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3 SISTEMA NACIONAL DE PROTEÇÃO AO CONSUMIDOR

3.6 A MEDIAÇÃO

A Lei nº. 13.140/15, que versa acerca da mediação entre particulares para solucionar lides e da autocomposição de conflitos no campo da administração pública, conceitua mediação no parágrafo único de seu art. 1º: “Considera-se mediação a atividade técnica exercida por terceiro imparcial sem poder decisório, que escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e estimula a identificar ou desenvolver soluções consensuais para a controvérsia” (BRASIL, 2015)

Nesse sentido, Cahali (2012, p. 56) entende a mediação como “um dos instrumentos de pacificação de natureza autocompositiva e voluntária, no qual um terceiro, imparcial, atua, de forma ativa ou passiva, como facilitador do processo de retomada do diálogo entre as partes”. E, complementa:

A mediação consiste na atividade de facilitar a comunicação entre as partes para propiciar que estas próprias possam, visualizando melhor os meandros da situação controvertida, protagonizar uma solução consensual. A proposta da técnica é proporcionar um outro ângulo de análise aos envolvidos: em vez de continuarem as partes enfocando suas posições, a mediação propicia que elas voltem sua atenção para os verdadeiros interesses envolvidos (CAHALI, 2012, p. 56).

Para Sales e Andrade (2011, p. 48), a mediação tem ganho maior aplicação em Juizados Especiais Cíveis, mormente:

[...] nas questões que envolvem as relações de consumo, assim como tem papel importante nas questões voltadas as relações trabalhistas, e nas causas que envolvem as relações parentais e de família, em que, nestes últimos exemplos, tem fundamental papel a mediação judicial, pelas peculiaridades das demandas envolvidas e suas respectivas competências diferenciadas. [...] a mediação não visa pura e simplesmente ao acordo, mas atingir a satisfação dos interesses e das necessidades dos envolvidos no conflito.

Sales e Andrade (2011, p. 48) aduzem que a mediação “inclui o cidadão na medida em que o impulsiona a se reconhecer como pessoa capaz de participar ativamente do deslinde de suas questões, incentivando o florescer do sentimento de conscientização, fortalecendo-o como indivíduo”.

Segundo Bezerra (2017, p. 25), a mediação pode ser definida como “uma forma alternativa de resolução de conflitos alicerçada no exercício de vontade das

partes, o que é o necessário para se enquadrar como espécie de forma consensual de conflito”. Porém, não se confunde com a conciliação.

Para Warat (1998, p. 31), a mediação pode ser entendida como:

[...]um processo de reconstrução simbólica do conflito, no qual as partes têm a oportunidade de resolver suas diferenças reinterpretando, no simbólico, o conflito com o auxílio de um mediador, que as ajuda, com sua escuta, interpretação e mecanismos de transferência, para que elas encontrem os caminhos de resolução, sem que o mediador participe da resolução ou influa em decisões ou mudanças de atitude (nisso se baseia sua imparcialidade; é imparcial porque não resolve nem decide).

Conforme Silva (2020, p. 6), a mediação é:

[...] uma forma autônoma de pacificação de conflitos, em que um terceiro imparcial, sem poder de decisão, auxilia as partes a reestabelecerem o diálogo a fim de preservar o interesse de ambas, visando o estabelecimento de um acordo benéfico a todos. Nela as partes possuem plena autonomia, sendo que o mediador não decide nem determina a decisão das partes, apenas ajuda na identificação e articulação das questões essenciais que devem ser resolvidas durante o processo, não influenciando no resultado final.

A mediação é tida, segundo Lima (2016, p. 26), como uma:

[...] forma consensual de resolução de conflitos, pois trata-se de um processo em que uma terceira pessoa, chamada de mediador, que usa técnicas não propositivas, mas que de alguma forma facilite o acordo, que deve ser construído pelas partes, interage com elas para com isso, pôr fim a demanda.

Spengler (2012, p. 131) define mediação como:

[...] a interferência, em uma negociação ou em um conflito, de um terceiro com poder de decisão limitado ou não autoritário, que ajudará as partes envolvidas a chegarem voluntariamente a um acordo, mutuamente aceitável com relação as questões em disputa. Dito de outra maneira, é um modo de construção e de gestão de vida social graças a intermediação de um terceiro neutro, independente, sem outro poder que não a autoridade que lhes reconhecem as partes que a escolheram livremente. Sua missão fundamental é restabelecer a comunicação.

Na mediação, é preciso entender que os indivíduos em conflito (partindo de um cenário geralmente negativo), quando recepcionados, encontram-se em estado emocional desequilibrado, desafiando o mediador a buscar, através de técnicas

distintas, uma transformação no comportamento para ajudar os litigantes a entender e a reagir à lide de forma mais eficiente. Por vezes, partindo de uma boa abordagem, muda-se a concepção acerca do conflito, podendo ser benéfico e construtivo (BEZERRA, 2017).

O diálogo efetivado durante o processo consensual de mediação auxilia no esclarecimento de situações, elimina bloqueios na comunicação (ruídos e falhas), ajuda recuperar um diálogo direto, podendo melhorar a relação dos envolvidos futuramente. A mediação retrata, fora outras qualificações, “uma forma adequada para tratar situações mais complexas, que envolvam emoção e vínculos afetivos. É um processo que deve ser desenvolvido com o planejamento devido, com técnica e com a devida supervisão, em face da complexidade dos conflitos” (BEZERRA, 2017, p. 28).

Nesse sentido, a mediação pode acontecer judicial ou extrajudicialmente, dependendo do tipo de conflito. Sendo um processo informal, pois não há regra a se seguir frente a produção de provas do que se questiona. O relevante é que as partes precisam participar ativamente do processo, expondo francamente suas pretensões (LIMA, 2016).

As principais características da mediação para Spengler (2012, p. 132-135):

a) a privacidade, uma vez que o processo de mediação desenvolvido em ambiente secreto. [...]

b) economia financeira e de tempo: em contrapartida aos processos judiciais que, lentos, mostram-se custosos. [...]

c) oralidade: a mediação é um processo informal. [...]

d) reaproximação da partes: o instituto da mediação ao contrário Da jurisdição tradicional, busca aproximar as partes. [...]

e) autonomia das decisões: as decisões tomadas não necessitarão ser alvo de futura homologação pelo judiciário. [...]

f) equilíbrio das relações entre as partes: grande preocupação trazida pela mediação é o equilíbrio da relação entre as partes. [...]

Logo, evidencia-se que o mediador não julga, tampouco compõe o litígio, somente suscita estímulo às partes para chegarem a um acordo. Vezzulla (1998, p.16) assevera que mediação é uma técnica para resolver conflitos não adversarial, pois, “sem imposições de sentenças ou de laudos e com um profissional devidamente formado, auxilia as partes a acharem seus verdadeiros interesses e a preservá-los num acordo criativo em que as duas partes ganhem”.

tem voz ativa) para desfazer as lides, na busca delas mesmas encontrarem rumos e alternativas para pacificar seu conflito. Nesse caminho, Medina (2004, p. 58-59) leciona:

A mediação busca, essencialmente, a aproximação das partes. O instituto da mediação não se preocupa unicamente com a obtenção de um simples acordo entre os indivíduos litigantes. O objetivo maior a ser alcançado é o reatamento entre aqueles que estavam em conflito. Pacificar relações, eis o fim máximo pretendido com a mediação.

Utilizar a mediação permite ver um conflito positivamente, tirando deste seu potencial construtivo e dinâmico frente às relações sociais. Esse cenário leva os litigantes vislumbrarem rumos para reestabelecer o diálogo e voltar a conviverem pós-conflito. Assim, a preocupação central da mediação é não pôr termo ao conflito, mas propiciar mudança na perspectiva e atitudes para ganhar ponto pacifico, por meio de técnicas que auxiliam a comunicação construtiva e interativa (SILVA, 2020).

Na lide da mediação, o mediador é:

[...] o terceiro imparcial que auxilia e estimula o diálogo entre as partes litigantes, com o objetivo de esclarecer todos os detalhes e aspectos do conflito, dando-lhe uma nova interpretação e possibilitando uma solução justa, satisfatória e definitiva, por meio de técnicas que valorizem as relações humanas (BENTO, 2012, p. 28).

Destaca-se que, além da neutralidade e imparcialidade, este terceiro precisa possuir mais as características de responsabilidade, confidencialidade, capacidade de escuta ativa, controle emocional, autenticidade, persistência e perseverança, para assim trazer igualdade de tratamento, equilibrar as negociações e, mormente, a justiça (BENTO, 2012).

Para Luis Alberto Warat (apud BENTO, 2012, p. 29), tem-se que:

O grande segredo, da mediação, [...] é muito simples, [...] O mediador não pode se preocupar por intervir no conflito, transformá-lo. Ele tem que intervir sobre os sentimentos das pessoas, ajudá-las a sentir seus sentimentos, renunciando a interpretação. Os conflitos nunca desaparecem, se transformam; isso porque, geralmente, tentamos intervir sobre o conflito e não sobre o sentimento das pessoas. Por isso, é recomendável, na presença de um conflito pessoal, intervir sobre si mesmo, transformar-se internamente, então, o conflito se dissolverá (se todas as partes comprometidas fizerem a mesma coisa). O mediador deve entender a diferença entre intervir no conflito e nos sentimentos das partes. O mediador deve ajudar as partes, fazer com que olhem a si mesmas e não ao conflito,

como se ele fosse alguma coisa absolutamente exterior a elas mesmas. Quando as pessoas interpretam (interpretar é redefinir), escondem-se ou tentam dominar (ou ambas as coisas). Quando as pessoas sentem sem interpretar, crescem. Os sentimentos sentem-se em silêncio, nos corpos vazios de pensamentos. As pessoas, em geral, fogem do silêncio. Escondem-se no escândalo das palavras. Teatralizam os sentimentos, para não senti-los. [...] As coisas simples e vitais como o amor entendem-se pelo silêncio que as expressam. A energia que está sendo dirigida ao ciúme, à raiva, à dor tem que se tornar silêncio. A pessoa, quando fica silenciosa, serena, atinge a paz interior, a não violência, a amorosidade. Estamos a caminho de tornarmo-nos liberdade. Essa é a meta mediação.

Portanto, o mediador possui papel relevante nesse processo, devendo aplicar técnicas que facilitem a comunicação entre as partes; ele “estabelece o contexto do conflito existente, mediante técnicas da psicologia e do serviço social, identifica necessidades e interesses, objetivando produzir decisões consensuais, com ajuda do direito” (SPENGLER, 2012, p. 136).

Para Almeida (2003, p. 193), a mediação relega duas modalidade básicas: avaliadora e facilitadora:

Mediação facilitadora (também chamada de mediação não diretiva) é aquela na qual o mediador exerce tão somente a função de facilitar a negociação entre as partes, focalizando os seus interesses e auxiliando a formação de um consenso mais célere e menos oneroso. [...] Mediação avaliadora, a seu turno, também chamada de avaliação diretiva é caracterizada por maior liberdade do mediador. Nesta modalidade de mediação, o mediador pode opinar sobre questões de fato e de direito e, além disso, sugerir as partes a solução que considerar mais justa, bem como os termos de um possível acordo.

A mediação, atualmente é novidade nos meios forenses, tendo seu espaço frente mudanças no NCPC, que previne e resolve conflitos. Para Reis (2015, p. 224):

O mediador é uma pessoa neutra em relação aos interesses contrapostos, escolhida de comum acordo pelas partes, ou pertencente a câmara de mediação a que as partes livremente se vinculam, ou ainda, no caso da mediação judicial, cadastrado no juízo ou tribunal em que distribuído o processo no âmbito do qual poderá se instalar a mediação. Ao contrário do árbitro, que funciona como um juiz privado, o mediador não tem a incumbência de decidir o litígio, mas sim ajudar, de forma isenta, imparcial e independente, na construção de uma solução equilibrada para as partes em conflito. Portanto, o mediador deve gozar de confiança das partes, sob pena de viciar o processo de construção de consenso.

Para alcançar resultados positivos é necessário que o mediador possua habilidades autocompositivas, quais sejam:

a) capacidade de aplicar diferentes técnicas autocompositivas. [...]

b) capacidade de escutar a exposição de uma pessoa com atenção, utilizando determinadas técnicas de escuta ativa;

c) capacidade de inspirar respeito e confiança no processo;

d) capacidade de administrar situações em que os ânimos estejam acirrados;

e) estimular as partes a desenvolverem soluções criativas [...]

f) Examinar os fatos sob uma nova ótica para afastar perspectivas judicantes ou substituí-las por perspectivas conciliatórias;

g) Motivar todos os envolvidos [...]

h) Estimular o desenvolvimento de condições que permitam a reformulação das questões diante de eventuais impasses:

i) Abordar com imparcialidade além das questões juridicamente tuteladas, todas e quaisquer questões que estejam influenciando a relação das partes (SPENGLER, 2016, p. 32).

O principal objetivo da mediação é restabelecer os vínculos desfeitos frente o conflito, visando aproximar, resgatar o diálogo entre as partes, para então, chegar- se a um acordo. Também, deve facilitar a continua convivência que outrora existia (antes do conflito) e resgatar a paz social das partes envolvidas. A mediação tem maior aplicação e bons resultados em relações continuadas, aquelas mantidas ao longo da vida dos litigantes, como, por exemplo, as relações de parentesco, conjugais e de amizade (SPENGLER, 2016).

Por isso, a mediação se aplica mormente em conflitos envolvendo questões familiares, que envolvem emoção, sentimentos das partes, necessitando que estas mesmas descubram a melhor forma de solucionar o conflito (LIMA, 2016).

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