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38 AMARAL, 2000 39 Ibid.

1.3. B-boy vs Breakdancer

1.3.1. A linguagem do Breaking

Fabricio explica que a indumentária de um b-boy faz parte da tradição e do estilo, e cada um dos itens da roupa tem um significado para ele. Não vestir essa indumentária seria como ser “um soldado do exército sem farda”. Assim, podemos entender a roupa como parte da performance do b-boy. Veremos a seguir essa „linguagem‟ feita de panos, cores e costuras, ou o „estilo‟ da dança breaking.

Roupas:

O vestuário é um importante conjunto de símbolos para os b-boys. Estar sempre vestido „como um b-boy‟ é algo importante para eles, pois é fundamental ser sempre identificado como pertencente ao grupo de referência, ou seja, ser identificado como b- boy. A indumentária confere identidade, não utilizar essas roupas é como se sentir nu. Sô, mineiro de Belo Horizonte, aponta que quando a dança arribou ao Brasil de mão das imagens da mídia de b-boys no Bronx, que usavam agasalhos Adidas e Puma, muitos copiaram esse estilo, pouco importando o calor do verão belorizontino. O documentário Nos Tempos da São Bento (2010) mostra que cada crew tinha seu próprio agasalho e elas se diferenciavam pelas cores dos agasalhos; por exemplo, a Back Spin Crew era a crew do agasalho azul. Isso nos remete à questão da cor utilizada como diacríticos identitários pelas gangues dos Estados Unidos, como os Crips utilizando a cor azul e os Bloods a cor vermelha.

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49 Agasalho típico de um b-boy. Foto: Ricardo Lobato

Os b-boys utilizam jaquetas ou camisetas com grafites (principalmente com o nome ou logo de sua crew).

50 Colete grafitado. Foto: A.C. PICON

51 Antigamente a preocupação com o vestuário da moda, o estar apresentável, era muito mais forte do que hoje, ressaltam alguns dos entrevistados, como o Sô. Hoje, alegam, pelo fato de o breaking ser feito no chão, muitas vezes em locais sujos, em alguns casos nas ruas, para alguns b-boys é importante se sentir confortável e vestir roupas que deixam movimentar, principalmente na hora do treino. São calças de moletom, tactel, nylon.

Roupa típica de treino. Foto: FabGirl

Raramente eles são vistos usando jeans, pois este limita os movimentos, a não ser jeans de stretch, ou lycra, como no caso das meninas. Na parte de cima do corpo b-boys utilizam camisetas, em muitos casos extra largas com a logo de sua crew, e jaquetas de nylon ou tactel, principalmente para fazerem os movimentos que requerem intenso contato com o chão.

52 Camiseta extra larga com logo da crew. Foto: Ricardo Lobato

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Tênis:

O tênis com o fat lace, ou cadarço grosso, é um dos maiores símbolos do b-boy, fazendo parte inclusive dos gestos codificados desta dança (apresentados no capítulo 2). Como ressalta Fabricio: “gosto de colocar um fat lace”. Os tênis mais utilizados são os das marcas Puma, Adidas, Nike e Converse. Alguns, quando começaram a dançar e ainda não tinham dinheiro suficiente, pintavam uma listra na transversal em seus tênis, a fim de imitar o tênis da Puma.

Tênis da Puma com fat lace. Foto: Ricardo Lobato

Acessórios:

É comum ver b-boys com bonés, gorros e bandanas, especialmente utilizados para fazer giros de cabeça.

54 B-boy usando boné para fazer giro de cabeça. Foto: Ricardo Lobato

Os acessórios mais utilizados são correntes e/ou cinto (mais especificamente a fivela) com nome artístico ou de sua crew.

55 Um acessório importantíssimo é ter um boombox, ou como é conhecido nos EUA, guettoblasters, sistema de som típico dos anos 80, grande, podendo funcionar com pilha ou fonte de energia e muito utilizado para as rodas feitas nas ruas. Thaíde, rapper, conta que quando se encontravam na São Bento era comum que os policiais ameaçassem levar o boombox dos b-boys que ali estavam e como réplica eles diziam “isso não se fala para b-boy”44. Assim, podemos entender o boombox como um objeto “emblemático” para os b-boys, sendo cultuado como algo „intocável‟.

Boombox. Foto: Mr. Fê

Música:

A música está intimamente entrelaçada com a dança. Sô ressalta que na época que o breaking foi-se difundindo no Brasil, mesmo sem saber o nome certo, os rapazes dançavam mais justamente durante o break da música. As músicas consideradas próprias do estilo de dança b-boy são os funks dos anos 60 e 70, os break-beats e, em alguns casos, os raps. É também possível utilizar o beatbox para dançar. Muitos de seus membros escutam esses tipos de música no dia-a-dia, não somente na hora em que vão dançar.

Atitude performática:

A questão da agressividade na dança já foi abordada no decorrer do trabalho; no entanto, merece destaque aqui como característica da linguagem do breaking. O „ranço‟ ou a „marra‟ do b-boy, entendido como arrogância, força ou agressividade, um „estar sempre pronto para batalhar‟, é considerado como sendo algo „natural‟ ao b-boy,

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56 conforme enfatizado pelos entrevistados. Talvez possa ser explicado pelo contexto no qual a dança surgiu. É comum o b-boy, ao gesticular, enviar sinais de „superioridade‟, de „virilidade‟, de „força‟, de „destemia‟ (estas unidades sêmicas, estes “gestemas”, serão analisados nos capítulos 2 e 3). Essas características fazem parte da „atitude‟ de ser de um b-boy, ou seja, do estilo, da conduta esperada pelos demais integrantes do mundo Hip Hop.

57 Atitude do b-boy. Foto: Jamel Shabazz

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