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3 POLÍTICAS PÚBLICAS DE JUVENTUDE(S) BRASIL E PERNAMBUCO:

3.3 O funcionamento do Programa Aprendiz Legal

Nesta seção iremos analisar como funcionam os cursos de qualificação de jovens para o mercado de trabalho. Como anteriormente exposto, utilizamos como campo de pesquisa o Programa Aprendiz Legal do Estado de Pernambuco, de responsabilidade do Centro de Integração Empresa-Escola de Pernambuco (CIEE-PE), apesar de existirem outras instituições formadoras no estado, como a Escola Dom Bosco de Artes e Ofícios e a Organização de Auxílio Fraterno do Recife (OAF)30, entre outras. A escolha do programa se deu pela longa experiência do CIEE-PE em oferecer qualificação profissional para jovens e por ser a pioneira na esfera da aprendizagem. A instituição atingiu a marca de 1.500 aprendizes em 2013, segundo o Superintendente Executivo Institucional do CIEE.

Antes de nos aprofundarmos na discussão do Programa Aprendiz Legal se faz necessário conhecer as ferramentas jurídicas que promovem a aprendizagem no Brasil para que possamos compreender o contexto no qual o Programa está inserido, além de nos permitir

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Entrevista ao site do Programa Aprendiz Legal, em 25/07/2010.

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Atua na comunidade dos Coelhos, no bairro da Boa Vista, no Recife. Possui o Projeto Adolescente Aprendiz, com o objetivo de oportunizar ao início da vida profissional dos adolescentes na condição de aprendiz, desenvolvendo atividades bancárias.

perceber as influências e consequências da Lei nº 10.097/2000 para a própria estruturação e dinâmica dos cursos de formação.

O Catálogo Nacional da Aprendizagem (CONAP) foi criado em 2012, tendo como base as diretrizes legais da educação profissional e tecnológica e a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), com o intuito de orientar as entidades qualificadoras em formação técnico- profissional metódica, definidas a partir do Art. 8º do Decreto nº 5.598, de 1º de dezembro de 2005, a fim de direcionar a elaboração dos programas de Aprendizagem Profissional.

O documento elenca as atividades realizadas pelo profissional, organizadas por famílias ocupacionais, segundo a CBO. Além disso, especifica requisitos especiais de idade e escolaridade para o exercício da ocupação.

A carga horária mínima teórica de um programa de aprendizagem, conforme o § 2º do art. 10 da Portaria nº 723/2012 do MTE é calculada com base na carga horária do curso de nível médio técnico correspondente, seguindo a classificação do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos. Caso não haja curso para o mesmo itinerário formativo no Catálogo, a carga horária teórica na instituição formadora deve ser de no mínimo 400 horas.

Fonte: CONAP, 2012

Para a elaboração dos cursos devem ser observados esses parâmetros e as atividades práticas devem ser organizadas em tarefas de complexidade progressiva e a(s) jornada(s) diária e mensal devem ser definidas de modo a comportar as atividades teóricas e práticas do programa de aprendizagem.

A definição das jornadas precisa levar em conta o perfil dos aprendizes quanto às suas faixa etária e escolaridade, possibilitando a frequência escolar, sem interferência, para aqueles que ainda estudam. O número de meses de duração do programa varia conforme a jornada diária, como nos quadros a seguir:

Fonte: CONAP, 2012

Fonte: CONAP, 2012

A aprendizagem profissional é organizada através de Arcos Ocupacionais, que segundo o CONAP (2012, p. 3), consistem em:

[...] agrupamentos de ocupações relacionadas, que possuem base técnica próxima e características complementares. Cada um dos Arcos pode abranger as esferas da produção e da circulação (indústria, comércio, prestação de serviços), garantindo assim uma formação que amplie as possibilidades de inserção ocupacional do aprendiz ao término do programa, seja como assalariado, autônomo ou em atividades da economia solidária.

Prioriza-se uma formação mais ampla, abarcando a produção e a circulação, aumentando as chances dos aprendizes de entrarem e permanecerem no mercado de trabalho, isto é, para garantir a “empregabilidade” desses jovens.

Vale ressaltar que o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) utiliza o termo ocupação para designar e classificar as diversas atividades profissionais em todas as áreas, enquanto que o termo profissão diz respeito ao trabalho ou atividade especializada dentro da sociedade, exercida por um profissional competente.

O quadro abaixo apresenta os modelos possíveis de escolha para os programas que utilizem a metodologia de Arcos Ocupacionais:

Fonte: CONAP, 2012

O CONAP também ressalta a especificidade do Setor Bancário, disponibilizando três opções de jornadas para os Arcos Ocupacionais:

Fonte: CONAP, 2012

O Programa Aprendiz Legal baseia seus cursos nos Arcos Ocupacionais e:

Portanto, a concepção da aprendizagem a partir do desenvolvimento de competências pessoais e profissionais para o exercício de diferentes funções agrupadas em arcos ocupacionais busca associar formação de qualidade ao mundo do trabalho vivido por nossos jovens. É nesse sentido que a Fundação Roberto Marinho e suas instituições parceiras, implementadoras do Programa Aprendiz Legal, pretendem contribuir com a Aprendizagem (CRUZ; FARACO; WALDHELM, 2011, p. 5).

Os cursos observados, quais sejam, Ocupações administrativas, Práticas bancárias e Comércio e varejo, estão estruturados da seguinte forma:

Quadro 4: Arcos ocupacionais e códigos CBO Ocupações administrativas e Práticas bancárias

ARCOS OCUPACIONAIS OCUPAÇÕES CÓDIGO CBO

Administração Arquivista/arquivista Almoxarife Auxiliar de escritório/administrativo Contínuo/Office-boy/Office-girl 4151-05 4141-05 4110-05 4122-05 Setor Bancário Adolescente

Serviços Administrativos (14 a 18 anos) Escriturário de Banco Contínuo Auxiliar de Escritório 4122-05 4132-25 4110-05 Fonte: CONAP, 2012 (adaptado)

O quadro abaixo apresenta como se estrutura o curso de Comércio e varejo do Programa Aprendiz Legal:

Quadro 5: Arcos ocupacionais e códigos CBO Comércio e varejo

GRANDE GRUPO/FAMÍLIA CÓDIGOS CBO

Operadores do comércio em lojas e mercados

521105 – Vendedor em comércio atacadista 521110 – Vendedor de comércio varejista 521115 – Promotor de vendas

521120 – Demonstrador de mercadorias 521125 – Repositor de mercadorias

521130 – Atendente de farmácia – balconista 354125 – Assistente de vendas

Fonte: CONAP, 2012 (adaptado)

O curso de Comércio e varejo do Programa investigado contempla a ocupação de Vendedor de comércio varejista (521110).

A seguir trataremos do perfil profissional privilegiado pelos cursos de aprendizagem acompanhados.

3.4 Perfil profissional privilegiado pelos cursos de aprendizagem investigados

Nesta seção examinaremos as competências e habilidades priorizadas pela qualificação oferecida aos jovens aprendizes, com base na análise de conteúdo procedida, com o intuito de identificar as características do perfil profissional exigido pelo mercado de trabalho do setor terciário na atualidade. Essa investigação é de suma importância para compreendermos qual(is) o(s) propósito(s) desta formação, ou seja, a quais interesses atende essa qualificação: à formação plena (omnilateralidade) do indivíduo, no caso, o aprendiz, ou aos interesses e necessidades das empresas capitalistas?

Em um primeiro momento, nos debruçaremos sobre os materiais didáticos do Módulo Básico do Programa Aprendiz Legal, ou seja, aqueles que são comuns a todos os cursos de aprendizagem. Em seguida, examinaremos os materiais referentes aos Módulos Específicos dos cursos de Ocupações administrativas, Práticas bancárias e Comércio e varejo, selecionados por se encontrarem no setor terciário, foco de nossa investigação.

Retomando o que foi discutido anteriormente, a respeito da qualificação profissional, podemos identificar que os cursos de aprendizagem investigados estão estruturados em competências e habilidades, por melhor se adequar ao novo padrão produtivo. Esse novo modelo prioriza a atuação individual, a subjetividade, multifuncionalidade, a imprecisão. Isto é, o objetivo deixa de ser a qualificação profissional para o posto de trabalho e passa a se

oferecer uma formação mais ampla do trabalhador, capacitando-o a exercer diversas atividades laborais, valorizando àqueles comportamentos que sejam úteis à empresa.

Vale lembrar que o novo perfil do trabalhador do setor terciário é composto por aspectos cognitivos e aspectos ético-disciplinares. O primeiro consiste em conhecimentos básicos referentes à educação escolar e conhecimentos técnicos com foco nas atividades laborais, enquanto que o segundo diz respeito à socialização e à formação da personalidade.

Geralmente, possuem maior destaque por parte dos setores de treinamento das empresas os aspectos ético-disciplinares e, principalmente, aqueles voltados para o desempenho das atividades práticas. A partir da análise dos materiais didáticos do Programa Aprendiz Legal e das observações das aulas dos cursos de aprendizagem supracitados, nos foi possível destacar os aspectos ou características privilegiados pela formação oferecida aos jovens trabalhadores do setor de serviços, o que será abordado a seguir.