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CAPÍTULO 3 LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA

3.2 Âmbito Municipal

3.2.7 A Lei de Zoneamento de 1990

Após o estudo e a constatação sobre as dificuldades de aplicação da lei de zoneamento anterior70, formou-se um grupo de estudos composto por funcionários das Secretarias de Planejamento, Obras, Fazenda e Assuntos Jurídicos para a elaboração de uma nova lei de zoneamento.

O estudo para a elaboração da terceira lei de zoneamento de São José dos Campos começou no ano de 1987, com os seguintes objetivos específicos: 1) elaborar uma nova lei que contemplasse todas as alterações ocorridas na lei anterior e 2) tornar essa nova lei mais simples e de mais fácil entendimento para a população.

A proposta técnica de sistematização da lei de zoneamento foi concluída e apresentada ao prefeitoAntonio José e aos secretários em junho de 1987.

Após a conclusão dessa primeira fase, iniciou-se o processo de discussão com a Comissão de Zoneamento71. Essa comissão reuniu-se, pela primeira vez, em 21 de dezembro de 1987 e era composta por funcionários da prefeitura e representantes da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de São José dos Campos (AEASJC), da Associação Comercial e Industrial (ACI), dos empresários de loteamentos (AELO), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), da Associação das Construtoras do Vale do Paraíba (ACONVAP), do Escritório Regional de Planejamento (ERPLAN), da Câmara Municipal (CM) e das Regiões Administrativas da prefeitura (Sul, Norte, Leste e Centro). Essa comissão realizou mais 12 reuniões finalizando os trabalhos na reunião de 29 de março de 1988. Em 16 de maio de 1988 foi encaminhado ao prefeito o texto da lei de parcelamento, uso e ocupação do solo do município. Após as análises efetuadas pela

69 Lei Municipal 3721/90. 70 Lei Municipal no 2.263/80.

Assessoria Técnica e Legislativa (ATL) e pela Secretaria de Assuntos Jurídicos foi elaborado um projeto de lei no 026/88 e publicado no Boletim do Município no 609 em 19 de julho de 1988.

O ano de 1988 era eleitoral e o Prefeito Antonio José resolveu não encaminhar o projeto de lei à Câmara Municipal, deixando essa tarefa ao seu sucessor. Pela segunda vez elegeu-se prefeito Joaquim Bevilacqua, a quem coube novamente, a exemplo de 1979, discutir a aprovação de uma nova lei de zoneamento. Em 06 de abril de 1989, o prefeito encaminhou à Câmara Municipal a mensagem 023/ATL/89 referente ao projeto de lei que dispunha sobre o parcelamento, Uso e Ocupação do Solo do Município que tinha como objetivo principal a consolidação e sistematização das diversas alterações havidas na lei anterior72.

A Lei Municipal nº 3721/90 propôs a divisão do território do município em 30 zonas de uso e seis tipos de corredores especiais que, por sua vez, desdobravam-se em 72 vias públicas. Podemos observar que se o objetivo era o de simplificar, com certeza, com essas inúmeras zonas de uso, seus organizadores não conseguiram. Certamente, esse foi o objetivo primeiro de sua elaboração, comparada com a lei anterior. Podemos verificar que o número de zonas de usos duplicou de 15 em 1980 para 30 em 1990. Os corredores por sua vez quadruplicaram, passando de 16 vias em 1980 para 72 em 199073.

72 Lei Municipal 2.263/80.

73 Este zoneamento funcional ou funcionalista é um instrumento urbanístico que fixa qual as atividades que serão permitidas nas diversas zonas de uso, delimitadas segundo perímetros ou mapas. Ele é resultado dos planos urbanísticos difundidos nas primeiras décadas do século XX em congressos internacionais que consagraram o zoneamento como instrumento regulador de conflitos, de divisão funcional da cidade, separando residências de atividades comerciais, indústrias e de lazer. Como conceito, este instrumento foi defendido por Garnier e Le Corbusier a partir de 1928, no Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM) e corroborado cinco mais tarde pela Carta de Atenas (SOMEKH, 1994). Neste 4o Congresso realizado em 1933, elaborou-se a Carta de Atenas cujo conteúdo passou a ser o bem comum dos urbanistas (CHOAY, 1979).

Este aumento do número das zonas de uso é devido ao desdobramento das Zonas Especiais (ZE’s) criadas na vigência da lei 2.263/80 e das áreas de proteção ambiental (APA’s), por causa de um estudo mais criterioso do meio físico (restrições e potencialidades) do município. Essas áreas foram regulamentadas a partir das restrições impostas pelo meio físico e das aptidões naturais provenientes de estudos efetuados por meio de um convênio entre a prefeitura e a CETESB, na década de 1980.

A Lei Municipal nº 3721/90 fez a inserção de alguns corredores de uso especial em zonas de uso exclusivamente residencial (ZR’s) e de uso especial (ZE’s) que poderiam causar eventual descaracterização dessas zonas, uma vez que poderiam causar um transbordamento das atividades não residenciais. Estes corredores foram classificados segundo seis tipologias obedecendo a função e hierarquia desempenhadas no sistema viário.

Nos anos 80 ocorreu o surgimento de inúmeros loteamentos clandestinos, ocasionados pela própria rigidez dessa legislação, pela dinâmica do mercado e pela ineficácia da fiscalização do poder público local.

Destacamos também a criação da Zona de Vazio Urbano (ZVU), cuja ocupação e aproveitamento dependiam de uma análise de proposta de um plano ou projeto para sua ocupação pela Secretaria de Planejamento. Nessa análise eram avaliados os aspectos físico-territoriais da gleba e de seu entorno, as tendências do mercado imobiliário, bem como a infra-estrutura disponível.

No decorrer da década de 80, foram registradas as ocorrências de vários loteamentos clandestinos que eram, em parte, produto da rigidez da legislação em relação à dinâmica do mercado imobiliário e, principalmente, da falta de fiscalização do poder público no seu território. Com o intuito de coibir a clandestinidade que vinha ocorrendo, a Lei Municipal nº 3721/90 criou um capítulo específico denominado “dos núcleos residenciais de recreio” e, para tanto, criou-se a zona de uso ZCHR que ocupava, aproximadamente, 60% do território do município.

Sobre a Zona de Vazio Urbano (ZVU), essa era uma zona de uso que foi inserida na lei por causa das inúmeras glebas de médio e grande porte existentes no território do município. Diante da indefinição da aptidão dessas áreas, a sua ocupação e aproveitamento dependiam da análise de um plano ou de um projeto específico por parte da Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente. Essa aptidão consistia na análise das questões físico-territoriais da gleba e de seu entorno, as tendências do mercado imobiliário, a infra-estrutura existente nas proximidades e, principalmente, a ocupação no entorno.

Com a finalidade de tentar coibir a clandestinidade que vinha crescendo ano a ano, foi criada na lei 3721/90 um capítulo específico denominado “dos núcleos residenciais de recreio” que determinava uma zona de uso ZCHR - Zona de Chácaras de Recreio e o perímetro urbano foi retraído. Com o aumento do número de zonas de uso, das tipologias de corredores, das subcategorias de uso e das suas respectivas atividades foram construídos 82 quadros que se cruzavam para cada zona de uso e essa complexidade de informações reforçou o caráter funcionalista dessa lei de zoneamento.

Ocorreram 90 alterações na lei 3721/90, que visavam beneficiar interesses pontuais e foram introduzidas por meio de leis complementares. Essas sucessivas alterações e adaptações dessa lei e das anteriores são decorrentes de um princípio existente no modelo de zoneamento americano: a elasticidade.

Durante a vigência dessa lei, cerca de 12 leis de anistia destinadas às construções irregulares e clandestinas foram regularizadas, ou seja, dos 2920 dias de vigência dessa lei, 1252 dias foram vigorados por um tipo de anistia, cerca de 43% do período.

Essa lei de parcelamento, uso e ocupação do solo foi produto do trabalho da equipe de técnicos da prefeitura. Esse trabalho de várias secretarias foi uma consolidação de todas as alterações implementadas na lei 2263/80 que propôs a inclusão

de novos instrumentos e tinha como meta principal a sistematização da lei de zoneamento anterior tornado-a mais simples e de mais fácil entendimento.

A proposta técnica foi concluída e apresentada em junho de 1987 iniciando o processo de discussão com a Comissão de Zoneamento que durou até 29 de março de 1988.

A lei 37121/90 foi resultado da sistematização das diversas alterações da lei anterior, 2263/80. Essa sistematização teve a supervisão dos trabalhos feita pelos técnicos da prefeitura e o território de São José dos Campos foi dividido em 30 zonas de uso e seis tipos de corredores especiais que se desdobraram em 72 corredores.

Se a idéia inicial dessa lei era simplificar, pelo que podemos observar, o objetivo não foi alcançado, pois o aumento do número de zonas de uso constatado, pode ser creditado em razão de a lei ter absorvido grande parte das zonas de uso especial criadas na vigência da lei 2263/80. Como exemplo, podemos citar o desdobramento da zona de uso para Áreas de Proteção Ambiental em cinco: APA -1, APA -2, APA -3, APA - 4 e APA - 5.

Em relação aos corredores especiais, esses mereceram um tratamento mais aprofundado e foram classificados segundo seis tipologias e obedeciam a uma função hierarquizada dentro do sistema viário.

Em relação ao parcelamento do solo foram criados três tipos de loteamentos diferenciados: A, B e C. Esses loteamentos possuíam exigências diferenciadas de obras e infra-estrutura que visavam estimular a iniciativa privada a produzir lotes urbanos para todas as classes sociais.

Com o aumento do número de zonas de uso, das tipologias de corredores, das subcategorias de uso e das suas respectivas atividades, houve necessidade de serem constituídos 82 quadros que se cruzavam para cada zona de uso, com informações de uso e ocupação do solo, mostrando que esta complexidade reforçava que a lei era claramente representada do zoneamento funcionalista.

Ao longo dos anos de vigência da lei verificamos que foram feitas 90 alterações e mais 12 leis de anistia de construções, leis de regularização de construções irregulares e clandestinas.

Nesse período outro fato importante foi a discussão da destinação do uso do solo do entorno da Refinaria Henrique Lage, pois a população temia que bases de armazenagem e distribuição de derivados de petróleo pudessem vir a se instalar e, assim, aumentar o fator poluidor desse complexo, afetando os bairros vizinhos.