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Capítulo 4 Janir Branco herda a prefeitura (2005-2008)

4.2 O Governo conecta o desenvolvimento do Polo Naval

O terceiro mandato do PMDB/Família Branco, como exposto acima, expressou mudanças qualitativas do ponto de vista político-partidário. A análise dos dados que são sintetizados na tab. 7, feita acima, não deixa dúvida a este respeito. Entretanto, não só do ponto de vista político houve mudanças qualitativas. A política do governo de reativação da indústria naval, com a indução, por parte da Petrobrás, de encomendas de construção de navios e de plataformas petrolíferas, acabou por criar uma perspectiva de crescimento econômico que transforma a face da cidade de Rio Grande6.

O Polo Naval é fruto de uma política nacional de renascimento da indústria naval brasileira, que tem sua descentralização do centro do país como parte desse processo e, a partir desta política, Rio Grande começa a receber os grandes players da atividade petrolífera do país (CARVALHO & DOMINGUES, 2010). Historicamente, o município caracteriza-se pelos ciclos exógenos de desenvolvimento econômico, sendo alvo de políticas do tipo Top Down (‘de cima para baixo’), de interesse Federal ou Estadual, ficando à margem do processo de decisão (CARVALHO; CARVALHO; DOMINGUES, 2012, p.2).

6 “O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, comemorou a retomada das atividades da indústria

naval brasileira, ao participar, na manhã desta segunda-feira, 9 de julho, em Niterói (RJ), da cerimônia de entrega e entrada em operação do navio Sérgio Buarque de Holanda, construído pelo estaleiro Mauá, sob encomenda da Petrobras Transpetro. O navio é a terceira das encomendas viabilizadas pelo Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef), que realiza investimentos de R$ 10,8 bilhões na compra de 49 navios, encomendados a estaleiros nacionais. A atividade emprega atualmente 60 mil pessoas” (BRASIL. MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA, 09 jul. 2012).

É justamente no primeiro ano de gestão do prefeito Janir Branco que este processo começa por apresentar-se à sociedade riograndina. Em 2005, o processo estava circunscrito à decisão de qual empreendedor iria construir os navios e produzir, também, reparos a estas embarcações. Entretanto, com a descoberta do pré-sal, a perspectiva estratégica da Petrobrás acaba por sinalizar à “construção do primeiro dique seco da América Latina para reparo e construção de plataformas

offshore. A licitação para a construção deste dique seco foi vencida em 2006 pelo

estaleiro Rio Grande, capitaneado pelo grupo WTorre de São Paulo” (CARVALHO; CARVALHO; DOMINGUES, 2012, p.16).

O primeiro investimento despendido pela Petrobras no referido Polo Naval Offshore do Rio Grande foi a encomenda da P-53, que se constituiu na maior e mais moderna plataforma do tipo FPU (Floating Production Unit, ou Unidade de Produção Flutuante) da empresa. A construção ficou a cargo do Consórcio Quip S.A., formado pelas empresas Queiroz Galvão, Ultratec e IESA (CARVALHO; CARVALHO; DOMINGUES, 2012, p.17).

A Plataforma denominada P-53 é justamente a que vai receber, em sua inauguração, o Presidente Lula e toda a sua equipe ministerial na cidade de Rio Grande, em pleno período eleitoral de 2008, potencializando a candidatura opositora do PMDB/Família Branco. A investigação irá analisar este processo na análise do quarto e último mandato.

Porém, o que interessa neste momento, e em acordo com a pesquisa, é demonstrar que uma mudança conjuntural desta magnitude – que produziu uma variação estrutural – incide diretamente no processo político. Um vetor de desenvolvimento que acaba por mudar estruturalmente a matriz produtiva instalada na cidade de Rio Grande traz novos obstáculos a serem superados pelas elites dirigentes do local onde se opera tais mudanças. Entretanto, o desempenho eleitoral em 2008, bem como em 2012, permite a leitura de que houve habilidade no tratamento do novo momento sócio-econômico vivenciado pelo município, por parte da nova elite dirigente, como se verá adiante.

Para efeito ilustrativo e para se ter uma ideia do processo de desenvolvimento acelerado inaugurado a partir do ano de 2005 na cidade de Rio Grande, reproduz-se, no quadro 7, os dados relativos ao capital investido.

Tipo de Investimento Fase do Investimento Valor Investido

Estaleiro Rio Grande 1 Em conclusão R$ 750 milhões Estaleiro Rio Grande 2 Em construção R$ 243 milhões

Plataforma P-53 Concluída R$ 1,3 bilhões

Plataforma P-55 Em construção R$ 1,3 bilhões Plataforma P-63 Em construção R$ 1,3 bilhões Cascos (08) Processo de contratação US$ 4 bilhões Navios Sonda (07) Ainda em expectativa -

Fonte: FEIJÓ; MADONO (2012)

Quadro 7 - Investimentos no polo naval de Rio Grande

Para além destes investimentos, também o novo momento sócio-econômico do município de Rio Grande atraiu outros setores, como a produção de energia e a produção de papel e celulose:

energia eólica atrairá R$108,5 milhões para Rio Grande. Nesta semana, a Epenge Engenharia, empresa com sede em Porto Alegre que produz aerogeradores, formalizou acordo com o Governo do Estado para implantar uma unidade em Rio Grande. A previsão é de que seja cedida uma área de dez hectares junto ao Distrito Industrial do município. O projeto deverá gerar cerca de cem empregos diretos e mil indiretos e contará com investimento fixo de R$108,5 milhões (JORNAL AGORA. 23 dez. 2006, p.5).

A resposta do PMDB/Família Branco vem ilustrada na notícia veiculada no site da prefeitura:

o secretário municipal de Coordenação e Planejamento, Neverton Moraes, recebeu uma importante notícia na tarde desta quinta-feira, 28. O Banco Mundial aprovou ontem, 27, o projeto de financiamento no valor total de US$ 100 milhões para o consórcio formado pelas Prefeituras do Rio Grande, Pelotas, Santa Maria, Uruguaiana e Bagé. O financiamento será destinado a obras de infra-estrutura, gestão, geração de emprego e renda, sendo que para Rio Grande serão liberados US$ 26,5 milhões com a contra- partida de R$ 10,5 milhões do Município. "Nosso projeto intitula-se Rio Grande 2015 por entendermos que ele mudará a fisionomia da cidade. Investiremos em infra-estrutura, cidadania e também para que as pessoas acreditem mais em nossa terra", salientou o secretário ao receber a informação da coordenadora do projeto para o Banco Mundial, Jennifer Sara (PREFEITURA MUNICIPAL DO RIO GRANDE, 28 jun. 2007).

Esses recursos já são oriundos de um processo de busca de investimentos em infra-estrutura, junto ao Banco Mundial, ainda no primeiro governo de Fábio Branco. Essa dotação fará de Rio Grande um canteiro de obras na segunda gestão de Fábio Branco na condução do poder político municipal (2009-2012).

Nesta mesma linha interpretativa de que o PMDB/Família Branco soube perceber as mudanças estruturais na cidade – advindas da retomada da indústria naval por parte do governo federal – e conectou-se ao processo, o prefeito Janir Branco, em sua avaliação de seus dois anos de mandatos, estabeleceu uma meta para o ano de 2007 justamente na “onda” do crescimento exógeno:

atrair fábrica da Votorantim é prioridade do Executivo para 2007 O prefeito do Rio Grande, Janir Branco, apresentou, na manhã de ontem, um balanço dos dois primeiros anos de sua administração. E além de destacar as principais ações e iniciativas para o Município, apontou prioridades para 2007. A principal, segundo ele, é atrair a fábrica do Projeto Losango, da Votorantim Celulose e Papel (VCP) para o Município. ‘Já existe a possibilidade concreta de ser construído o terminal florestal junto ao porto e queremos sediar a fábrica de celulose’, observou. Para tanto, Rio Grande concorre com outros quatro municípios. É sua intenção também, trabalhar pela qualificação dos rio-grandinos para aproveitamento dos empregos gerados pelos empreendimentos do Polo Naval (JORNAL AGORA, 23 dez. 2006, p.3).

Este tópico se reveste de importância para a presente pesquisa na medida em que apresenta uma dimensão relevante no processo político estudado: as condições sócio-econômicas perpassam a dinâmica das instituições, gerando possibilidades a favor ou contra os detentores do poder político.

Os elementos que incidem sobre o Produto Interno Bruto do município, o impacto no orçamento público, a incidência de investimentos – ou sua ausência – que produzem efeitos no índice de emprego (negativamente ou positivamente) etc., devem ser considerados na política estratégica de obtenção e manutenção do poder político por parte das elites dirigentes.

Neste sentido, a manutenção do equilíbrio de forças no interior de uma ampla coalizão – em processo de crescimento constante nos diversos governos do PMDB/Família Branco – está relacionada à capacidade não somente de aglutinar politicamente os diversos atores em torno de seu comando, como, também, de

manter uma política de governo conectada com as mudanças

conjunturais/estruturais vindas de fora do município.

Do ponto de vista da investigação, o traço desta capacidade, segundo os dados, esteve presente durante os quatro mandatos do PMDB/Família Branco à frente da prefeitura do Rio Grande. As mudanças exógenas na região sul do estado do Rio Grande do Sul, sobretudo o desenvolvimento acelerado da cidade de Rio Grande, foram percebidas e consideradas no processo de manutenção do poder

político tanto no terceiro mandato (Janir Branco), quanto no quarto (Fábio Branco). Conforme Antonieta Lavoratti, que esteve à frente da Secretaria de Saúde nos anos de 2005 e de 2006:

na minha avaliação,eu acho que foram bastante empreendedores, até. [...] momentos em que eu vivi dentro do governo, as oportunidades que eu presenciei, ou visualizei, em termos de conjuntura nacional, e até internacional, na minha avaliação, eles souberam aproveitar [...] por conviver semanalmente, ou quase diariamente, com a gestão do município, diretamente com o prefeito, e bastante com o Fábio que estava em uma secretaria, junto com o Janir, eles viajaram muito, fizeram muitas reuniões, eu acho que foram bastante em busca disso [...] eu não estou dizendo que eram eles isso aconteceu, talvez não acontecesse. Não é isso que eu estou dizendo [...] eu to falando que na minha avaliação eles não deixaram o cavalo passar encilhado (LAVORATTI, informação verbal).

Nesta mesma linha, o prefeito Fábio Branco interpretou a atuação do PMDB em relação ao novo momento de desenvolvimento, então, da cidade do Rio Grande:

a vinda dos estaleiros foi um trabalho que não caiu do céu. Meus adversários disseram que foi uma política pública do PT, do Lula, que veio para Rio Grande. Não, o Lula teve a vontade política de fazer com que a indústria naval fique no Brasil. A política veio desde o Fernando Henrique. Ele tentou fazer, mas talvez faltasse tempo, competência, ou não sei o quê. E o Lula teve competência. Só que o Brasil tem uma costa imensa e conseguimos trazer o investimento para Rio Grande (DIÁRIO POPULAR, 17 out. 2004).