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A metodologia

No documento Adriana Martins Simões (páginas 145-149)

Capítulo VI: Pesquisa empírica sobre a aquisição/aprendizagem do

6.1. Metodologia e coleta dos dados

6.1.1. A metodologia

Os dados de nossa pesquisa se compõem de testes de aceitabilidade em espanhol e em PB que foram aplicados a alunos de ELE de diferentes faixas etárias, níveis de aprendizagem de espanhol e de instrução em LM. Considerando-se que nossa pesquisa tem como eixo central a aquisição/aprendizagem de ELE, com foco na competência da gramática não nativa; e tendo em vista a área sintática que investigamos e sua variação/mudança no PB, que distanciaram a gramática das duas línguas, nosso objetivo com a elaboração dos testes foi encontrar indícios sobre a natureza da gramática não nativa do espanhol a partir tanto da intuição dos aprendizes na gramática de sua LM quanto da intuição na gramática não nativa, se é que poderemos dizer que há intuições.

Como o fator idade já havia se mostrado relevante em nossa pesquisa realizada na graduação (SIMÕES, 2006), uma vez que representa diferentes

gerações de falantes do PB, o objetivo desta nossa pesquisa é aprofundar essa questão, que poderá nos dar indícios sobre qual das línguas estaria se refletindo na competência não nativa, se da aquisição/aprendizagem formal do espanhol, se da gramática do PB adquirida naturalmente ou aprendida através da educação formal e, ainda, o reflexo do peso de cada uma dessas gramáticas coexistentes na mente/cérebro dos brasileiros na gramática não nativa, conforme sua faixa etária. Os fatores nível de instrução em LM e nível de aprendizagem do espanhol/LE também serão muito relevantes para que possamos atingir esses nossos objetivos.

Os testes coletados estão no CD em anexo e estão compostos por 24 grupos formados por 6 ou 4 enunciados cada um, sendo que 12 grupos compreendem os enunciados das categorias alvo e os outros 12 grupos compreendem os enunciados distratores, usados para que não ficasse evidente aos informantes sobre o que precisamente versava a pesquisa.

Uma das categorias alvo de nossa pesquisa é a forma de preenchimento do objeto pronominal acusativo de 3ª pessoa. Os enunciados referentes a essa categoria estão compreendidos em 8 grupos. Esses testes foram elaborados a partir de dois fatores, divididos em níveis e cruzados entre si. O fator 1 corresponde à animacidade e especificidade do objeto e sua forma de preenchimento, sendo o nível 1 o objeto [+animado; +/-específico] e o nível 2 o [-animado; +/-específico]. Em cada um desses níveis apareceram três formas de preenchimento do objeto, sendo elas o pronome tônico, o clítico acusativo e o objeto nulo. O fator 2 corresponde ao tipo de estrutura da sentença e é composto por quatro níveis, sendo eles: topicalização com subordinadas reduzidas de infinitivo, topicalização com subordinadas reduzidas de gerúndio, topicalização com subordinadas e coordenadas. Observe-se na tabela abaixo a organização desses aspectos para a

elaboração dos grupos de sentenças70:

Topicalização com subordinadas reduzidas de infinitivo Topicalização com subordinadas reduzidas de gerúndio Topicalização com subordinadas Coordenadas OD [+animado; +/-

específico] Grupo 19 Grupo 12 Grupo 4 Grupo 21

OD [-animado; +/-

específico] Grupo 6 Grupo 23 Grupo 15 Grupo 10

Tabela 6.1 – Fatores utilizados na elaboração dos testes de aceitabilidade

A outra categoria alvo é a colocação dos clíticos em locuções verbais com os pronomes de 1ª e 3ª pessoa. Nosso intuito, ao abordar a questão da colocação pronominal, embora não contemplada diretamente nas questões iniciais de nossa pesquisa, é comparar a intuição dos aprendizes para os dois clíticos, já que, de acordo com Galves (2001), a colocação dos clíticos de 3ª pessoa seria diferente da dos outros pelo fato de estes não realizarem o movimento longo. Essa regra de colocação seria adquirida juntamente com os clíticos de 3ª pessoa, via instrução formal. Por outro lado, na perspectiva de Kato (2005), a instrução formal recuperaria apenas os clíticos, mas não o movimento longo destes, que era uma propriedade relacionada ao parâmetro do objeto preenchido. Na visão dessa autora, recordamos, a escola recuperaria essa gramática do século XVIII apenas de forma parcial. Trataremos, assim, de testar as duas hipóteses expostas e de verificar a intuição dos aprendizes para o PB, relacionando-a ao índice de aceitabilidade do clítico, assim como verificar sua intuição sobre o espanhol, língua que mantém o movimento longo dos clíticos, a fim de que possamos obter mais indícios sobre a natureza da competência não nativa.

Para os testes de colocação, escolhemos como fator 1 a colocação pronominal em estruturas de perífrase verbal, com dois níveis, sendo um formado pelo pronome de 1ª pessoa e o outro pelo de 3ª, com as realizações de próclise ao auxiliar, ênclise ao auxiliar, próclise ao principal e ênclise ao principal em ambos os níveis. O fator 2 envolve a estrutura da perífrase verbal, sendo, no primeiro nível, [auxiliar + infinitivo] e, no segundo, [auxiliar + gerúndio]. Observe-se na tabela abaixo

a organização dos fatores71:

Auxiliar +

infinitivo Auxiliar + gerúndio Clíticos de 1ª

pessoa Grupo 24 Grupo 3

Clíticos de 3ª

pessoa Grupo 8 Grupo 16

Tabela 6.2 – Fatores utilizados na elaboração dos testes de aceitabilidade

Em relação aos distratores, estes envolvem as formas de expressar a posse, a colocação dos pronomes reflexivos e o preenchimento do objeto indireto de 3ª pessoa, distribuídos em quatro grupos cada um, totalizando 12 grupos de distratores.

Nossos testes são iguais no espanhol e no PB e as formas de preenchimento do objeto pronominal e as diferentes formas de colocação do pronome envolvem tanto as opções da gramática adquirida quanto da gramática aprendida do PB, uma vez que nos baseamos fundamentalmente no que é possível na gramática dessa língua para elaborar os enunciados, de forma a poder comparar as duas intuições, a da gramática nativa e a da não nativa, a fim de obter indícios sobre a natureza da competência não nativa. No entanto, entre as possibilidades que apenas poderiam ser aceitas na gramática do PB, há também as que seriam aceitas na gramática do espanhol e que poderiam ser reflexos dessa gramática na intuição não nativa.

Os testes para captar a intuição no PB nos permitirão verificar o grau de coexistência ou não de duas gramáticas nessa área da língua que é objeto de nosso estudo, em indivíduos de diferentes gerações, para que, a partir do índice de aceitabilidade das formas de preenchimento do objeto e de colocação pronominal, possamos delimitar o que seria o reflexo da gramática da L2 ou o reflexo da gramática da L1 na gramática não nativa desses aprendizes, ou até se tais escolhas não provêm da gramática de nenhuma das duas línguas.

Havia nos testes quatro opções de valores em escala ordinal que poderiam ser atribuídos a cada um dos enunciados, sendo eles: valor 1 – totalmente inaceitável; valor 2 – um pouco inaceitável; valor 3 – um pouco aceitável; valor 4 – totalmente aceitável. Entre esses valores, vamos considerar para a análise dos resultados apenas o valor 4. Entretanto, como o valor 3 também revela que determinada forma não seria totalmente agramatical para o informante, em alguns momentos da análise vamos utilizar os resultados obtidos com esse valor, que poderão nos fornecer indícios a respeito da consolidação das formas de realização do objeto e da colocação pronominal tanto na gramática não nativa quanto na gramática do PB.

Para a análise dos dados, utilizamos o pacote estatístico Statistical Package

for the Social Sciences, SPSS, versão 15.0 para Windows. Valendo-nos dessa

ferramenta estatística, extraímos a média do índice de aceitabilidade de cada uma das formas de realização do objeto pronominal, das diferentes formas de colocação do clítico e das variantes de objeto, de acordo com o contexto semântico e estrutural, que compreendem as variáveis dependentes, em relação aos fatores sociais faixa etária, nível de aprendizagem de espanhol e de instrução em LM, que compreendem as variáveis independentes.

Quanto às formas de análise dos dados, estas obedeceram a critérios de tipo: quantitativo, objetivando verificar os índices de aceitabilidade tanto na gramática não nativa quanto na gramática da LM; transversal, a fim de observar o reflexo da gramática do espanhol, do PB ou de nenhuma das duas línguas na gramática não nativa, focalizando a intuição de grupos de indivíduos de diferentes faixas etárias, níveis de instrução em LM e níveis de aprendizagem de ELE; e longitudinal, observando os grupos das diferentes faixas etárias e seus níveis de instrução em LM e de aprendizagem de ELE, para detectar o seu processo de aquisição/aprendizagem do espanhol.

No documento Adriana Martins Simões (páginas 145-149)