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3 POLÍTICAS PÚBLICAS DE JUVENTUDE(S) BRASIL E PERNAMBUCO:

3.2 O Programa Aprendiz Legal

No dia 24 de abril de 2007, Dia Internacional do Jovem Trabalhador, em São Paulo, foi lançada uma parceria entre o Centro de Integração Empresa Escola (CIEE)26 e a Fundação Roberto Marinho (FRM)27 para a implementação do Programa Aprendiz Legal. O Programa foi aplicado primeiramente nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia e gradativamente chegou a todo o Brasil.

A FRM foi responsável pelo desenvolvimento dos materiais educativos do módulo básico, do ambiente virtual e do sistema de monitoramento do programa, enquanto que o CIEE cuida da formação teórica, a certificação e o processo educacional.

Tal projeto tem a finalidade de garantir a inserção de jovens no mercado de trabalho e que as empresas qualifiquem funcionários desde cedo. Como exposto no site do programa, seu objetivo é:

[...] contribuir para a formação de jovens autônomos, que saibam fazer novas leituras de mundo, tomar decisões e intervir de forma positiva na sociedade. Acreditamos que é responsabilidade compartilhada do Estado, da sociedade, da família e dos próprios jovens fortalecer sua autoestima e sua condição de cidadãos por meio do trabalho (site do Programa Aprendiz Legal).

No dia 07 de outubro de 2009, foi instalado o Fórum Estadual de Aprendizagem Profissional e lançado o Programa Aprendiz Legal, no Estado de Pernambuco, contando com os apoios da Fundação Roberto Marinho (FRM) e do Centro de Integração Empresa-Escola de Pernambuco (CIEE-PE).

Representando o Governador de Pernambuco, o Secretário Especial da Juventude e Emprego, afirmou o seguinte: “Vamos entrar pesado no Programa de Aprendizagem em Pernambuco”. Isso com o objetivo de retirar o estado do penúltimo lugar no número de aproveitamento de vagas para aprendizes no país, na frente apenas de Tocantins, na época do lançamento.

O Estado de Pernambuco foi o sexto a instalar o Fórum Estadual de Aprendizagem Profissional, que tem o intuito de estimular o processo de inserção dos jovens no mercado de

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É uma instituição filantrópica, que possui 46 anos, mantida pelo empresariado nacional, com o objetivo de encontrar, para os estudantes de nível médio, técnico e superior uma oportunidade de estágio que os auxiliem a colocar em prática tudo o que aprenderam na teoria.

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Criada em 1977, pelo jornalista Roberto Marinho, essa instituição pretende mobilizar pessoas e comunidades, por meio da comunicação, de redes sociais e parcerias, em torno de iniciativas educacionais que contribuam para a melhoria da qualidade de vida da população brasileira.

trabalho. No lançamento do Programa duas empresas assinaram um termo de adesão ao Programa Aprendiz Legal.

Houve também o depoimento de uma jovem aprendiz que realizava atividades administrativas para ilustrar a importância do programa, conforme sua fala: “Quando assinaram minha carteira de trabalho, saí mostrando para todo mundo. Esse é meu primeiro emprego e seria bom que os empresários soubessem da importância desse programa para os jovens, como eu sei”.

O superintendente do CIEE de Pernambuco destacou as principais vantagens do Programa Aprendiz Legal:

Qualifica o jovem, na cultura da empresa. Abre perspectivas de absorção imediata pela empresa ou a perspectiva de contratação futura uma vez que seu nome ingressa no banco de dados. Estanca a evasão escolar. Prolonga a permanência do jovem na escola, fortalecendo a formação da mão-de-obra nacional. Promove a inclusão social. Diminui o número de jovens em situação de risco. Viabiliza a prevenção social do crime e da violência. Faz da empresa, como as corporações medievais, escolas de especialização e qualificação de sua mão-de-obra (entrevista ao site do

Programa Aprendiz Legal, em 25/07/10).

Em Pernambuco, por meio de um Decreto assinado pelo governador Eduardo Campos, é obrigatória a contratação de aprendizes no âmbito do poder público estadual, sendo submetidas às mesmas regras aplicadas às empresas privadas. O Governo pernambucano investe nos jovens por meio tanto de empresas públicas quanto de empresas privadas.

Pode participar do programa qualquer jovem entre 14 e 24 anos incompletos, priorizando jovens entre 14 e 18 anos, que estejam estudando ou tenham concluído o Ensino Médio e que estejam em situação de vulnerabilidade social. Os cursos oferecidos estão concentrados nas seguintes áreas: auxiliar de alimentação – preparo e serviços; auxiliar de produção industrial; comércio e varejo; conservação, limpeza e sustentabilidade ambiental; gestão pública; logística; ocupações administrativas; práticas bancárias (destacar sua divisão); telesserviços e turismo. O programa é dividido em dois Módulos, quais sejam, o Básico (comum a todas as formações) e o Específico (voltado para a atividade desempenhada na empresa). O Módulo Básico possui carga horária de 200 horas. Apresenta três Unidades divididas entre 50 encontros.

O Programa Aprendiz Legal estrutura-se em três conceitos: identidade (por meio do estímulo a autonomia e ao protagonismo do aprendiz), linguagens (através da utilização de diversas linguagens) e trabalho (como uma fonte de realização pessoal e social). A visão do Programa considera que o trabalho “representa, hoje, um valor social universal; é visto como uma atividade que significa fonte de realização pessoal e social, por isso deve ser reconhecida e valorizada, desassociada de uma concepção consumista que vê o trabalho como simples

fonte de renda”. O eixo condutor ao qual esses três grandes temas estão inter-relacionados é a cidadania multicultural. O Manual do Aprendiz (2006, p. 29-30) ressalta que:

Nesta concepção de cidadania, o(a) cidadão(cidadã) deve promover, por meio de ações concretas na empresa e na sociedade, o respeito e o reconhecimento à diversidade cultural, além de ter direito a um nome, à vida, à liberdade individual, à participação na esfera pública e em organizações civis, de votar e ser votado(a), de manifestar ideias livremente, de lutar por qualidade de vida e justiça social etc.

Conforme o Manual do Aprendiz (2006, p. 12), “Muito mais importante que o salário, para você, agora, o que vale é realmente conhecer, conhecer o trabalho e a vida de adulto que, ao mesmo tempo, é um desafio e um desejo para todos nós na adolescência”.

A empresa, por sua vez, tem o papel de:

[...] praticar uma ação efetiva de responsabilidade social, colaborando para a inclusão social do(a) aprendiz e ajudando-o a ser um agente de transformação de sua realidade. Muito mais que formação de mão-de-obra produtiva, este programa dever ser visto pela empresa como um processo educativo centrado no desenvolvimento de valores e atitudes (MANUAL DO APRENDIZ, 2006, p. 12).

Dentro da empresa deve haver o(a) Orientador(a) o(a) qual é responsável pelo desenvolvimento do aprendiz na empresa, porém “[...] ele(a) é um(a) educador(a) e está interessado(a) em ensinar mais do que a ocupação exige. Quer lhe dar lições de vida, de como ser um(a) bom(boa) profissional, cidadão(cidadã), colega etc”.

Como princípios metodológicos, são enfatizados 1) a gestão compartilhada: que tanto educadores quanto orientadores compartilhem o planejamento e as decisões referentes ao desenvolvimento dos aprendizes na instituição formadora e na empresa; 2) a flexibilidade: que é fundamental para a Lei da Aprendizagem, pois como o jovem deve ter sua formação em dois locais é preciso que os encontros presenciais na instituição formadora sejam (re)organizados em função de demandas específicas; e 3) trabalho com projetos: baseados na ideia de que o jovem ao ingressar no mercado de trabalho, precisa saber “planejar, organizar seu tempo e elaborar projetos de vida” (site do Programa Aprendiz Legal).

Os princípios pedagógicos são: o desenvolvimento de competência, com o intuito de desenvolver a autonomia intelectual do aprendiz; a abordagem interdisciplinar e contextualizada do conhecimento, através da utilização de diversas linguagens e gêneros textuais; e a avaliação por competências e habilidades, a qual facilita a observação do desempenho individual dos aprendizes dentro do Programa e no trabalho.

De acordo com o site, o programa está pautado na concepção de responsabilidade social, no sentido de contribuir de forma efetiva para a construção de uma sociedade mais justa. Pois,

Ao ingressar no Aprendiz Legal, a empresa assume o papel de agente transformador, fomentando a formação profissional e cidadã de jovens autônomos, que saibam fazer

novas leituras de mundo, tomar decisões e intervir de forma positiva na sociedade (site do Programa Aprendiz Legal).

Entre os anos de 2005 e 2009, os estados que mais contrataram aprendizes foram: São Paulo, com 188.629 contratações (24 mil, em 2005; 31 mil, em 2006; 39 mil, em 2007; 45 mil, em 2008 e 48 mil, em 2009); Rio de Janeiro (50 mil) e Minas Gerais (49 mil). A meta do Programa ao ser lançado era de inserir 800 mil jovens no mercado de trabalho no Brasil até 2010, estipulada na I Conferência Nacional da Aprendizagem Profissional, realizada em Brasília, entre os dias 24 e 26 de novembro de 2008. Em outubro de 2009, lançamento do Programa, no Estado de Pernambuco, havia 2.089 aprendizes contratados, diante de 34.787 vagas potenciais. Conforme o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), até junho de 2010, o número de aprendizes contratados era de 183.170, ou seja, muito abaixo da meta inicial.

De acordo com o superintendente do CIEE de Pernambuco, através de entrevista concedida ao site do Programa Aprendiz Legal, menos de 20% do potencial de vagas está sendo aproveitado, um desperdício de 885 mil vagas, o que corresponde a 80,4% das oportunidades existentes. Segundo ele, “Esse não cumprimento pune a juventude mais pobre do Brasil. Estimula o ócio. Incentiva a droga e a criminalidade”. Mais uma vez apresenta-se um vínculo entre juventude e criminalidade, apresentando-se a inserção no mundo do trabalho a solução ideal. A entrada desses jovens no mercado de trabalho está pautada por um aspecto cultural, pois o senso comum se utiliza de um discurso no qual essa é uma forma de inserir o jovem na sociedade, exercendo a sua cidadania, dando-lhe mais dignidade, além de tirá-lo da marginalidade. Aqui surge a ideia de que “É melhor o jovem estar trabalhando do que ficar vagabundeando”.

No caso específico de Pernambuco, a situação é ainda mais grave, pois é o pior dos 27 estados do país no ranking de contratação de aprendizes. O superintendente destaca que muitos consideram que o problema do aprendiz é a qualidade de sua formação e não na quantidade de contratações. Entretanto, afirma que, dos 34 milhões de jovens entre 14 e 24 anos, 30 milhões só cursarão os Ensinos Fundamental e Médio e estarão sujeitos à evasão escolar. Por isso, o problema se configura também pela quantidade e não só por qualidade, o que corresponde a

[...] um verdadeiro crime contra a juventude pernambucana. Não é a toa que o Recife é uma das capitais mais violentas do Brasil, nesta faixa-etária. O jovem ocioso, sem perspectivas de ingresso no mercado de trabalho, é mão-de-obra disponível para a droga e para o crime (entrevista ao site do Programa Aprendiz

Legal, em 25/07/10).

De 2009 para 2010 houve um aumento de 37,5% no número de contratações de aprendizes por empresas parceiras do CIEE-PE, em um total de 22 mil jovens contratados,

diferentemente do ano de 2009, onde foram contratados 16 mil. Segundo a gerente do Programa Aprendiz Legal do CIEE-PE, a instituição “[...] além de ter um cadastro com jovens com perfil exigido pela lei, é uma entidade capacitadora, habilitada a ministrar os cursos teóricos durante o período de vigência do contrato” 28.

Em Pernambuco, como visto anteriormente, a unidade autônoma do Centro de Integração Empresa-Escola de Pernambuco (CIEE-PE) é a unidade qualificadora do Programa Aprendiz Legal. Ela oferece cursos nas cidades do Recife, Caruaru, Petrolina, Garanhuns e Vitória de Santo Antão.

Os cursos de qualificação oferecidos pelo CIEE-PE, e vinculados ao Programa Aprendiz Legal, estão concentrados nos setores de Serviços e de Comércio, como administração, serviços bancários, comércio e varejo, telesserviços, logística e turismo. Áreas essas que pertencem ao setor terciário que vem sofrendo crescentemente com a questão da precarização do trabalho, decorrentes da subproletarização do trabalho, como já mencionado (ANTUNES, 2005).

Se, como afirma Pochmann (2007), e anteriormente aqui exposto, há um papel decisivo da inserção no mercado de trabalho sobre a trajetória profissional do jovem, torna-se preocupante o fato dessa entrada ocorrer em setores precarizados e que oferecem pouca perspectiva de evolução profissional.

Com o intuito de proteger o trabalho dos jovens aprendizes, tramitou na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 7.516/2010, da deputada Rita Camata (PSDB-ES), que proibia a prorrogação da jornada de trabalho de seis para oito horas para aqueles que já concluíram o Ensino Fundamental.

Segundo a autora do projeto, a prorrogação da carga horária “[...] permite que o objeto do contrato de aprendizagem, que é o de formação técnico-profissional, seja desviado, possibilitando uma exploração de mão-de-obra, em vez de estar voltado exclusivamente para a profissionalização propriamente dita” (site do Programa Aprendiz Legal).

Um aspecto que merece destaque no Programa Aprendiz Legal é a sua compreensão de que a entrada dos jovens no mundo do trabalho é a melhor solução para a sua constituição como cidadãos e sua autoestima, como a seguir:

Por acreditarmos que o jovem deve ser protagonista, visto como responsável, capaz e decisivo, o método utilizado para a formação do aprendiz estimula a autonomia e a pró-atividade. Sua inserção social através do trabalho e da geração de renda está centrada no desenvolvimento de cidadãos social e economicamente bem-sucedidos,

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Entrevista disponível em: <http://www2.uol.com.br/canalexecutivo/notas11/160220111.htm>. Acesso em: 10 março 2011.

que façam a ponte entre a infância e a vida adulta conquistando auto-estima e responsabilidade (site do Programa Aprendiz Legal).

Outra questão importante é a permanência da relação entre trabalho e escola. Como anteriormente exposto, o Programa prioriza os jovens entre 14 e 18 anos, que estejam estudando ou tenham concluído o Ensino Médio. Mais uma vez os jovens que ainda estão vinculados ao sistema educacional são alvos do Programa, o que se constitui como um reflexo da visão de seus idealizadores, que acreditam que o Aprendiz Legal “Estanca a evasão escolar. Prolonga a permanência do jovem na escola, fortalecendo a formação da mão-de-obra nacional” 29

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Ao contrário do que pregam os responsáveis pelo Programa, a relação entre trabalho e escola, na maioria das vezes, não prolonga a permanência do jovem na escola e muito menos estanca a evasão escolar. Como já mencionado, quando os jovens não conseguem dar conta da dupla jornada entre escola e trabalho, a primeira atitude tomada é abandonar os estudos, pois precisam trabalhar para sobreviver (SOUZA, 2009). Ou seja, a relação entre trabalho e escola é prejudicial para o desenvolvimento e formação dos jovens e por isso, deveria ser evitada, através da prioridade aos jovens que concluíssem os estudos.