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Diante da iminente modificação da pirâmide demográfica mundial, ocasionada pelo aumento da expectativa de vida dos idosos e também pela diminuição significativa da fecundidade, os dados econômicos, sociais e políticos precisam ser revistos.

Além disso, a idade em que se inicia o direito a prestações assistenciais ou previdenciárias também tem sido objeto de muita discussão em vários países.

Demograficamente, a velhice tem sido vista sob um olhar bastante preocupante em todo o mundo.

O fato é que a população mundial vem envelhecendo de forma gradativa. Isso tem ocorrido devido a dois fatores: a diminuição da natalidade e o aumento da expectativa de sobrevida.

Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)70, o fenômeno do envelhecimento é global e deve-se basicamente aos seguintes fatores:

• A expectativa de vida aumentou em dezenove anos desde 1950.

• O número de pessoas com mais de 60 anos têm aumentado consideravelmente. Hoje, a média é de uma pessoa idosa em cada dez. Estima-se que a relação seja de

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uma em cada cinco na média mundial e de uma em cada três nos países desenvolvidos.

• Estima-se que o número de pessoas com mais de 100 anos aumente quinze vezes, projetando uma média de centenários da ordem de 2,2 milhões em 2050. • Entre 1999 e 2050, o número de pessoas ativas (entre 15 e 64 anos) e inativas

(65 anos ou mais) diminuirá em menos da metade nas regiões desenvolvidas e em número ainda menor nas menos desenvolvidas.

O problema não é só do Brasil, mas de âmbito mundial. A Tabela 171mostra o declínio das taxas de fertilidade em alguns países, chegando a 61,3% na China e a 30,4% no Brasil.

O aumento da expectativa de sobrevida também vem preocupando as autoridades no mundo inteiro.

A Organização Pan-Americana da Saúde, em convênio interagencial integrado pela Comissão Econômica da América Latina e Caribe (Cepal), o Fundo de Populações das Nações Unidas (Fnuap), o Programa de Envelhecimento das Nações Unidas, a

Tabela 1 – Percentagem de declínio das taxas de fertilidade total para uma seleção de países, 1965 a 1982

Países TFT 1965-82 (% declínio) Nigéria 0,0 Etiópia 3,0 Argélia 5,4 Egito 22,0 Bolívia 4,6 Brasil 30,4 Colômbia 42,9 Cuba 55,6 Guatemala 21,2 Honduras 10,8 Países TFT 1965-82 (% declínio) Jamaica 37,1 México 31,3 Nicarágua 12,5 Peru 30,8 Índia 18,7 Paquistão 22,7 China 61,3 Filipinas 38,2 Tailândia 42,9 Fonte: Hugo (1985).

71 Tabela apresentada no Congresso Internacional de Gerontologia, realizado em Nova York no ano de 1985. Apud Revista

de Saúde Pública, v. 21 n. 3, São Paulo, jun. 1987, de autoria de Luiz Roberto Ramos, Renato P. Veras, Alexandre Kalache, sob o título “Envelhecimento populacional: uma realidade brasileira”.

Organização Internacional do Trabalho (OIT) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e com a colaboração de diversos países da região, desenvolveu a pesquisa ‘Sabe’ (Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento), com o objetivo de coletar informações sobre os idosos.

A pesquisa mostra que o envelhecimento da população é um fato global, e não só regional. Dentre os idosos, as mulheres são em maior número e vivem, em sua maioria, nas áreas urbanas.

Segundo dados do IBGE, até 2025 o Brasil terá 52 milhões de pessoas com idade superior a 60 anos.

Desse número, as mulheres, como já foi dito, serão em maior número, diante da expectativa de vida maior que a dos homens.

A diminuição da natalidade vem contribuindo para a brusca alteração da demografia mundial, considerando que a média de filhos por casal tem diminuído consideravelmente.

A Tabela 2 mostra a diminuição da taxa de fecundidade para o período de 1960 a 2020, ocorrida no Brasil.

O resultado do aumento da expectativa de sobrevida com a diminuição da natalidade vem provocando significativa modificação na pirâmide demográfica mundial.

Tabela 2 – Taxa de fecundidade

Anos Taxa de fecundidade (%)

1960 6,21 1970 5,76 1980 4,01 1990 2,50 2000 2,04 2010 1,85 2020 1,81

Fonte: IBGE, Anuários Estatísticos 1965, 1982, 1992, 1994 e 1996

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O Gráfico 172 mostra essa inversão demográfica da população de 80 anos ou mais de idade. Em 1980, seu número era inexpressivo, mas estima-se que, em 2050, a população idosa chegará a um número próximo dos 14 milhões.

Gráfico 1 – BRASIL: Evolução da população de 80 anos ou mais de idade por sexo – Brasil: 1980/2050

Num futuro próximo, haverá mais idosos do que jovens, e a Previdência Social tem importante papel nessa mudança demográfica, devendo se preparar para oferecer a todos a proteção social de que necessitarão.

A crise previdenciária é mundial. Tanto os países desenvolvidos como os países em desenvolvimento têm procurado melhorar e ampliar as políticas públicas de proteção, visando proporcionar aos idosos vida digna e o descanso merecido na velhice. Dentro de pouco tempo, teremos uma porcentagem muito grande de indivíduos inativos e uma pequena minoria ativa sustentando o insustentável e colocando em risco os sistemas de proteção social.

Para Mendes, a iminente modificação demográfica clama por decisões urgentes, pois, segundo ele, “o risco de exclusão dos velhos solicita respostas compatíveis com as noções de cidadania entretanto firmadas, ao mesmo tempo que estimula a

Fonte: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/estimativa2004/metodologia.pdf

revalorização dos vínculos de proximidade, que estão hoje no coração das novas políticas públicas dirigidas à inclusão social dos idosos”73.

A Organização Ibero-Americana de Seguridade Social (Oiss), composta pelos países que fazem parte do Cone Sul (Brasil, Chile, Argentina, Uruguai e Paraguai), está elaborando um plano de ação cujo objetivo final é estruturar um observatório sobre o envelhecimento nesses países, que permitirá consultas e, ao mesmo tempo, a obtenção de informações sobre a terceira idade. Isso mostra a preocupação das autoridades, não só da América Latina, mas do mundo todo, em cuidar mais atentamente do problema do envelhecimento mundial.

Apesar da inegável otimização do envelhecimento, pela melhoria das condições de vida do ser humano, proporcionando-lhe maior longevidade, outros problemas surgem paralelamente e não podem ser esquecidos.

Mendes74apresenta três grandes fontes de incerteza que os progressos da longevidade e as mutações econômicas contemporâneas trazem para a sociedade.

A primeira incerteza é a ameaça à empregabilidade. O alcance de idades superiores a 40 anos tem denunciado graves crises de desemprego em todos os países, causadas pela robotização e falta de mão-de-obra especializada. O que dizer dos maiores de 60 anos, por exemplo, que, mesmo aptos a exercer atividades profissionais, são colocados em situação de fragilidade pela própria lei, que os considera idosos?

Para Horvath Jr., o “desemprego é a maior tragédia mundial porque atinge diretamente o indivíduo, destruindo a auto-estima do trabalhador, o induz ao crime, provoca destruição da família, sendo um elemento desagregador da vida em sociedade”75. Outra fonte de incerteza indicada pelo autor português é a qualidade de vida desses idosos, que viverão além da idade convencional de retirada do mercado de trabalho, o que leva à necessidade de criar “apoios continuados nas situações de dependência crônica”, ocupação do tempo ocioso, com atividades dirigidas, integrando o idoso ao meio social da terceira e quarta idades, além de uma maior e imprescindível participação da família e da sociedade.

A terceira e última fonte de incerteza apontada pelo autor é quanto aos montantes e à continuidade das prestações substitutivas do rendimento, diante de uma perspectiva de sobrevivência superior a dez anos da idade necessária para o recebimento da prestação securitária, resultando numa generalizada inquietação quanto à sustentabilidade dos sistemas públicos de proteção.

73 Conspiração grisalha, p. 247. 74 Id. ibid., p. 245-6.

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Evidentemente, é preciso difundir a idéia de seguridade social, ainda em ascensão nos países em desenvolvimento, mas o trabalho de inclusão social global tem demonstrado o interesse das autoridades em trazer para o sistema securitário o maior número possível de adeptos.

Para Pastor76, a seguridade deveria ser universal e em forma de assistência social pública, entendendo o autor que é nesse sentido que deve convergir todo o sistema securitário.

Os estudos do Sabe77mostraram que a principal fonte de renda do idoso vem do trabalho, seguido pela renda de alugueres, mas ainda há muitos trabalhadores na informalidade, excluídos do amparo social.

Como a fixação da idade para aposentadoria é um critério subjetivo, cada país adota o seu, considerando as variáveis sociais, econômicas, políticas e culturais.

Diante do aumento consecutivo da expectativa de sobrevida dos idosos, alguns países já vêm modificando a idade mínima para aposentadoria, destacando que a idéia prevalecente é o requisito etário em detrimento da “pensión de vejez”.

A Organização Internacional do Trabalho adotou, em 1952, as Normas Mínimas de Seguridade Social e, em seu artigo 26, estabelece a idade de 65 anos para os trabalhadores em geral. É um padrão mínimo a ser considerado para efeito de aposentadoria.

Colômbia78e Cuba fixaram a idade para aposentadoria igual à idade para aposentadoria do trabalhador rural do Brasil, ou seja, de 60 anos para o homem e 55 para a mulher. Na Alemanha, Islândia e Suécia, a idade para a aposentadoria está em 67 anos. Diferentemente, França, Itália e Rússia têm baixado a idade para a aposentadoria, fixando-a em 60 anos79, diante da juventude demográfica existente nesses países.

Com exceção dos dois primeiros países (Colômbia e Cuba), não há diferença de idade para a aposentadoria, dentre os exemplos ora mencionados, entre homens e mulheres, sendo exigida a igualdade entre os sexos nos demais países.

76 Derecho de la Seguridad Social, p. 6. 77 Saúde, Bem-estar e Envelhecimento, p. 253.

78 A Colômbia já se programou para alterar a idade para 62 e 57 anos, respectivamente, para homem e mulher.

79 Paul Durand critica o rebaixamento da idade de jubilação de 65 para 60 anos fixado pela França, mas a justificativa está em se atingir um número maior de beneficiários com essa medida. O autor destaca que, com 60 anos de idade, os aposentados seriam 28 por 100 produtores e, se mantivesse a idade em 65 anos, esse número cairia 33% (La política contemporánea de

No Brasil, ainda existe diferença de idade entre os sexos e entre a natureza do trabalho exercido pelo trabalhador, se urbano ou rural, como se verá oportunamente neste trabalho.

Durand80afirma que o sexo e a profissão são elementos importantes na decisão a ser tomada por um país para adotar uma idade de jubilação. Deve-se levar em conta a situação fisiológica do organismo e, neste ponto, a mulher tem menos resistência do que o homem; há ainda a questão do trabalho penoso ou exposto a condições agressivas à saúde, que influenciam sobremaneira a chegada precoce ou tardia do envelhecimento. Cabe ressaltar ainda a busca pela universalização da proteção para atingir um sistema ideal de seguridade social. Foi essa direção que a França, a Itália e a Rússia tomaram, ao diminuir a idade para fazer jus à prestação previdenciária, pois assim poderia ser abarcado o maior número de segurados possível; se tivessem acompanhado Alemanha, Suécia ou Islândia, apesar de o benefício etário nesses países ser iniciado aos 67 anos, poucos seriam aqueles albergados pelo sistema protetivo no momento histórico em que vivem.

Muito interessante o modo como o autor Nogueira81refere-se ao ‘antecipado’ direito da mulher para aposentação, chamando esse gesto de “o cavalheirismo com o sexo fraco”.

Durand82entende ainda que o desequilíbrio demográfico contemporâneo complica a organização do sistema de seguro à velhice na maior parte dos países. Como exemplo, o autor destaca a Inglaterra que, antes da guerra de 1939, havia voltado todo o seu esforço para a questão do desemprego (e obteve vitória), mas atualmente enfrenta um problema ainda maior: a população inglesa está condenada a um desemprego natural, pois o número de pessoas que adquirem o direito à chamada “pensión de vejez” é quase o dobro das pessoas que se encontram na ativa.

As políticas de proteção à terceira idade têm sido muito discutidas nos últimos tempos, evoluindo e dando passos cada vez maiores. Na mesma proporção, ou até em conseqüência dessas medidas protetivas, ocorreu uma mudança na pirâmide demográfica, na qual os anciãos serão em maior número muito em breve.

O Direito da Seguridade Social tem importante papel nessa evolução, pois cabe- lhe a busca pela proteção universal com benefícios e também com serviços sociais.

80 Id. ibid., p. 256-7.

81 A crise moral e financeira da Previdência Social, p. 67. 82 La política contemporánea de Seguridad Social, p. 257.

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Em 2002, na II Assembléia Internacional sobre o Envelhecimento promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU)83, ocorrida em Madri, ficou evidente a preocupação mundial com o aumento desenfreado da terceira idade. Foi elaborado um Plano de Ação Internacional sobre o Envelhecimento, sugerindo mudanças de atitude, políticas e práticas em todos os setores, tendo em vista a necessidade de concretizar as enormes potencialidades do envelhecimento do século XXI.

Caso essas medidas de proteção não sejam efetivadas, corremos o risco de uma crise sem proporções em todos os segmentos. Se já existe um desequilíbrio do sistema securitário mundial, com um déficit que cresce a cada ano, a situação tende a ficar ainda mais dramática se não forem criadas políticas públicas capazes de atender à iminente demanda no amparo ao envelhecimento.