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A medida de segurança no Direito Comparado

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO (páginas 62-67)

CAPÍTULO 2 − ORIGENS HISTÓRICAS DO INSTITUTO

2.4 A medida de segurança no Direito Comparado

Conforme escólio de José Carlos de Ataliba Nogueira em sua clássica obra64, após a sistematização proposta por Stoos, o instituto passou a ser adotado em diversos países: Alemanha, Argentina, Áustria, Inglaterra, Bélgica, Chile, Espanha, Colômbia, Dinamarca, França, Romênia, Uruguai e Portugal.

Na Alemanha, a lei contra os criminosos habituais perigosos, de 1933, previa sete medidas de segurança: internação em casa de cura e tratamento médico dos não imputáveis e semi-imputáveis; internação em instituto de cura do vício da embriaguez ou instituto de abstinência dos ébrios habituais e intoxicados por estupefacientes; internação em casa de trabalho dos mendigos, vagabundos, ociosos e prostitutas; custódia de segurança dos delinqüentes habituais perigosos; castração dos delinqüentes perigosos acusados de delitos sexuais; interdição do exercício de profissão; e liberdade vigiada.65

63 NOGUEIRA, José Carlos de Ataliba, Medidas de segurança, cit., p. 282-283. 64 Ibidem, p. 255 e ss.

Conforme registra Luiz Flávio Borges D’Urso, o centenário Código Penal alemão de 1871, “devidamente modificado e adaptado aos tempos, permaneceu vigente até o advento da grande reforma penal alemã ocorrida em 1969 e que vigorou a partir de 1.4.1970, salientando que a Parte Geral modificada teve vigência temporária até outubro de 1973, quando a nova reforma da Parte Geral entrou em vigor, permanecendo até nossos dias.”66

Com a reforma, as medidas de segurança foram arroladas nos artigos 61 e seguintes: internamento em hospital psiquiátrico; internamento em sanatório para toxicômanos; internamento em estabelecimento social terapêutico; internamento para custódia e segurança; fiscalização de conduta; privação da licença para dirigir; proibição do exercício profissional.

Na Argentina, o Código Penal de 1921 acolheu as medidas de segurança aos não inimputáveis em virtude de alienação mental, por período indeterminado até decisão judicial, condicionada a prévia perícia que declare o desaparecimento do perigo.67

Na Áustria, o projeto de 1927 também acolheu a medida de segurança, em especial: internação em sanatório ou casa de saúde; internação em instituto de cura dos alcoólicos ou em instituto de abstinência; internação em casa de trabalho ou em instituto de educação; custódia de segurança dos delinqüentes habituais socialmente perigosos; vigilância de proteção; expulsão. A duração das medidas de segurança eram indeterminadas.68

66 D’URSO, Luiz Flávio Borges. Medidas de segurança no direito comparado. Revista Brasileira de

Ciências Criminais, São Paulo, Revista dos Tribunais, ano 1, n. 3, p. 116, jul./set. 1993. 67 NOGUEIRA, José Carlos de Ataliba, Medidas de segurança, cit., p. 260.

67 Na Inglaterra, segundo Luiz Flávio Borges D’Urso, “o Prevent of Crime Act, de 1908, distingue a internação para tratamento educacional-correcional e a

preventive detention, aplicável após a execução da pena, destinada aos reincidentes mais perigosos. Mas, a distinção legal entre essas duas modalidades de medidas de segurança só ocorre em 1948, com o Criminal Justice Act, com os enfermos mentais internados em manicômio criminal. Havia também um período de prova, com vigilância através do probation officer”.69

Na Bélgica, a Lei de 9 de abril de 1930 previa medidas de segurança para os anormais e delinqüentes habituais. Sob a denominação de anormais, estavam compreendidos os enfermos mentais e os semi-enfermos mentais. Entre os últimos, estavam os reincidentes e os delinqüentes por tendência.70

No Chile, o projeto de Código Penal de 1929 previa a submissão à medida de segurança: dos alienados mentais; dos absolvidos como não imputáveis e dos indivíduos com a responsabilidade diminuída; dos que viviam ou se beneficiavam ordinariamente do comércio carnal próprio ou alheio; dos que tinham procedimento desregrado ou vicioso, que se traduzisse na prática de contravenções policiais ou no trato assíduo com pessoas de má vida ou conhecidos delinqüentes; dos mendigos ébrios delinqüentes crônicos; dos vagabundos e toxicômanos; dos que praticassem homossexualismo; dos que tivessem hábito de jogo, de modo a comprometer sua situação econômica ou moral, ou de sua família. As medidas de segurança previstas eram: internamento em manicômios, hospícios, estabelecimentos de reeducação, casas de saúde ou casas de trabalho; expulsão de estrangeiros; caução de bom comportamento; sujeição a vigilância da autoridade. A medida de internamento era

69 D’URSO, Luiz Flávio Borges, Medidas de segurança no direito comparado, cit., p. 116-117. 70 NOGUEIRA, José Carlos de Ataliba, Medidas de segurança, cit., p. 263-264.

indeterminada e durava até que o indivíduo fosse corrigido ou reabilitado para a vida social.71

Na Espanha, o novo Código Penal de 1995 (Ley Orgánica 10/95, de 23.11.1995) consagrou o princípio da legalidade e anterioridade também para as medidas de segurança, limitando sua duração máxima. O prazo máximo de duração das medidas de segurança é o mesmo previsto abstratamente para a pena correspondente ao fato praticado.

Na Colômbia, o Código Penal de 1º de janeiro de 1937 instituiu as medidas de segurança para os enfermos mentais, intoxicados ou semi-enfermos mentais. Dentre elas: segregação em manicômio criminal ou em colônia agrícola especial; liberdade vigiada; trabalho obrigatório em obras ou empresas públicas; e proibição de freqüentar determinados lugares públicos.72

Na Dinamarca, o Código Penal de 1930 estabeleceu um sistema de medidas de segurança acessórias e autônomas destinadas aos enfermos mentais, aos deficientes e aos anormais (sexuais ou apresentando outras anormalidades de caráter permanente), aos condenados por delito cometido em estado de intoxicação alcoólica, aos reincidentes em crime contra a propriedade ou contra os bons costumes, aos mendigos ou vagabundos, àqueles que contagiaram outrem de moléstia venérea, aos reincidentes em geral e aos menores.73

Na França, o projeto de 1932 acolheu as seguintes medidas de segurança: internamento em casa de saúde; internamento em casa de trabalho no continente ou possessões; internamento em asilo de mendicidade; interdição do exercício

71 NOGUEIRA, José Carlos de Ataliba, Medidas de segurança, cit., p. 267-268. 72 Ibidem, p. 270-271.

69 de uma arte ou profissão; interdição de residência; expulsão do território; colocação sob a vigilância de uma sociedade de patronato; caução de bom comportamento; confisco dos objetos cuja fabricação, porte, venda ou uso forem ilícitos; fechamento do estabelecimento; e dissolução ou suspensão da pessoa jurídica.74

Na Romênia, o Código Penal entrou em vigor em 1º de janeiro de 1937, prevendo as seguintes medidas de segurança: internamento dos alienados em manicômio; internamento dos delinqüentes que apresentam anormalidade de ordem fisiológica ou psicológica em instituto apropriado; detenção dos alcoólatras em instituto adequado; internamento dos vagabundos e ociosos em casa de trabalho; internamento dos menores delinqüentes em instituto de educação correcional; liberdade vigiada para os menores; vigilância tutelar dos menores; interdição de ausentar-se de uma localidade determinada; interdição de exercer uma determinada profissão; expulsão dos estrangeiros; exílio local; e dissolução ou suspensão de uma pessoa jurídica.75

No Uruguai, o Código Penal de 4 de dezembro de 1933 ocupou-se das medidas de segurança, classificando-as em quatro espécies: curativas, educativas, eliminativas e preventivas. As eliminativas eram executadas depois de cumprida a pena; as demais eram autônomas, aplicando-se aos indivíduos isentos de pena.76

Por fim, em Portugal, o novo Código Penal de 1982 adotou o critério vicariante, havendo um capítulo inteiramente dedicado às medidas de segurança, com previsão de internamento aos inimputáveis em estabelecimento para cura,

74 NOGUEIRA, José Carlos de Ataliba, Medidas de segurança, cit., p. 276-277. 75 Ibidem, p. 281-282.

tratamento e segurança. O término da medida de segurança fica condicionado à cessação de periculosidade. O período de duração é indeterminado, fixando-se, contudo, prazo mínimo de duração.77

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO (páginas 62-67)