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Capítulo 2 O Governo Wilson Branco (1997-2000): o começo

2.3 A Mesa Diretora da Câmara

De grande importância para a condução do governo é a composição da Mesa Diretora da casa legislativa. Em Rio Grande, a Mesa é constituída a partir da concorrência de chapas, cuja escolha ocorre em dezembro de cada ano, com exceção da de início de uma nova legislatura, definida em janeiro. Entretanto, os vereadores e as bancadas procuram construir acordos no início de cada legislatura, a partir do qual definem a distribuição dos cargos ao longo dos quatro períodos.

Supõe-se que o governo tenha especial interesse em que a sua coalizão ou a sua base de apoio informal, na condição de força majoritária, esteja à frente dos principais cargos, com vistas a sedimentar a tramitação tranquila dos seus projetos,

e que a oposição fique alijada de qualquer cargo ou, se isso não for possível, ocupe posições inferiores na hierarquia da Mesa Diretora.

Cargo/Ano 1997 1998 1999 2000 Presidência PSDB PDT PSDB PMDB 1ª Vice-Presidência PMDB PT PDT PTB 2ª Vice-Presidência PTB PL PFL PPB 1ª Secretaria PT PSDB PMDB PL 2ª Secretaria PSB PL PL PFL

Fonte: Câmara Municipal de Rio Grande

Quadro 2 - Composição partidária da Mesa Diretora da Câmara de Municipal de Rio

Grande na legislatura 1997-2000

No quadro 2 pode-se observar a composição da Mesa Diretora ao longo do mandato de Wilson Branco. Essa composição refletiu a conjuntura política da época, bem como demonstrou que o processo de coalizão ainda se apresentava de forma incipiente, não obstante a formação de uma base de sustentação do governo ampliada para além da coligação eleitoral, como demonstrada acima.

Apesar disso, o cenário para o primeiro ano da nova legislatura era indefinido. De certa forma, o equilíbrio registrado na eleição majoritária de outubro de 1996 – quando Wilson Branco (PMDB), Adilson Troca (PSDB) e Cláudio Engelke (PT) ficaram separados por menos de 10 pontos percentuais – se refletiu no processo de composição das mesas diretoras ao longo dos quatro anos. O Jornal Agora dos dias 28 e 29 de dezembro de 1996 exemplifica o grau de contradição ainda presente na política riograndina: o periódico informa que quatro partidos concorriam para a presidência da casa: PCdoB, PT, PMDB e duas candidaturas do PPB. Ao final, a candidatura do PSDB foi quem promoveu uma aglutinação, razão pela qual o eleito para a presidência foi Adinelson Troca21.

A registrar que ou o jornal se equivocou ao realizar a reportagem ou a dinâmica das negociações se mostrou mais intensa, de modo a ser eleito o membro de um partido que sequer foi citado na matéria. Importante perceber, também, que os partidos declarados de oposição (PDT, PT e PCdoB) participam das mesas

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Ele é irmão de Adilson Troca, vice-prefeito de 1993 a 1996, candidato do PSDB derrotado em 1996 e futuro vice-prefeito na segunda gestão de Fábio Branco (2009-2012). Porém, não foi encontrado nenhum dado que autorize concluir que algum arranjo político com a interferência do Executivo tenha dado a presidência da casa ao partido derrotado nas eleições e não declarado como de oposição. Entretanto, é razoável pensar nessa possibilidade.

diretoras no primeiro, no segundo e no terceiro ano. No entanto, a partir de 2000, quarto e último ano da legislatura (e também da eleição municipal) irão desaparecer da mesa diretora, voltando apenas o PDT, na presidência da casa, em 2009, quando este já aderiu ao grupo político da Família Branco.

Outro momento bem ilustrativo do processo contraditório na construção de uma base de apoio parlamentar – ainda incipiente no primeiro mandato, como já dito – foi a eleição do PSDB para a presidência da casa para 1999. Duas chapas concorreram, uma encabeçada por Adinelson Troca e outra por Julio Martins (PCdoB). Duas situações atípicas ocorreram: a eleição foi realizada não por chapa, mas cargo a cargo, com votação nominal (o que gerou tumulto durante o processo); e na chapa que reivindicava a oposição, participou um vereador do PMDB e um do PPB (JORNAL AGORA, 16 dez. 1998, p.3).

O fato demonstra de forma inconteste que a construção da hegemonia PMDB/Família Branco por 16 anos à frente da prefeitura de Rio Grande foi um processo de engenharia política lenta e gradual. Isso porque a tradição era a disputa entre chapas que compunham a mesa por inteiro. Certo afirmar que para mudar a forma tradicional foi necessária uma maioria sólida para impor a mudança – não por acaso o Jornal Agora noticia que houve tumulto. Certamente, é possível supor que o Executivo tenha interferido. Este episódio demonstra mais uma vez que já se apresentava um bloco de bancadas de sustentação do governo, ainda que, registre- se mais uma vez, houvesse contradições; e os cargos da Mesa Diretora estavam sendo considerados para o processo de formação de uma coalizão de governo, o que nos mandatos seguintes ficará evidente com a distribuição dos cargos da Mesa Diretora inteiramente entre os partidos de sustentação do governo municipal.

Porém, o fato também mostra que na definição da Mesa Diretora da Câmara Municipal os interesses e as idiossincrasias específicas da Câmara e dos seus membros pesam decisivamente e podem produzir alianças inusitadas, se comparadas à política partidária externa àquele ambiente. Enquanto não possuir a maioria sólida de que precisa no legislativo, o governo necessita aceitar tais peculiaridades e realizar os acertos possíveis ou escolher a opção menos prejudicial, considerando que nenhuma é a desejável. No caso específico, obviamente o comando do PSDB era melhor do que o do PCdoB e de Julio Martins, adversários muito claros do governo, enquanto Troca – como o futuro iria demonstrar – era um possível aliado.

Para além do dito acima, o que se pode apreender da composição da Mesa Diretora da Câmara foi a presença do PMDB na presidência do legislativo municipal apenas uma vez ao longo do período do mandato de Wilson Branco, não por acaso em 2000, ano eleitoral. Este fato é mais uma evidência a revelar o processo de construção da liderança do PMDB/Família Branco, a ser consolidado nos mandatos seguintes.

A especulação que se pode fazer é: se o Executivo montou ao longo dos quatro anos uma coalizão de governo capaz de lhe fornecer uma bancada majoritária a partir de uma relação direta com as diversas bancadas, ao socializar cargos de escalões inferiores da administração pública e adotar práticas clientelistas, bem poderia, a partir desta base de sustentação, ter consolidado sua influência junto à casa legislativa com a obtenção da presidência em um número maior de vezes.

É plausível aceitar, por um lado, que o processo incipiente ainda de liderança do PMDB, como fica demonstrado nas contradições inseridas nas disputas para a Mesa Diretora do legislativo ao longo dos quatro anos, não permitiu tal ação ou tal ação não foi desejável. Por outro lado, poder-se-ia afirmar que o Executivo, com sua força, utilizou politicamente os cargos da Mesa Diretora na disputa com as demais bancadas, de forma a gerar ou a reforçar acordos políticos em torno da necessidade de aprovação de projetos e da consolidação de uma coalizão de governo. Ou seja, os cargos da Mesa Diretora se tornam mais um instrumento a favor do governo, mais uma barganha política a ser oferecida aos partidos ou aos vereadores em particular com vistas a construir apoios prévios e tornar desnecessárias negociações realizadas caso a caso e com cada vereador em particular. Enfim, trocar o varejo pelo atacado.

Se isso é verdadeiro, efetivamente não é necessário ao PMDB hegemonizar os principais cargos, desde que a Mesa como um todo não fique em poder dos adversários políticos. Nesta linha de raciocínio, torna-se perfeitamente compreensível, então, que a aliança PMDB-PL, com sua bancada de seis cadeiras (que depois ficou reduzida a cinco), tenha composto a Mesa em todos os anos da legislatura: em 1997 com PMDB na 1ª vice-presidência; em 1998 com PL na 2ª vice- presidência e em 1999 e em 2000 com ambos (1ª e 2ª secretaria, em 1999; presidência e 1ª secretaria, em 2000).