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CAPÍTULO 3 LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA

3.1 Âmbito Regional

3.1.5 O Plano Regional MAVALE

O MAVALE foi elaborado pelo Instituto de Pesquisas Espaciais - INPE e pelo Consórcio de Desenvolvimento Integrado do Vale do Paraíba e Litoral Norte do Estado de São Paulo - CODIVAP.

Iniciado em 1989, foi estruturado para atingir dois objetivos específicos: dar suporte ao CODIVAP na elaboração de diretrizes de ordenamento do uso do solo regional e o de colocar à disposição da comunidade técnico-científica do país uma metodologia de planejamento regional baseada no uso do sensoriamento remoto orbital.

O processo acelerado de industrialização transformou o Vale do Paraíba e, diante do risco ambiental que poderia acompanhar esse processo, o governo federal, o CODIVAP e o INPE mostraram a necessidade de ser elaborado um macrozoneamento da região.

O governo federal por meio do Decreto no 87.561, de 13 de setembro de 1982, estabeleceu ações e medidas para a recuperação e proteção ambiental da área correspondente à Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul.

Também em 1969, o Governo do Estado de São Paulo firmou convênio com o Ministério do Interior com a coordenação da Secretaria de Obras e do meio Ambiente (SOMA). As diretrizes resultantes desse levantamento deveriam, por meio de legislação municipal específica, serem incorporadas aos Planos Diretores de desenvolvimento integrado dos municípios do Vale do Paraíba e de seus programas municipais.

O estudo foi orientado para elaboração de diretrizes de ordenamento do uso da terra regional que conduziria a um desenvolvimento mais equilibrado e harmônico da região do Vale do Paraíba, bem como à proteção ambiental, de modo que tais diretrizes pudessem satisfazer as necessidades da população e que a utilização dos recursos naturais não fosse comprometida.

Os primeiros esforços de planejamento integrado no Vale do Paraíba dirigidos para o desenvolvimento regional foram decorrentes da associação dos municípios em torno do CODIVAP, em 10 de outubro de 1970. Esta ação concretizava os anseios dos prefeitos de municípios do Vale que, pelos idos de 1961, começaram a reunir-se para discutir a idéia de criar um organismo que associasse os municípios com objetivos

comuns e promovesse o desenvolvimento regional. O propósito buscado naquele tempo era o pleno desenvolvimento.

Inicialmente, concentraram-se na reunião de conhecimentos e dados da região do Vale do Paraíba e culminaram com a publicação do documento Caracterização do Conhecimento do Vale do Paraíba, CODIVAP (1971). O planejamento regional, nessa região, realizou-se por meio do Plano Regional do Macro-Eixo Paulista, elaborado pela Secretaria de Economia e Planejamento do Governo do Estado de São Paulo (São Paulo, 1978). Com esse plano objetivava-se um desenvolvimento mais equilibrado e integrado do Vale do Paraíba e Litoral Norte face à política de desenvolvimento urbano e regional do Estado, voltada para a descentralização da área metropolitana de São Paulo. Naquela época, esboçava-se como enfoque secundário ao desenvolvimento regional, a necessidade de proteção e recuperação das riquezas naturais regionais.

Posteriormente, um novo e relevante esforço de planejamento regional foi realizados pelo CEIVAP - Comitê Executivo de Estudos Integrados da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, por meio do Projeto Gerencial 0003/79 (CETESB, s/d). Esse Comitê chegou ao estabelecimento das diretrizes para um macrozoneamento do uso do solo na Bacia do Paraíba do Sul, tendo em vista compatibilizar seu desenvolvimento com a proteção ambiental.

O último registro de planejamento regional para o Vale do Paraíba foi o Projeto MAVALE de 1992. Esse trabalho foi desenvolvido basicamente para realizar a atualização do macrozoneamento realizado pelo CEIVAP, na porção paulista da Bacia, estendendo-o aos demais municípios.

Essa iniciativa conjunta entre o INPE e o CODIVAP foi também um novo exemplo histórico de autodeterminação dos prefeitos consorciados, o que demonstrou que estes se mantiveram conscientes da importância do planejamento regional e da necessidade de revitalizá-lo como processo balizador das decisões municipais.

Muitos problemas econômicos, sociais, demográficos, ambientais e físico- territoriais extrapolavam os limites dos municípios e o enfoque regional para sua solução produziria resultados mais eficientes que tratamentos estritamente locais. A associação de prefeitos na busca de objetivos comuns deu força às reinvidicações políticas e viria a facilitar a implantação de ações corretivas e preventivas.

A visão global e regional foi essencial para nortear as ações locais tomadas ao nível municipal. A compreensão do papel de cada município, no contexto regional mais amplo, foi fundamental para fazer com que as medidas fossem tomadas em benefício de todos.

1) O MAVALE e a Ação Regional

Durante o estudo do Macrozoneamento do Vale do Paraíba (MAVALE), o planejamento regional foi entendido como um processo destinado a produzir um cenário regional ou uma futura realidade regional desejada, que não deveria ocorrer a menos que alguma coisa seja feita. Se o curso natural dos acontecimentos for produzir o futuro desejado, então não há necessidade de planejar. Este processo se faz necessário quando as tendências observadas apontam para cenários indesejáveis que podem ser evitados por meio de ações corretivas e/ou preventivas.

O planejamento foi concebido como um processo voltado para a consecução da realidade futura desejada e pressupõe a habilidade humana de influenciar e direcionar suas atividades, pelo menos dentro de alguns limites.

O projeto MAVALE foi desenvolvido e concebido dentro desse escopo de discussão e teve a finalidade de aumentar o conhecimento disponível acerca da região, identificou e localizou problemas e analisou tendências e, também, levantou informações que permitiram delinear algumas alternativas de ação para que fosse construído um cenário futuro desejado pelos seus organizadores.

Naquele período, o cenário da região apresentava problemas de planejamento, parte dos quais tinham sido identificados em estudos regionais anteriores. Entre outros, exemplificam-se:

1) estagnação econômica de vários municípios;

2) saldos migratórios negativos e históricos nestes municípios; 3) expansão urbana acelerada e desordenada, em outros;

4) poluição dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos por esgotos domésticos e industriais, disposição de rejeitos sólidos;

5) retração de áreas de agricultura em terrenos propícios de várzea; 6) desmatamento em áreas de proteção permanente;

7) aumento dos reflorestamentos em áreas propícias à agricultura; 8) degradação de importantes ecossistemas litorâneos;

9) uso e ocupação inadequados de terrenos sujeitos à erosão contínua, o que provoca aceleração dos processos erosivos, criando áreas sujeitas a escorregamentos / deslizamentos.

Parte destes problemas já aparecia em diagnósticos anteriormente realizados, de forma concentrada espacialmente e agravada, o que demonstrava uma tendência crescente de criticidade. Acreditava-se que, por meio de ações planejadas, seria possível orientar as mudanças necessárias para alcançar finalidades que implicassem em maior bem-estar da população residente. O alcance das melhorias passava, sem dúvida, pela necessidade de uma reorganização global e equilibrada do conjunto das atividades humanas no Vale do Paraíba.

O Plano MAVALE elaborou um diagnóstico socioeconômico com dois propósitos básicos: a) identificar o papel da região de estudo no contexto estadual, analisando seu comportamento frente às regiões administrativas do Estado; b) identificar com que equilíbrio e harmonia ocorriam o comportamento dos municípios da região. Nesta etapa, foram analisados dados demográficos, econômicos e sociais e, a partir de

inúmeros levantamentos e análises das fotos de satélite, foi feito um mapa das aptidões físicas do Vale do Paraíba.

O mapa final de macrozoneamento foi elaborado para corrigir possíveis distorções encontradas no uso da terra regional face à sua potencialidade para outros usos e a possibilidade de proteção do meio ambiente, diante de ações antrópicas indesejáveis, bem como respeitar as áreas naturais sob proteção na região.

Com base nesse produto foi elaborada, no Plano de 1995, uma Carta do Macrozoneamento, específica para o uso e ocupação do solo do município de São José dos Campos, assunto que será retomado no Capítulo 4.