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A linguagem e a fala no ensino de ciências

Sequências de Ensino Investigativas O aumento da quantidade de conhecimento adquirido e desenvolvido pela

4) As diferentes etapas das explicações científicas Esta última etapa deve ser uma atividade avaliativa (que terá como função tanto dar um feedback

3.3. A linguagem e a fala no ensino de ciências

Anteriormente discorremos sobre a importância do contexto para a validação e aceitação da linguagem em uma comunidade. A linguagem científica é uma maneira bastante singular de explicar a natureza e tem sua validade contornada por alguns pressupostos próprios da área em questão. Para que as explicações fornecidas pelos alunos sobre fenômenos da natureza estejam corretas para o prisma da cultura científica é necessário que os alunos saibam usar corretamente a linguagem, tanto no que concerne o uso dos conceitos, quanto em sua maneira de construir a lógica explicativa. Comenta Lemke (2007) que “ensinar ciências é ensinar a falar ciências” (1997), assim defendemos que a construção da linguagem científica deve ser também algo a considerar no processo do ensino das Ciências.

A linguagem constrói e apoia a construção de sentidos e ideologias de uma cultura. Neste sentido, o professor é responsável tanto por auxiliar a construção de entendimento sobre a cultura científica pela atribuição de sentido aos conceitos, quanto por possibilitar que os alunos se apropriem desta forma de validar e proferir as hipóteses a partir de uma linguagem específica6. Cabe ao professor levar os alunos da linguagem cotidiana, que os alunos apresentam em sala de aula com significados cotidianos, à linguagem científica, construção de significados aceitos pela comunidade científica (Carvalho, 2013). Essa construção deve ser realizada de maneira cuidadosa e cooperativa e tem um importante papel na construção de conceitos.

O ensino de ciências por meio de Sequências de Ensino Investigativas não se propõe a construir cenários em que o aluno será um cientista, uma vez que não há a pretensão nem a expectativa de que os alunos assumam este papel. O intuito desse ensino deve estar voltado para que eles adquiram conhecimento sobre a cultura específica das ciências e, dessa forma, a maneira mais apropriada de falar, validar e

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Devemos ter clareza que aqui a linguagem não é compreendida somente como ler e escrever textos escritos. Gráficos, tabelas, falas, entoações, gestos também fazem igualmente parte da linguagem científica e devem estar integradas ao ensino, pois são formas complementares de expressão.

construir conhecimento nessa cultura. A ampliação da cultura científica deverá se evidenciar na alfabetização científica dos alunos (Sasseron e Carvalho, 2008). Posto isto, em sala de aula deve haver a promoção da construção do conhecimento por meio de atividades investigativas e argumentativas que dialoguem com a cultura científica. Devem, portanto, reproduzir ações relativas e próprias a esta cultura e, nesse viés, percebemos que as SEIs são coerentes com os propósitos e encaminhamentos mencionados.

A alfabetização científica de um indivíduo, sob o ponto de vista adotado por Carvalho e Sasseron (2011), é algo interminável. Se a alfabetização pressupõe a análise e atuação na prática social, e temos clareza que esta está em constante movimento, a alfabetização científica também deverá se reajustar continuamente para acompanhar as mudanças da sociedade e das suas práticas. O mesmo pode se aplicar à compreensão da Alfabetização Científica, que defende o empreendimento do sujeito em sua autoformação, bem como uma postura interferente desse em seu contexto sócio, econômico e cultural.

O termo Alfabetização Científica assume diferentes nomenclaturas pelo mundo, como “Alfabetización Científica” para os espanhóis, “Scientific Literacy” na língua inglesa e “Alphabétisation Scientifique” nas publicações francesas. Ainda que as expressões utilizadas sejam distintas, segundo Sasseron e Carvalho (2011) a definição é similar. Segundo estas autoras, os termos são utilizados para:

(...) designar o ensino cujo objetivo seria a promoção de capacidades e competências entre os estudantes capazes de permitir- lhes a participação nos processos de decisões do dia-a-dia. (...) Gerard Fourez (...) parte, pois, da ideia de que a Alfabetização Científica é a promoção de uma cultura científica e tecnológica e, assim sendo, argumenta que ela é necessária como fator de inserção dos cidadãos na sociedade atual. (p. 60)

Ainda que designem uma definição análoga e que muitas vezes estas se complementem, adotaremos aqui, sem nenhum desmerecimento dos outros termos, o uso da expressão Alfabetização Científica. Esta escolha se deu, pois, para nós, o termo defendido e definido por Paulo Freire de Alfabetização se aproxima com o sentido adotado nesta pesquisa.

A alfabetização é mais que o simples domínio psicológico e mecânico de técnicas de escrever e de ler. É o domínio destas técnicas em termos conscientes. (...) Implica numa autoformação de que possa resultar uma postura interferente sobre seu contexto. (Paulo Freire, 1980, p. 111)

Dando continuidade ao que fora dito anteriormente ao falarmos sobre Alfabetização Científica, estamos pressupondo uma abordagem que propõe aos alunos que

(...) conheçam a natureza da ciência e os fundamentos de como é gerado o conhecimento científico e que aprendam não somente conceitos, mas sim competências relacionadas com o modo de fazer e pensar da ciência que lhes permitam participar como cidadãos críticos e responsáveis em um mundo em que a ciência e a tecnologia desempenham um papel fundamental. (Furman e Podestá, 2009, p.41, tradução nossa)

Em todas as áreas, a alfabetização deve pressupor uma análise e atuação na prática social. Ciente das intempéries da história, das mudanças do contexto cultural e social, é imprescindível que o ensino em sala de aula se reajuste continuamente para acompanhar as mudanças da sociedade e das suas práticas, levando em consideração sua efemeridade ou permanência. Temos aqui, então, que o termo Alfabetização Científica designa a educação que tem como objetivo a formação de sujeitos capazes de organizar o pensamento de forma lógica e de atuarem criticamente no mundo que os cerca a partir do uso dos conceitos aprendidos e das reflexões suscitadas em sala. O professor, neste contexto, é o responsável e promotor da construção da linguagem argumentativa científica.

4. Ações

docentes

para

a