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PARTE III- ANÁLISE CRÍTICA DE MAGISTRADOS/DAS ACERCA DA (NOVA)

CAPÍTULO 5. A (NOVA) LEI TUTELAR EDUCATIVA: ANÁLISE CRÍTICA DE MAGISTRADOS

2. Dimensão Estratégica

2.2 Análise Crítica das alterações da LTE

2.2.1 A mediação

Um aspeto que não mereceu atenção na recente alteração legislativa à LTE foi o desenvolvimento da mediação, perdendo-se a oportunidade para relançar o sistema de mediação, no âmbito da intervenção tutelar educativa, concretizando-se as aspirações da justiça restaurativa.

Os programas de mediação e restituição determinam a participação dos delinquentes e as suas vítimas em sessões de mediação, nas quais se procura que os delinquentes venham a compreender o facto causado com as suas ações, e que as vítimas adquirem perspetivas relativamente às motivações dos delinquentes e ambas as partes cheguem a acordo quanto a planos de reparação das vítimas/ restauração das suas partes.

“Teoricamente, podíamos ter desenvolvido talvez mais a questão da mediação. Sendo que a mudança de o MP poder propor a mediação e não apenas o jovem já foi proveitoso.

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As pessoas não estão verdadeiramente informadas sobre o que é a mediação.” (E2- Juíza

de Direito, 8 anos de experiência em TFM – Comarca de Lisboa Norte).

A LTE inseriu no sistema jurídico da justiça de menores, a possibilidade de recurso à mediação de conflitos no âmbito dos processos tutelares educativos. Nesse sentido, o art. 42º, n.º1, veio determinar que “para a realização das finalidades do processo, e com

efeitos previstos na presente lei, a autoridade judiciária pode determinar a cooperação de entidades públicas ou privadas de mediação” sendo a sua intervenção por iniciativa

não só do Ministério Público ou do juiz mas do menor, dos pais, representante legal, pessoa que tenha a guarda de facto ou defensor, segundo o n.2 do art.42º. O recurso à mediação em processos tutelares educativos não tem sido opção, por falta de meios para a aplicar:

“A mediação está paradíssima, no âmbito da Lei Tutelar Educativa. Não é aplicada na prática, o art-º 42 já existe na Lei desde 2001 e não tem sido utilizada e até porque não há meios para a por em prática...quando fosse levada a cabo deveria ser feita por entidades fora do sistema, e não pela DRGSP, que é quem intervém com os miúdos, devia ser alguém de fora.” (E1- Juiz Direito, 10 anos de experiência em TFM).

“A mediação não existe de forma eficaz no âmbito do processo tutelar educativo. Criou- se uma equipa na DGRSP para estudar a mediação no âmbito da Lei Tutelar Educativa, só que ela nunca foi trabalhada, nunca se trabalharam os mecanismos relativos à mediação, e depois também não se trabalhou ao nível do inquérito por em boa parte do tipo de respostas que nós temos para os factos qualificados como crime que pudessem configurar um melhor sucesso em sede de mediação, não são muito usados na fase de inquérito. Obrigar um magistrado do MP na fase de inquérito, em pouco tempo que é o que lhe exigem, a decidir...e ao mesmo tempo a exigiram que use a solução mediação, que lhe faz demorar dois a três meses, opta efetivamente para deixar de lado a solução da mediação, e a resolver o processo com o mesmo sentido. Muitas vezes o que se faz é deixar ao critério do juiz, a questão da mediação. A mediação devia ser criada não no âmbito da DGRSP, mas no âmbito das próprias equipas tutelares educativas, e aí haver quem trabalha-se esta questão no terreno...”. (E6- Juiz de Direito, 9 anos de experiência

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A aplicação da mediação no âmbito da lei tutelar educativa, não funciona segundo os magistrados. Na área de justiça de menores, a justiça restaurativa não é opção de tratamento na problemática da criminalidade juvenil, por ser um processo que não permite uma intervenção atempada, segundo (E6).

O reforço da importância da justiça restaurativa é concebido fora dos tribunais. A medição é pensada como estratégia ao nível escolar, de modo a evitar que jovens evitem o contacto com o sistema tutelar educativo. A mediação escolar é entendida como uma abordagem ao problema fora do sistema e não dentro do sistema. A criminalidade em ambiente escolar, sempre que permita, segundo a perspetiva dos magistrados desencadearia a resolução e o tratamento de comportamentos tipificados como crime à luz penal, nas escolas:

“Na minha experiência pessoal, a mediação ao nível penal para os jovens não funciona. Aqui no tribunal não existe á muito tempo, e nos outros tribunais do meu conhecimento é muito raro. Penso que temos de pensar a mediação de outra forma, e não nos parâmetros que está pensada... A mediação funcionaria, para evitar que alguns jovens tivessem contacto com o sistema, uma mediação anterior ao sistema: a mediação escolar. A mediação funciona se houver meios e empenho das pessoas. Existe bastante criminalidade em ambiente escolar, muitos casos não chegam ao sistema, aos tribunais, e seria bom que não chegasse, passando o tratamento pela escola. O problema é q não chega aos tribunais mas também não é tratada na escola. O problema é esse, a mediação escolar, no meu ponto de vista um papel importantíssimo, por exemplo no bulying. A mediação institucional ao nível da LTE, não está a correr bem.” (E5 -

Procuradora da República, 7 anos de experiência em TFM- Comarca de Lisboa Oeste).

“A mediação era importante, principalmente se houvesse mediação escolar. A mediação não se faz no âmbito da LTE. Temos experiências de outros países que sabemos que resulta. Estamos a falar de resolução de parte de casos que começam e são denunciados pelas escolas. Só deve ir para o tribunal, as situações que devem carecer educação para o direito.” (E3- Juíza de Direito, 14 anos de experiência em TFM).

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“Mediação escolar. A mediação devia ser prévia à intervenção do tribunal...a mediação está na lei, mas não funciona, não temos mediação no âmbito juvenil.” (E4- Procuradora

da República, 10 anos de experiência TFM).

Concluindo, a mediação no âmbito do sistema tutelar educativo não está é opção por parte dos magistrados como método para a resolução de conflitos. No geral, estes entendem que o desenvolvimento da mediação deve ser fora do sistema de justiça juvenil, entendendo que faz mais sentido a sua aplicação antes do contacto com o sistema de justiça juvenil. O seu desenvolvimento proporcionaria no entendimento dos magistrados à valorização das vítimas e no envolvimento da comunidade em geral.

“A mediação não funciona. Não se desenvolvem a sua filosofia ainda não está adquirida pelos técnicos e pelos serviços. Nós magistrados, vamos tentando fazendo a mediação ao longo do processo tutelar educativo na resolução de pontos de conflito, tentando formar consensos. Não faz sentido o jovem entrar no sistema e depois pensar-se em mediação...a mediação faz sentido antes. Outra questão, a figura da vítima do sistema tutelar educativa, tende a não ser valorizada...todo o processo está centrado no jovem e não na vítima, no envolvimento da família, escola. A mediação deve ser desenvolvida fora do sistema tutelar e não como algo dentro do sistema. O sistema não é de natureza punitiva, não é. Mesmo assim é um sistema. A mediação funciona antes do sistema.” (E7- Procurador da república, 16 anos de experiência em TFM – Comarca de

Lisboa Oeste).

Racionalmente, se a maioria dos casos participados tem origem no seio escolar, naturalmente se parece justificar o desenvolvimento da mediação escolar segundo os nossos sujeitos de pesquisa. Neste sentido, o desenvolvimento da mediação pode ser atribuído em função de cada subsistema (escolar, comunitário, familiar, judicial) numa lógica de subsidiariedade na resolução do problema, colocando o contacto com o sistema judicial quando apenas o uso da mediação não responda às necessidades educativas dos jovens.

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