as famílias ocupacionais mais demandadas para os jovens, em 2012, em Pernambuco. Em primeiro lugar, destaca-se a ocupação de Vendedores e Demonstradores em Loja ou Mercados, seguido de Ajudantes de Obras Civis e Escriturários em Geral, Agentes, Assistentes e Auxiliares Administrativos, como apresentado na tabela 4 no APÊNDICE B. Podemos perceber novamente a concentração de jovens em atividades do setor terciário.

A Lei da Aprendizagem é marcada por inúmeras alterações, revisões e complementações desde a sua promulgação no ano de 2000, o que demonstra as suas limitações perante a realidade do trabalho juvenil no Brasil.

A primeira dessas modificações foi o Decreto nº 5.598, de 1º de dezembro de 2005, o qual regulamenta a contratação de aprendizes e dá outras providências, alterando a faixa etária do aprendiz de 14 a 18 anos para 14 a 24 anos, excetuando-se o limite de idade para os portadores de deficiência. Entretanto, ressalta como prioridade a contratação de jovens entre 14 e 18 anos de idade. Esse Decreto estabeleceu os parâmetros necessários e regulamentou a contratação dos aprendizes como proposto pela legislação, o que contribuiu para o melhor cumprimento da Lei.

Posteriormente, a Portaria nº 615 de 13 de dezembro de 2007 cria o Cadastro Nacional da Aprendizagem com o objetivo de inscrever as entidades qualificadas em

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Apesar de Pernambuco possuir 185 municípios, de acordo com o IBGE, os dados apresentados pelo MTE apenas consideraram 164 municípios.

formação técnico-profissional em busca da promoção da qualidade pedagógica e da sua efetividade social: “a promoção da mobilidade no mundo de trabalho pela aquisição de formação técnica geral e de conhecimentos e habilidades específicas como parte de um itinerário formativo a ser desenvolvido ao longo da vida” (Artigo 4º).

Seguindo esse princípio, a Portaria define uma série de conteúdos voltados para a formação humana e científica, que serão abordados posteriormente neste estudo. Merece destaque o parágrafo 1º do Artigo 4º da Portaria que trata da necessidade de vínculo entre teoria e prática na formação do aprendiz:

§1º As dimensões teórica e prática da formação do aprendiz deverão ser pedagogicamente articuladas entre si, sob a forma de itinerários formativos que possibilitem ao aprendiz o desenvolvimento da sua cidadania, a compreensão das características do mundo do trabalho, dos fundamentos técnico-científicos e das atividades técnico-tecnológicas específicas à ocupação.

Ainda estipula a porcentagem referente à carga horária teórica do curso: 25 a 50%, sendo alterada posteriormente pela Portaria nº 723, de 24 de abril de 2012, que em seu parágrafo 3º do Artigo 10º, define que a carga horária teórica dos cursos de qualificação dos jovens deve ser entre 30% e 50% do total de horas do programa de aprendizagem, sendo a parte inicial do programa desenvolvida na entidade formadora, com o mínimo de 80 horas- aula sequenciais e as demais horas distribuídas ao longo do período do contrato.

Por fim, a Portaria nº 1.005, de 1º de julho de 2013, altera a Portaria nº 723/2012. No artigo 11 é definido que a parte teórica do Programa de Aprendizagem deve ser distribuída pela entidade formadora no decorrer do período do contrato, com o propósito de garantir a alternância e a complexidade progressiva das atividades práticas desempenhadas nas empresas. Além disso, a Portaria define a carga horária teórica mínima de 400 horas, com duração igual à vigência do contrato de aprendizagem.

É nesse contexto que se insere o Programa Aprendiz Legal, tendo que adequar-se às consecutivas alterações legais que regulamentam os programas de aprendizagem no Brasil. Devido à duração dos cursos de qualificação dos jovens, diferentes turmas funcionam com distintos princípios legais, o que prejudica a homogeneidade da formação/qualificação oferecida aos aprendizes.

Em primeiro lugar, é preciso destacar as limitações do presente estudo. Cabe ressaltar que a Lei da Aprendizagem não define os currículos dos cursos de formação dos jovens aprendizes, ficando tal função a cargo das próprias instituições formadoras. Diante disso, a análise que será realizada não pode ser generalizada para toda a realidade da aprendizagem, sendo apenas referente ao campo de pesquisa selecionado para alcançar os objetivos dessa

pesquisa, qual seja, o Programa Aprendiz Legal do Estado de Pernambuco, que por ser uma unidade autônoma, apresenta uma estrutura e realidade específicas.