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O processo de análise foi caracterizado pelo pareamento da realidade informada pelos dados, do referencial teórico e das questões debatidas pela pesquisa. Foi, portanto, o estágio decisivo de demonstração dos resultados obtidos com o dado estudo, considerando as escolhas e caminhos percorridos pelo pesquisador.

A análise de conteúdo é apenas um método de análise de texto desenvolvido dentro das ciências sociais empíricas. Embora a maior parte das análises clássicas de conteúdo culmine em descrições numéricas de algumas características do corpus do texto, considerável atenção está sendo dada aos "tipos", "qualidades", e "distinções" no texto, antes que qualquer quantificação seja feita. Deste modo, a análise de texto faz uma ponte entre um formalismo estatístico e a análise qualitativa dos materiais. No divisor quantidade/qualidade das ciências sociais, a análise de conteúdo é uma técnica híbrida que pode mediar esta improdutiva discussão sobre virtudes e métodos (BAUER, 2012, p. 190).

Partindo deste pressuposto, utilizamos a análise de conteúdo como ferramenta para compreender as entrevistas, tomando essas como o corpus de textos construídos no processo da pesquisa. O procedimento de identificação de códigos, unidades e categorias se realizou afinado com o aporte teórico utilizado como referência na pesquisa. Merece um destaque importante o fato de que a análise de conteúdo tem como realidade analítica o corpus de texto, que, no caso desta pesquisa, foi construído a partir da transcrição das entrevistas. Desse modo, “a metodologia da análise de conteúdo possui um discurso elaborado sobre qualidade, sendo suas preocupações-chave a fidedignidade e a validade, [...]” (BAUER, 2012, p. 203). Este exercício de análise foi realizado, neste estudo, através da enumeração, contagem e sistematização dos componentes textuais e dos encadeamentos significativos contidos nas

entrevistas transcritas referentes às questões da pesquisa. Desta forma, a respeito dos aspectos que foram avaliados na análise, realizamos esta sequência de atividades de enumeração, contagem e sistematização, utilizando os preceitos da técnica de análise categorial.

A análise de conteúdo em material verbal do tipo da entrevista coloca o analista diante de complexas questões. Estivemos atentos, neste sentido, às considerações sobre o arranjo possível de ser organizado quanto à coexistência dosada da análise horizontal (com evidência nos elementos gerais proveniente do conjunto de entrevistas) e da análise vertical (que destaca os elementos particulares enunciados isoladamente por cada interlocutor destas entrevistas). Devidamente dosada, o que emerge dessa complementaridade é a possibilidade de melhorar a qualidade final da informação a ser trabalhada.

Assim, buscamos realizar a sistematização dessas informações e associações realizadas pelos trabalhadores em suas falas no sentido de compor o entendimento acerca das transformações e características que revestem o trabalho nas packing houses. Conseguimos identificar, neste sentido, uma série de aspectos referentes à elevação do controle e da intensidade do trabalho em relação à reestruturação dos processos de organização produtiva e ampliação das transações de exportação. Em consonância com Bardin (2011, p. 48), entendemos que a análise de conteúdo pode ser apreendida como um “conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens”, indicadores capazes de permitir visualizar a importância de aspectos e elementos referentes à determinada temática em consequência de sua recorrência na fala dos entrevistados. Além disso, por meio da análise de conteúdo também foi possível congregar as relações associativas entre uns e outros argumentos presentes na comunicação verbal dos trabalhadores.

A escolha por esse mecanismo de interpretação da realidade atendeu ao interesse de captar os sentidos nem sempre transparentes dos fatos e relações sociais, buscando com a aplicação dessa técnica, construir algumas categorias e associações capazes de traduzir parte dos processos e relações aos quais os trabalhadores pesquisados estão submetidos, nesse contexto produtivo peculiar. Seguindo essa linha de raciocínio, “a categorização é uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação e, em seguida, por reagrupamentos segundo o gênero (analogia), com os critérios previamente definidos” (BARDIN, 2011, p. 147, grifo do autor).

Ao utilizarmos as entrevistas de diversos atores sociais para a composição do corpus de análise foi preciso a devida cautela para não dissipar as diferenças contidas nas falas dos entrevistados. Esse tipo de texto é sempre um “discurso marcado pela multidimensionalidade

das significações exprimidas, pela sobredeterminação de algumas palavras ou fins de frases”, o que exige do investigador uma atenção redobrada na formação de categorias (BARDIN, 2011, p. 94). Por fim, é oportuno salientar que, assim como qualquer outro modelo de tratamento de dados qualitativos, a análise de conteúdo não figura como prova irrefutável da realidade. Ainda assim, se constituiu um mecanismo de interpretação bastante coerente, permitindo-nos averiguar os pressupostos em causa.

2 GLOBALIZAÇÃO DOS ALIMENTOS E A INSERÇÃO DA REGIÃO DO VSF NOS CIRCUITOS GLOBAIS

A globalização, enquanto objeto passível de compreensão analítico-científica, tem gerado discussões e debates de diversas naturezas, que vão desde a contestação da realidade efetiva do mesmo até à definição de aparatos teóricos e metodológicos para a adequada compreensão do fenômeno. De acordo com Held e McGrew (2001, p. 11) “não existe definição única e universalmente aceita para a globalização”. Isso aumenta as discordâncias existentes no campo teórico. Assim como ocorre com alguns outros conceitos essenciais ao entendimento da realidade social contemporânea, a globalização é um pomo da discórdia entre correntes teóricas das ciências sociais.

Entendida como processo que modifica radicalmente a estrutura organizacional e cognitiva das sociedades atuais em suas diversas naturezas constitutivas (econômica, política, cultural e tecnológica), ou mesmo apreendida como uma face político-ideológica da severa realidade de estratificação promovida pelo capitalismo, o que resta indiscutível acerca da globalização é que este fenômeno reside entre as temáticas mais efervescentes da atualidade. Como ironicamente coloca Bauman (1999, p. 7), “a globalização está na ordem do dia: uma palavra da moda que se transforma rapidamente em um lema, uma encantação mágica, uma senha capaz de abrir as portas de todos os mistérios presentes e futuros”. De uma maneira particular, este autor questiona o modo como em muitas análises a globalização é lida de forma acrítica e simplória, sendo interpretada equivocadamente ora como causa, ora como remédio para grande parte dos problemas sociais recentes.

As controvérsias existentes em torno da ideia de globalização é algo comum a “todos os conceitos nucleares das ciências sociais”, na medida em que seu sentido exato é controverso (HELD; MCGREW, 2001, p. 11). E é justamente neste ponto tortuoso da estrada que residem, simultaneamente, a beleza e o desafio que emanam do estudo deste fenômeno. Tomada em sua totalidade como objeto, desafio de ousadia notória, reservado aos grandes teóricos, ou apreendida sob a circunscrição de determinado(s) aspecto(s), tal como pretendido neste trabalho, a globalização fascina e instiga as mentes dos cientistas sociais. Dentro deste contexto, nos situamos próximos ao entendimento de Ianni (2011), o qual destaca que as rupturas decorrentes da globalização promovem modificações substanciais no tecido social, pois,

Trata-se de uma ruptura simultaneamente histórica e epistemológica, provocando obsolescências e ressurgências de realidades e formas de pensamento, bem como o desafio de se taquigrafarem as novas realidades, formas de sociabilidade, jogos de forças sociais, formas de vida e trabalho, modos de ser, compreendendo, evidentemente, novos conceitos e novas categorias, com os quais se buscam a “compreensão” e a “explicação” da realidade (IANNI, 2011, p. 344).

Para dar conta desse exercício de compreensão das mudanças promovidas direta e indiretamente pela globalização, é preciso que se estabeleçam algumas balizas. Neste sentido, do mesmo modo que Giddens (2010, p. 23, grifo nosso) entendemos que “a globalização não é um processo singular, mas um conjunto complexo de processos. Esses operam de uma maneira contraditória ou antagônica”. Dessa definição deriva a possibilidade de apreender outras dinâmicas que se associam direta ou indiretamente, em maior ou menor grau à globalização. Tal perspectiva nos permite observar tanto a formação dos sistemas agroalimentares e o estabelecimento da uma nova configuração na divisão internacional do trabalho, quanto o impacto no universo dos trabalhadores das regiões agrícolas que participam dos circuitos e fluxos de produção e negociação de bens.

Outro elemento significativo a ser destacado é fato de que a globalização marcadamente representa a ligação de distintas localidades, quer sejam territórios, regiões ou países, em geral promovendo a difusão de padrões comportamentais, econômicos e políticos. Conste claro que isso não significa a anulação do local, muito pelo contrário, a ligação que se constrói entre essas diferentes instâncias, ocorre como um movimento dialético, em que acontecimentos locais podem também interferir nas instâncias globais (GIDDENS, 2010). Nacionalismos locais, movimentos de defesa identitária e a resistência de trabalhadores frente aos imperativos da precarização generalizada são evidências de que a relação entre global e local não representa a submissão integral de um ao outro.

Da mesma forma, é imperativo que reconheçamos que a globalização é também um movimento promotor de desigualdades e desequilíbrios, que acabam por gerar uma série de consequências a alguns dos atores sociais (GIDDENS; HUTTON, 2004b). O superdesenvolvimento do capitalismo e a difusão de suas lógicas fazem parte da globalização, conforme nos apresenta Ianni (2000, p. 58), “globalizam-se as instituições, os princípios jurídicos-políticos, os padrões socioculturais e os ideais que constituem as condições e os produtos civilizatórios do capitalismo”. Esse ambiente comportou uma série de transformações não somente econômicas, mas também políticas que trouxeram graves prejuízos à dimensão social. Não obstante, B. Santos (2011) demonstra quão severos são os

reflexos econômicos da globalização sobre os países periféricos e semiperiféricos, tornando clara a necessidade de tomar criticamente as temáticas de estudo que tangem à globalização.

A relação entre o capitalismo e a globalização parece-nos um ponto elementar na configuração de novas e velhas desigualdades sociais, o que provoca não somente o entendimento na perspectiva da disposição das economias nacionais, mas também sugere a apreensão de contextos, nos quais regiões e territórios passam a se relacionar mais intensamente, em virtude da composição de sistemas econômicos específicos. O capitalismo sempre mostrou sua propensão à expansão universal, à difusão de suas práticas e modelos e subjugação dos outros modos de produção (MARX, 1984). Consoante a este modelo e aos os movimentos de acumulação, em suas fases colonialista e imperialista “desde que o capitalismo desenvolveu-se na Europa, apresentou sempre conexões internacionais, multinacionais, transnacionais e mundiais” (IANNI, 2000, p. 14). A discussão sobre essa questão é vasta e preenche muitas páginas das literaturas econômica e sociológica, sendo tarefa quase infindável a reflexão minuciosa dos termos desse debate, o que não nos impede de pontuar brevemente duas questões.

Conforme Braudel (1987), não existe entre o passado e o presente uma ruptura integral capaz de formar uma descontinuidade entre processos históricos. Sob esta perspectiva, acreditamos que a economia capitalista contemporânea, mantenedora de abismos e desigualdades sociais (PIKETTY, 2014), está ligada historicamente ao desenvolvimento do capitalismo, cujos fundamentos de sua expansão residem na própria natureza do capital e sua condição incessante de ampliação. Contudo, há evidências que essa mesma economia contemporânea é significativamente distinta da estrutura que serviu de base para o florescimento desse modelo produtivo. Somente no século XX, o capitalismo experimenta, em efetivo, uma condição verdadeiramente global, desbancando suas condicionantes espaciais. Tendo vencido as barreiras do Estado-nação e se expandido pela espada do neoliberalismo (SANTOS, B., 2011), na nova economia contemporânea as forças produtivas elementares do capitalismo “entram em contínua e ampla conjugação, desenvolvendo-se de forma intensiva e extensiva, ultrapassando fronteiras geográficas e históricas, regimes políticos e modos de vida, culturas e civilizações” (IANNI, 2000, p. 172).

Essa economia integralmente globalizada diz respeito, pois, ao período recente da história, no qual o neoliberalismo se constituiu hegemonicamente (SANTOS, B., 2001). Com base no uso da racionalidade técnica e das novas tecnologias, o mercado financeiro se torna um dos símbolos dessa nova economia ao passo que representa a condição suprema de mobilidade do capital. Esse processo histórico de formação da nova economia tem íntima

ligação com a nova tecnologia informacional e, sobretudo, com a liberalização dos mercados financeiros, pois

Embora o processo de globalização financeira possua extensas raízes históricas e tenha se expandido aos poucos no último quarto de século, pode-se ver sua aceleração desde o final da década de 1980. [...] Isso é para enfatizar que a desregulamentação e a liberação do mercado financeiro foram os fatores básicos que fomentaram a globalização, permitindo a mobilidade do capital pelo mundo e entre segmentos diferentes da indústria financeira, como menos restrições e uma visão global das oportunidades de investimento. A nova tecnologia foi fundamental para permitir o comércio quase instantâneo pelo mundo todo e gerenciar a nova complexidade trazida pela desregulamentação e pela engenhosidade financeira

(CASTELLS, 2004, p. 83).

As regiões de todo mundo passam a ser alvo possível de investidas do Capital, basta que se configure ali a possibilidade de maiores lucros e rendimentos. Essa condição de abertura global das economias provocou vários resultados, sendo um deles “a capacidade e a disposição de buscar investimentos mais exóticos e potencialmente mais rendosos” por parte dos capitais estrangeiros no setor privado das economias emergentes (VOLCKER, 2004, p. 118).

A expansão global do capitalismo esteve atrelada ao uso e difusão de toda sorte de aperfeiçoamentos técnicos comunicacionais e administrativos aplicáveis ao processo produtivo por intermédio da incorporação de diversas tecnologias como a automação e robotização de tarefas, o uso de sistemas avançados de computação, as redes transnacionais interativas de logística, o monitoramento em tempo real, que, em conjunto, tornaram viável a existência de produções e mercados de alcance global (CASTELLS, 1999a). Estes aperfeiçoamentos, por sua vez, acabam por se tornarem variáveis que "intensificam e generalizam as capacidades dos processos de trabalho e produção" (IANNI, 2000, p. 195). Essas conexões entre modelos produtivos, inovações tecnológicas e estrutura econômica sempre estiveram no horizonte da teoria social sob diversas abordagens, não tendo passado despercebido seus reflexos diretos e indiretos no aspecto da criação e reprodução de novas e velhas desigualdades.

As configurações atuais do capitalismo globalizado comportam uma série vasta de processos encadeados, que vão

[...] desde a acumulação originária à concentração e centralização do capital; do desenvolvimento quantitativo e qualitativo das forças produtivas ao desenvolvimento e à modernização das relações de produção; da nova divisão internacional do trabalho e da produção à constituição do mercado mundial,

influenciando ou articulando mercados nacionais e regionais; das formas singulares e particulares do capital ao capital em geral (IANNI, 2000, p. 180).

Esses processos constituem as configurações produtivas e comerciais que se estabelecem em vários segmentos da economia, fazem parte, por assim dizer, dessa modelagem contemporânea do capitalismo, afetando os mais variados atores e setores. No âmbito das discussões empreendidas nesta tese, pesam relevantes as implicações que essa nova economia tem para com as expansivas relações entre regiões variadas do planeta. Mas é preciso, contudo, olhar para essa questão com atenção, pois se trata também de arranjos que se formatam com características qualitativas diferenciadas tal seja a região em relação, pois a globalização não tem as mesmas implicações para países desenvolvidos e subdesenvolvidos, do mesmo modo que significa situações diferentes para o capital transnacional e trabalhadores locais, e, neste sentido, a sociologia latino-americana tem colaborado para desvendar essas desproporções (COSTILLA, 2005).

Um elemento importante que merece menção diz repeito às trajetórias históricas de cada região na definição de sua própria inserção em circuitos globais contemporâneos. Ao observarmos a realidade do VSF, é possível apreender uma série de processos envolvendo atores e instituições diversificadas que culminaram com a composição de uma região de produção frutícola de exportação. Tais processos nem sempre ocorrem de forma completamente harmoniosa, e muitas das vezes destacam certas incertezas quanto às políticas públicas de desenvolvimento econômico e social empreendidas pelo Estado para espacialidades como a em estudo (ARAÚJO, T., 1995; CARVALHO, O., 2003). Ainda assim, se observarmos alguns elementos no que pesa à estruturação econômico-espacial do VSF notaremos, tal como sugerem Feitosa (2015) e Pimes (1991), que até meados do século XX, este segmente geográfico do semiárido, hoje caracterizado pela pujante fruticultura de exportação, não possuía grandes atributos distintivos em relação a outras espacialidades do sertão do Nordeste, embora já no fim do século anterior ações expandindo as redes de comunicação e transporte favoreceram a economia local de alguma maneira.

É a partir dos anos 1940 que intervenções de cunho logístico-estrutural estimularão o desenvolvimento de atividades econômicas na região do VSF. A construção do porto fluvial de Petrolina em 1944 e da ponte rodoferroviária Petrolina/Juazeiro em 1959, assim como a conexão desta espacialidade com outros centros comerciais do Nordeste através das rodovias federais BR-232, BR-235, BR-407 e BR-428, são exemplos desse tipo de intervenção (PIMES, 1991). Essas ações do Estado se somam, na segunda metade do século XX, aos novos direcionamento assumidos pelas políticas públicas relacionadas à gestão dos recursos

hídricos da região Nordeste, em uma transformação processual que culmina com o delineamento da região do VSF, tal como se apresenta contemporaneamente. Dentro deste contexto, as distintas fases e posturas assumidas pelo Estado na gestão dos recursos hídricos e promoção do desenvolvimento, caminhando desde os primeiros planos de irrigação11 com a ampliação progressiva da esfera privada na participação de lotes produtivos, até a definição da Política Nacional de Irrigação e Drenagem em meados da década de 1990, na qual os espaços produtivos irrigados estarão orientados diretamente pelas dinâmicas de mercado, marcam o tom das mudanças que envolvem a transformação do VSF e sua inserção em nichos econômicos diretamente conectados com mercados globais.

Certamente que essa breve menção às políticas de gestão de recursos hídricos e fomento à agricultura irrigada não apreende a totalidade dos movimentos do Estado e das forças políticas e movimentos locais que estiveram atrelados à composição histórica da fruticultura de exportação do VSF. Como bem observado por Cavalcanti (1997) essa trajetória histórica é complexa, marcada por posições específicas do Estado e dos agentes envolvidos tal seja o período e as questões específicas em jogo à época. Neste sentido, uma visão processual da constituição da fruticultura na região do VSF deve envolver as seguintes fases segundo P. Silva (2001): o período inicial dos pomares experimentais à beira do Rio São Francisco entre 1950 e 1975, onde a atuação de migrantes visionários foi significativa, inclusive para despertar a compreensão do Estado acerca do potencial econômico ali escondido; a fase de constituição do polo agroindustrial atrelado à fruticultura com vistas ao mercado interno, marcado pelos elevados subsídios e investimentos públicos no período de 1975 a 1985; os anos entre 1985 e 1994 em que se desenvolveram a base exportadora no polo Petrolina/Juazeiro; e, por fim, o período que circunscreve os últimos anos do século XX e início do século XXI, onde a fruticultura de exportação tem consolidado seu complexo produtivo com o incremento de novas tecnologias de manejo das culturas e, sobretudo, aprimorado o beneficiamento pós-colheita atingindo os elevados padrões de qualidade exigidos pelos mercados internacionais.

Nesse sentido, a apreensão da globalização dos sistemas agroalimentares e seus reflexos em contextos particulares de produção, cujos contornos da organização da produção e das relações de trabalho têm se transformado na tentativa de melhor atender demandas de mercados internacionais, perpassa pelo senso crítico acerca da profundidade e do caráter

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De acordo com Feitosa (2015, p. 27) são emblemáticos, neste período, o Programa Plurianual de Irrigação de 1969 e o Programa de Integração Nacional de 1970, uma vez que marcam a ampliação do conhecimento do Estado sobre os recursos naturais disponíveis e o seu direcionamento prático às atividades econômicas.

dessas transformações (CAVALCANTI; MOTA, 2003), mas igualmente pela apreensão das trajetórias históricas constitutivas destas espacialidades e das forças políticas e sociais ali envolvidas (CAVALCANTI, 2015). Nessa linha de raciocínio, a região do VSF inseriu-se nos circuitos e fluxos dos mercados de frutas frescas, ascendendo ao posto de grande exportadora nacional. Como nos alerta Cavalcanti (1996, 1999c), não há como compreender a região do VSF e sua inserção nos mercados globais sem considerar a atuação de diversos atores na composição desse universo produtivo. Trabalhadores, agricultores familiares de pequeno e