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A manga de exportação do VSF: circuitos, variedades e qualidade

Em nível global, três grandes fluxos de comercialização da manga se destacam: “América do Sul e Central, que abastecem o mercado norte-americano, europeu e japonês; a Ásia, que preferencialmente exporta para países dentro de sua própria região e para o Oriente Médio; a África, que comercializa [...] no mercado europeu” (WYZYKOWSKI; ARAÚJO; ALMEIDA, 2002, p. 438). O avanço e a dinâmica desses mercados fez com que as relações se tornassem mais vascularizadas, a exemplo das transações que América do Sul realiza com países da África e do Oriente Médio.

O surgimento dos fluxos globais de comercialização da manga se deu a partir da década de 1980, tendo como bojo contextual de ampliação subsequente as políticas de liberalização do mercado e redução das barreiras de negociação. Esse movimento é marcado simultaneamente pela redução das barreiras tarifárias e pelo aumento das barreiras não tarifárias. Assim, por exemplo, ao mesmo instante que se presencia a eliminação integral de tarifas à manga exportada por parte da União Europeia, nota-se igualmente a elevação das restrições e impedimentos não tarifários, associados ao controle fitossanitário e à inspeção das condições de produção e tratamento pós-colheita (PIMENTEL; ALVES; FILGUEIRAS, 2000, p. 11-12). Esse comportamento de elevação do controle sobre o produto importado, em

verdade, se apresentou como uma tendência global que afetou os diversos territórios, regiões e países com produção de manga destinada à exportação.

A expansão dos mercados da manga pelo mundo implicou, concomitantemente, na ascensão de novos territórios e elevação dos níveis de competitividade. A disputa por maiores fatias dos mercados norte-americano e europeu, os grandes importadores mundiais, é o grande cenário de embate contemporâneo entre os países produtores da América do Sul e Caribe. Na percepção de Pimentel, Alves e Filgueiras (2000), a variação no preço da manga no mercado internacional, durante a década de 1990, reflete o movimento de ampliação da oferta da fruta nos mercados globais, tanto pelo incremento produtivo de países exportadores tradicionais, como pela inserção de novas regiões nesses circuitos comerciais. A oscilação nos preços dos itens agrícolas de exportação fomenta indiretamente a construção de novas rotas e fluxos comerciais com vistas à obtenção de melhores negócios por parte dos produtores. É neste sentido, por exemplo, que a ampliação da oferta do fruto, no mercado interno, ocorre paralelamente à queda do preço nas negociações externas. Porém, o que este panorama indica, na verdade, é que, no início do século XXI, as regiões produtoras e os circuitos de comercialização já estavam solidamente estabelecidos, sendo a competitividade uma característica indissociável destes circuitos.

Neste sentido, os selos de certificação comprovadores da qualidade e sanidade passam a ser uma realidade neste cenário produtivo e comercial das frutas frescas exportadas pelos Brasil. Como tendência global destas transações comerciais, as certificações em torno das frutas frescas figuram como exigências de todos os países desenvolvidos importadores (CINTRA; VITTI; BOTEON, 2003). Há que se destacar neste sentido, a atuação do Estado brasileiro entre os anos 1990 e 2000, que por meio do MAPA criou o selo de Produção Integrada de Frutas - PIF, cujo objetivo principal era fomentar uma produção de alta qualidade visando à ampliação da participação no mercado externo. O PIF se constitui como uma espécie de rastreamento produtivo, o qual confere um selo de certificação facilitando as transações com o mercado externo, composto por Normas Técnicas Específicas – NTE’s que visam ao aperfeiçoamento da organização da produção e implantação da rastreabilidade.

As Normas Técnicas Específicas (NTE) da PIF são divididas em áreas temáticas, no total de 15, tanto para a uva como para manga. Estas têm uma série de determinações classificadas como obrigatórias, recomendadas, proibidas e permitidas com restrição. [...] As áreas temáticas são dívidas em capacitação, organização de produtores, recursos naturais, material propagativo, implantação de pomares, nutrição de plantas manejo do solo, irrigação, manejo da área, proteção integrada da planta, colheita e pós-colheita, análise de resíduos, processos de

empacotamento, sistema de rastreabilidade e cadernos de campo e de pós-colheita (ARAÚJO, G., 2011, p. 100).

A rastreabilidade é uma das dimensões mais relevante do PIF, tendo significado tanto um aperfeiçoamento administrativo na gestão da produção quanto à introdução de novas rotinas de monitoramento. Se observarmos a Instrução Normativa/SARC nº 12, de 18 de setembro de 200328 que estabelece as Normas Técnicas Específicas para a Produção Integrada de Manga – NTEPI MANGA, especificamente nas adequações obrigatórias referentes às áreas temáticas de “colheita e pós-colheita” e “processos de empacotadoras” é perceptível quão contundente são as adequações pressupostas para a incorporação da certificação PIF. Os procedimentos de rastreabilidade estão atrelados à implantação de mecanismos de administração e controle mais rigorosos, como a divisão da área produtiva, o registro contínuo e detalhado em cadernos de campo e de pós-colheita, identificação da unidade de colheita no pomar por meio de etiquetação, processamento das frutas em lotes homogêneos e adoção de modelos produtivos que permitam a identificação dos lotes, tanto no campo como nas packing houses.

Embora facilite o processo de exportação e agregue segurança ao importador, esta certificação nacional não é suficiente para os países importadores, existindo uma diversidade de outras certificações e inspeções exigidas por esses compradores. Sobre este contexto, destacam que,

Um ponto relevante a ser observado é que a Produção Integrada de Frutas (PIF) é um programa regulamentado pelo Brasil e se difere em alguns pontos da Produção Integrada difundida nos principais produtores e importadores mundiais de frutas. Em cada país, há diferenças em suas normas quanto ao uso de produtos químicos, carências, manejo em geral etc., por isso, o PIF não garante totalmente a aceitação do produto brasileiro no mercado externo (CINTRA; VITTI; BOTEON, 2003, p.4).

Certamente que mesmo não sendo o mecanismo de certificação definitivamente mais relevante para exportadores de manga do VSF, ainda assim o PIF cumpriu um papel importante no desenvolvimento da produção de frutas no país, tendo colaborado para a evolução de certas práticas produtivas e administrativas. Estas, por sua vez, eram parte integrante de requisitos obrigatórios, constantes nos protocolos dos selos e certificações internacionais que se consolidaram, ao longo da década de 2000.

28 Publicada no Diário Oficial da União em 25 de setembro de 2003. Disponível em:

A implantação do Sistema de Cadastro dos Agentes da Cadeia Produtiva de Vegetais e seus Produtos, cujo instrumento de criação foi a Instrução Normativa nº 66/200329, também se caracterizou como uma ação relevante do Estado brasileiro, no sentido de regulamentar os segmentos produtivos voltados à exportação. Esse cadastro é permanentemente atualizado com a entrada ou saída de empresas, assim como com novas informações das empresas constantes, funcionando como um banco de dados para supervisão acerca dos produtos e dos procedimentos de produção adotados. Neste sentido, foi criado atendendo aos compromissos estabelecidos pelo governo nacional em diversos acordos firmados com outros países, em um movimento que corresponde à regulamentação nacional da produção para adequação aos padrões internacionais já vigentes nos mercados. Cavalcanti (1997) e Guedes Sena e Toledo (2007) adicionam um elemento a essa discussão que diz respeito, propriamente, ao modo como as certificações foram utilizadas e significadas pelos produtores brasileiros de frutas, enquanto parte das estratégias de melhor inserção nos mercados internacionais.

A competitividade no segmento das mangas de exportação é bastante elevada, sobretudo quando se observa a atuação dos concorrentes da fruta brasileira. De acordo com Pimentel, Alves e Filgueiras (2000, p. 13), no início do século XX, “Peru e Equador cuja época de colheita coincide com a do Brasil” eram fortes concorrentes no mercado externo, pois à época, estavam conseguindo responder mais rapidamente a alguns estímulos dos compradores internacionais. Nesse sentido, foi possível perceber, que ao longo da década de 2000, em resposta ao mercado, as empresas exportadoras de manga do território do VSF atuaram no sentido de diminuir da dependência da variedade Tommy Atkins, adotando novas variedades da fruta menos fibrosas e mais palatáveis, bem como aprimoraram o produto final aperfeiçoando a apresentação através de novas embalagens, melhor acondicionamento, selagem do fruto e outros procedimentos. É preciso destacar a este respeito que a as empresas realizaram investimentos e aperfeiçoaram os processos produtivos, sobretudo aqueles correspondentes ao universo das packing houses, isto é, ao âmbito do manejo e tratamento pós-colheita.

A manga do VSF que acessa o mercado externo é vendida, na grande maioria dos casos, por consignação. Isso significa dizer que o valor da fruta será estipulado no seu local de destino, com grandes riscos para os exportadores. Situações como essa, na verdade, são devidamente calculadas pelas empresas e acontecem muito raramente, pois a produção é

planejada justamente com vistas a atingir os momentos específicos do mercado, em que, em virtude da baixa oferta global, os preços tendem a ser bastante vantajosos.

A produção interna de manga na Europa é bastante limitada frente à demanda existente, de tal modo que as regiões produtoras do sul da Espanha e a porção meridional da Itália não bastam suficientes. A penetração que a manga do VSF possui nesse continente diz respeito ao fato de que esta região mantém a oferta em um período de maior elasticidade que compreende os meses de agosto até dezembro. Nos meses de agosto e setembro, a manga do VSF praticamente não tem concorrência dos países latino-americanos, mas nos dois meses finais do ano já concorre no mercado europeu com Equador e Peru. No que pesa às exportações para os Estados Unidos, a manga do VSF chega ao mercado nos meses de agosto, setembro e outubro, quando o México, maior vendedor da fruta para os norte-americanos, já se encontra em fins de safra. Destaca-se aqui mais uma janela de mercado em que a manga nacional chega competitiva ao seu destino de negociação. Nesse mesmo período, Equador e Honduras ofertam também para o mercado em questão, sendo que, neste caso, a competição apresenta-se menos intensa do que quando das relações com os mercados europeus.

Através da organização produtiva de arranjo escalonado, possível através do uso da biotecnologia na indução das floradas, assim como utilizando das condições endoclimáticas favoráveis, o VSF consegue produzir manga durante muitos meses do ano, controlando sua oferta quando possível, e buscando acessar as janelas de mercados nos instantes em que os preços são mais vantajosos. A manga do VSF tem vantagem competitiva frente aos concorrentes sul-americanos, pois a região semiárida marcada pela baixa umidade, reduzido índice pluviométrico, elevado grau de luminosidade, proporciona, concomitantemente, o desenvolvimento dos frutos com melhores atributos de coloração e reduz a propagação do fungo causador da antracnose30. Há que se destacar também outro fator competitivo em relação à manga produzida no VSF, inclusive como aspecto diferenciador no mercado nacional. Em virtude de sua condição geográfica, o traslado da fruta que sai do Nordeste por meio dos portos é, em média, dois dias menor do que se o traslado ocorresse da região sudeste, imaginando-se, por exemplo, os Estados Unidos como destino. No caso da Europa, essa diferença pode chegar até seis ou oito dias, considerando o mesmo transporte marítimo (SOUZA et al., 2002).

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“É causada pelo fungo Colletotrichum gloeosporioides Penz. O fungo afeta folhas e flores da mangueira, e seus esporos são levados até o fruto por meio da água de chuva ou orvalho, razão pela qual a disseminação é maior em locais úmidos ou períodos chuvosos” (FILGUEIRAS et al., 2000, p. 14).

Atualmente, no VSF, as variedades mais produzidas para exportação são: Tommy Atkins, com médio teor de fibra e mais resistente a danos mecânicos; Haden, de pouca fibra e sabor suave; Keitt, de fruto grande e maturação tardia; Kent, aromática, pouco fibrosa e de polpa alaranjada; e Palmer de coloração verde-arroxeda e pouquíssima fibra.31 A produção de variedades não endêmicas no VSF deu-se, portanto, afim com as tendências que emergiam dos mercados, sobretudo os mercados norte-americano e europeu. Neste sentido, variedades específicas com aspectos e atributos particulares foram introduzidas no território, em questão, com o intuito de atender mercados além-mar. No Reino Unido, por exemplo, os mercados atacadistas, preferencialmente, adquirem mangas de pequeno calibre, as quais são repassadas para restaurantes e pequenos mercados que optam por frutos mais coloridos, ou seja, variedades como Tommy Atkins e a Haden, ao passo que as redes de supermercados frequentemente optam por frutos maiores, como a Kent ou Keitt (WYZYKOWSKI; ARAÚJO; ALMEIDA, 2002, p. 441). Demandas de mercado e modificações nos processos produtivos têm promovido a transformação dos produtos nas dinâmicas dos sistemas agroalimentares.

Nos estudos sobre a globalização dos sistemas agroalimentares, vem se tornando evidente que as demandas dos mercados e os usos da moderna tecnologia estão entre os fatores principais das mudanças nos processos produtivos e têm contribuído para a transformação dos produtos e dos distintos territórios e atores que deles participam. Essas mudanças são principalmente observadas nos serviços relacionados com a produção e distribuição das mercadorias, segundo hábitos e formas de consumo. As transformações resultantes de serviços e valores que lhe são agregados salientam-se num processo contínuo de produção de bens de base agrícola que com nova roupagem passam a trafegar nos mercados (CAVALCANTI, 2004, p. 19).

As mangas, assim como outras frutas frescas exportadas são produtos diferenciados no circuito das mercadorias agroalimentares. Ao se tomar o caso da Europa como exemplo, é possível entender a oferta diferencial da manga do VSF, em período de baixa produção europeia, que faz com que este produto seja relativamente “exclusivo”, direcionado a consumidores que detêm uma renda acima da média, estando dispostos a pagar mais caro por uma manga em período de sua menor oferta. São estes “bens agrícolas com nova roupagem”, destacados por Cavalcanti (2004, p. 19) que circulam livremente, nos sistemas agroalimentares, também se constituindo como marcadores sociais pelos seus consumidores.

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As variedades de exportação destacadas são todas de origem norte-americana e foram introduzidas no Brasil ainda no início do século XX visando à produção comercial, passando a se associar com os anos ao cultivo em larga escala (PINTO; COSTA; SANTOS, 2002).

Ao tratar da sociedade do hiperconsumo, Lipovetsky (2007) abre um espaço particular para demonstrar como os hábitos alimentares sofreram mudanças, a partir da segunda metade do século XX, de tal modo que hoje presenciamos um consumidor de alimentos diferenciado. A cozinha hipermoderna é a fábrica de prazeres gastronômicos, os quais se baseiam cada vez mais na experiência da inventividade facultada pelo acesso a todo e qualquer ingrediente de qualquer cultura. A globalização dos alimentos pode ser apreendida também como uma condição estrutural, em torno da qual esses elementos de comunicação e cultura foram articulados no nível do simbolismo. Neste sentido, o consumo tanto é ato de marcação hierárquica como corresponde aos hábitos de um dado período histórico. É interessante destacar que a tendência à adoção de uma dieta mais equilibrada e variada tem sido hábito das classes com maior poder aquisitivo, nos países do Norte, desde o final dos anos 1980. A preocupação com um comportamento alimentar saudável e nutricionalmente equilibrado foi apropriada pelas esferas capitalistas de produção, influenciando consideravelmente as circulações e fluxos realizados pelos sistemas agroalimentares globais que se dão em virtude da satisfação desse crescente segmento de consumidores.

Nessa linha de raciocínio, o consumo de alimentos no mundo globalizado responde também pela criação de marcas e sentidos simbólicos sociais que diferenciam o seu consumidor. É possível incorporar Douglas e Isherwood (2004, p. 174) a esse respeito, pois demonstram como antropologicamente o consumo é ato de marcação simbólica, quer seja a compra de um carro de luxo, de uma roupa de grife, ou de uma fruta tropical exótica em períodos de escassez de oferta da mesma, pois “em nossa experiência de bens, a periodicidade do consumo marca a posição e cria bens de qualidade”. É neste sentido que uma manga do VSF made in Brazil, acaba por se configurar como uma mercadoria distinta (ainda que nas gôndolas do supermercado possa estar ao lado ou mesmo misturada com outras frutas vinda do Peru ou Equador), pois se refere a um bem exótico, de valor relativamente alto, a ser consumido pelas classes médias e altas dos países importadores. Trata-se, portanto, de um bem cujo valor desponta em virtude de sua oferta em um momento de não abundância do fruto no mercado. Seguindo o raciocínio destes autores, a questão da periodicidade, então, tanto é marcador distintivo do consumidor que se destaca entre os demais indivíduos sociais pela capacidade de inserir em sua dieta alimentar frutas tropicais durante praticamente todo o ano, como também se refere às empresas produtoras, cujo acesso aos mercados europeus em muito se deve ao fato de conseguirem produzir justamente no período de entressafra de outras grandes regiões produtoras. Para reforçar a relevância do elemento periodicidade no quesito da marcação distintiva dos consumidores, é possível destacar, a este respeito, que,

Quando a sociedade é estratificada, os luxos do homem comum podem se transformar nas necessidades das classes mais altas. Como acontece entre as classes sociais, a periodicidade de uso não só separa os bens de classe mais alta, mas também serve para marcar as diferenças entre classes de pessoas. [...] Qualidade é a característica dos bens que resulta de sua escolha como marcadores hierárquicos (DOUGLAS; ISHERWOOD, 2004, p. 174).

Para além dessa discussão, o fato é que a produção de mangas no VSF brasileiro (CAVALCANTI, 1997), assim como a produção de peras e maças no Vale do Rio Negro na Argentina (BENENCIA; QUARANTA, 2003) e tantos outros territórios de produção especializados voltados ao mercado de exportação, se ancoram na demanda consolidada de países desenvolvidos, a fim de atender não às camadas populares, mas certamente aos estratos sociais de maior poder aquisitivo, capazes de dispêndios elevados para obtenção de “artigos alimentares de luxo”. Ainda assim, é estar atento ao fato de que os atributos qualitativos que distinguem estes bens in natura, no contexto dos espaços competitivos globalizados, são “resultantes de uma série de operações (colheita, acondicionamento, classificação, dentre outros serviços) que são orientadas pelo seu destino final” (CAVALCANTI; MOTA, 2003, p 110-111). As interposições entre o produto e o consumidor final são, portanto, construídas no ajuste e controle tanto dos aspectos naturais da produção quanto das relações sociais que compõem esse quadro.

Atualmente, os sistemas agroalimentares configuram uma evidência da nova economia agrícola, na qual as distâncias temporais e espaciais foram, em certa medida, solapadas pela globalização, ligando atores e territórios. Sob alguns aspectos, só é possível falar dessa conexão entre distintos e distantes territórios e atores (empresas, trabalhadores, consumidores), em virtude do fundamentado mercado capitalista, cujas barreiras de movimentação foram se tornando escassas em paralelo ao avanço galopante do neoliberalismo no final passado e início do século presente. Como destaca Bonanno (2003, p. 198), essa dinâmica só foi permitida por conta da “existencia de un verdadero libre mercado, que en el marco de la globalización, permite el libre movimiento de mercancías con claros beneficios para los consumidores e productores”.

A tentativa de melhor se inserir nos circuitos globais fez com que as empresas do VSF intensificassem o trabalho, em torno dos atributos de qualidade da fruta a ser exportada, reverberando, em nível geral, em maior qualificação técnica dos trabalhadores das packing houses, especialmente aqueles cujas funções envolvem operação de maquinários e sistemas informatizados, assim como análises laboratoriais e controle de qualidade. Essa produção de

alto padrão requer cada vez mais a incorporação de “nuevas tecnologías, mano de obra calificada y servicios especializados tanto en el proceso productivo como en las actividades postcosecha” (SILVA, P., 2012, p. 89). Ao observar os processos de tratamento pós-colheita nestes espaços produtivos é possível identificar com facilidade a relevância atribuída às diversas atividades de inspeção em torno do processo integral de embalagem da fruta, a serem observados com vistas ao estabelecimento de um padrão mínimo de qualidade para a manga