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Signos, mediação e interação social

contrapontos com a Epistemologia Genética Na década de 20, no interior da Rússia pós-revolucionária, o linguista russo Le

2.4. Signos, mediação e interação social

Bakhtin estudou, entre tantas outras coisas, como a consciência individual e a interação social estão relacionadas e articuladas por meio do signo linguístico. O signo carrega a história particular do sujeito, mas também carrega a história compartilhada da sociedade que o perpetua. Peguemos como exemplo a palavra suástica. A suástica surgiu como um símbolo místico encontrado em diferentes culturas, como a dos Astecas e dos budistas, entre outros. Após sua adoção pela comunidade nazista, este signo passou a simbolizar muito mais um momento da história humana de extrema violência e genocídio, do que o símbolo místico. O signo linguístico é mais que a representação particular de um indivíduo sobre determinado conceito. É a mescla disto com as marcas da história. É a união do significado e do significante, à práxis social.

De acordo com Bakhtin (2009), a palavra é um signo ideológico por excelência. Ele é simultaneamente uma “ponte” entre mim e o outro, aquilo que me liga ao outro, é o fio entre a consciência individual e coletiva, tecendo as interações e relações sociais.

Sobre o processo de construção dos sentidos das palavras, Vygotsky (1984) diz:

Desde os primeiros dias do desenvolvimento da criança, suas atividades adquirem um significado próprio num sistema de comportamento social e, sendo dirigidas a objetivos definidos, são refratadas através do prisma do ambiente da criança. O caminho do objeto até a criança e desta até o objeto passa através de outra pessoa. Essa estrutura humana complexa é o produto de um processo de desenvolvimento profundamente enraizado nas ligações entre história individual e história social. (p. 33)

A passagem do ser biológico ao ser social, sua humanização, ocorre no seio do processo de significação do mundo, percurso permeado pelas palavras e situações que as significam. Na aquisição dos signos linguísticos, o sujeito reconstrói o significado social atado ao signo e incorpora a ele percepções subjetivas e pessoais construídas no ambiente de sua formação. Este processo costuma ser tutorado por um outro sujeito já inserido neste contexto social. Neste ínterim, entre se apropriar de signos socialmente construídos e modificá-los a partir de sua vivência, o signo demonstra um caráter maleável (Bakhtin, 2009). Os signos são produzidos nas relações, ao passo que também produzem relações inter e intrapessoais. Sendo assim, são inerentes ao humanizar.

Os signos a todo momento estão sujeitos a serem subjetiva e individualmente (re)elaborados pelos diferentes indivíduos que compõem um grupo social e partilham de uma mesma língua. Esse movimento pode resultar em compreensões díspares sobre um mesmo ponto. Para que os sujeitos de um grupo social possam se comunicar e compreender uns aos outros, é necessária a contínua negociação de qual sentido será adotado por aquele grupo em determinado contexto. Dominar, deter e compreender signos é fazer e ser parte do processo humanizante.

Entende-se que a caracterização do objeto de conhecimento é importante, uma vez que ele tem implicações tanto no processo de humanização quanto no contexto educacional, pois é preciso que ele tenha algum sentido e significado para o sujeito que se aproprie dele, ou seja, que possibilite a esse sujeito adquirir novos saberes, habilidades e capacidades. (Gehlen, Delizoicov, 2012, p.63)

Em um ambiente educacional, cabe ao professor o investimento nessa negociação de sentido, devendo propor e nortear discussões com a finalidade de, entre outras coisas, delimitar a compreensão deste conceito, em uma dada situação, para um dado grupo. Vale ressaltar que não há a pretensão de defender a construção idêntica de um sistema de significados, pois é impossível acessar a real compreensão de cada sujeito, tendo em vista os aspectos simbólicos e subjetivos que influenciam esse processo.

Conforme as funções superiores se desenvolvem, cada vez menos as relações sujeito-objeto serão diretas por serem influenciadas pelo signo que, com as experiências de vida (e aqui entram experiências pessoais e sociais, a exemplo da palavra suástica, conforme citado anteriormente), tornam-se carregadas de lembranças, significados, relações e, portanto, se complexificam e agregam novos sentidos. As relações mediadas são estruturas de representação complexas, que vão além do sujeito-objeto.

A partir deste prisma, temos que o mundo é mediado pelos signos e símbolos e que estes e os fatores internos atuam e direcionam as ações do sujeito. O signo atua no sujeito e é por ele modificado e ressignificado sendo impossível, neste vai e vem, resgatar a subordinação de qualquer uma das partes: signo altera sujeito, que altera signo, constituindo uma relação dialógica.

A importância do compartilhamento de significados dentro de um ensino que visa a momentos de troca e construção coletiva de conhecimento, associada à inalcançável rede pessoal de signos, demanda que a tarefa de negociar sentidos aconteça de maneira recorrente. Isso exige do professor a antecipação e o planejamento de ações com este propósito. Dentro da dinâmica escolar e prática do professor nem sempre as situações de negociação de sentido ocorrem de forma consciente e planejada, nem por isso deixam de ser importantes nas sequências de ensino, pois todas as ações docentes corroboram para a construção do conhecimento.

Atribuir significados semelhantes aos signos é fundamental para que a interação entre os sujeitos possa acontecer. Em sala de aula é importante, desta maneira, que ocorra a construção de um corpo coletivo de conhecimento e de atribuição de significados análogos, para que os sujeitos que compõem este mundo social possam dialogar, trocar e interagir.

2.5. Contexto e a construção do signo no