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Primeiro período: das origens até 1930

CAPÍTULO 2 CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

2.2 A Evolução Urbana de São José dos Campos

2.2.1 Primeiro período: das origens até 1930

Segundo Rocha Filho18, embora não se tenha determinado com segurança a época exata dos primeiros estabelecimentos estáveis do colonizador português em terras onde hoje se situa São José dos Campos, é certo que sua história se inicia quase contemporaneamente à da Capitania de São Vicente, no final do século quinhentista. São José dos Campos foi, primitivamente, uma aldeia de índios guaianazes, emigrados de Piratininga, no ano de 1590.

Em 1611, foi criada a lei19 que regulamentava os aldeamentos indígenas nos pontos que melhor conviessem aos interesses do Reino. Entre os antigos aldeamentos que vieram merecer a atenção dos jesuítas figurava, a Leste, o de São José dos Campos, localizado no Bairro do Rio Comprido, a dez quilômetros da cidade atual.

Nessa época, o aspecto da aldeia era a imagem de um pequeno aglomerado, dotado de uma linearidade que lembra os povoamentos dos primeiros períodos pós- colônia, ou seja, concentração espacial, atualmente chamada de platô central da cidade. Sua organização urbana, no plano teórico e prático, foi atribuída ao padre jesuíta Manoel de Leão.

Chamada, em 1692, de “Residência do Paraíba do Sul” e, a partir de 1696, de “Residência São José”, a aldeia só ganhou status de vila – Vila de São José do Paraíba - em 27 de julho de 1767, o que nada determinou para o seu progresso; por muitos anos

18 In: Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de São José dos Campos. Prefeitura Municipal de São José dos Campos, 1994, p. 21.

19 A Lei de 10 de setembro de 1611 que regulamentava a instalação de aldeamentos de índios dispersos, administrados por religiosos, transformou oficialmente a fazenda em missão de catequese. Esse fato causou desagrado aos colonos que muito necessitavam da mão-de-obra indígena e tiveram suas ações dificultadas. O resultado desse conflito entre religiosos e colonos culminou com a expulsão dos jesuítas em 1640 e a conseqüente extinção da missão pela própria dispersão dos aldeados.

quase nenhum progresso foi notado. A principal dificuldade apontada era o fato de a Estrada Real20 passar fora de seus domínios.

A Vila só ganharia destaque a partir de 1867, por ser a maior produtora de algodão – destinado ao abastecimento das tecelagens inglesas - da região ocidental do Vale.

Segundo Rocha Filho (1994), três outros acontecimentos também marcaram esse período: em 1871, pela lei provincial nº 47, a povoação passou a se chamar São José dos Campos. Em 1872, foi criada a comarca de São José, que já contava com uma população de 12.988 habitantes, incluindo 1.245 escravos. Por fim, grande alento foi dado ao progresso da cidade, com a chegada, em 1876, da Estrada de Ferro Central do Brasil, cortando o centro urbano e ligando o município ao Rio de Janeiro e a São Paulo.

Concomitantemente, o plantio de café já começava a ser introduzido na região. O município atingiria o auge da produção em 1886 e conseguiria algum destaque nessa cultura até por volta de 1930, apesar da forte geada de 1918, que marcou o início do incremento da pecuária e da produção leiteira na região.

O núcleo urbano existente, até então, em função das relações com a economia agrária, passa pelas primeiras e mais significativas transformações na área urbanizada do município.

Segundo Santos (1993):

(...) esses fatores, todos agregados, parecem ter condicionado uma configuração espacial da área urbanizada em modelo concentrado, com especialização quase que exclusiva de centro administrativo e de ocupação residencial local, com tecido articulado em função dessa simplificação de funções.

20 A Estrada Real foi criada pela Coroa portuguesa no século XVII com a intenção de fiscalizar a circulação das riquezas e mercadorias que transitavam entre Minas Gerais - ouro e diamante - e o litoral do Rio de Janeiro - capital da colônia por onde saíam os navios para Portugal. As estradas reais foram, ainda, os eixos principais do intenso processo de urbanização do Centro-Sul brasileiro. Ao longo do seu leito ou nas suas margens se distribuíram as centenas de arraiais, povoados e vilas em que se organizou a massa populacional envolvida com a economia da mineração e com as economias a ela associadas.

A primeira metade do século XX, conhecida como Fase Sanatorial21, foi marcada por um processo de urbanização peculiar, mais especificamente, a partir da segunda metade dos anos 1920. O Sanatório Vicentina Aranha (Fig.2.6) é marco importante desta época.

Figura 2.6 - Sanatório Vicentina Aranha e início da verticalização do seu entorno Fonte: P.M.S.J.C., 1970.

A Fase Sanatorial, em termos cronológicos, foi simultânea ao primeiro período do processo de industrialização de São José dos Campos. Não havia, nesses primeiros anos, basicamente até o final da primeira década do século XX, implantação industrial de porte, quer seja pela dimensão dos estabelecimentos, quer seja pela capacidade de produção e/ou pelo número de empregados.

O processo de industrialização do município teve início a partir da década de 20, quando houve ocorrência de um conjunto de fatores favoráveis à implantação de indústrias:

21 Chamamos de Fase Sanatorial o período em que foram registrados o início, o auge e o declínio das atividades voltadas para o tratamento da tuberculose pulmonar no município de São José dos Campos, compreendido entre 1900 a 1958. A procura para o tratamento dessa doença foi devido às condições climáticas favoráveis dessa cidade.

1) A situação geográfica favorável; 2) A concessão de incentivos fiscais;

3) A oferta de terrenos para a instalação de indústrias.

Em 1920, o então Prefeito Municipal, Coronel João Cursino, concedeu favores às indústrias que se instalassem em São José dos Campos. O objetivo dessa resolução era atingir capital fabril e geração de empregos, principalmente para as mulheres. As concessões traduziam-se em isenção de impostos, doação de terrenos e cessão das habitações aos empregados. Há nessa resolução a seguinte descrição:

(...) Se o proprietário de uma fábrica de 100 ou mais operários empregar operários desta cidade e seu município (principalmente mulheres) em número não inferior a um terço de todo pessoal, a Câmara lhe fará doação do terreno ocupado logo que se verifique que os operários do lugar se achem satisfeitos e tenham garantia de permanência em seus empregos.22

Os anos subseqüentes apresentaram-se para o município como os das primeiras grandes inovações no que se refere à produção – modos e meios – desvinculados da cultura do café. Segundo Santos (1993), nesse período, a área urbanizada sofre pequeno reflexo dessas inovações, considerando-se que dois aspectos contribuíram para essa situação:

1) Parte da produção, de certa forma, ainda se localizava em zonas distantes da área urbanizada - setor rural extremamente dependente da disponibilidade da matéria prima - a mandioca - pelo transporte e manipulação.

2) Apesar de as novas formas de produção serem as maiores empregadoras de mão-de-obra, além de solicitarem certa especialização, não representavam fator de migração, e ainda que o fossem, as possibilidades de adensamento no que era então o intra-urbano parecem ter conseguido assimilar essa nova transformação.

A partir de 1925, São José dos Campos já contava com algumas indústrias de cerâmica e tecelagem. Para Silva (2000), foi nesse período que as indústrias começaram a ser implantadas fora do núcleo central.

Na década de 20, a implantação do ramal Paratey levou ao deslocamento da estação ferroviária, fig. 2.7, da área próxima ao platô central para a área mais ao Norte, em direção ao fundo do vale do Rio Paraíba do Sul, próximo de onde se localizaria a Tecelagem Paraíba (1925), fig. 2.13.

Figura 2.7 - Estação Ferroviária Fonte: PMSJC, s/d

Nessa mesma década, ocorreu a abertura da SP-50 que liga São José dos Campos a Campos do Jordão e Sul de Minas. A implantação reforçou a transposição e a ocupação da margem esquerda do Rio Paraíba em direção ao norte do município.

Em 1925, a falta de ordenamento urbano que vinha ocorrendo em São José dos Campos mereceu, do editor do jornal local, advertências às autoridades públicas para melhoramento do município, por meio de um plano de obras elaborado por higienistas, que sugeria, ainda, verbas do Estado para o aparelhamento da Estação de cura, diante da escassez de recursos municipais.

Em 1928, é inaugurada a Rodovia Washington Luiz (antiga estrada velha Rio - São Paulo), configurando-se na primeira ligação rodoviária de grande distância do país, cortando o município mais ao Sul do platô central. Nesse período, verificamos que o eixo marcante de expansão foi no sentido Nordeste / Sudoeste. Esse eixo foi marcado pelo traçado do rio Paraíba do Sul e pela construção da ferrovia e da rodovia.

Até então, a legislação de controle e ocupação do solo era restrita a uma distribuição de atividades no território muito preliminar e genérico.

Neste primeiro período, portanto, a legislação urbanística para o controle de ocupação do espaço se fazia em nível de legislação edilícia, com a exigência de numeração das casas e logradouros, com a preocupação pelo alinhamento em relação aos passeios e alargamentos das vias centrais. Pudemos verificar que já havia uma política de incentivos fiscais para implantação de indústrias nesse município.