• Nenhum resultado encontrado

4.3 A velhice e os diferentes sujeitos de direito trazidos pela Constituição Federal de 1988

4.3.1 A Loas e o Estatuto do Idoso – Pontuações necessárias

O artigo 34 do Estatuto do Idoso tem sido motivo de grandes discussões doutrinárias, fazendo-se necessário pontuá-las.

A redação do artigo 34 é a seguinte:

Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, que não possuam meios para prover sua subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o benefício mensal de 1 (um) salário mínimo, nos termos da Lei Orgânica da Assistência Social.

Parágrafo único: O benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos do caput não será computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas.

Primeiramente, cumpre observar que o Estatuto do Idoso abre um precedente, permitindo, no parágrafo único do artigo transcrito, o recebimento cumulativo do benefício de prestação continuada, em caso de cônjuge que já recebe o benefício assistencial, não o computando para os fins do cálculo da renda per capita.

No entender do autor Vilas Boas, essa exceção trazida pelo parágrafo único do artigo 34 do estatuto enfraqueceu os dizeres do artigo 20, parágrafo 3º da Loas, que fixava como parâmetro um quarto do salário mínimo para uma situação de incapacidade econômica: “O parágrafo em pauta nada mais fez que possibilitar, na prática, o aumento do teto financeiro para considerar o idoso pobre”135.

Até o Estatuto do Idoso, a questão da renda per capita era absoluta. Entretanto, a partir da Lei nº 10.741/03, esse critério foi relativizado, permitindo o recebimento conjunto do benefício em caso de cônjuge que já receba o benefício da prestação continuada.

Há divergência doutrinária também quanto à idade definida pelo Estatuto do Idoso em seu artigo 1º (60 anos) e a idade para obtenção do benefício assistencial, no artigo 34 (65 anos).

Horvath Jr.136entende que há incongruência no Estatuto do Idoso, na medida em que, apesar de definir como idoso aquele com mais de 60 anos, garante o benefício assistencial apenas àquele com mais de 65 anos.

135 Estatuto do Idoso comentado, p. 76.

Compartilha do mesmo entendimento Fluminham137, concluindo que:

Com a não-recepção do disposto no artigo 34 do Estatuto do Idoso, entendemos que a nova idade mínima para a concessão do benefício assistencial deve ser regulada pelo artigo 1º da mesma Lei, já que, ao contrário do artigo 2º da Lei nº 8.842/94 – Política Nacional do Idoso, a idade de 60 anos foi eleita para definir o idoso sem qualquer ressalva.

Para o autor, não se justifica um discrime do Estatuto, desigualando os idosos no próprio texto legal, em que define como idoso aquele com mais de 60 anos de idade. Considera uma afronta ao princípio da isonomia e, portanto, inconstitucional. Com todo o respeito ao entendimento desses autores, divergimos de sua posição. Como bem esclarecido neste subitem do trabalho, o legislador constituinte tratou de diferenciar os diversos sujeitos de direito em razão da velhice.

Não houve infringência ao Texto Constitucional, pois o idoso é assim considerado simplesmente pelo critério cronológico disposto no Estatuto, enquanto o sujeito com direito ao benefício de prestação continuada é outro: o incapaz de prover seu próprio sustento.

Como já foi dito, o idoso não é necessariamente velho, mas o velho é necessariamente idoso. Ser velho é ser mais do que ser idoso.

Aos maiores de 60 anos o Estatuto assegura uma gama de direitos, nas suas várias ramificações, possíveis a partir da tríplice conjugação Estado-família-sociedade. Entre esses direitos, inclui-se o previdenciário (artigos 29 a 32) e o assistencial (artigos 33 a 36). O direito previdenciário, com sua legislação específica, elenca os benefícios e serviços por ela dispostos na Lei nº 8.213/91, e a assistência social, também na sua legislação específica, Lei nº 8.742/93, regula o amparo social.

Se entendermos que a idade trazida pelo Estatuto deveria abranger todo o sistema de proteção ao idoso, também a legislação previdenciária deveria sofrer modificações, pela ‘incompatibilidade’ de diferentes idades para a obtenção do benefício etário, variando desde os 55 anos para a trabalhadora rural até os 70 anos para a aposentadoria por idade da modalidade compulsória.

Compartilhamos do entendimento do autor Barra138, que conclui:

O bem maior tutelado na Lei nº 10.741/03, o direito dos idosos, resta guarnecido no texto constitucional de forma a autorizar tratamento diferenciado em algumas circunstâncias, inclusive para a efetivação dos princípios sociais previstos.

137 “Estatuto do Idoso: inconstitucionalidade do artigo 34 e seus reflexos no benefício assistencial da Loas”, p. 67. 138 “O Estatuto do Idoso sob a óptica do sistema de seguridade social”, p. 113.

6 2

Não há que se falar em afronta ao princípio da isonomia, pois foi exatamente para preservá-la que o legislador constituinte diferenciou os sujeitos de direito, dispondo- os em momentos distintos no Texto Constitucional: artigos 201, I; 203, I e V; e 230. Estaria, sim, ferindo a Constituição se os tratasse de maneira eqüitativa, pois não são iguais. A igualdade aristotélica consiste em tratar igualmente os iguais, e desigualmente os desiguais. Questiona Melo:

Que espécie de igualdade veda e que tipo de desigualdade faculta a discriminação de situações e de pessoas, sem quebra e agressão aos objetivos transfundidos no princípio constitucional da isonomia?139

Respondendo ao próprio questionamento, o autor responde:

Qualquer elemento residente nas coisas, pessoas ou situações pode ser escolhido pela lei como fator discriminatório, donde se segue que, de regra, não é no traço de diferenciação escolhido que se deve buscar algum desacato ao princípio isonômico.140

Não há, portanto, nenhuma inconstitucionalidade a ser declarada, a nosso ver, nas diferentes idades dispostas no Estatuto do Idoso.

Verifica-se, portanto, que há idades diferentes na proteção aos idosos, diversificando os sujeitos com distintas coberturas, que podem advir da previdência social (aposentadorias por idade), da assistência social (Lei Orgânica da Assistência Social – Loas) e das demais funções do trinômio família-sociedade-Estado que visam atender à coletividade idosa (Estatuto do Idoso – Lei nº 10.741/03). Entretanto, todas convergem para um mesmo ponto: proporcionar um envelhecimento digno; reconhecer o idoso como verdadeiro sujeito de direito e incluí-lo definitivamente na sociedade.

139 Conteúdo jurídico do princípio da igualdade, p. 11. 140 Id. ibid., p. 17.

Capítulo V

A aposentadoria por idade

Capítulo VI

Aposentadoria por idade do trabalhador urbano

Capítulo VII

Aposentadoria por idade do trabalhador rural

Capítulo VIII

Aposentadoria por idade compulsória

Capítulo IX

6 4

CAPÍTULO V

A APOSENTADORIA POR IDADE