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3 POLÍTICAS PÚBLICAS DE JUVENTUDE(S) BRASIL E PERNAMBUCO:

4.2 Curso de Comércio e varejo

O Módulo Específico do curso de aprendizagem Comércio e Varejo, como afirma o próprio material, constrói e/ou desenvolve competências específicas para o exercício das seguintes funções: Atendente de balcão, Auxiliar de vendas, Promotor de vendas,

Demonstrador de mercadorias, Repositor de mercadorias, Arrumador de prateleiras e Auxiliar de repositor. Como vimos, o curso é estruturado a partir da família ocupacional Operadores do comércio em lojas e mercados, no CBO Vendedor de comércio varejista. Este curso, dentre os acompanhados, é o que abrange o maior número de ocupações. Talvez devido à heterogeneidade de atividades do setor.

São propostas 200 horas para o seu desenvolvimento, divididos em 50 encontros, distribuídos em cinco Unidades, quais sejam: I – Noções básicas de varejo; II – Varejo e mercado; III – Estratégias do varejo; IV – Comunicação e marketing no varejo; e V – Gestão no mercado varejista. Esse curso tem 400 horas de formação na instituição educacional, sendo 200 horas dedicadas ao Módulo Básico e 200 horas ao Módulo Específico. Percebemos que não há uma linearidade entre os Módulos Básico e Específico, na prática. Pois em alguns encontros, usa-se o livro básico, em um estágio em que se deveria trabalhar os conteúdos específicos do curso.

Segundo consta na apresentação do livro didático do curso:

Este caderno apresenta, além das orientações pontuais para você, Educador(a) – responsável pelo aprendiz na instituição formadora –, sugestões de atividades para serem desenvolvidas no local de trabalho. Nossa conversa irá se estender, então, para o(a) Orientador(a) de Aprendizagem, aquele(a) que irá acompanhar o(a) aprendiz na empresa (FARACO; WALDHELM, 2008, p. 5).

Com o propósito de efetivamente integrar a formação dos aprendizes, através da sintonia entre a prática na empresa e o que os aprendizes estiverem estudando na instituição educacional, o que reforça o princípio da gestão compartilhada:

Educador(a): Além das atividades cuja condução compete a você, há outras, que devem ser realizadas na empresa e conduzidas pelo(a) Orientador(a). Essas atividades deverão ser discutidas posteriormente no grupo, pois podem gerar discussões bastante enriquecedoras, uma vez que delas constarão relatos de aprendizes ligados a empresas diferentes, com diferentes feições. Sugerimos que o tempo específico para a socialização das experiências no grande grupo seja incluído em seu planejamento (FARACO; WALDHELM, 2008, p. 12).

As atividades propostas para serem realizadas nas empresas são também relevantes devido à possibilidade da posterior socialização dos resultados na volta à instituição formadora, enfatizando as especificidades de cada experiência de trabalho e, consequentemente, oportunizando um maior vínculo entre teoria e prática. Tal relação se dá tanto no sentido prática-teoria como na direção teoria-prática, como podemos visualizar nos trechos abaixo:

Orientador(a): solicitar que cada aprendiz faça um relatório curto de como o estabelecimento em que atua está procurando atender a essas expectativas do consumidor. Se necessário, oriente a confecção desse relatório. Encaminhe os relatórios aos coordenadores das instituições, para que sejam socializados. A troca de experiências é sempre enriquecedora (FARACO; WALDHELM, 2008, p. 29).

Orientador(a): explicar como o estabelecimento em que atua orientaria a solução desses casos. Ouvir sugestões dos aprendizes, anotá-las e encaminhá-las ao(à) educador(a) e, as que considerar adequadas, à chefia do seu estabelecimento. É importante que os aprendizes sintam-se parte integrante do local de trabalho. Opinar pode ser um veículo para tanto (FARACO; WALDHELM, 2008, p. 32).

O(a) Orientador(a) precisa ser um profissional exclusivo para acompanhar as atividades dos aprendizes na empresa e na instituição formadora, não necessariamente precisa ter alguma formação na área pedagógica, pois o material didático pede o encaminhamento das atividades realizadas na empresa para a instituição formadora.

Orientador(a): caso na sua empresa tenha ocorrido algum problema relacionado a diversidade cultural, relatar para os aprendizes e analisar (FARACO; WALDHELM, 2008, p. 129).

Colaboração dos aprendizes, a partir de um maior engajamento e participação nas estratégias da empresa (toyotismo):

Orientador(a): colocar os aprendizes a par das iniciativas tomadas pelo estabelecimento em que atua para tentar fidelizar o cliente. Discutir as estratégias existentes e pensar outras. Caso não haja um programa claro de fidelização, pedir que os aprendizes, em grupo, façam uma proposta para a empresa (FARACO; WALDHELM, 2008, p. 157).

Atividade de acompanhamento do diretor/chefe/encarregado:

Orientador(a) 2: sugerimos que os aprendizes possam acompanhar, durante um tempo determinado por você, as atividades do funcionário que seja diretor/chefe/encarregado de algum setor da empresa. Em seguida, que esse funcionário seja entrevistado e que a entrevista seja utilizada na elaboração de um relatório. É uma boa forma de eles aprenderem as atribuições e competências da direção (FARACO; WALDHELM, 2008, p. 201).

As atividades propostas acima ilustram a intenção daqueles que elaboraram o material didático de privilegiar a formação, o aprendizado do jovem em detrimento de sua utilização como mera mão-de-obra. Aqui se percebe o destaque dado à esfera formativa do curso de aprendizagem, pois boa parte das atividades são propostas para que o aprendiz compreenda a área de trabalho na qual está inserido e seja capaz de, posteriormente, desempenhar melhor suas atividades laborais.

Contudo, para que a efetividade desse processo formativo seja alcançada se faz necessário transformar a concepção compartilhada por empresas e demais funcionários na qual o aprendiz nada mais é do que um trabalhador adquirindo sua primeira experiência de trabalho. Vale lembrar o que foi dito pelos aprendizes da Voar, que precisaram aprender a desempenhar suas atividades sem a ajuda de um(a) Orientador(a) ou demais funcionários, além do fato dos aprendizes da Estilos sofrerem certo preconceito por parte dos funcionários da empresa por serem aprendizes.

A empresa que possui aprendizes deve primeiramente ser devida e claramente informada sobre os princípios e objetivos da aprendizagem, qual seja, a formação e não a produção, para que os responsáveis pela empresa não contem com esses jovens para desenvolver atividades atribuídas aos funcionários de forma geral, mas sim considerá-los como aprendizes (ou alunos), ou seja, como trabalhadores especiais em formação, como dia a Lei nº 10.097/2000.

Mais uma vez são selecionadas as principais competências gerais do Módulo Básico para permanecerem em desenvolvimento: competências 1, 4, 11, 13, 16 e 20.

As habilidades correspondentes ao varejo foram selecionadas tendo como fonte principalmente os Arcos Ocupacionais criados pelo Ministério do Trabalho e Emprego e são apresentadas no APÊNDICE G.

Como podemos perceber, há o predomínio de habilidades prático-operativas no Módulo Específico do curso de Comércio e varejo, havendo apenas uma habilidade que podemos considerar como ético-disciplinar, qual seja, Demonstrar atitudes e condutas com vistas à preservação da saúde e segurança pessoal, coletiva e ambiental.

Nos materiais didáticos do Módulo Específico de todos os cursos existe uma Antologia de Textos ao final de cada volume, contendo os textos trabalhados no Módulo Básico a fim de retomar o que já foi estudado anteriormente, como nos exemplos de atividades a seguir:

Releia o poema “O açúcar”, presente na Unidade III do Módulo Básico, no 46° encontro, inserido na Antologia de Textos ao final deste volume (p. 354) (FARACO; WALDHELM, 2008, p. 12).

Educador(a): eis uma excelente oportunidade para reler a crônica de Rubem Braga, trabalhada na Unidade I do Módulo Básico, no 8° encontro, inserida na Antologia de Textos ao final deste volume (p. 320) (FARACO; WALDHELM, 2008, p. 71).

Essa retomada de conteúdo permite uma maior sintonia entre os conteúdos básicos e específicos.

Os aprendizes da empresa Voar ressaltaram o fato de que o curso de aprendizagem a eles oferecido, qual seja, Comércio e varejo, pouco ou nada tinha a ver com as atividades por eles desempenhadas. Após a análise do livro didático do Módulo Específico desse curso, podemos perceber porque eles emitiram tal opinião. Os conteúdos são voltados especificamente para as atividades referentes ao Comércio varejista, que, por sua vez, possui inúmeras áreas de atuação, como: comércio, transportes, comunicações, serviços financeiros, administração pública etc., como ressaltado anteriormente.

O único conteúdo que abrange as atividades por eles desenvolvidas está presente na Unidade V – Gestão no mercado varejista, a qual dedica um tópico ao atendimento ao cliente (3. Aspectos humanos relacionados ao processo de venda). Esse tópico discute temas como: o atendimento ao cliente; os tipos de clientes; a importância da comunicação e relacionamento com clientes; dicas para garantir um atendimento de qualidade ao cliente; quatro elementos de um bom atendimento; o que caracteriza um bom atendente?; satisfação e qualidade no atendimento; como deixar o cliente encantado?; fidelização do cliente; além de discussões acerca de vícios de linguagem e expressões inadequadas para utilizar durante o atendimento ao cliente.

O principal problema é que por ser a última Unidade do material, deve ser trabalhada ao fim do curso de aprendizagem, isto é, quando o aprendiz já está próximo do fim do contrato, o que demonstra que para a atividade a qual esses jovens estão dedicados o curso de Comércio e varejo efetivamente não os contempla em relação ao aspecto formativo.