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3 POLÍTICAS PÚBLICAS DE JUVENTUDE(S) BRASIL E PERNAMBUCO:

4.3 Curso de Ocupações administrativas

O material didático do curso de Ocupações administrativas privilegia as funções de arquivista, auxiliar administrativo e contínuo, pertencentes ao Arco Ocupacional de Administração.

Notamos no trecho abaixo, retirado da Apresentação do livro didático, a noção destacada por Frigotto (1999) acerca da formação destinada à “empregabilidade”:

Dessa forma, os aprendizes serão formados para o exercício de diferentes profissões da mesma área, ampliando suas condições de empregabilidade. Nos dias de hoje, o profissional deve ser flexível para saber transitar em vários ambientes no seu local de trabalho. Desenvolver competências necessárias para isso é fundamental, portanto (CRUZ; FARACO; WALDHELM, 2011, p. 5).

Além disso, identificamos a necessidade por parte do capital de um trabalhador “flexível” ou “multifuncional”, como nos aponta Antunes (1999). O desenvolvimento de competências, como anteriormente exposto, surge como resposta às novas exigências do capital e isso se reflete na formação/qualificação destinada aos jovens aprendizes.

Vale destacar a justificativa para essa nova exigência de um trabalhador flexível, que sabe trabalhar em equipe e se envolve nas estratégias da empresa, qual seja:

As novas tecnologias para os modelos de produção alteraram procedimentos e exigências nos anos 1970 e 80. O mercado de trabalho passou a valorizar profissionais capazes de lidar com situações cada vez mais complexas. Nesse mundo cada vez mais interligado, a comunicação e a convivência com a diversidade e as

diferenças exigem o desenvolvimento de novas competências e habilidades que vão além da qualificação tradicional básica.

A valorização de um profissional está voltada para suas competências na relação com o ambiente de trabalho em seus diferentes processos, no trabalho em equipe, no envolvimento com as estratégias da empresa. O posto de trabalho deixa de ser estável frente à distribuição de tarefas que exigem engajamento, colaboração e mobilidade e que são avaliadas para fins salariais. É nesse mundo do trabalho que nossos aprendizes irão atuar e, para isso, deverão saber mobilizar saberes e recursos cognitivos para agir de forma reflexiva e crítica, ultrapassando o mero “saber fazer” (CRUZ; FARACO; WALDHELM, 2011, p. 5).

Após analisar o trecho acima, percebemos que não há uma justificativa coerente com a realidade das transformações ocorridas no mundo do trabalho. Diante disso, ficam obscurecidas questões como as seguintes: por que se passou a valorizar os profissionais que apresentam essas características? E o processo de precarização do trabalhão advindo da reestruturação produtiva, onde fica? Outro ponto relevante é a constatação de que, na realidade, são exigidos do trabalhador uma maior participação e engajamento nas estratégias da empresa, sem necessariamente uma recompensa salarial, como citado anteriormente por Hirata (1994), e contrariando a justificativa supracitada do material.

O trecho a seguir ilustra a noção de engajamento e maior participação na empresa: Orientador(a): Conversar com o aprendiz sobre a importância de cada empregado perceber-se como parte fundamental do conjunto da empresa e de como o empreendedorismo de cada um, em sua função, pode fazer diferença (CRUZ; FARACO; WALDHELM, 2011, p. 38).

As competências desenvolvidas pelo Módulo Específico do curso de Ocupações administrativas, baseadas nos Arcos Ocupacionais do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), encontram-se no APÊNDICE H.

Novamente prevalecem os aspectos prático-operativos. Não identificamos qualquer conhecimento ético-disciplinar estimulado pelas competências e habilidades privilegiadas pelo Módulo Específico do curso de Ocupações administrativas.

O livro está dividido em cinco Unidades, quais sejam: I – Retomando o conceito de trabalho; II – Perfil do profissional contemporâneo; III – As funções básicas da administração; IV – Planejamento: conceito e algumas modalidades; e V – Gestão.

O livro do Módulo Específico de Ocupações administrativas utiliza bastante o jogo Aprendiz Legal, contido no material didático do Programa, como podemos observar nas atividades a seguir:

No jogo Aprendiz Legal, o gerente do supermercado comunica as diversas mudanças, faz propaganda das novidades, incrementa os serviços, visando a atingir uma rotina mais moderna, com economia, funcionalidade, eliminando problemas internos. Ele não consegue, no entanto, sucesso absoluto nos seus objetivos. Assinale a alternativa correta. Pode-se dizer que:

b) o gerente foi eficaz e eficiente. c) o gerente foi eficiente mas não eficaz. d) o gerente não foi eficiente nem eficaz. Educador(a):

1. Depois de ouvir o grupo, mostrar que o gerente foi eficiente, pois fez corretamente tudo aquilo que deveria: realizou uma boa tarefa, seu trabalho não apresentou erros e teve boa qualidade. No entanto, o trabalho não foi eficaz, porque não atingiu o resultado esperado (alternativa c, portanto). Em seguida, se achar adequado, peça que os aprendizes criem situações em que fique clara a eficiência e a eficácia e outros em que a eficácia fique a desejar, a despeito da eficiência de quem coordena a ação.

2. Para enfatizar a diferença entre eficiência e eficácia, promova um debate sobre esta afirmativa: “Jogar futebol com arte é uma questão de eficiência. Ganhar a partida é uma questão de eficácia.” (CRUZ; FARACO; WALDHELM, 2011, p. 68). Educador(a): Se achar adequado, analisar com o grupo, no jogo do Aprendiz Legal, a influência da informática nas mudanças sofridas pelo antigo mercadinho que se transformou em supermercado (CRUZ; FARACO; WALDHELM, 2011, p. 89).

Percebemos a necessidade de planejamento prévio das aulas e das atividades e do Programa:

Educador(a): Conversar com os aprendizes sobre a importância do planejamento que você faz dos encontros do Programa Aprendiz Legal para alcançar bons resultados.

Orientador(a): Ressaltar junto aos aprendizes a importância do planejamento, inclusive das pequenas ações, na seção em que atua. Se possível, dar exemplos concretos (CRUZ; FARACO; WALDHELM, 2011, p. 140).

O planejamento é ressaltado, porém, na prática, como vimos anteriormente, o(a) Educador(a) encontra dificuldades para realizá-lo, devido à grande quantidade de atividades que lhes são atribuídas. Inclusive o horário dedicado ao planejamento dos encontros, frequentemente é utilizado para a realização dessas tarefas.